Qual unidade queremos para o Movimento Estudantil e para a UNE?
Reflexão inicial sobre o 16º CONEB da UNE realizado em Recife
Foto: Delegação do Juntos! no CONEB da UNE. (Reprodução)
Via Juntos!
Agora, com o fim do 16º CONEB (Conselho Nacional de Entidades) da UNE, que aconteceu no Recife, queremos fazer uma reflexão inicial sobre a principal polêmica do espaço. Há alguns anos, a UNE se divide entre dois setores, a direção majoritária e a sua oposição à esquerda, tendo setores intermediários em momentos distintos, mas com menor capacidade de disputa.
O espaço refletiu pouco as disputas políticas da sociedade. Foi carregado de abstrações que expressam a atual gestão da UNE, que agita lutas mas não as impulsiona. Em síntese, podemos dizer que importa mais a performance do que o conteúdo da política. Algo inclusive semelhante a parte das políticas do governo em relação a educação, com anúncios positivos, mas que não se concretizam, e a maioria dos estudantes não sente mudança nas instituições de ensino em comparação aos governos passados.
Chegamos à cena do CONEB após termos vivido no ano passado uma forte greve da educação federal, que teve à frente trabalhadores técnicos e docentes, mas com participação estudantil em algumas universidades que trouxeram suas próprias bandeiras na greve. Os estudantes entraram em luta apesar da UNE, que foi tímida no processo ao mesmo tempo em que as organizações de seu campo majoritário atuaram para barrar as greves estudantis na base.
Se no CONUNE de 2023, com o início do governo, fazíamos a disputa pela independência política da entidade, agora fica nítido que a escolha de sua direção vai no mesmo caminho da UNE nos primeiros governos Lula e Dilma. A questão é que a crise e a busca por uma alternativa hoje é disputada de forma hegemônica pela extrema direita, quase que caminhando abertamente numa avenida sem forças que tenham condições de disputar com o setor que governou o Brasil nos últimos anos.
O tema da UNE e do movimento estudantil não é menor nessa disputa. É por isso que o centro do debate no movimento é sobre como se pode derrotar a extrema direita.
Para isso, há a unidade. Mas o que é a unidade?
O campo majoritário, dirigido pela UJS e as juventudes petistas, afirma a unidade a partir da defesa do governo e suas políticas. Assim, é preciso defender Lula para derrotar a extrema direita, sob qualquer circunstância. É inegável que parte do campo majoritário questiona as políticas neoliberais do governo em medidas distintas, mas todas elas são menores em meio ao perigo do avanço do fascismo.
Em uma analogia, só há dois lados numa queda de braço: o setor progressista (que inclui a esquerda e a direita “democrática”) e o setor reacionário. Temos quase uma política campista a nível nacional, ou você está em um time, ou está no outro.
De nossa parte, não há dúvidas de que necessitamos de unidade nesta batalha. Em certos casos, ela é possível inclusive com setores que não são de nossa classe. Mas não podemos fazer confusões. A própria vitória eleitoral de Lula só foi possível porque houve uma divisão na burguesia e parte dela, incluindo os setores ao redor da Globo, atuou para a derrota de Bolsonaro. Algo que não foi à toa, porque sabem da capacidade de Lula de garantir um programa que atenda a classe dominante.
E tendo consciência disso, encampamos a sua campanha, mas nunca semeamos ilusões sobre o que seria o seu governo e suas possíveis insuficiências, que agora são concretas, em relação à disputa da crise. A situação do Brasil é distinta dos EUA, mas se enquadra nos mesmos marcos políticos que também podem nos levar a um retorno da extrema direita para o Palácio do Planalto.
Mas e então, o que entendemos por unidade?
As principais elaborações sobre o enfrentamento ao fascismo nos remetem a Trotsky, seu conceito de frente única, e a célebre utilização de um conceito do mundo militar que sintetiza nossos desafios: golpear juntos, mas marchar separados.
É utilizando essa síntese, com as atualizações necessárias à conjuntura atual, seguindo a tradição de entender o marxismo como um guia, que nos colocamos como independentes ao governo e assim propomos para as entidades que construímos.
A unidade não é algo vazio. A unidade não é uma mera agitação. A unidade precisa de bases concretas, de um programa político. A unidade que propagamos é aquela para derrotar a extrema direita, mas entendendo que sua derrota deve partir da superação das bases sociais que possibilitam o seu surgimento.
Essas bases sociais são frutos da crise. É o trabalhador que não aguenta mais trabalhar em uma escala 6×1, é uma dona de casa que não suporta mais as enchentes tomando seu lar, é o conjunto do povo que vê melhorias sendo propagadas pelos governos na mídia mas pouco sente em sua realidade. Enquanto a esquerda, no sentido hegemônico, diz que estamos caminhando para algo melhor.
Quando Safatle diz que a esquerda está morta, falamos dessa esquerda que dirige a UNE, que abaixa as suas bandeiras e busca contentar o povo com meias verdades, enquanto a extrema direita ocupa um papel de ruptura que deveria ser nosso, que escancara as contradições do mundo ao povo.
É neste sentido que saudamos o conjunto das organizações da esquerda independente (Juntos, Correnteza, PCB, PCBR, Pajeú, Ecoar e JCA) que organizaram uma plenária para pautar essa disputa em uma unidade que existe desde as bases, que foi vista na greve das federais e em muitas outras lutas.
É no mesmo sentido que lamentamos a forma como a Juventude Sem Medo (Afronte, RUA e Travessia, em especial) busca aproximações com o campo majoritário da UNE. Neste CONEB, defenderam novamente uma resolução de conjuntura com este setor e não buscaram estabelecer um diálogo mais profundo com o campo da esquerda independente, com o qual constroem diversas entidades e lutas na base.
Não compuseram nenhuma resolução, tampouco buscaram a construção de espaços em comum. Por que buscam uma unidade nacional com os setores que negam a crítica necessária ao arcabouço fiscal e às insuficiências do governo Lula? Por que agitam em suas redes o mote de uma unidade abstrata que o PCdoB utiliza há anos?
Lenin nos dizia que para pensarmos em uma política, não basta vermos o que é dito, mas principalmente precisamos nos perguntar: quem se beneficia dessa política?
A batalha segue
Nós fizemos a nossa disputa no CONEB, ainda que com todas as limitações de um espaço com problemas políticos e estruturais. Mas nós não fugimos das contradições. Se não quisermos enfrentá-las, estaremos falando sozinhos. Atuamos para disputar o conjunto do movimento.
Seguiremos com a disputa para fortalecer o campo da esquerda independente, como já havíamos apresentado em nosso manifesto ao CONEB. Temos por agora a luta pelo orçamento da educação, pelo fim da escala 6×1 e um encontro marcado para tomar as ruas de nossas cidades, universidades e escolas no dia 28 de março, rememorando a luta de Edson Luis.
Pelo Juntos!, lançamos a plataforma Universidades contra o fim do mundo em nossa plenária nacional. Queremos fazer um debate que aponte a emergência da crise climática, a necessidade de termos respostas por agora, colocando as universidades a serviço disso, e que caminhem para a construção de uma sociedade ecossocialista.
Não há saída solitária. Não há planeta B. Para vencer, precisamos lutar.