O “X” em questão e a luta contra o golpismo
A ação contra Elon Musk e sua rede social no Brasil é um passo importante contra as táticas de desinformação da extrema direita
Foto: Wikimedia Commons
O STF determinou a suspensão do funcionamento da rede social X, de propriedade de Elon Musk, em todo território nacional. De acordo com a sentença, motivada por inúmeros descumprimentos de ordens judiciais, a soma das multas de Musk e do X chega a 18, 3 milhões de Reais. Além disso, o empresário está sendo investigado, acusado de incitação ao crime e obstrução de Justiça.
O embate entre o STF, capitaneado por Alexandre de Moraes e o bilionário Elon Musk é apenas mais um capítulo que eleva a temperatura da luta política, com a polarização entre a extrema direita e os setores democráticos. Não se trata de uma discussão sobre a liberdade de expressão, como cinicamente o bolsonarismo quer impor. Estamos discutindo soberania e como combater uma corrente de pensamento abertamente golpista, que se prepara para novas incursões.
Essa discussão vai adentrar o embate eleitoral. Para tanto devemos nos orientar acerca do que está em jogo e defender propostas para regulamentar e democratizar a internet e o fluxo de informações nas redes sociais.
X: esfera democrática ou usina de fake news?
A primeira discussão a ser feita, acerca das redes sociais controladas pelo que chamamos de Big Techs, é sobre sua natureza. Além dos interesses econômicos imediatos, Musk tem sido uma peça fundamental para a organização de uma estratégia coordenada da extrema direita no mundo todo. De forma direta ou indireta, por trás do seu discurso de “liberdade de expressão” há uma maior cumplicidade com a difusão de fake news, seja para favorecer eleitoralmente os setores da extrema direita, seja para ações de cunho neofascista como a recente onda de mentiras que levou ao ataque às mesquitas e comunidades imigrantes na Inglaterra.
A base material da recente decisão de Moraes é a desobediência acerca do bloqueio de perfis que difundiram notícias falsas e golpistas, combinada com o anúncio da saída do escritório da X no Brasil. Musk, portanto, e sua rede social, não tem nenhum interesse na troca saudável de notícias, opiniões e informações. Como já alertamos em outros momentos, sua localização a frente do ex-Twitter, agora rebatizado de X, visa disputar a hegemonia das ideias de direita, monetizar ao máximo a partir da difusão de tais ideias e normalizar as redes de desinformação que ainda atuam nas margens da internet.
A agitação de Musk nos Estados Unidos é que, diante de uma derrota de Trump, o X também será bloqueado pelos “esquerdistas”. Não se pode aceitar que Musk, um bilionário excêntrico e que flerta com o neofascismo tenha poder de definir as regras, os critérios e a política, seja em qualquer lugar do Planeta.
Enfrentar os inimigos da liberdade!
É falsa a pele de libertários que alguns neofascistas usam para melhor semear confusão. O partido “Libertário” de Milei na Argentina protagonizou uma homenagem aos genocidas argentinos condenados por crimes bárbaros na ditadura, visitando-os na prisão.
É preciso taxar e regular as Bigtechs. E democratizar os espaços da internet, para que o acesso seja cada vez mais independente.
Não basta apenas reduzir o poder de Elon Musk. Ele é porta-voz do golpismo e do bolsonarismo que precisa ser enfrentado, a começar pela luta contra a impunidade, nos casos da pandemia e do 8 de janeiro. O processo dos presos do 8 de janeiro segue a passos lentos. Não se fala nada dos mandantes, dos financiadores. A Folha de São Paulo, como expressão de um setor dos liberais, cumpre um papel lamentável: por um lado, ergue a voz para defender em editorial mais privatizações e ajuste; por outro, não é consequente na luta real contra o golpismo, baixando a pressão para punir os golpistas, seus financiadores e articuladores.
É preciso retomar a energia social condensada na consigna “Sem Anistia”, para pressionar de fato a serem tomadas medidas contra as fakenews e o golpismo. Colocar na cadeia os mandantes e dirigentes do processo, a começar pelo clã Bolsonaro, que se organiza para agitar contra Moraes um ato de rua no dia 7 de setembro na Paulista. Acionar medidas diplomáticas cabíveis para deportar os golpistas que estão escondidos na Argentina, sob Milei.
Sem enfrentar, de conjunto e de forma coerente, os inimigos da liberdade, corremos o risco de novas e mais violentas ações golpistas, num futuro não tão distante. O tempo urge e Musk é um porta-voz de uma política autoritária e coordenada.