Sete anos sem água: o drama dos moradores do Morro da Polícia
Comunidade da zona leste de Porto Alegre enfrenta negligência do poder público e luta pelo direito básico ao abastecimento de água
Foto: Ascom Roberto Robaina
No Morro da Polícia, comunidade da zona leste de Porto Alegre, o direito à água tornou-se uma luta diária. Há mais de sete anos, os moradores enfrentam um abastecimento precário, passando meses sem acesso regular à água. A situação, denunciada pelo Clube de Mães Poder de Mãe e pelo vereador Robero Robaina (PSOL), evidencia a negligência das autoridades diante de uma necessidade essencial para a sobrevivência.
“Num momento de crise climática, de calorão infernal, essa região não tem água para as pessoas, não tem o básico que a Constituição exige”, aponta o vereador.
Com a chegada do verão e a onda de calor que assola o Rio Grande do Sul, a realidade se torna ainda mais insustentável. Muitas famílias precisam passar madrugadas acordadas para encher baldes e garrafas, pois a água só chega às torneiras por volta das 3 da manhã e desaparece ao amanhecer. Para os trabalhadores, essa rotina exaustiva dificulta ainda mais o dia a dia.
“Às 3h começa a vir a água. Aí encho [os baldes] que tenho que encher, tomo banho e deito. Seis horas estou de pé para encher mais um pouco. E daí acabou. A água é três horinhas por dia. Por noite, porque de dia não tem”, conta a moradora Luciane Maciel.
As mulheres da comunidade são as que mais sofrem. Além de enfrentarem a escassez, precisam carregar água do carro pipa morro acima para garantir as necessidades básicas de suas famílias. O relato de desumanização e descaso se repete ano após ano, sem que nenhuma solução concreta seja apresentada pelo poder público.
Idosa, a moradora Lucia Monteiro conta com a solidariedade dos próprios vizinhos para garantir um mínimo de água para consumo diário.
“A nora da minha vizinha me dá umas garrafas d’água. A água do carro pipa faz um estrago na barriga”, reclama.
O Dmae alega que a falta de abastecimento é uma situação pontual que afeta residências irregulares e sem o registro. Mas acesso à água é um direito humano, e sua falta reflete a exclusão social e o abandono de comunidades vulneráveis.
A sanitarista Daiana Santos, moradora do Morro Santana, outra localidade afetada pelo desabastecimento atribui a situação à histórica má-vontade dos entes públicos em relação a população periférica, que cresce ainda que os poderosos os condenem à indigência social..
“É uma relação que o poder público tem com esses espaços de não pensar em ações que sejam efetivas. Não é o único lugar no município, no Brasil, que sofre com esse problema, mas é necessário que se consiga compreender que isso nunca foi uma prioridade de governo mesmo quando se fala de saúde”, afirma.