Collor: o preso sorridente de um país desigual
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Collor: o preso sorridente de um país desigual

Sobre a prisão do ex-presidente e as denúncias de crimes ao longo de sua vida política

Leandro Santos Dias 26 abr 2025, 08:42

Foto: Fernando Collor. (Geraldo Magela/Agência Senador)

Às 11h34 da manhã da última sexta-feira, ocorreu a audiência de custódia do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Sorridente, sereno, ele afirmou que sua prisão foi legal, sem qualquer abuso. E não é difícil entender o motivo do bom humor: Collor sabe que, mesmo condenado por corrupção milionária, ficará no máximo um ano preso — isso se não conseguir, antes disso, converter a pena em prisão domiciliar por “idade avançada e problemas de saúde”.

Esse é o desfecho de um processo que se arrasta desde 2015, quando o ex-presidente foi acusado de desviar mais de R$ 29 milhões em um esquema de corrupção numa subsidiária da Petrobras. Um entre tantos episódios que marcam sua trajetória pública desde os anos 90.

Mas talvez o maior crime de Collor contra o povo brasileiro não esteja nem nas cifras desviadas, mas nas escolhas políticas que impôs ao país. Foi sob seu governo que o Brasil deu os primeiros passos concretos no caminho do neoliberalismo: abriu as portas da nossa economia para o capital estrangeiro, privatizou empresas públicas estratégicas, enfraqueceu o Estado e desmontou políticas sociais. Tudo isso com a velha promessa de modernização, eficiência e progresso. O que veio, no entanto, foi a precarização do trabalho, o aumento da desigualdade e o empobrecimento das maiorias — enquanto algumas multinacionais enriqueceram às custas da nossa soberania.

Collor se elegeu em 1989 com o discurso moralista de que acabaria com os “marajás” — servidores públicos acusados de receber altos salários — e de que colocaria ordem no país. Virou, ele mesmo, o maior marajá da República. Saiu do Planalto por impeachment, envolvido em corrupção, e voltou à cena política anos depois milionário, blindado, influente — até ser finalmente condenado em 2023.

A justiça que o alcança agora é tardia, tímida e desigual. Enquanto isso, nas periferias do Brasil, jovens negros e pobres seguem sendo presos sem julgamento, mortos em operações policiais mal explicadas, abandonados por um sistema que só funciona com eficiência para punir os de baixo.

Collor sorri porque sabe que será tratado com todas as garantias. Ele não verá camburão, cela superlotada, nem audiência atrasada por falta de defensor. Sorri porque entende, como poucos, que no Brasil, a justiça é seletiva: para os ricos, um direito. Para os pobres, uma exceção.


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