Garimpo ilegal afeta saúde de indígenas no Pará
Solo e água contaminados por mercúrio em aldeia munduruku são resultado da exploração que acelerou no governo Bolsonaro
Foto: Fotos Públicas
Estimulado pelo desmonte da fiscalização ambiental pelo governo Bolsonaro, o avanço do garimpo ilegal a cada dia mostra seus efeitos deletérios a saúde de comunidades ribeirinhas e indígenas. Exemplo disso é a multiplicação de doenças entre crianças e mulheres da etnia munduruku do território Sawré Muybu, no Pará.
Reportagem da Folha de São Paulo identificou problemas de desenvolvimento e malformações em crianças, além de sintomas de envenenamento por mercúrio em adultos. O metal pesado é usado para a extração de minérios, ação proibida em territórios indígenas, mas que cresce de forma sem precedentes desde 2018. Conforme o Greenpeace Brasil, a área atingida pelo garimpo em terras munduruku cresceu de 1.399 hectares, em 2018, para 7.095, em dezembro de 2023.
Os rios da região já não oferecem água boa para beber ou peixes. Alguns, se converteram em lodo. De acordo com uma pesquisa realizada em 2019 pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), aproximadamente 57,9% das amostras apresentaram níveis de mercúrio acima do limite máximo de segurança estabelecido por órgãos internacionais de saúde, como a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
O levantamento analisou indivíduos de dez aldeias no médio e alto Tapajós, revelando que a maior concentração de mercúrio foi observada em mulheres e crianças. Em resposta, a Fiocruz iniciou um estudo para avaliar os efeitos do mercúrio em mães e bebês de até dois anos. A pesquisa está monitorando 41 gestantes munduruku para os níveis de mercúrio no sangue, além de 29 puérperas que recentemente deram à luz. Dessas, 27 bebês estão vivos.
Pesquisador da Fiocruz e coordenador do estudo, Paulo Basta sugere que a exposição ao mercúrio durante a gravidez pode causar atrasos no desenvolvimento infantil. Isso porque o mercúrio causa efeitos neurológicos graves, que podem levar a cegueira e paralisia, por exemplo.
Como a base alimentar dos indígenas é o pescado, a contaminação na região se torna um problema ainda mais grave.
“O mercúrio é uma substância que causa deficiência e dano neurológico. Então se o rio está contaminado, contamina a planta, que é ingerida por um peixe herbívoro, que depois vai ser comido por outro peixe, e por fim pelo homem “, explicou à Folha, Jorge Dantas, porta-voz da frente de povos indígenas do Greenpeace Brasil..
Devido à precariedade do sistema de saúde, os indígenas dependem das equipes multidisciplinares que visitam as aldeias mensalmente, ou até com menor frequência. Em casos de emergência, precisam enfrentar uma viagem de aproximadamente três horas, combinando trajetos de barco e estrada de terra, até Itaituba. Lá, podem receber atendimento no Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) ou ser encaminhados para o Hospital Municipal de Itaituba, que é a principal referência para atendimento indígena na região.