O Pampa desaparece em silêncio: devastação ignorada por falhas no monitoramento
Deputada Luciana Genro e ambientalistas denunciam que dados oficiais não refletem a realidade do bioma gaúcho, afetado pelo agronegócio, enchentes e políticas públicas ineficientes
Foto: Marcos Nagelstein/MTur
Apesar da divulgação de uma suposta queda do desmatamento em todos os biomas brasileiros, a primeira registrada nos últimos seis anos, os dados positivos podem não refletir a realidade do Rio Grande do Sul. A subnotificação da destruição da vegetação campestre do bioma Pampa tem despertado a preocupação não somente dos pesquisadores e ambientalistas, mas também da deputada estadual Luciana Genro (PSOL).
“A situação do Pampa é grave e está sendo mascarada por limitações técnicas no monitoramento. Não se trata apenas de florestas, mas de campos nativos que estão sendo destruídos sem que isso apareça nos relatórios oficiais. Além da exploração do agronegócio, especialmente através do plantio da soja, com as enchentes vividas em 2024, a intensidade das chuvas e a consequente força das águas dos rios, o bioma foi arrancado de muitas áreas e sua vegetação foi levada junto, rio abaixo”, afirmou a deputada Luciana Genro.
Segundo os dados recentes apresentados no Relatório Anual do Desmatamento no Brasil, divulgado pela rede MapBiomas, o Brasil registrou uma queda de 30% no desmatamento no ano passado. Entretanto, o Pampa, que cobre cerca de 69% do território gaúcho, segue sofrendo perdas expressivas de sua vegetação nativa que, muitas vezes, não são corretamente identificadas pelos sistemas de monitoramento.
Estima-se que, entre 2012 e 2021, o bioma Pampa tenha perdido 147 mil hectares de campos nativos anualmente. Dados esses que não são plenamente refletidos no relatório apresentado devido à subnotificação gerada pela limitação técnica em relação à leitura das imagens e dados e pela política ineficiente envolvida na sua preservação já que o verdadeiro desmatamento do referido bioma fica subnotificado.
Assim sendo, a deputada defende que o Estado, junto ao Ministério da Agricultura, devem reavaliar os mecanismos de medição em razão das particularidades do já referido bioma.
“Só assim será possível o desenvolvimento de políticas públicas mais efetivas para o Pampa, que realmente possam ser implementadas com a finalidade da preservação de uma das vegetações mais importantes para o nosso estado e ecossistema, como a proteção das margens dos rios”, afirmou.
A parlamentar já esteve reunida com a “Coalizão Pelo Pampa”, grupo que reúne 20 entidades socioambientais gaúchas, para debater o tema e desde então vem trabalhando para garantir a preservação do patrimônio ambiental do estado, de todas as espécies de fauna, flora e ainda das comunidades tradicionais que habitam esse bioma tão importante.
Luciana Genro ressaltou ainda que essa subnotificação tem implicações diretas na fiscalização e na responsabilização de proprietários rurais que desrespeitam as normas ambientais.
“Sem dados claros e confiáveis, o poder público fica de mãos atadas para agir contra os verdadeiros responsáveis pela degradação do nosso bioma”, disse.
Atualmente, restam apenas 43,5% da vegetação original do Pampa.