Belford Roxo: o que esperar do terceiro mandato de Marcio Canella
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Belford Roxo: o que esperar do terceiro mandato de Marcio Canella

Márcio Canella (UNIÃO) venceu a disputa pela prefeitura de Belford Roxo e ficará, pela terceira vez consecutiva, no primeiro escalão das decisões da gestão municipal. O que esperar da próxima prefeitura?

Nicolas Calabrese 17 out 2024, 11:39

Foto: Redes sociais/Reprodução

A eleição municipal de Belford Roxo se encerrou no primeiro turno, dando a vitória ao deputado estadual Márcio Canella (UNIÃO) com 62,88% dos votos. A eleição foi polarizada com Matheus do Waguinho (Republicanos), sobrinho do atual prefeito Waguinho. Matheus nunca tinha sido candidato e teve 35,20% dos votos. Somando esses dois lados da mesma moeda, nota-se que a falsa polarização sugou a maioria dos votos válidos para esses dois candidatos que representam a continuidade de uma gestão opressora.

Nosso candidato, Vinicius Crânio (PSOL), que no meio da eleição sofreu um espancamento de homens encapuzados de madrugada no bairro Xavantes, de onde ele é cria, recebeu 2.690 votos, conquistando 1,09%. Repudiamos essa opressão sofrida pelo companheiro, que foi uma represália por não apoiar os políticos que desviam dinheiro público para se enriquecer ilicitamente.

Assis Freitas (PSB) ficou na quarta posição, com 0,83% dos votos.

O histórico de Canella na prefeitura

Em 2016, Márcio Canella foi eleito vice-prefeito na chapa de Waguinho, que conquistava seu primeiro mandato na gestão municipal. Canella foi peça-chave para a vitória de Waguinho e, apesar de não permanecer exercendo a função de vice-prefeito, foi um dos comandantes de fato da prefeitura.

Em 2020, na reeleição de Waguinho, Canella indicou seu irmão, Marcelo, para o cargo de vice-prefeito. A escolha permitiu a Márcio Canella ficar no comando informal da prefeitura de Belford Roxo, ao mesmo tempo em que continuava acumulando poder como deputado estadual, sempre aliado a corruptos e milicianos, como Picciani, Brazão, Pezão, etc. Atualmente, é também aliado do governador corrupto e inimigo da educação: Cláudio Castro (PL).

Em 2022, as candidaturas da Daniela do Waguinho e do Márcio Canella, para deputada federal e deputado estadual respectivamente, foram uma campanha unificada, com material gráfico da dobradinha junto com o próprio Waguinho em todos os materiais gráficos e de redes sociais, que ainda persistem em alguns portões de Belford Roxo. Essa campanha unificada teve denúncias de coação dos funcionários contratados da prefeitura, para trabalhar na eleição em troca da permanência no contrato, um fato que poderia ser configurado como crime eleitoral.

Foi apenas em 2023, a um ano da eleição, que Canella rompeu com Waguinho publicamente, embora seu irmão permaneça até hoje como vice-prefeito.

É importante saber desses fatos porque, durante a eleição, Márcio Canella tentou o tempo inteiro se colocar como se fosse oposição, apesar de responsável por todas as decisões da prefeitura de Belford Roxo nas últimas duas gestões, e o projeto de cidade não ter nenhuma diferença com aquele apresentado por Waguinho e Matheus.

O que esperar da próxima gestão da prefeitura?

O que podemos esperar de um político que é responsável pelas graves consequências das enchentes, nas quais milhares de pessoas perderam suas casas, móveis, carros etc? Márcio Canella inaugurou inúmeras praças e ruas asfaltadas junto com Waguinho. Essas obras foram feitas sempre de forma eleitoreira, ou seja, para agradar eleitores nas vésperas de eleições, mas nunca foram feitas com planejamento e infraestrutura. Foram cortadas inúmeras árvores centenárias e jogados caminhões de cimento e de asfalto sem o devido escoamento de água, fazendo da cidade mais quente, impermeabilizando o solo e provocando enchentes catastróficas. Canella não tem um projeto eficiente para a prevenção de enchentes.

O que podemos esperar de um político que é responsável pelos péssimos serviços públicos na cidade, pela não realização de concurso público e pela contratação de mais de 22 mil funcionários para responder a seus interesses políticos? Após a reeleição de 2020, Canella (junto com Waguinho) assinaram a demissão de 450 servidores da saúde, entre eles Agentes Comunitários de Saúde e Agentes de Combate a Endemias, no meio da pandemia do Covid-19! Ao mesmo tempo, os cidadãos de Belford Roxo se veem obrigados a implorar a algum vereador ou funcionário da prefeitura para conseguir uma consulta médica ou exame. Isto é uma negação do direito constitucional à saúde, cujos responsáveis principais são Waguinho, Canella e os vereadores.

O que podemos esperar de um político que persegue servidores, ameaça opositores e proíbe a liberdade de expressão? Nas gestões Waguinho/Canella, há um mapeamento de todos os servidores e suas redes sociais, para punir quem fizer críticas à prefeitura, exonerando ou simplesmente cortando o salário. Além disso, os comerciantes e os meios de comunicação da cidade também não tem liberdade para fazer críticas, porque correm risco da prefeitura fechar seus comércios como represália. Vale citar que nenhum dos dois grupos se solidarizaram com o candidato Vinicius Crânio (PSOL) e o seu pai, ambos vítimas de agressão física por questões políticas. Nas eleições de 2022, o grupo político do Canella agrediu e perseguiu os cabos eleitorais da então candidata Sula, na área do Roseiral, simplesmente por estar em lados opostos da política naquele momento. A ligação do Canella com grupos milicianos, que está sendo investigada pela Justiça, também colocam uma preocupação muito grande sobre as liberdades individuais e coletivas e a democracia em Belford Roxo durante os próximos quatro anos.

Canella terá minoria na Câmara dos Vereadores

Os partidos aliados a Waguinho e Matheus conseguiram eleger 15 vereadores, contra 10 vereadores eleitos dos partidos aliados do Canella (são 25 cadeiras no total). Ainda vai ser julgada a anulação das candidaturas de vereadores ligados ao Canella por “ficha suja”, já que os mesmos foram condenados por envolvimento com grupos armados de extorsão a moradores e comerciantes (Fabinho Varandão, Eduardo Araujo e Igor Feio). Entretanto, independente desse julgamento, a correlação de forças da Câmara não mudaria.

Da nossa parte, tivemos quase mil votos na nossa legenda e nos nossos candidatos a vereadores pelo PSOL. O destaque foi a nossa candidata Lalih do Emancipa, uma jovem militante da Rede Emancipa que teve 515 votos, mesmo enfrentando uma polarização política entre dois lados da mesma moeda, os baixíssimos recursos e sendo contra a compra de votos, seja com dinheiro ou com asfalto, consultas médicas, como a maioria dos candidatos fazem. A campanha superou várias candidaturas que tinham cargos à sua disposição e muito mais poder econômico, e reuniu um grupo de jovens procurando uma nova forma de fazer política, contra a velha política.

O cenário sugere uma nova disputa, desta vez pela presidência da Câmara Municipal, onde Canella tentará oferecer cargos e secretarias para conseguir uma mesa diretora que não prejudique seus planos. Os próximos capítulos dirão se será uma negociação entre os dois grupos ou se haverá novas brigas na disputa pela condução dos trabalhos da Casa.

É importante destacar que, dos 25 vereadores eleitos, apenas 5 estarão em seu primeiro mandato. 20 vereadores foram reeleitos. Ou seja, não houve uma verdadeira e necessária renovação política, nem de figuras nem de partidos.

Outro destaque é que apenas uma mulher foi eleita vereadora, e pode até parecer piada, mas ela leva o nome do marido, que já foi vereador e está inelegível. A Câmara será 96% masculina, o que representa uma reprodução do machismo e do patriarcado que se manifesta nessa disparidade de gênero.

Uma análise rasa poderia afirmar que esse resultado é culpa dos eleitores. Mas durante a campanha eleitoral foi facilmente detectável a quantidade de campanhas masculinas e a sua presença massiva, em detrimento das campanhas femininas que possuíam pouca ou nenhuma visibilidade de material nas ruas e nas redes sociais.

A luta por uma Belford Roxo mais justa continua

Além das questões acima colocadas, sobre a questão das enchentes, dos funcionários municipais contratados e da falta de liberdade política, acreditamos que existe uma péssima situação no que diz respeito ao transporte público (caro e de má qualidade), à violência contra a mulher, ao acesso à cultura e lazer, a uma educação de qualidade, à coleta de lixo, à valorização dos servidores municipais e ao cuidado com o meio ambiente. Infelizmente, não vemos nenhum projeto do próximo prefeito de Belford Roxo que mostre uma tendência a melhorar essa situação.

Por isso, é importante fortalecer os movimentos sociais e o PSOL, e construir uma oposição verdadeira, baseada nos interesses da classe trabalhadora belforroxense, e não nos interesses dos empresários amigos do prefeito, que enriquecem com dinheiro público. Precisamos resistir e lutar pela emancipação e pela liberdade do povo!


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Pedro Micussi