Queimadas atingiram quase um quarto do país
Nos últimos 38 anos, fogo levou destruição a 23% do território. Ação humana é a principal causa, diz estudo
Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
A ONG MapBiomas, que desenvolve estudos para monitorar mudanças na cobertura e no uso da terra, divulgou nesta terça-feira (18) um relatório que indica que 23% do território (199,1 milhões de hectares) brasileiro foi queimado ao menos uma vez entre 1985 e 2023. É quase um quarto do país, numa área que equivale a cinco vezes e meia o território da Alemanha.
A vegetação nativa é a principal vítima do flagelo no Brasil (68,4%) e que cerca de 60% de toda a área queimada é propriedade privada. Segundo a MapBiomas, isso indica uma ligação estreita entre as queimadas e a abertura de áreas para cultivo e pasto. O efeito das queimadas é deletério para o meio ambiente, uma vez que afeta o equilíbrio vegetal e contribui para o efeito estufa.
A Região Norte representa 46% da área queimada. Os três municípios que mais queimaram entre 1985 e 2023 foram Corumbá (MS), no Pantanal, seguido por São Felix do Xingu (PA), na Amazônia, e Formosa do Rio Preto (BA), no Cerrado. O levantamento ainda informa que é na estação seca, entre julho e outubro, que as queimadas mais ocorrem, com 79% das ocorrências..
Em entrevista à Agência Brasil, a coordenadora do MapBiomas Fogo e diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, afirmou que é possível inferir que a maior parte das queimadas não tem origem com os raios, indicando que a ação humana é a principal responsável pelas ocorrências.
“Onde queima mais, Cerrado, Amazônia, e agora infelizmente no Pantanal, é período seco, período em que, provavelmente, é bastante difícil de acontecerem as descargas elétricas das tempestades”, explica.
Os biomas do Cerrado e da Amazônia concentram cerca de 86% da área queimada pelo menos uma vez no Brasil em 39 anos. No Cerrado foram 88,5 milhões de hectares, ou 44% do total nacional. Isso é quase o tamanho de Mato Grosso. Na Amazônia, queimaram 82,7 milhões de hectares (42%).
Pantanal em risco
Em entrevista à DW, o diretor da SOS Pantanal, Gustavo Figueroa, advertiu que 2024 pode ser o ano de maior destruição do Pantanal pelo. Só nas duas primeiras semanas de junho, o número de focos de incêndio foi quase 700% maior que o mesmo período de 2020, considerado o pior até então.
O cenário se torna mais grave uma vez que os incêndios começaram mais cedo este ano e as brigadas de incêndio temporárias ainda estão em fase de contratação de pessoal.
“A temporada seca está só começando e já vemos o número de focos estourar. A tendência é piorar daqui para frente. É bem preocupante o cenário no momento e pode ser pior do que 2020”, afirma Figueroa.
O Pantanal ainda não se recuperou da temporada de fogo de 2020, quando grandes incêndios consumiram 43% de áreas nunca antes atingidas, provocando mortalidade em massa da vida selvagem. Estudo publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, estimou a morte de 17 mil animais vertebrados naquele período.
Além disso, o último período chuvoso terminou com pouca água nos rios da região – cerca de 60% do esperado, conforme o Serviço Geológico do Brasil (SGB).
“Neste ano, o rio Paraguai não extravasou. Ou seja, ele não inundou os campos alagáveis que normalmente ficam cobertos de água no Pantanal. Então toda esta vegetação vai secando e muita biomassa fica disponível para o fogo”, afirmou à DW Danilo Bandini, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).