Luana Alves é alvo de perseguição após lembrar Nakba e genocídio em Gaza
Vereadora do PSOL sofre ataques de entidade sionista por lembrar a expulsão palestina de 1948; organizações denunciam tentativa de censura e reafirmam solidariedade frente à escalada de crimes de guerra em Gaza
Foto: Getty Images
A vereadora Luana Alves (PSOL-SP) vem sofrendo mais uma tentativa de silenciamento por parte de setores conservadores e sionistas organizados após publicar, em suas redes sociais, uma mensagem em memória dos 77 anos da Nakba Palestina – a catástrofe que marcou a expulsão forçada de mais de 750 mil palestinos de suas terras em 1948, durante a criação do Estado de Israel. A repressão à parlamentar exemplifica a estratégia de atacar vozes progressistas que se posicionam contra o apartheid e o genocídio em curso na Palestina.
“Imagina você ser expulsa de dentro da sua casa, porque dizem que seu país não existe mais, e que estão criando um país novo no lugar, onde você não é bem-vindo… Foi isso que aconteceu há 77 anos, na Nakba Palestina, quando quase 1 milhão de palestinos foram EXPULSOS de suas casas, para que Israel fosse construída. É importante relembrar essa LIMPEZA ÉTNICA todos os anos, para que o mundo saiba que esse conflito não começou no 7 de outubro. Israel massacra o povo palestino desde que foi criado”, escreveu a vereadora.
A resposta da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), publicada em nota oficial, acusou Luana Alves de “fomentar a desinformação” e “ignorar fatos históricos”, atacando seu direito à liberdade de expressão e à crítica política. De forma revisionista, o comunicado da Fisesp se recusa a reconhecer a Nakba palestina — evento amplamente documentado por organizações como a Human Rights Watch, a ONU e o próprio arquivo de guerra israelense.
“Essas histórias de perda e deslocamento também são parte do conflito, e são sistematicamente ignoradas por quem tenta pintar um quadro unilateral”, defende a organização.
O ataque da Fisesp à vereadora foi rebatido por organizações comprometidas com os direitos humanos e a justiça internacional. A Frente Palestina São Paulo manifestou solidariedade e criticou a nota da Federação por negar fatos históricos e distorcer o papel da vereadora.
“Denunciar a violência que permitiu a criação do Estado de Israel não apaga a história de nenhum povo. Trata-se de um acontecimento recente, com sobreviventes ainda vivos. A tentativa de negar a existência palestina ou reduzir sua história a uma criação imperial ignora que o nome ‘Palestina’ aparece na história há mais de 3 mil anos, como atestam fontes arqueológicas e historiográficas”, afirmou a Frente em nota.
Também o coletivo Vozes Judaicas pela Libertação – que reúne judeus contrários à ocupação israelense – posicionou-se contra a tentativa de censura:
“Nos preocupa a acusação de que a vereadora promoveu desinformação sobre o povo judeu. Essa narrativa é infundada e parte de uma tendência perigosa: a instrumentalização do antissemitismo por setores da extrema direita e seus aliados para atacar vozes progressistas, especialmente aquelas que se solidarizam à causa palestina”, afirma o coletivo. “A nota da Fisesp cria um ambiente de intimidação política e compromete o debate democrático.”
O caso de Luana Alves não é isolado. Parlamentares, jornalistas e ativistas que denunciam o massacre de civis palestinos têm sido sistematicamente atacados, rotulados e perseguidos, tanto no Brasil quanto em outros países. A repressão à crítica política ao governo de Israel se agrava no momento em que investigações internacionais ganham força, com o Tribunal Penal Internacional avaliando pedidos de mandado de prisão contra o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu por crimes de guerra e contra a humanidade.
Segundo a ONU, mais de 1,9 milhão de pessoas foram deslocadas dentro de Gaza desde o início da ofensiva israelense, após os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023. Em oito meses, mais de 35 mil palestinos foram mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do país. A destruição de hospitais, escolas, abrigos e a fome forçada em partes do território levaram entidades internacionais a acusarem Israel de crimes de guerra e possível genocídio.