Ecologia: a pesada herança de Leon Trotsky
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Ecologia: a pesada herança de Leon Trotsky

Sobre aspectos do pensamento de Trotsky a respeito do Meio Ambiente.

Daniel Tanuro 8 nov 2024, 12:05

Há mais de vinte anos que as e os marxistas revolucionários se perguntam: pode-se imputar a Marx e Engels seu desencontro com a ecologia dos anos 60 a 90 do século passado? Se sim, em que medida? Foram escritas centenas de páginas sobre o tema. Ainda que a tese de uma “ecologia de Marx” defendida por JB Foster seja um pouco abusiva, ninguém ousaria defender seriamente que os autores do Manifesto Comunista eram produtivistas que fetichizavam a tecnologia e não tinham nenhuma ideia dos limites naturais…

Por que suas preocupações ambientais encontraram tão pouco eco posteriormente? A vitória da revolução num país da periferia – combinando as exigências do que se chamava “rattrapage” (“alcançar” o nível de desenvolvimento dos países centrais capitalista, NdT) com as novas possibilidades de uma política centralizada com o objetivo de uma transformação radical – teve certamente muito que ver com os monstruosos estragos do produtivismo stalinista.

Entretanto, seria um erro remeter tudo à stalinização da URSS: o entusiasmo com a possibilidade de que a ciência fosse posta a serviço de transformações progressistas teve certamente muita influência no otimismo técnico-científico sem limites – bastante distanciado da prudência de Marx –, algo expresso em particular por Leon Trotsky. É importante refletir sobre isso.

Durante muitos anos, depois de situar as reflexões sobre os temas ecológicos na ordem do dia, sem dar-lhes todo o peso necessário, em fevereiro de 2003 a Quarta Internacional adotou uma resolução intitulada Ecologia e Socialismo1. Em 2010, adotou uma resolução específica sobre as mudanças climáticas e, neste marco, se pronunciou a favor do ecossocialismo2. Seguindo essa linha, o movimento devia pôr os pingos nos is: seu fundador teve imenso mérito de se opôr ao stalinismo, o que permitiu transmitir a herança marxista revolucionária às gerações do pós-guerra; porém, desafortunadamente, o legado estava incompleto: as ferramentas elaboradas por Marx e Engels para uma compreensão do metabolismo entre a humanidade e a natureza não faziam parte dele. Este artigo não tem outro objetivo que constatar isso e explicá-lo, com a esperança de contribuir para aprofundar a ecologização do marxismo.

Uma dominação muito dominadora

“Não devemos, no entanto, lisonjear demasiadamente nossas vitórias humanas sobre a natureza. Esta se vinga de nós após cada uma das derrotas que lhe infligimos. É certo que todas elas se traduzem principalmente nos resultados previstos e calculados, mas acarretam, ademais, outros imprevistos, com os quais contávamos e que, não poucas vezes, fazem frente aos primeiros. Os que desmontaram os bosques da Mesopotâmia, Grécia, Ásia Menor e outras regiões para obter terras de rotação não sonhavam com que, ao fazer isso, lançavam as bases para o estado de desolação em que atualmente se encontram tais países, já que, ao derrubar os bosques, acabavam com os centros de condensação e armazenamento da umidade. Os italianos dos Alpes que destroçaram na vertente meridional os bosques de pinhos tão bem cuidados na vertente setentrional não suspeitavam que, com isso, matavam na raíz a industria leiteira em seus vales, e ainda menos podiam suspeitar que, ao proceder assim, privavam seus riachos de montanha de água durante a maior parte do ano, para que na época de chuvas se precipitassem sobre a planície convertidos em turbulentos rios. Os introdutores da batata na Europa não podiam saber que, com o tubérculo farináceo, propagavam também a enfermidade com a escrofulose3”.

Entre outras reflexões, essa longa citação de Engels mostra que os fundadores do marxismo tinham uma visão dialética do progresso na capacidade humana de transformar o meio ambiente. Trotsky apresenta um tom diferente. Numa obra datada de 1923, o fundador do Exército Vermelho escreve:

“A situação atual das montanhas, rios, campos, pradarias, bosques e costas não pode ser considerado definitivo. O homem já realizou certas mudanças não carentes de importância sobre o mapa da Natureza; simples exercícios de estudante em comparação com o que ocorrerá. A fé só podia prometer a remoção de montanhas; a técnica, que não admite nada “por fé”, as abaterá e as removerá na realidade. Até agora não o fez mais que por objetivos comerciais e industriais (minas e túneis); no futuro o fará numa escala incomparavelmente maior, conforme os planos produtivos e artísticos amplos. O homem fará um novo inventário de montanhas e rios. Emendará rigorosamente, e em mais de uma ocasião, a Natureza. Remodelará em algumas ocasiões a terra a seu gosto. Não temos nenhum motivo para temer que seu gosto seja mal. (…) O homem socialista dominará a natureza inteira (…) por meio da máquina. Designará os lugares nos quais as montanhas deverão ser abatidas, mudará o curso dos rios e abarcará os oceanos4”.

É certo que Trotsky, quando escrevia estas linhas, não havia lido A Dialética da Natureza, que foi editado em 1925 (em alemão). Mas a ideia de que comoções tão gigantescas poderiam ter efeitos perversos jamais foi esboçada em seus textos ulteriores até sua morte em 1940.

Este entusiasmo não está limitado às páginas nas quais Trotsky faz exercícios de política ficcional. Em Cultura e Socialismo (1927), apoia sem reservas a construção da represa hidrelétrica Dneprostroi – “gigantesca mas não fantástica” – e evoca com acentos líricos a central de Chatoura, que queima enormes massas de turfa para produzir eletricidade.5 Convém perguntar-se se estes projetos de desenvolvimento teriam podido ser substituídos por outros, ecologicamente menos agressivos naquela época. A resposta está longe de ser evidente… Com efeito, sob pena de anacromismo, é preciso levar em conta as enormes dificuldades do poder soviético: depois de quatro anos de guerra e três anos de guerra civil, sendo uma realidade o refluxo da revolução mundial, está claro que a URSS – atrasada, esfomeada, esgotada, isolada e rodeada pelo imperialismo – precisava decolar economicamente e que não poderia fazer isso sem realizar um certo número de investimentos pesados, em particular no terreno energético com os meios que tinha. Outro elemento do contexto: a imensidão do país e de seus recursos naturais não estimulava particularmente a se inquietar com as consequências ambientais de tal ou qual instalação industrial contaminante. Mas isso não esgota em absoluto a questão. Com efeito, alguns cientistas não hostis ao regime, entre eles alguns membros do Partido Comunista, protestaram contra esses projetos, e fizeram isso no marco de órgãos oficiais6. Mas suas objeções não encontraram nenhum eco em Trotsky: inclusive quando foi responsável pelas instituições científicas da URSS, em 1925, nem sequer fez alusão a elas, nem muito menos as respondeu.

Independentemente do contexto histórico, é forçoso constatar que Trotsky não tem da “dominação da natureza” exatamente a mesma concepção que tinham Marx, Engels e, até mesmo, Lenin. Vejamos a continuação da passagem de Engels citada no começo deste artigo:

“(…) tudo nos recorda a cada passo que o homem não domina, nem muito menos, a natureza da maneira como um conquistador domina um povo estrangeiro, ou seja, como alguém que é alheio à natureza, mas que fazemos parte dela com nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, que nos encontramos em meio a ela e que todo nosso domínio sobre a natureza e a vantagem que nisso levamos em relação às demais criaturas consiste na possibilidade de chegar a conhecer suas leis e de saber aplicá-las acertadamente”.

Fica claro: a humanidade não pode “dominar” a natureza mais do que na medida em que um bom estudante domina seu material de exame! Evidentemente, Trotsky não pretendia o contrário, sem o que não seria materialista. Mas sua visão da dominação é claramente mais… dominadora; nos dá a tentação de dizer: machista. Sobretudo, não compreende as retroações negativas do progresso, quando este fenômeno já era bem conhecido nessa época.

Ciências e tecnologias: um otimismo exagerado

Isto nos leva a investigar a forma como Trotsky enxergava o progresso científico. Como se sabe, a ideia de que a ciência triunfante estava elucidando todos os mistérios do universo um atrás do outro estava muito disseminada no final do século XIX e começo do século XX. Era o espírito da época. Os fundadores do marxismo não escaparam sempre de forma completa dele. No entanto, Marx, que não tinha uma visão linear do progresso, desprezava profundamente o que chamava “esta merda do positivismo”7. Quanto a Engels, ajustava deste modo a questão do saber absoluto, da ciência soberana:

“(…) a soberania do pensamento se realiza numa série de homens que pensam de um modo nada soberano; o conhecimento com pretensão incondicional em relação à verdade se realiza numa série de erros relativos; nem uma nem outro podem ser realizados plenamente senão mediante uma duração infinita da humanidade. Temos aqui de novo a mesma contradição encontrada antes entre o caráter do pensamento humano, necessariamente representado como absoluto, e sua realidade em homens individuais de pensamento obviamente limitado; é uma contradição que pode ser resolvida mais do que no progresso infinito, na sucessão, praticamento ao menos infinita para nós, das gerações humanas. Neste sentido o pensamento humano é tão soberano quanto o não soberano, e sua capacidade de conhecimento é tão limitada como limitada”8.

Lenin retoma a mesma ideia em termos mais sensíveis: “Nos aproximaremos da verdade objetiva (sem, não obstante, esgotá-la jamais)”9.

Trotsky é menos prudente. Em 1925, quando presidente do Conselho Científico e Técnico da Industria e responsável portanto de todas as instituições científicas soviéticas, toma a palavra ante um auditório de químicos. Seu discurso elogia, apoiando-se no “otimismo técnico-científico”, o grande sábio russo Mendeleiev, inventor da tabela periódica dos elementos. Lev Davidovitch se expressa de modo arrebatador:

“A fé de Mendeleiev nas possibilidades ilimitadas da ciência, da previsão e da dominação da matéria deve se converter na fé científica comum dos químicos da pátria socialista. Pela boca de um de seus sábios, Du Bois Reymond, a classe social que abandona a cena história nos confessa sua divisa filosófica: “Ignoramus, ignorabimus!”, ou seja, “Não compreendemos, não aprenderemos nunca”. Mentira, responde o pensamento científico que liga sua sorte à da classe ascendente. O não-conhecível não existe para a ciência. Compreenderemos tudo! Aprenderemos tudo! Reconstruiremos tudo.”10

A vontade de dar às massas e aos militantes a confiança em sua capacidade de tomar sua sorte em suas mãos é uma constante em Trotsky, e se expressa às vezes de forma um pouco expressiva. Mas aqui há mais. Efetivamente, seu entusiasmo por Mendeleiev está motivado, em particular, pelo fato de que o otimismo técnico-científico do grande sábio lhe servia de base para sua luta contra os malthusianos. Compreende-se que Trotsky tenha querido apoiar Mendeleiev sobre esse ponto. No entanto, para enfrentar o Princípio da População, Marx não tinha necessidade de uma fé nas possibilidades ilimitadas da ciência: contentava-se em constatar por redução ao absurdo que seria simplesmente impossível que a população superasse as capacidades alimentícias do meio ambiente e que, se Malthus tivesse razão, ou seja, se existisse uma contradição insuperável entre o crescimento exponencial da população e o crescimento linear da produção agrícola, então o primeiro homem sobre a terra já teria sido excedente. Argumentos deste tipo lhe bastavam para demonstrar que o pastor Malthus fazia pseudociência e que suas teorias não eram de fato mais do que uma propaganda cínica repugnante e hipócrita contra a assistência aos pobres.

Aprofundemos um pouco este debate sobre as tecnologias. Em nossa opinião, é indiscutível que para Marx as técnicas não são neutras. Elas têm um caráter de classe. Falando da sorte da classe assalariada embrionária antes da revolução industrial, nos séculos XV-XVI, o autor de O Capital sublinha por exemplo que “não possuindo ainda o modo de produção técnica nenhum caráter especificamente capitalista, a subordinação do trabalho ao capital não estava mais do que na forma”11. Nesta frase, está claro que a tecnologia da revolução industrial está considerada como característica do capitalismo, e talhada sob medida para os objetivos deste modo de produção. Esta forma de enxergar sustenta por outro lado a violenta denúncia do maniqueísmo, dos capitalistas engenheiros, da ciência capitalista, etc. tal como se desenvolve no capítulo XV d’O Capital, em particular no capítulo Maquinaria e Grande Indústria.

Uma vez mais, podemos constatar que Trotsky vê as coisas de um modo um pouco diferente. Em Cultura e Socialismo, questiona a contradição entre dois axiomas do marxismo: o que afirma que a cultura dominante é a cultura da classe dominante, e o que ensina que a classe operária, para construir o socialismo, deve assimilar as culturas das sociedades anteriores. O problema, diz, é então o seguinte: se uma sociedade de exploração engendra forçosamente uma cultura de exploração, qual o interesse da classe operária em assimilar esta? Trotsky resolve esta dificuldade argumentando que “o caráter de classe da sociedade reside fundamentalmente na organização da produção”, não nas forças produtivas – portanto, não reside na tecnologia. “Toda sociedade de classes, acrescenta, se desenvolveu segundo certos meios de lutar contra a natureza, e esses meios mudaram em função do desenvolvimento da tecnologia”.

Em seguida, pergunta: “O que é o mais fundamental: a organização de classe da sociedade ou suas forças produtivas? Indiscutivelmente, suas forças produtivas”, responde. “Pois é sobre elas, sobre um certo nível de seu desenvolvimento, como as classes evoluem e se remodelam a si próprias. As forças produtivas expressam materialmente a competência econômica da humanidade, sua capacidade histórica para assegurar sua própria existência. As classes crescem sobre este cimento dinâmico, e suas relações mútuas determinam o caráter da cultura. (…) A tecnologia é uma conquista fundamental da humanidade (…). A máquina estrangula o escravo assalariado. Mas o escravo assalariado somente pode ser libertado pela máquina. Aí reside a raiz de toda a questão”12. Aí reside, ao contrario, a raiz do erro!

Uma visão muito linear do progresso

Se a tecnologia, em geral, fosse uma conquista fundamental da humanidade, os anticapitalistas de hoje deveriam inscrever em seu programa a utilização socialista dos transgênicos (Organismos Geneticamente Modificados), da clonagem dos animais e da energia nuclear. É, com efeito, o que fazem certas correntes marxistas: para elas, os perigos destas tecnologias derivam unicamente das relações de produção capitalistas, de modo que o controle operário sobre a produção bastaria para eliminá-las. O exemplo da fissão nuclear mostra que é uma ilusão: uma vez que a reação é lançada, nenhum controle, nem operário nem burguês, pode detê-la. A engenharia genética apresenta riscos análogos. É, portanto, claramente a própria tecnologia aquilo que está em questão, não só a organização da produção.

Em benefício de Trotsky, deve-se destacar que os possíveis perigos das tecnologias conhecidas de 1927 não tinham muito em comum com os perigos atuais. Isso é indiscutível. Mas, por outro lado, esta passagem comporta em nossa opinião dois erros teóricos sérios e de um alcance mais amplo, que estão muito longe de serem explicados pelo contexto histórico e tecnológico:

1º) Trotsky raciocina como se, em cada nível de conhecimento científico, correspondesse um ramo tecnológico e somente um. Bem, a história proporciona numerosos exemplos de opções alternativas e, inclusive, encruzilhadas tecnológica13. Esta realidade já era conhecida então. Trotsky deveria estar consciente dela e, assim, teria enriquecido sua condenação do capitalismo. Infelizmente, ao mesmo tempo em que possui uma visão aberta sobre as diferentes possibilidades de evolução social, sua visão sobre tecnologias se inscreve num esquema de desenvolvimento unilinear;

2º) Trotsky parece considerar aqui que a organização social da produção (as classes) e as forças produtivas materiais (entre elas a tecnologia) estão separadas por uma muralha chinesa. Quando a tecnologia não é senão a aplicação das ciências à produção, não parece ser coerente com o fato de que uma cultura de dominação pode engendrar tecnologias intrinsecamente dominadoras a nível do aparato produtivo. Para ele, a tendência do capitalismo a desenvolver cada vez mais as forças destrutivas, concretiza-se essencialmente na barbárie militar-policial do imperialismo em geral, e do fascismo em particular. Sobre este ponto, sua concepção é mais estreita que a dos fundadores do marxismo que, n’A Ideologia Alemã, citam a maquinaria e a moeda como forças destrutivas.14

Neste marco metodológico, não é estranho que Trotsky não expresse nenhuma reserva frente às tecnologias, quais sejam elas. De fato, nada nele se parece, nem de perto nem de longe, ao princípio de precaução. Evoca “a contradição social incluída na própria tecnologia”; mas a esperança que esta fórmula desperta no leitor de hoje decai imediatamente. Com efeito, à guisa de exemplo, o autor cita… os vagões de primeira, segunda e terceira classe nas ferrovias! Entretanto, neste caso, a contradição não está evidentemente “inclusive na própria tecnologia”: deriva do uso social que se faz dela.

O leitor passa por outra situação de ânimo e desânimo do mesmo tipo quando Trotsky contrapõe o fato de que os revolucionários devem romper o aparato do Estado com o fato de que “não devem romper com a tecnologia”: “O proletariado toma posse das fábricas equipadas pela burguesia e o faz na forma com a qual a revolução as encontrou”. Vem a seguir a frase promissora: “Contudo, na forma que tomamos, esta velha tecnologia é completamente inapropriada para o socialismo”. Infelizmente, uma vez mais, não é a tecnologia propriamente dita a que está na sua alça de mira, mas o modo social de seu funcionamento, pois este concretiza “a concorrência entre empresas, a corrida pelo lucro, o desenvolvimento desigual de ramos separados, o atraso de certas regiões, a pequena escala da exploração agrícola, o desperdício dos recursos humanos”15.

Eugenismo socialista, alquimia… e Lysenko?

Um ponto particularmente perturbador é que seu otimismo técnico-científico arrasta Trotsky para o terreno escorregadio do eugenismo (muito em voga no começo do século XX) e da seleção do super-homem socialista. Na conclusão de seu panfleto Se os Estados Unidos se tornassem comunistas (1934) faz uma tentativa torpe para opor um eugenismo socialista ao eugenismo dos nazis: “Enquanto os imbecis românticos da Alemanha nazi sonham em restaurar a velha raça dos sombrios bosques da Europa em sua pureza, ou melhor de sua imundície original, vocês, americanos, depois de haver tomado em suas mãos com firmeza sua máquina econômica e sua cultura, aplicarão métodos científicos originais aos problemas do eugenismo. Dentro de um século, seu melting pot de raças terá dado nascimento a uma nova variedade homens, a única digna do nome de Homem”16. Não se pode senão saudar o antirracismo deste parágrafo, mas o que fazem aqui os “métodos científicos originais” e em que consistem os “problemas do eugenismo”?

A ideia de um super-homem socialista selecionado artificial e cientificamente se repete várias vezes na obra de Trotsky: dez anos antes, o último capítulo de Literatura e Revolução acabava assim:

“O homem libertado buscará melhor equilíbrio no funcionamento de seus órgãos e no mais harmonioso desenvolvimento de seus tecidos. Manterá assim o medo da morte nos limites de uma reação racional do organismo em face do perigo. Não há dúvida de que a falta de harmonia anatômica e fisiológica, a extrema desproporção no desenvolvimento de seus órgãos ou a utilização de seus tecidos provocam esse medo histérico e mórbido da morte, turvando o raciocínio e alimentando as humilhantes e estúpidas fantasias de outra vida. O homem irá se esforçar para dirigir seus próprios sentimentos, elevar seus instintos ao plano do consciente e torná-los límpidos, para orientar sua vontade nas trevas do inconsciente. Irá atingir assim um estágio mais elevado da existência e criará um tipo biológico e social superior, um super-homem, se isso lhe agrada.”17.

Isso não é tudo. Efetivamente, sua reflexão sobre a tecnologia o leva a afirmar peremptoriamente que o velho sonho dos alquimistas poderá ser realizado: “A química é, sobretudo, a ciência da transmutação dos elementos”, expõe no congreso de Mendeleiev. Volta sobre o tema um ano mais tarde: “O parentesco dos elementos e suas mútuas metamorfoses pode ser considerado como provado empiricamente no momento em que, com a ajuda dos elementos radioativos, se tornou possível resolver o átomo em seus componentes”. O ponto mais surpreendente aqui é que Trotsky recorre à dialética como se tratasse de uma metateoria cujas leis governariam o universo: “Até recentemente, os cientistas supunham que havia no mundo cerca de 90 elementos (…) que não podiam ser transformados um no outro (…). Tal noção contradiz a dialética materialista, que fala da unidade da materia e, mais importante ainda, da transformabilidade dos elementos da matéria”. E conclui que “a química dos radio-elementos celebra o triunfo supremo do pensamento dialético”18. Algo chamativo vindo do brilhante autor do texto O que é a dialética.

Na mesma ordem de ideias, convém assinalar que Trotsky parece estar pouco inclinado a criticar as elucubrações de Lysenko. Em 1938, exilado no México, o ex-dirigente bolchevique escreve uma curta introdução para a edição inglesa de seu discurso ao congresso Mendeleiev. Pode-se ler nela que “o regime totalitário exerce uma influência desastrosa sobre o desenvolvimento das ciências naturais”. É, em nosso conhecimento, a única alusão de Trotsky ao pseudossábio stalinista e ambicioso que, condenando a genética mendeliana como burguesa, pretendia-se capaz de modificar as características de uma planta atuando sobre seu meio ambiente… Tendo expressado sua confiança na seleção de um super-homem socialista, teria prestado Trotsky algum tipo de fé na ideia de que a ciência soviética, liberando as forças produtivas de suas travas capitalistas, poderia fazer crescer trigo na tundra siberiana? Este ponto segue estando obscuro, mas toda dúvida é possível! Em qualquer caso, é curioso que A revolução traída não consagre nem um parágrafo ao impacto do stalinismo sobre as ciências exatas, a pesquisa, etc.

Trotsky passa às vezes muito perto de questões ecológicas interessantes, mas sem vê-las. Seu discurso ante os químicos contém uma passagem que poderia ter favorecido uma reflexão sobre a capacidade do comunismo em fazer avançar um modo de desenvolvimento pós-industrial não-destrutivo do meio ambiente. O orador cita Mendeleiev: “À época industrial sucederá talvez uma época mais complexa que, em minha opinião, estará marcada pela redução ou a simplificação extrema dos métodos que podem servir para a produção da alimentação, da vestimenta e da moradia. A ciência experimental deve aspirar a esta simplificação extrema, rumo ao que já se dirigiu parcialmente ao longo das últimas décadas”. Trotsky sublinha que esta perspectiva é a do comunismo porque “tal desenvolvimento das forças produtivas, que conduzirá à simplificação extrema dos métodos de produção da alimentação, da vestimenta e da moradia, permitirá evidentemente reduzir ao mínimo os elementos de coerção na sociedade”. Poderia ter acrescentado que este desenvolvimento reduziria também o impacto destrutivo da economia sobre o meio ambiente. Mas não o fez. Decididamente, este aspecto das coisas, embora presente em Marx e Engels, não fazia parte de suas preocupações.

Um desenvolvimento harmonioso… e a natureza?

Porém deixemos aí a ciência e a tecnologia, e abordemos a questão geral das relações globais entre humanidade e natureza. Nesta matéria, Karl Marx produziu um conceito destacável: a regulação racional dos intercâmbios de matéria (ou metabolismo social) entre a humanidade e natureza como única liberdade possível. Como se sabe, Marx havia chegado a esta conclusão a partir dos trabalhos de Liebig sobre o esgotamento dos solos, motivo pelo qual a industrialização, favorecendo o êxodo rural, interrompia o ciclo dos nutrientes. Armado com este conceito, Marx votou ao problema dos solos para ver em sua degradação uma razão suplementar para abolir a separação entre a cidade e o campo.

Estes desenvolvimentos só ocupam um lugar relativamente limitado n’O Capital, mas não haviam escapado aos teóricos marxistas do final do século XIX e começo do XX. Em A questão agrária e os críticos de Marx, Lenin responde aos autores que consideram que a invenção dos abonos sintéticos havia tornado obsoleta a análise de Marx: “A possibilidade de substituir com fertilizantes artificiais os abonos naturais (…) não refuta em absoluto a irracionalidade que consiste desperdiçar abonos naturais poluindo assim os rios e o ar nos distritos industriais”19. Em sua obra de vulgarização, A teoria do materialismo histórico – Manual popular de sociologia marxista, Bukharin faz uma síntese do conceito de “metabolismo social”, e o adorna com considerações pertinentes sobre a possibilidade de estimar a produtividade social do trabalho reduzindo as diferentes atividades a seu denominador comum: o gasto de energia.20

E Trotsky? De todas estas questões, a única que parece interessar-lhe é a da abolição da separação entre cidades e campos. Além disso, aborda-a exclusivamente através da luta contra o “idiotismo camponês” (a fórmula é de Marx). Não menciona a problemática dos solos. A abolição da separação entre as cidades e o campo, para ele, é mais espaços verdes nas cidades, de um lado, e a industrialização da produção agrícola no marco de explorações gigantes, de outro lado. É preciso ser honesto e dizer que esta concepção era compartilhada por todos os marxistas da época; sem dúvida, não podia ser de outra forma no estágio de desenvolvimento da economia e da sociedade. Ao menos Kautsky, em A Questão Agrária, havia trazido à luz certos efeitos negativos da concentração das terras e da mecanização.21 Nada parecido em Trotsky: é unilateralmente positivo. Em Cultura e socialismo, depois de haver elogiado a cadeia de montagem fordista, escreve que “gigantescos sistemas de melhora das terras – mediante uma irrigação e uma drenagem adequadas – são as cadeias de montagem da agricultura. Além da química, a construção de máquinas e a eletrificação liberam o cultivo do solo da ação dos elementos, possibilitando assim que a atual economia de aldeia seja integrada na cadeia de montagem socialista que coordena toda a produção”.

A visão desenvolvida nestas páginas ilustra infelizmente as piores caricaturas sobre o socialismo como libertador das forças produtivas prisioneiras das travas capitalistas: “Inclusive na América, o capitalismo é claramente incapaz de elevar a agricultura ao nível da industria. Esta tarefa é de inteira responsabilidade do socialismo”. Mais à frente, Trotsky detalha os dois processos que concorrem em sua opinião na industrialização da agricultura:

– em primeiro lugar, a especialização e a industrialização de toda uma série de processos de produção que estão hoje entre a economia da aldeia e a indústria (“O exemplo dos Estados Unidos mostra as possibilidades ilimitadas que estão ante nós”, comenta);

– em segundo lugar, “a industrialização da produção das plantas de cultivo, de criação de gado, da horticultura, etc. (…) Não basta socializar, é preciso retirar a agricultura de seu estado atual substituindo o atual arado superficial do solo (today’s squalid digging around in the soil) por fábricas cientificamente organizadas de trigo e de cevada, por fábricas de bovinos e ovinos, etc.”.

Não se evoca a ruptura do ciclo dos nutrientes. Trotsky escreve que “o princípio da economia socialista é a harmonia”, mas não tem em mente mais do que a harmonia resultante da coordenação interna conforme o princípio da montagem fordista. À diferença de Marx, não mostra nenhuma compreensão da necessidade de tender a uma maior harmonia nas relações entre economia e a natureza…

À guisa de conclusão provisória

Nunca se insistirá suficientemente sobre a necessidade de levar em conta o contexto histórico. Evocamos já o marco geral: a URSS exangue, rodeada, isolada, etc. Mas outro elemento, mais preciso, é o debate no seio do partido soviético sobre a forma de responder a esta difícil situação. A partir de 1923-24, frente ao refluxo da revolução mundial e à desmobilização da classe operária russa, se esboçam duas orientações alternativas de forma cada vez mais nítida:

– a do “socialismo em um só país”, que se constrói “a passo de tartaruga”, tese defendida por Bukharin e Stalin, que renunciam de fato à extensão da revolução e contam com o enriquecimento do campo para dar ao regime os meios para construir uma hipotética sociedade nova. Até o giro de 180º da coletivização forçada e do primeiro plano quinquenal, se traduz numa falta total de visão sobre as necessidades do desenvolvimento industrial.

– e a de Trotsky, que vê no desenvolvimento planificado da industria pesada nacionalizada o meio pelo qual o regime soviético poderia aguentar sem se degenerar, esperando e trabalhando a favor de um novo ascenso das lutas à escala internacional. Frente a um Stalin que declara estupidamente que “a Rússia tem tanta necessidade de um pântano no Dnieper como um mujique de um fonógrafo”22, para Trotsky, é indispensável desenvolver uma indústria capaz de proporcionar os meios de um desenvolvimento do campo, ao mesmo tempo em que possibilite uma diferenciação de classe no seio da população campesina. Desde abril de 1923, nas Teses sobre a industria que apresenta no XII Congresso do Partido Comunista, explica que se trata de uma questão de vida ou morte para o regime23.

Os fatos demonstraram que esta última análise era fundamentalmente correta. Vistos a enormidade do que estava em jogo e os métodos cada vez mais brutais da fração Stalin-Bukharin, não é estranho que Trotsky, às vezes, tenha “torcido o bastão no outro sentido”, segundo uma célebre expressão. Assinalemos, entretanto, em sua defesa, que ao fazê-lo, era simplesmente fiel à cultura tecnicista e modernista da época, que era a de toda a direção bolchevique e que encontrava sua expressão artística na corrente futurista24.

Contudo, como vimos, o contexto histórico não explica tudo. Numa série de questões como a dominação da natureza, as perspectivas de transformação que se derivam dela, a verdade científica absoluta, o estatuto das tecnologias, etc., constata-se que Trotsky está na retaguarda em relação a certas posições claramente mais matizadas de Marx, Engels e inclusive de Lenin. Um ponto muito surpreendente é que alguns raciocínios sobre o desenvolvimento científico ou técnico proclamam a dialética como uma espécie de meta-teoria transcendente. Esta concepção da dialética é completamente oposta à que Trotsky opera quando analisa os fenômenos sociais e políticos.

Por outro lado, muito frequentemente, o tom dos textos citados neste artigo deixa uma impressão desagradável de arrogância dominadora, inclusive de desprezo, não somente pela natureza selvagem mas também pelo que é natural, fisiológico, não controlado pelo ser humano. Este ponto é mais importante do que parece. Efetivamente, a versão muito dominadora de Trotsky da “dominação da natureza” e o discurso imperativo que se deriva dela não deixam lugar para o pensamento de cuidar do que existe, quando este é indispensável para o desenvolvimento de uma consciência e de uma prática ecológicas.

Leon Trotsky é um grande revolucionário internacionalista e um pensador brilhante. Isso se deve em particular à análise do fascismo, à análise da burocracia e à teoria da revolução permanente. Fundando a Quarta Internacional, quando era quase meia-noite no século, permitiu a transferência da herança marxista-revolucionária às gerações posteriores. Ler Trotsky é tocar com os dedos a realidade da Revolução Russa, da Internacional Comunista, da onda revolucionária do final da Primeira Guerra Mundial e de seu refluxo. É compreender o fascismo e o stalinismo, a frente popular, a revolução espanhola e a comuna de Cantão, o declive do império britânico e a ascensão do imperialismo americano. Numa palavra, é compreender o século XX e assimilar elementos programáticos e metodológicos absolutamente indispensáveis para o desenvolvimento de uma orientação anticapitalista no século XXI. Mas toda medalha tem seu reverso. Em Trotsky, a consciência ecológica está no grau zero. No legado que transmitiu a seus sucessores faltavam as poucas ferramentas genialmente precursoras do ecossocialismo, tal como Marx e Engels elaboraram. O ápice do ironia: de todos os dirigentes de Outubro, o único que conferiu uma certa importância ao conceito de regulação racional do metabolismo social entre a humanidade e a natureza foi o dirigente da ala direita, o teórico do enriquecimento dos kulaks e do socialismo em um só país, o estribo de Stalin: Bukharin. Isso não basta para fazer dele um teórico ecossocialista, longe disso, mas é um fato, e este fato não pôde mais do que contribuir para explicar que os marxistas revolucionários do pós-guerra perderam o fio da ecologia de Marx.

23/08/2010

Tradução de “Ecología: La pesada herencia de Leon Trotsky”.

Este artigo faz parte do especial sobre os 80 anos da IV Internacional. Para ler mais documentos a este respeito, compre aqui a 10ª edição da Revista Movimento!


Notas

1 Quatrième Internationale, Ecologie et socialisme, Disponível em: << http://www.europe-solidaire.org/spip.php?article7892http://www.anticapitalistas.org/IMG/pdf/Congreso4aInternacional2003-EcologiaYSocialismo.pdf >>

2 Quatrième Internationale, Le basculement climatique et nos tâches,Disponível em: << http://www.europe-solidaire.org/spip.php?article16635 >>

3 F. Engels, La dialectique de la nature, Paris, Editions Sociales, 1968, pp. 180-181. La dialéctica de la naturaleza, https://www.marxists.org/espanol/m-e/1880s/dianatura/index.htm ed. AKAL.

4 Léon Trotsky, Littérature et Revolution

5 Léon Trotsky, Culture and Socialism, 1927

6 Douglas R. Weiner, Models of nature. Ecology, Conservation and Cultural Revolution in Soviet Russia

7 Karl Marx, Carta a Engels, 7/07/1866

8 F. Engels, Anti-Dühring, Disponível em: << https://www.marxists.org/espanol/m-e/1870s/anti-duhring/ad-seccion1.htm#xiv pg 75.# >>

9 Lenin, Matérialisme et Empiriocriticisme, p. 147. Disponível em: <<https://www.marxists.org/espanol/lenin/obras/oe12/lenin-obrasescogidas04-12.pdf >>

10 L. Trotsky, Mendeleiev et le marxisme, discours au congrès Mendeleïev, 17 septembre 1925, Marxists Internet Archive. Versão em espanhol em: http://www.fundacionfedericoengels.net/index.php/48-colecciones/marxismo-hoy/marxismo-hoy-n-15/291-el-materialismo-dialectico-y-la-ciencia-la-continuidad-de-la-herencia-cultural

11 Marx, Le Capital, I, Chap XXVIII, Garnier Flammarion 1969 p.546 — nous soulignons

12 L. Trotsky, Culture et Socialisme, op. cit. Marxists Internet Archive (em espanhol). Disponível em: <<http://www.ceip.org.ar/Apendice-Textos-sobre-arte-cultura-y-literatura-Cultura-y-socialismo>>

13 No domínio crucial da energia, por exemplo, desde a segunda metade do século XIX, alguns engenheiros advogavam para que o sol substituísse o carvão como fonte. Não eram somente ideias no ar: máquinas solares eficazes foram efetivamente colocadas em funcionamento em toda uma série de terrenos de aplicação. Se este setor energético tivesse decolado, teria mudado a face da terra. Mas não decolou em absoluto, não por razões técnicas, e nem sequer sempre por razões de eficiência-custo, mas principalmente porque os monopólios do carvão tinham já o poder de encerrar a inovação, a fim de manter seus super-lucros. (cf. Daniel Tanuro, El imposible capitalismo verde).

14 Marx, Engels, L’Idéologie allemande, Marxists Internet Archive. Em espanhol, https://www.marxists.org/espanol/m-e/1846/ideoalemana/index.htm

15 L. Trotsky, Culture et socialisme, op. cit. em espanhol,Disponível em: << http://www.ceip.org.ar/Apendice-Textos-sobre-arte-cultura-y-literatura-Cultura-y-socialismo >>

16 L. Trotsky, If America Should Go Communist, Marxists Internet Archive. https://www.marxists.org/espanol/trotsky/ceip/escritos/libro4/T06V112.htmndt.

17 Sublinhado nosso. Disponível em: <<https://www.marxists.org/espanol/trotsky/1920s/literatura/8a.htmndt>>

18 L. Trotsky Radio, ciencia, técnica y sociedad.Disponível em: <<https://www.nodo50.org/ciencia_popular/articulos/Trotsky1.htm>>

19 Disponível em: <<18/ https://www.marxists.org/espanol/lenin/obras/oe12/lenin-obrasescogidas04-12.pdf>>

20 Bukharin, La teoría del materialismo histórico. Manual de sociología marxista. Disponível em: << https://www.sigloxxieditores.com/libro/teoria-del-materialismo-historico_16825/ >>

21 Kautsky, La Question agraire, réédition fac similé Maspéro, Paris 1970

22 Citado por M. Liebmann, Entre histoire et politique. Dix portraits. ed. Aden , Bruxelles 2006

23 L. Trotsky, Theses on Industry, Marxists Internet Archive

24 É chamativo que a maior parte dos textos em que Trotsky se expressa sobre a natureza têm por tema principal a cultura. De fato, mas isso supera ao mesmo tempo os limites deste artigo e as competência de seu autor, sua forma de compreender a natureza está muito estreitamente ligada a suas concepções sobre a arte. Isto aparece em particular em sua evocação lírica da central térmica de Chatoura como objeto de arte (a thing of beauty).


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Pedro Micussi