Frio mata dois em Porto Alegre e gestão Melo é denunciada por negligência
Vereadores do PSOL e movimentos sociais acusam prefeitura de abandonar população vulnerável em meio a rigorosa onda de frio
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Duas pessoas em situação de rua morreram na madrugada gelada da última quinta-feira (29) em Porto Alegre, vítimas do frio e, sobretudo, do descaso do governo Sebastião Melo (MDB). As mortes ocorreram na rua Voluntários da Pátria, no centro da capital, após dias de ações truculentas da prefeitura, que incluiu a retirada de colchões, cobertores e pertences de quem sobrevive nas calçadas da cidade. Na madrugada das mortes, a temperatura caiu para 8°C, com chuva constante, segundo o MetSul. As informações são do Portal Sul21.
As vítimas foram identificadas como André e Mano. André foi encontrado na esquina da Voluntários com a Coronel Vicente. O laudo do Instituto Geral de Perícias (IGP) apontou que ele morreu de broncopneumonia, agravada pela hipotermia. Já Mano foi achado na Voluntários com a Rua Paraíba, deitado sobre um colchão encharcado pela chuva. Morreu de frio.
Uma terceira morte também foi registrada no bairro Ouro Verde, em Bento Gonçalves, sob as mesmas condições.
A tragédia foi denunciada publicamente pelo vereador Pedro Ruas (PSOL), presidente da CPI da Pousada Garoa – investigação que apura a responsabilidade do poder público no incêndio que matou 11 pessoas em situação de vulnerabilidade no abrigo em janeiro deste ano.
“Essa noite foi uma tragédia”, lamentou Ruas. Para ele, os casos são “uma demonstração clara de como essa população foi abandonada à própria sorte e à miséria pelos governos municipal, estadual e federal”.
A Pastoral do Povo da Rua, que acompanha diretamente a população em situação de rua, confirmou que dois dias antes das mortes presenciou agentes da prefeitura removendo à força moradores e seus pertences debaixo do Viaduto da Conceição – exatamente na região onde André morreu.
“Essas mortes aconteceram justamente depois da ordem de retirada desses pertences, de colchões e cobertores”, disse Renato Farias dos Santos, da coordenação da Pastoral, ao Sul 21.
Em nota pública, a organização afirma: “Discordamos totalmente dessas ações de remoção. Elas são perversas, pois deixam a população em situação de rua sem proteção no pior período do ano”.
Embora a prefeitura tenha aberto vagas emergenciais, como no ginásio do DEMHAB, a Pastoral critica a medida por ser insuficiente e descolada da realidade de quem vive da reciclagem, da vigilância de carros e de outras atividades informais no centro da cidade.
“Quem trabalha e vive em uma região não vai atravessar a cidade para ter onde dormir”, pontuam.
Desmonte e abandono
Segundo dados do Cadastro Único de março de 2025, Porto Alegre tem 5.546 pessoas vivendo nas ruas.
O vereador Roberto Robaina (PSOL) também se manifestou de forma contundente. Para ele, as mortes escancaram o desmonte da política pública de assistência social promovido por Sebastião Melo.
“Melo abandonou a política de assistência social. A extinção da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) é apenas o símbolo dessa realidade. Para seu governo, cujo peso da extrema direita se vê na Câmara Municipal, assistência social é tratada como favor e privilégio”, denuncia Robaina.
Até o fechamento desta matéria, a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) – órgão que deveria coordenar políticas de proteção social na cidade – não havia se manifestado sobre as mortes.