A Luta LGBTQIA+ como parte essencial da revolução socialista
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A Luta LGBTQIA+ como parte essencial da revolução socialista

Sobre a relação entre a luta LGBTQIA+ e a tarefa da organização revolucionária

Higor Andrade 28 mar 2025, 09:26

A luta pela igualdade de direitos e contra todas as formas de opressão e discriminação sempre foi, e continua sendo, um campo de batalha essencial no processo histórico da humanidade. Em uma sociedade marcada por desigualdades estruturais e discriminação sistêmica, a luta da comunidade LGBTQIA+ se torna parte fundamental de uma luta maior por justiça social e emancipação de todos os trabalhadores e trabalhadoras do mundo. O presente documento norteador se baseia nas ideias de figuras históricas como Leon Trotsky, Vladimir Lenin, Samuel Gomes e nos princípios da luta LGBTQIA+ para criar uma estratégia clara, voltada para a libertação da comunidade e para o fortalecimento de nossa luta por mais direitos.

1. A Luta de Classes e a Luta LGBTQIA+

A compreensão de que as opressões sociais, incluindo as de gênero e orientação sexual, estão profundamente conectadas à estrutura econômica da sociedade capitalista é central para nossa análise e ação. Trotsky e Lenin, em suas abordagens sobre a revolução socialista, nunca viram as questões de gênero e sexualidade como dissociadas das questões de classe. Pelo contrário, ambos entenderam que a emancipação completa dos trabalhadores só seria possível com a superação das diversas formas de opressão.

A luta por mais direitos para a comunidade LGBTQIA+ não pode ser separada da luta contra o sistema capitalista, que oprime não apenas a classe trabalhadora, mas também marginaliza e explora as identidades não heteronormativas. É necessário, portanto, que construamos um movimento que, enquanto luta pela liberdade sexual e de gênero, também combata as bases econômicas que sustentam todas as formas de opressão e exploração.

2. A Luta pela Liberdade e Autodeterminação

No pensamento de Trotsky, a liberdade individual e coletiva se vincula diretamente à transformação social e política. Ele defendia que uma verdadeira revolução só seria possível quando todas as camadas oprimidas, incluindo as mulheres e as minorias sexuais, fossem libertadas das amarras das estruturas autoritárias e patriarcais.

Samuel Gomes, militante negro e LGBTQIA+, também inspirou sua luta com um entendimento profundo de que a opressão racial, de classe e de gênero estão entrelaçadas. Para ele, a construção de uma sociedade sem opressão não poderia ser feita sem a plena liberdade sexual e a autonomia de todas as identidades de gênero. Sua luta pelas margens da sociedade refletiu a necessidade de combinar a revolução política com a revolução cultural, garantindo que as identidades e as expressões sexuais das pessoas sejam respeitadas e celebradas.

Assim, nossa luta deve ir além da defesa de direitos civis, como o reconhecimento do nome social e a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Devemos avançar na construção de uma sociedade onde todas as formas de opressão, incluindo a cis-heteronormatividade, sejam desafiadas e superadas. A autodeterminação das identidades de gênero e a liberdade sexual são direitos universais que não podem ser barganhados.

3. A Convergência da Luta LGBTQIA+ com a Luta Socialista

Como nos ensinou Lenin, uma revolução verdadeira só pode ser construída quando se organiza a classe trabalhadora, entendendo suas condições materiais, suas necessidades e, principalmente, suas opressões específicas. Nesse contexto, a luta LGBTQIA+ deve ser uma luta não isolada, mas uma parte integrante do movimento proletário.

A opressão das identidades de gênero e das orientações sexuais não é uma questão apenas de preconceito individual ou discriminação cultural. Ela está diretamente relacionada ao funcionamento do capitalismo, que impõe e reforça as normas de gênero como uma ferramenta de controle social, econômica e política. Ao lutar pela autonomia das identidades LGBTQIA+, estamos também questionando a estrutura de poder que mantém o patriarcado, o capitalismo e a exploração de todas as classes trabalhadoras, especialmente as mais marginalizadas.

A luta pela plena liberdade da comunidade LGBTQIA+ deve, portanto, ser unificada com a luta socialista, onde a revolução não apenas muda a propriedade dos meios de produção, mas também transforma as relações sociais, culturais e de gênero. Essa revolução deve ser abrangente, incorporando as reivindicações específicas da comunidade LGBTQIA+ como uma parte essencial da luta por uma sociedade mais justa e livre.

Quando se fala da Luta pelo fim da Escala 6×1 também se fala da população LGBTQIA+ que esta nas empresas de telemarketing, shoppings e outras profissões que estão nessa escala que sobrecarrega e adoece os trabalhadores., quando lutamos pelo piso salarial de enfermeiras, técnicas e auxiliares também estamos falando da população LGBTQIA+ assim como quando pautamos as lutas sindicalistas, pois nós estamos em todos os espaços.

É necessário também não esquecer dos recortes dentro na nossa própria população onde 90% da população Trans está nas ruas e continuam na marginalidade por conta de onde a sociedade ainda jogam essas pessoas por não abrirem portas no mercado de trabalho.

4. Mobilização Política e Estratégias de Luta

A luta por mais direitos para a comunidade LGBTQIA+ deve ser estratégica, com o objetivo de conquistar vitórias imediatas, mas também visando uma transformação social profunda e radical. A mobilização deve se dar em várias frentes, com a construção de alianças entre movimentos sociais, sindicatos, organizações políticas e grupos de base. Devemos organizar manifestações, audiências públicas, campanhas de conscientização, e fortalecer as redes de apoio dentro das escolas, universidades e locais de trabalho.

Além disso, é fundamental que nossas bandeiras de luta se concentrem não apenas na conquista de direitos civis, como o direito ao casamento, à adoção e ao nome social, mas também em políticas públicas que garantam acesso à saúde, à educação e à segurança, especialmente para as pessoas trans e para a população LGBTQIA+ mais vulnerável. O enfrentamento das violências físicas e psicológicas contra pessoas LGBTQIA+ deve ser uma prioridade, e a construção de redes de apoio, tanto legais quanto comunitárias, é fundamental.

5. O Papel das Organizações Políticas e a Necessidade de Unidade

Devemos, ainda, focar na construção de um movimento que seja politicamente consciente de suas raízes históricas e de sua tarefa de transformação revolucionária. A revolução não é apenas uma mudança de governo, mas uma mudança profunda nas relações sociais, nas mentalidades e nos valores da sociedade. O movimento LGBTQIA+ deve estar sempre articulado com os movimentos de classe, feminista, antirracista e de todos os oprimidos, para garantir que nossa luta seja coletiva, solidária e integrada, nesse sentido é importante estarmos nucleados ao Movimento Esquerda Socialista para que caminhemos juntos na luta por um futuro que não nos exclua e que não silenciem mais vozes LGBTQIA+ que não falem de nós sem a gente ocupando espaços de fala, protagonismo, lutas e vitorias.

A luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ é, antes de tudo, uma luta de classe e uma luta revolucionária. A emancipação das pessoas LGBTQIA+ só será conquistada em um sistema socialista, onde as relações de gênero e sexualidade sejam libertadas das amarras do patriarcado e da opressão capitalista. Inspirados pelas lutas de Trotsky e Lenin, devemos nos manter firmes na construção de uma sociedade em que a liberdade, a igualdade e a dignidade sejam os pilares de uma nova ordem social. O caminho para a verdadeira libertação é a luta incansável por mais direitos, por mais justiça social e por uma revolução que liberte todos os oprimidos e excluídos de nossa sociedade.

Não esquecendo nossos recortes e debatendo sempre classe, raça e gênero como ensina Angela Davis.

Seguimos fortes em luta para que nossas direitos não retroceda, é necessário lembrar das que vieram antes e da revolta de Stonewall, é necessário resistir para existir.


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Autores

Camila Souza