O Candidato Socialista de Nova York

O Candidato Socialista de Nova York

Conheça Zohran Mamdani, o socialista democrático que travou uma guerra contra o establishment e venceu a eleição para escolher o candidato democrata à prefeitura da cidade de Nova York

Neal Meyer 26 jun 2025, 11:00

Abaixo reproduzimos texto de Neal Meyer publicado em 24 de junho, antes do resultado da primeira apuração de votos nas primárias do Partido Democrata de Nova York. O candidato Zohran Mamdani, deputado estadual do Democratic Socialists of America (DSA), saiu vitorioso com 43,5% dos votos, derrotando Andrew Cuomo, político tradicional do Partido Democrata, que recebeu 36,4%. O resultado oficial só estará disponível nas próximas semanas quando os votos ranqueados terminarem de ser apurados. Mas já está claro  pelos resultados preliminares que Zohran Mamdani será o candidato à prefeitura de Nova York e seu adversário, Cuomo, reconheceu a derrota.

via
https://tribunemag.co.uk/2025/06/new-yorks-socialist-candidate

Zohran Mamdani é o candidato insurgente à prefeitura de Nova York na eleição desta terça-feira, que decidirá o nome do Partido Democrata para a eleição geral em novembro. Enfrentando o ex-governador Andrew Cuomo, que saiu do cargo em desgraça, além de outros candidatos que vão do centro à esquerda, em uma votação ranqueada, é impossível prever o resultado. Mas pesquisas recentes indicam que Mamdani pode protagonizar uma das maiores reviravoltas da história política da cidade.

Mamdani é um socialista democrático que defende uma plataforma voltada a elevar o padrão de vida dos moradores por meio da reconstrução do setor público, que tem sofrido com décadas de desinvestimento e austeridade. Graças à sua habilidade persuasiva como candidato, ao foco incisivo em questões de custo de vida, como o preço dos alimentos e aumento dos aluguéis e, principalmente, graças às dezenas de milhares de voluntários engajados em sua campanha — alguns com o ânimo de novos ativistas, outros com décadas de militância socialista — ele tem deixado Wall Street e a classe dos proprietários de imóveis da cidade em alerta.

Aos 33 anos, Mamdani é um imigrante de Uganda e representa partes do Queens como parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado de Nova York. Iniciou sua trajetória política ainda na universidade, onde fundou um núcleo do grupo Students for Justice in Palestine (Estudantes por Justiça na Palestina). Após se formar, voltou para a cidade para trabalhar como organizador na luta por moradia e foi um dos muitos jovens ativistas que se juntaram aos Democratic Socialists of America (DSA) após a inspiradora campanha de Bernie Sanders e a traumática eleição de Donald Trump, em 2016. Antes de concorrer ao legislativo estadual em 2020, Mamdani já era um ativista e líder dentro da DSA. Em sua vitória inesperada, integrou uma chapa de candidatos apoiados pela NYC-DSA que venceram suas respectivas disputas em meio ao auge da pandemia de COVID-19 e das mobilizações do movimento Black Lives Matter.

Desde que assumiu o cargo, Mamdani tem sido uma das vozes mais firmes e eficazes da política de esquerda e da solidariedade à Palestina, chegando a fazer greve de fome em apoio a motoristas de táxi endividados e a redigir um projeto de lei para acabar com o apoio de Nova York aos assentamentos ilegais de Israel. E, de forma crucial, ele já demonstrou a viabilidade de uma de suas principais propostas de campanha: em 2023, conseguiu aprovar um programa piloto para tornar gratuitas algumas linhas de ônibus da cidade.

Na ausência de um verdadeiro partido de massas da classe trabalhadora e da esquerda, o DSA, e seu núcleo nova-iorquino em particular, tem buscado ocupar esse espaço. Desde que declarou apoio a Mamdani, o NYC-DSA se tornou parte central de sua campanha. Membros da organização integram sua equipe, formam o núcleo de voluntários e foram muitos dos primeiros doadores da campanha. Mamdani também conquistou o apoio de grandes sindicatos, como o United Auto Workers e o DC37 (trabalhadores do setor público), além de organizações comunitárias e de grupos muçulmanos e judeus — entre eles o Muslim Democratic Club of New York e o Jewish Voice for Peace Action. Nas últimas semanas, recebeu os endossos da deputada Alexandria Ocasio-Cortez e do senador Bernie Sanders.

Mamdani está conduzindo uma das campanhas mais inspiradoras da história recente da cidade. Estima-se que cerca de 40 mil voluntários estejam participando da mobilização, já tendo batido em mais de um milhão de portas, distribuído panfletos pelas ruas e em locais de votação antecipada, alguns, inclusive, chegaram a andar de barco pelo East River com placas de apoio ao candidato. Seus comícios têm sido eletrizantes, e seus vídeos de campanha e anúncios digitais, igualmente impressionantes.

O desafio para os opositores de Mamdani é que Cuomo, considerado o favorito e único com chances reais de vencê-lo pela nomeação democrata, é lembrado principalmente por ter sido forçado a renunciar ao cargo após diversas denúncias de assédio e agressão sexual. Agora, sua campanha parece movida pelo desejo de vingança contra aqueles que lideraram sua queda. Ainda assim, graças à sua notoriedade e ao apoio de líderes comunitários locais — incluindo alguns que pediram sua renúncia no passado —, Cuomo tem liderado a corrida desde que entrou na disputa. Aqueles que querem barrar Mamdani não têm tido alternativa a não ser se alinhar a ele.

Nas últimas semanas, figuras proeminentes do velho establishment do partido democrata têm se manifestado a favor de Cuomo e contra Mamdani: do ex-presidente Bill Clinton ao influente congressista da Carolina do Sul James Clyburn (que foi peça-chave na derrota de Sanders em 2020), passando por Larry Summers, ex-secretário do Tesouro e arquiteto da guinada neoliberal do Partido Democrata nos anos 1990.

Os ataques não cessam, e a classe dominante da cidade junto a aliados nacionais têm inundado a eleição com dinheiro contra Mamdani. Com apoio de bilionários como Bill Ackman e o ex-prefeito Michael Bloomberg, além de grandes corporações como a Doordash, os empresários antagonistas de Mamdani estão gastando milhões. Estão bombardeando os nova-iorquinos com panfletos e acusações caluniosas (em um anúncio vazado que não chegou a ser publicado, Mamdani, que é muçulmano, aparecia com uma barba mais escura e espessa, em uma tentativa de estimular o preconceito islamofóbico). Um ex-executivo do Goldman Sachs chegou a veicular propagandas insinuando comparações entre Mamdani e Adolf Hitler.

Notavelmente, Mamdani nunca recuou em seu apoio à Palestina, mesmo em uma campanha marcada por ataques islamofóbicos contra ele e sua equipe. Em uma cidade onde grupos sionistas têm influência desproporcional e onde a maioria dos políticos se sente obrigada a elogiar Israel, Mamdani e sua base têm mantido firme sua mensagem: o genocídio em Gaza precisa acabar, a Palestina deve ser livre, e criminosos de guerra como Benjamin Netanyahu devem ser levados à justiça.

Com o apoio da elite bilionária da cidade, dos grandes proprietários de imóveis e das indústrias financeira e imobiliária, Cuomo tem recorrido a cofres profundos para tentar barrar a esquerda. A pergunta agora é se a campanha de Mamdani, movida pelo poder do povo, conseguirá superar esse tipo de máquina financeira organizada. Para os socialistas democráticos, a campanha já é um enorme sucesso. Em um ano marcado por crises, guerras e perseguição à classe trabalhadora e à esquerda, a campanha de Mamdani é a luz mais brilhante até agora. Seu impacto é palpável: a filiação ao NYC-DSA já cresceu mais de 40%; a esquerda americana se mobilizou com uma energia e disciplina que não se via desde o auge da campanha de Bernie em 2020; e milhões de pessoas estão voltando a acreditar que um mundo melhor é possível.


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Camila Souza