Enfrentar o Congresso e o Centrão nas ruas! Taxar os ricos e defender os interesses do povo!
É hora de lutar contra a extrema direita e lutar pela taxação dos mais ricos
A decisão da Câmara dos Deputados e do Senado de rejeitar o decreto presidencial referente ao aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) mostrou um deslocamento completo do Congresso no sentido de uma ruptura frontal contra o governo. O fez rejeitando uma medida tímida, indicando que não aceita qualquer taxação ou imposto sobre os setores mais ricos da sociedade. Dominado pelo Centrão e pela extrema direita, o Congresso revela nesse litígio sua natureza: uma casa regada pelo clientelismo, agente direto dos interesses da burguesia, capitaneada pelo rentismo e pelo agronegócio.
Nessa condição, os presidentes da Câmara e do Senado atuaram para impor essa derrota ao governo. Ao mesmo tempo, mostraram que existe uma inclinação desses setores políticos de partir para uma linha mais de oposição conservadora ao governo Lula, por mais que muitos desses setores sejam parte do governo.
Essa dinâmica indica que um setor prepara o atual governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Repubicanos) como candidato prioritário da burguesia, com apoio dos bancos, do latifúndio e das expressões predatórias como grandes corporações financeiras e mineradoras – o conluio dos Bancos, Bilionários, Bois, BigTechs e as Bets. É uma opção que olha com simpatia para o plano Milei – um neoliberalismo mais puro, sem nenhum tipo de concessão, sem discurso de conciliação, mas de enfrentamento mais direto contra os interesses populares e os direitos do povo.
O que ainda não se resolveu é o peso do bolsonarismo nessa chapa. Nota-se, porém, o interesse de reduzir esse peso, embora Bolsonaro esteja fazendo ainda o esforço de ser parte dessa composição, dando a ela um aspecto mais reacionário, ainda que, por si mesma, a candidatura de Tarcísio já contemple os interesses mais reacionários da sociedade brasileira.
Tal caminho é pavimentado pela queda de popularidade de Lula e pelo debilitamento do “bolsonarismo duro”: prisão e fuga de Zambelli, a realização de um ato fraquíssimo – o mais fraco em muitos anos- no último domingo na Avenida Paulista. Isso é a explicação para o que ocorreu nos últimos dias no congresso. Se abre uma nova conjuntura política e é preciso intervir, a começar pelo chamado às ruas em 10 de Julho.
A política do governo
A novidade da situação é que, pela primeira vez, o governo Lula começa a fazer uma opção por um enfrentamento contra essa política do Congresso, empurrado pelo Centrão. Nestes dois anos e meio, o governo teve como centro uma linha de colaboração com o Congresso, de parceria, de concessões, sem fazer nenhuma luta política contra aquela que o dominam. Lula já perdeu uma oportunidade ao “cozinhar” o enfrentamento com o bolsonarismo, após 8 de janeiro, não desenvolvendo uma luta consequente ao redor do “sem anistia”. E, tragicamente, parte importante dos governistas votaram pela ampliação do número de parlamentares junto com a direita conservadora.
Agora, há uma indicação de questionamento dessa linha, inclusive numa orientação assumida por Guilherme Boulos – evidentemente uma orientação que veio do núcleo do governo – de chamar um ato contra o Congresso para 10 de julho. Nas redes sociais, uma campanha ampla envolveu a cúpula do PT também. A denúncia do congresso como uma casa corrupta e parasitária é importante, bem como nominar os bancos e grandes bilionários como responsáveis pelo ajuste e a desigualdade gritante que marca o Brasil em 2025.
Por outro lado, não se pode aceitar que o ajuste seja pago pelos mais pobres, como ocorre em relação ao BPC, aos ataques à educação, na alta de juros e nos marcos mais gerais do fiscalismo da equipe econômica.
A esquerda socialista precisa atuar nessa nova situação política para ter como eixo o enfrentamento ao congresso, denunciando sua natureza e defendendo um programa de agitação que bata duro nos superricos e dispute nas ruas o vetor do que pode estar começando nas manifestações do dia 10.
Um Congresso inimigo do povo trabalhador
Nossa próxima tarefa central será a convocação, portanto, do dia 10 de julho como uma atividade contra o Congresso inimigo do povo. Vamos expor o que tem feito esse Congresso como agente da burguesia, como na provação do aumento do número de deputados. Isso mostra que é um Congresso que trata de simplesmente manter privilégios e defender os ricos.
Sem contar os benefícios e privilégios dos altos salários, enquanto a maioria do povo ganha um salário mínimo, tem sua aposentadoria confiscada e sofre com a alta de alimentos. Um Congresso que abocanhou parte do orçamento público, pela escandalosa via das emendas que o PSOL corretamente denunciou e que está baseado nas mais diversas distorções da vontade popular. Uma casta que vive às expensas da maioria do povo e preocupada em reproduzir seus próprios mandatos e servir de melhores serviçais dos ricos em toda linha.
Ao mesmo tempo, chamamos o governo a ser consequente com o enfrentamento ao Centrão. Lula deveria romper seus acordos com aqueles que lhe apunhalaram nas costas e seguirão fazendo: convocar uma cadeia nacional de TV para dizer as coisas pelo nome, demitir os ministros que estão nomeados pelo centrão, defender um programa de medidas como a taxação as grandes fortunas, aplicar as promessas sobre a isenção do IR e fazer com que a batalha contra a escala 6×1 possa realmente ser efetiva.
Nosso programa
Vamos mobilizar nas ruas e nas redes com um programa simples, mas direto, se colocando ao lado do povo, nessa batalha. Um programa que taxe os mais ricos, pressione pela redução dos juros, faça auditoria do pagamento da dívida pública e mostre para a sociedade quem são os beneficiados pelo aumento dos juros e pela dívida pública. Que cobre dividendos e lucros. Nos Estados Unidos, a taxa é de 40% sobre dividendos e lucros. Aqui, não existe essa taxação, tampouco sobre as grandes fortunas. Exigir do governo projetos claros e que discuta com a sociedade a necessidade deles para que efetivamente exista distribuição de renda.
Ao mesmo tempo, nossa posição como projeto independente deve seguir mobilizando contra as medidas de ajuste levadas adiante pelo próprio governo, infelizmente, contra os interesses populares, como foi a elaboração do arcabouço fiscal proposto pelo governo federal e aprovado pelo Congresso com a única exceção do voto contrário do PSOL. Esse arcabouço fiscal traz como consequências as tentativas constantes de redução do teto constitucional dos investimentos em educação e em saúde e as pressões da burguesia para reduzir benefícios, o Bolsa Família etc. Pressões essas que, no caso do Benefício de Prestação Continuada (BPC), o governo tem proposto e implementado cortes significativos. Isso não pode continuar. É preciso enfrentar a burguesia, e o governo não pode atacar a classe trabalhadora se realmente quer enfrentá-la.
Também uma política de controle de preços dos alimentos, que são a outra face que pesa no bolso dos trabalhadores.
É preciso uma mudança de rumo efetiva. Um enfrentamento contra o Congresso significa uma proposição clara a favor dos interesses do povo. Com o fim do arcabouço fiscal e recuo das propostas de cortes na educação e nos benefícios sociais, como os apresentados na mp 1303/25 e o decreto 12534/25.
É preciso seguir acompanhando essa situação para saber se o governo seguirá adiante nessa luta, se vai realmente ser consequente nela ou vai conciliar como tem feito. Independentemente dos próximos passos do governo, é preciso uma política que afirme a necessidade desse enfrentamento e que seja vanguarda no processo de mobilização.
Estaremos com o PSOL com uma coluna independente no ato do dia 10, assim como, evidentemente, na vanguarda na defesa dos interesses populares, razão pela qual também estamos incentivando o Manifesto em Defesa da Educação, assinado por uma série de educadores, entre os quais o presidente do Andes, e entidades que estão encabeçando, como setores do SEPE do Rio de Janeiro, da APEOESP, do Andes, e do movimento sindical na defesa da educação, contra os cortes e contra o ajuste.