Donald Trump, a reformulação do americanismo e a mundialização extremista
Donald Trump

Donald Trump, a reformulação do americanismo e a mundialização extremista

A eleição de Trump, seu discurso protofascista e a relação com as big techs não pode e não deve ser tratada somente como uma expressão política descolada da realidade mundial

Samara Morais 22 jan 2025, 08:55

Foto: GPO/ Fotos Públicas

Neto de um paupérrimo imigrante alemão e filho do empresário Fred Trump, cuja fortuna tem relação direta com o acesso do empresariado americano ao fundo público para a construção de habitações, em especial durante o boom do fordismo, Donald Trump tem em seu histórico acusações de lavagem de dinheiro, assédios e discursos violentos.

Já na posse do seu segundo mandato, Trump tem apresentado um absurdo conforto em publicizar opiniões ultranacionalistas e extremistas, como a renomeação de espaços políticos importantes, como o Golfo do México (que fica a oeste de Cuba), a apresentação do interesse no Canadá e na Groenlândia.

O presidente americano teve ainda a criminosa audácia de falar de uma reforma educacional altamente conservadora, de um não reconhecimento políticos de pessoas trans, de investimento em novas perfurações para a obtenção de combustíveis fósseis, assim como a “liberdade de expressão” como ponto forte do seu mandato.

A liberdade de expressão tem sido tema recorrente entre os extremistas e a presença dos principais nomes das redes sociais e empresas de tecnologia é a constatação de que estamos lidando com um programa de mundialização do extremismo. Nomes como o de Mark Zuckerberg (Meta), Sundar Pichai (Google), Tim Cook (Apple), Jeff Bezos (Amazon), Shou Zi Chew (TikTok), Sam Altman (Open AI), não só prestigiaram como fizeram polpudas doações para o evento.

É importante apontarmos que a reforma moral e filosófica espraiada pelo período da industrialização americana contribui com destrutivo padrão de consumo americano, a exportação de seus produtos e padrões, bem como a moralização do tempo de lazer a partir da igreja e da ação das assistentes sociais, contratadas pelas indústrias para acompanhar aos finais de semana a rotina dos trabalhadores. Observando e apontando se estes possuíam o “perfil” de continuar ou não nos seus ofícios.

A apreensão de uma nova ideologia e/ ou reformulação ideológica tem como força a determinação dos meios de produção, a determinação de uma nova dimensão histórica, assim como a determinação de aspectos subjetivos e da ação coordenada da classe dominante que precisa evitar o desvelamento das contradições e principalmente precisa atuar no obscurecimento da luta, naturalizando assim as condições ad eternum que a sociabilidade capitalista traz como demanda da classe.

Nesse sentido, a eleição de Trump, seu discurso protofascista e a relação com as big techs não pode e não deve ser tratada somente como uma expressão política descolada da realidade mundial, muito pelo contrário, ao afirmar que deseja forjar uma sociedade “que não veja cor de pele e seja baseada no mérito” e apontar que a política oficial do governo é a de que só haja políticas para somente o gênero “masculino e feminino”, o presidente apresenta um enorme retrocesso para o movimento negro e para a comunidade LGBTQIAP+. Destaca-se ainda que um portal sobre o direito ao aborto, o chamado ReproductiveRights.gov, saiu ontem do ar, trazendo ainda mais incertezas sobre a justiça reprodutiva americana.

A posse teve ainda dois momentos marcantes, as saudações de Elon Musk e Steve Bannon, parecidas* com as saudações utilizadas no período de domínio nazista alemão Hitlergruß ou Deutscher Gruß . Comumente conhecida como um ato de respeito ao movimento nazista e ao próprio Hitler, era utilizada para confirmar a aproximação políticas de sujeitos que sustentavam o regime. Segundo a historiadora americana Claire Aubin, especialista em nazismo, o gesto foi um “sieg heil”, isto é, o mesmo gesto utilizado pelos fãs de Hitler para apontar “Viva a Vitória”.

Bannon, marqueteiro de Trump e de grande parte da extrema-direita mundial, fez a mesma saudação após falar da importância do retorno do AFD (Partido da Alternativa para a Alemanha) e seguiu afirmando que Eduardo Bolsonaro era “uma das pessoas mais importantes no nosso movimento pela soberania ao redor do mundo. E acho que um dia, e em um futuro não tão distante, [será] o presidente do Brasil”.
A crise de bem-estar e a crise climática tem provocado no cenário de guerra de classes um rearranjo das ideologias e infelizmente a partir das inúmeras estruturas que estão a serviço do capital, parte da classe trabalhadora tem comprado a ideia nazista de que a culpa que é do CAPITALISMO, é dos imigrantes, do lumpemproletariado, das mulheres, das pessoas trans, dos comunistas.. Nessa mesma semana, o nome do extremismo alemão, Alice Weidel, em conversa com o bilionário Elon Musk, publicizou uma velha fake news, a de que Hitler era comunista.

Esses discursos de forma coordenada tem tentando contribuir com o aniquilamento da historiografia mundial e com o compartilhamento de um nova realidade, voltada principalmente para a naturalização das condições cada vez mais miseráveis de trabalho. Não à toa que o Bannon, disse que o governo marxista brasileiro (reformista, na verdade) havia apreendido o passaporte de Jair Messias Bolsonaro, investigado por fraudes e pelo atentado a democracia brasileira.

Existe uma crise no bloco histórico burguês, ainda que o neoliberalismo se beneficie historicamente com os regimes nazi-fascistas estamos vivendo um rearranjo do Estado do Capital. Se em outrora os espaços de poder americano/mundial eram compostos por grandes banqueiros, petroleiros, industriais e construtores, agora o Estado é composto por parte dos grandes nomes do mercado financeiro e das big techs.

É importante destacar que a crise do norte global não é paga somente pelos seus trabalhadores, em especial pelos imigrantes, ela é deslocada para países do centro e do sul, com narrativas que fomentam crises políticas e econômicas, como as materializadas a partir das notícias falsas divulgadas por Nikolas Ferreira sobre o PIX.

Destaca-se que nessa mesma “onda” a nossa vizinha, a Argentina, presidida pelo extremista Javier Millei, realizou a primeira privatização desse mandato, entregando a Impsa, uma das principais empresas públicas dos setores metalúrgico e energético, para os doadores da campanha de Trump, o conglomerado Industrial Acquisition Fund (IAF).

Em 2025, teremos eleições presidenciais no Chile, na Bolívia, em Honduras e no Equador, o que nos faz prever que teremos um gigantesco desafio pela frente, o de romper com a dominação americana nas políticas latinas e caribenhas, o que nos obrigará, quanto classe, a construir importantes programas e frentes internacionalistas.


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Camila Souza