Quando os bilionários precisam tirar as máscaras
Trump-Zuckerberg

Quando os bilionários precisam tirar as máscaras

Ou Trump, além de Trump

Theo Louzada Lobato 13 jan 2025, 09:00

Foto: Reprodução

O recente anúncio de Zuckerberg sobre as mudanças na política do conglomerado Meta repercutiram bastante no debate público brasileiro, em especial pela menção indireta que fizeram ao sistema judicial do país. Seu anúncio contém diversos aspectos melhor detalhados nesse texto escrito por Giovanny Ferreira, dos quais gostaria de destacar um: a mudança da operação da empresa da Califórnia para o Texas, com a justificativa de despreocupar seus usuários de uma suposta “parcialidade”.

Esse detalhe importa não pela mudança em si, mas porque traz um elemento que não pode ser esquecido do cenário norte-americano e global: a polarização segue sendo parte central da atual dinâmica de um capitalismo em um longo período de crise. A posse de Donald Trump inicia, ao mesmo tempo, como uma expressão da reorganização da extrema-direita dos Estados Unidos e, consequentemente, do mundo, mas também como expressão do cenário instável que ele também representa.

Por um lado, Trump dobra a aposta em um programa à extrema direita, mais confortável com maior controle parlamentar e com o peso que representa ter sido eleito para um segundo turno: suas declarações sobre anexação do Canadá e da Groenlândia e sobre a continuidade da guerra econômica com a China, demonstram um início de mandato no qual os traços da política reacionária que apresentou em seu mandato se expandem.

Por outro, não é possível ver que a situação do presidente eleito seja de hegemonia no povo estadunidense: sua expressão eleitoral não cresceu consideravelmente desde sua derrota há 4 anos, foram menos de 4% de aumento de votos desde 2020, consideravelmente menos significativo que a perde de 6 milhões de votantes democratas. Mesmo entre os eleitores votantes (menos de ⅔ da população), Trump ficou levemente abaixo dos 50%.

Ou seja, seu segundo mandato é uma expressão da polarização e da falta de saída. Para avançar em seu programa e disputa imperialista, ele precisa reforçar uma política agressiva de derrota da classe trabalhadora. A atuação em conjunto com Musk, que tem inclusive assediado, por meio de ameaças no Twitter, representantes do próprio Partido Republicano para aprovar uma lei orçamentária mais favorável aos bilionários, ajuda a inclusive explicitar a quem servirá seu governo.

A mudança de discurso público de Zuckerberg, assim como tinha feito Bezos anteriormente, portanto, expressa também exatamente isso: a incapacidade de uma saída liberal que normalize a atual crise multifacetada, faz com que seja menos viável à própria burguesia norte-americana, buscando garantir seus lucros, aparentar uma suposta neutralidade, como muitas vezes tentam suas principais figuras públicas fazer. É necessário para se manter e garantir seus negócios ser mais público sobre seus interesses, uma operação que não é sem riscos.

Garantir essa derrota completa da classe trabalhadora para voltar a “normalizar” o cenário político, porém, não é tão simples. Além de não possuir hegemonia social em seu programa, as próprias lutas trabalhadoras seguem com polos dinâmicos: a atual greve da Amazon é um exemplo importante disso. Ou seja, a nossa narrativa sobre o que se passa nos Estados Unidos não pode se resumir ao discurso oficial que o governo tenta imprimir e suas contradições tem que ser exploradas: a forma que os bilionários abraçam mais diretamente o governo Trump como seu representante também pode ser um ponto de incentivo de futuras lutas.
Isso obviamente não quer dizer que, com todo aparato superestrutural e econômico, Trump não possa avançar em um programa ultrarreacionário, em certo sentido, certamente vai. Mas que é preciso compreender isso não como um ponto final, ou mesmo inicial, mas continuidade de uma crise de dominação que segue presente e por isso, ainda nos dá espaço de construção de alternativas – algo que temos que almejar de forma mais direta e mais explícita para não cair nos limites que o liberalismo já apresentou diversas vezes.

Por fim, não podemos ignorar a situação sul-coreana, depois dos levantes em Bangladesh, o povo coreano deu mais um exemplo de luta no final do ano passado, porém com alguns elementos que valem ser refletidos em específico. A tentativa de fechamento de regime pelo então presidente Yoon Suk Yeol, a partir de uma narrativa ligada ao anticomunismo e a “busca por estabilidade”, geraram uma tensão sobre um retrocesso na democracia do país, já muito afetada pelo predomínio das enormes empresas bilionárias (chaebol). Porém, a resposta de centenas de milhares de jovens na rua reverteram o golpe e demonstraram a existência de espaço para a resistência – o país segue em uma crise político institucional, em especial sobre a prisão do ex-presidente.

Isso significa, portanto, que a história não está decidida. O novo ciclo que se abrirá com o novo mandato do Trump, a relocalização de parte da burguesia global no seu método de atuação e todos os processos de luta referentes são também parte de um processo mais amplo de uma crise de domínio burguesa que não conseguiu encontrar uma solução em si e nem derrotar a classe trabalhadora por completo. Nosso papel, como organizações socialistas, segue a de refletir como atuar sobre essas contradições: reforçar a ofensiva na discussão contra os bilionários, afirmar um programa ecossocialista, acompanhar as mobilizações internacionais e no Brasil reafirmar a necessidade de um pólo à esquerda antineoliberal e se conectar com possibilidades de mobilização para 2025.


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