‘O lucro não pode estar acima da vida’
PSOL defende florestas urbanas e denuncia especulação. Audiência pública propõe resistência ao avanço do capital imobiliário sobre áreas verdes em Porto Alegre
Foto: Raul Pereira/ALRS
A deputada estadual Luciana Genro (PSOL) promoveu, junto ao deputado Matheus Gomes (PSOL), uma audiência pública em defesa das florestas urbanas de Porto Alegre e Região Metropolitana, no âmbito da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa. O encontro, que reuniu parlamentares, movimentos sociais, especialistas e moradores, debateu os inúmeros riscos da devastação ambiental que está em curso no território e reforçou a importância da preservação dos espaços verdes para o equilíbrio climático e para a promoção da saúde pública nas cidades.
A audiência também denunciou estratégias recorrentes de enfraquecimento da participação popular e o avanço de uma lógica que prioriza os ganhos financeiros e o avanço da especulação imobiliária em detrimento da natureza e da população.
“Vivemos uma crise civilizatória profunda, que é ambiental, social e econômica ao mesmo tempo. O modelo capitalista predatório, que coloca o lucro acima da vida, é responsável pela destruição acelerada do meio ambiente, pelo agravamento das desigualdades e pelo colapso climático que já está em curso. O ecossocialismo surge como a única resposta possível a essa crise”, expôs Luciana Genro.
“Nós temos que levar esses debates para as comunidades que sofreram com alagamentos nos bairros. Precisamos ampliar nosso grau de mobilização para ter capacidade de enfrentamento. Nosso encontro tem a potência de fazer com que a gente enxergue essas situações, reúna diversos movimentos, veja perspectivas de construção comum e, assim, teremos uma possibilidade de trabalhar em torno dessa unidade”, complementou o também deputado estadual pelo PSOL, Matheus Gomes.
Durante o encontro, foi pontuado que as florestas urbanas não apenas contribuem para manter temperaturas amenas nas cidades, podendo haver até 20°C de diferença entre as áreas arborizadas e as desmatadas, como também foi ressaltado o papel fundamental que essas têm na retenção e filtragem da água das chuvas. Sem a proteção da vegetação nessas áreas, a água da chuva invade as casas e chega a elas suja, carregando doenças e colocando vidas em risco.
“Não restam dúvidas da importância das florestas urbanas nas cidades. Como dito e reforçado pelos especialistas, elas regulam a temperatura das áreas urbanas próximas e retêm a água das chuvas, ação mais de que necessária e que nós vemos as consequências diretas da falta delas hoje quando chove”, defendeu a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL) também presente no evento.
O biólogo Paulo Brack, membro do InGá e vereador suplente pelo PSOL, criticou a falta de funcionamento do Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comam) desde dezembro de 2024, citando a solicitação feita pelo PSOL ao Ministério Público para que seja suspenso o Licenciamento Municipal de Porto Alegre por este motivo.
“Na prática, está ocorrendo uma ocupação sem limites dos terrenos, junto com a Melnick, destruindo o meio ambiente”, apontou o especialista.
A audiência denunciou como o discurso dominante sobre o “progresso” e o “desenvolvimento” tem sido apropriado por interesses ligados à especulação imobiliária, que, dentro da lógica capitalista e neoliberal, impõem uma lógica de crescimento totalmente descomprometida com o meio ambiente.
“Devemos mudar a nossa ideia de progresso. A natureza não é inimiga do progresso como propagam. Muito pelo contrário. Ela é uma das aliadas mais necessárias para garantir o futuro”, destacou Ester Freitas, do movimento SOS Floresta do Sabará.
Nesse contexto, “o capital demonstra seu poder ao avançar sobre áreas verdes em nome de construções que muitas vezes nem se justificam”, como alertou Pedro Araújo, membro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS.
Por fim, a audiência propôs a criação de um grupo de trabalho multidisciplinar, envolvendo parlamentares das esferas municipal, estadual e federal, além de movimentos populares e ambientais, para fiscalizar políticas públicas, discutir o Plano Diretor de Porto Alegre, que poderá permitir a construção de prédios de até 130 metros no Centro Histórico, por exemplo. O objetivo do grupo será enfrentar os avanços do modelo urbano atual que prioriza o lucro acima da vida. “Que cidade estamos produzindo?”, questionaram os participantes do evento.
A ausência de uma orientação clara à população sobre riscos climáticos, a omissão diante das tragédias anunciadas e o avanço de um negacionismo climático com roupagem neoliberal, mesmo depois das enchentes de 2024 e a atual, foram amplamente criticados. Para Luciana Genro, o debate precisa ser público, transparente e permanente:
“Não se pode dar um cheque em branco à prefeitura para decidir sozinha o futuro da cidade”.
