Senegal cobrará explicações do Brasil sobre morte de ambulante
País africano denuncia “violência endêmica”; protesto no Brás é sufocado pela repressão policial
Foto: Governo do Estado de SP/Divulgação
A ministra de Integração Africana e Negócios Estrangeiros do Senegal, Yassine Fall, afirmou que pedirá explicações ao governo brasileiro sobre a morte do ambulante Ngagne Mbaye durante uma operação policial no centro de São Paulo na sexta-feira (11). Em comunicado à imprensa, ela afirmou que estão em curso “medidas, por meio da nossa representação diplomática, para elucidar as circunstâncias dessa morte trágica”.

“Foi com grande tristeza e consternação que soube da notícia da morte trágica do nosso compatriota Ngagne Mbaye em São Paulo”, disse. “Neste momento doloroso, quero expressar, em nome do governo do Senegal, as nossas mais sinceras condolências.”
A morte do ambulante, de 34 anos, provocou forte repercussão no Senegal e entre entidades de defesa dos direitos humanos. Ngagne Mbaye foi atingido no abdômen durante uma repressão a vendedores ambulantes no Brás, tradicional polo de comércio popular em São Paulo. O governo paulista informou que o policial militar responsável pelo disparo foi afastado, e que o caso será investigado pela corporação. No entanto, entidades de direitos humanos e representantes da comunidade senegalesa expressam desconfiança diante do histórico de impunidade em episódios semelhantes.
No próprio Senegal, a tragédia não é vista como um fato isolado. A imprensa local destacou que cidadãos do país têm sido alvo frequente de violência policial na América do Sul, particularmente no Brasil.
“Outros senegaleses já foram vítimas de intervenções policiais violentas no passado”, afirma reportagem do site IGFM.
A ONG Horizon Sans Frontières, que acompanha casos de migração e violência, condenou com veemência o episódio. Segundo comunicado divulgado pelo site Seneweb, Mbaye foi morto “quando tentava se interpor em uma briga entre a polícia e um ambulante”. A entidade classificou a morte como um “novo crime cometido contra um cidadão senegalês no Brasil” e denunciou a brutalidade policial brasileira, apontando o país como “zona de violência endêmica”.
Repressão também no protesto
No dia seguinte à morte de Mbaye, o Brás voltou a ser palco de violência. Um protesto organizado pelo Sindicato dos Camelôs Independentes de São Paulo, em memória do ambulante, foi violentamente reprimido pela Polícia Militar. Manifestantes seguravam cartazes com mensagens como: “Socorro, polícia assassina mata trabalhador” e “A farda não dá licença para matar, justiça já”. A PM lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o ato.
A vereadora Luana Alves (PSOL), que acompanhava o protesto, criticou a postura agressiva da polícia e denunciou a política repressiva promovida pelo prefeito Ricardo Nunes e pelo governador Tarcísio de Freitas por meio da chamada Operação Delegada. Essa operação mobiliza policiais militares em período de folga para atuar na repressão a ambulantes nas ruas da capital paulista.
“Tudo isso é reflexo da Operação Delegada, da falta de uma política da prefeitura para regularizar o trabalho dos ambulantes, que está uma negligência total”, declarou a vereadora. “O que a gente quer agora é justiça pelo companheiro que foi assassinado e que haja uma política real de regularização do trabalho ambulante — honesta, transparente — para que situações como essa não se repitam. E que o agente responsável pela morte seja punido.”