Karl Marx: famoso, mas pouco conhecido
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Karl Marx: famoso, mas pouco conhecido

Nos 207 anos do nascimento de Karl Marx, uma reflexão sobre a atualidade de seu pensamento

Ruan Debian 5 maio 2025, 11:41

Foto: Karl Marx. (Reprodução)

A pergunta essencial à qual nos proporcionaremos a responder neste texto é esta: por que estudar Marx atualmente, em pleno século XXI, em 2025? Não foram poucos teóricos e teóricas de primeira grandeza intelectual que responderam tal indagação com maestria; entretanto nos atreveremos, ancorados em ombros de gigantes, a contribuir com a discussão da importância “O Mouro” (chamado assim na intimidade) no tempo presente.

Karl Marx: famoso, mas pouco conhecido.

Nascia naquela primavera alemã de 1818, em Trier, o menino Karl Marx. Seus pais de origem judia, o Sr. Heinrich Marx (1788-1838) e a Sra. Henriette Pressburg (1787-1863), tiveram nove filhos ao todo, cinco mulheres e quatro homens; entre estes, Marx foi o único que sobreviveu. Amigo íntimo de seu filho, Sr. Heinrich era advogado com profundo conhecimento dos grandes clássicos do Iluminismo. Sem ligação afetiva com a religiosidade, “converteu-se” ao cristianismo por questões pragmáticas, entre 1819/ 1820, e batizou o garoto Karl em 1824.

Com o passar dos anos, o garoto Marx crescia com ares intelectuais proporcionado não somente pelo seu pai, mas igualmente por um amigo íntimo da família que se tornaria seu sogro anos mais tarde, referimos ao Barão Westphalen. Incentivado pela família, por volta de 1835 ele se matriculou no curso de Direito na cidade de Boon; período marcado por noitadas, um suposto duelo com arma branca. Contudo seu pai percebeu que não era viável mantê-lo em Bonn, e em 1836 o encaminha para a maior Universidade no quesito intelectual da época, a Universidade de Berlim.

Na Universidade de Berlim lecionou um dos maiores filósofos de todos os tempos cuja sua filosofia marcou gerações e mais gerações de intelectuais, referimos a Hegel. Cabe corrigir um erro histórico que muitos marxistas reproduzem, de que Marx foi aluno de Hegel. Notem, Marx chega em Berlim, como já mencionamos, no segundo semestre de 1836, enquanto Hegel falecera em 1831. Ou seja, historicamente é impossível Marx ter sido seu aluno, o que ocorreu é que o autor d’O Capital estudou com alunos diretos de Hegel.

Se em Bonn Marx se jogou nas noitadas, em Berlim se dedicou obsessivamente aos estudos. Em determinada época decidiu fazer a gravitação do Direito para Filosofia. Em 1841, auferindo lecionar na prestigiada Universidade de Berlim, doutorou-se1 em Filosofia com o trabalho intitulado “A Diferença entre as Filosofias da Natureza em Demócrito e Epicuro”.Nesse momento, já estava próximo dos hegelianos de esquerda e trabalhava no histórico jornal conhecido como a Gazeta Renana.

Durante o período em que Marx esteve trabalhando na Gazeta Renana e pouco depois que o jornal foi fechado, existem dois acontecimentos significativos os quais gostaríamos de pontuá-los, principalmente devido as ofensivas que a extrema-direita injustamente desferi contra sua biografia: 1°) é que Marx era um oportunista e vivia nas custas de sua mulher; 2°) que Marx não trabalhava.

Veja bem, era comum que os intelectuais migrassem para o jornalismo após se formarem na Universidade naquele tempo. O Mouro tentou ser professor em Berlim, mas teve seus anseios frustrados após a coroação de Guilherme IV. Todos os hegelianos passaram a ser perseguidos na Universidade que resultou na retirada de parte considerável do corpo docente. Dedicando cada vez mais ao jornal, assume A Gazeta Renana, que denunciava os abruptos abusos provocados pelo governo prussiano, e Marx, em 1842, sobe ao cargo de redator.

Em pouquíssimo tempo no novo cargo, já era notável a competência daquele jovem. Em outubro eram aproximadamente 800 assinantes, passando em novembro para 1800 e chegou em dezembro a 3.400. A disciplina com o trabalho de jornalista, este exercido por toda sua vida, somado a rigidez teórica eram adjetivos que seus colegas de trabalhos e amigos íntimos estimável; dessa maneira facilmente fica explícito que dizer que Marx não trabalhava se configura em nefasta mentira. No mesmo ano do fechamento da gazeta renana, em 1843, Marx se casou e se mudou junto com sua esposa de jornada Jenny para Paris, em um autoexílio.

Por duas vezes Karl foi convidado para trabalhar no autoritário governo prussiano que o perseguiu. Mantendo-se coerente com seus princípios revolucionários, declinou-se das ofertas. Quanta lição pessoal para inúmeros sujeitos que se dizem comunistas nos dias de hoje! Lamentavelmente, determinada decisão custou caro, as perseguições políticas aumentaram e no início de 1845 recebeu um ultimato do governo francês, o qual atendia exigências do governo prussiano, para que em 24h deixasse a França. Emprego não era fácil de conseguir, porque não tinha documentação e constantemente se mudavam recorrente as perseguições políticas.

Em 1848, como já descrevemos em outro artigo aqui na Revista Movimento, tanto Marx quanto Engels retornaram para Alemanha para atuarem na Revolução batizada como Primavera dos Povos. Com a derrota desta, a família Marx vai para o seu último exílio na Inglaterra e ali permaneceriam até os últimos dias de suas vidas, que para Jheny ocorreu em 1881 e para o filho do Sr. Henri foi em 14 de março de 1883. Será em Londres que redigirá a obra mais importante de sua vida: O Capital, crítica da economia política.

Respondendo à Indagação

Fizemos neste primeiro momento um breve apanhado biográfico para demonstrar que Karl Marx procurava manter a coerência entre as suas teorias e as suas práticas. Mas não almejamos aqui santificá-lo e tomar como verdade absoluta tudo que escreveu. Não, pelo contrário! O próprio Marx era contra qualquer tipo de endeusamento teórico-personalista, fico imaginando o que ele pensaria daqueles que mumificaram o corpo do revolucionário Lenin para servir como objeto de adoração após seu falecimento, em 1924.

Pois bem, quando nos debruçamos sobre a obra marxiana percebemos que Marx é até famosinho no século XXI, mas profundamente desconhecido pelos marxistas, quiçá da esquerda no geral. O primeiro elemento que gostaríamos de destacar da importância de estudá-lo não é por uma questão de organização revolucionária, mas no quesito que é impossível compreender a estrutura do capitalismo sem passar por Marx. Dito de outro modo, Marx é um autor que sobreviveu até os dias de hoje, pois ninguém conseguiu destrinchar com tanta perspicaz e rigorosidade teórica o que é o capitalismo. Nas palavras de seu ilustre amigo Friedrich Engels: “Karl Marx foi um daqueles homens proeminentes que cada século produz em pequena quantidade”.

Nesse sentido, podemos considerar Marx enquanto militante comunista, todavia ele foi um teórico do capitalismo, pois o seu objeto de estudo era o Capital. Sem dúvida, a base para entender as crises capitalistas se encontram na obra de Karl Marx.

Nós, os comunistas, estudamos a obra marxiana com o intuito de apreender profundamente o desenvolvimento de um dos maiores autores do século XIX, mas seus escritos, principalmente filosóficos e econômicos, são fundamentais para apreensão da realidade concreta e objetiva. Não é por coincidência que existem pessoas que pouco se importam com atuação política do sujeito que em 5 de maio de 2025 completa 207 anos, para eles o que interessa é estudar apenas o seu campo teórico para entender a realidade. Talvez a burguesia, comicamente dizendo, nesse caso “conheça” mais profundamente Marx do que nós mesmos.

Assim sendo, sabemos que os desafios do tempo presente nos convencem que não será necessário apenas estudar Karl Marx em pleno século XXI, em 2025, mas, sim, enquanto existir o capitalismo. Quando a revolução triunfar, sigamos em mobilização permanente para que isso ocorra, seguiremos intensamente estudando-o, pois o método desenvolvido, referimos ao materialismo histórico-dialético, sem dúvida é um dos métodos teóricos mais eficaz para apreender as complexas contradições de qualquer sociedade em qualquer período histórico.

Por fim, que nós marxistas sigamos estudando e divulgando profundamente a obra de Karl Marx para que este deixe de ser “famosinho” e seja, de fato, conhecido. Será dessa maneira, não a única, que poderemos ter condições de suplantar este sistema socioeconômico cuja a exploração em prol do lucro reina. Como afirmou o camarada Trotsky: “se o capitalismo é incapaz de satisfazer às reivindicações que surgem infalivelmente dos males que ele mesmo engendrou, que morra!”

Viva os 207 anos de um dos maiores teóricos da humanidade, viva KARL MARX!

Bibliografia

BOITEMPO EDITORIAL. Marx pelos Marxistas. São Paulo, 2019. 

NETTO, José Paulo. Karl Marx: uma biografia. São Paulo: Boitempo, 2020.

TROTSKY, Leon. Programa de Transição, 2018.

Nota

  1. Cabe reforçar que os métodos de doutorado daquele período não são iguais aos de hoje. ↩︎

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