O Panamá é hoje o centro da luta operária e popular na América Latina
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O Panamá é hoje o centro da luta operária e popular na América Latina

Resistência do povo panamenho cresce e se radicaliza contra as pressões imperialistas de Trump

Pedro Fuentes 1 jun 2025, 14:40

Foto: Manifestação popular na Cidade do Panamá. (Antônio Neto/Revista Movimento)

O Panamá é o ponto mais agudo da luta de classes no continente e a forma como ela se desenvolver e terminar será muito importante para a relação entre a América Latina e a política imperialista de Trump. No Panamá de hoje há uma nova revolta dos trabalhadores; os professores estão há dois meses em greve indefinida, à qual se juntaram os trabalhadores da construção civil, os trabalhadores das plantações de banana, os da saúde e que se estende a outros setores. Estudantes e pais apoiam a greve e se juntam ao protesto. Há bloqueios de estradas promovidos por indígenas com apoio popular e mobilizações estudantis.

Ainda assim, essa grande mobilização não se transformou em uma rebelião popular como foram os dias históricos de 2023, nos quais um insurreição operária e popular derrotou o governo e conquistou o fechamento da mina de cobre a céu aberto explorada pela First Quantum. Mas isso pode ocorrer se a greve indefinida continuar e se ampliar, situação que provocaria um confronto aberto com o governo e sua possível queda. Desde a devolução do Canal ao Panamá em 1999, o país cresceu sem parar, mas não distribuiu a riqueza: é o terceiro país da região com maior desigualdade. O interior é o que mais sofre e é por isso que lá ocorrem as maiores insurgências populares. .

Três políticas deste governo são as que voltaram a incendiar o Panamá. O corte de 40% nos benefícios da aposentadoria e sua privatização; a tentativa do governo de reabrir a mina de cobre que fechou a mobilização popular de 2023; os memorandos de acordo com Trump (construir três bases militares no país) como parte de sua ofensiva para recuperar o controle do canal.

Essas medidas significam que o governo Mulino está capitulando à ofensiva de Trump sobre o país, cujo objetivo final é recuperar o canal, e que a vitória da luta em curso pode impedir isso. Trata-se de um governo impopular, desacreditado pelos casos de corrupção e sua política neoliberal a serviço da grande burguesia panamenha, desacreditado em todos os setores populares.

A importância do que está em jogo nesse país é destacada pelo NYT em um artigo no qual alerta: “Uma tentativa séria de pressionar o governo panamenho — por meio de sanções, tarifas ou outras medidas coercitivas — poderia incendiar o país. Para o Panamá, os Estados Unidos e o mundo, esse poderia ser o maior risco de todos”. Esta advertência feita por um jornal do imperialismo deve servir também para reforçar a necessidade de solidariedade internacional com esta importante luta no centro do continente.

A luta entre o povo panamenho e o imperialismo, que é histórica, tornou-se agora presente. Pelo Canal do Panamá passam 40% das mercadorias dos EUA e grande parte do comércio mundial. Em caso de conflito militar com a China, grande parte da frota norte-americana deveria passar por lá. Daí a política de Trump de recuperar o canal e reduzir a influência chinesa nos portos localizados nas saídas do canal.

Historicamente, o imperialismo dos EUA dominou o canal. Para construí-lo, manipulou a independência do Panamá, que até o século XIX fazia parte da Colômbia. A partir de então, foi criada uma faixa que separava o canal do resto do país, onde tremulava a bandeira ianque guardada por suas forças armadas, separada do resto do país por uma cerca. A luta pela recuperação do canal começou em 1964 com a mobilização dos estudantes que invadiram o canal para hastear a bandeira panamenha. A repressão e as mortes provocaram a indignação popular, que fez com que o imperialismo e o governo tivessem que hastear a bandeira panamenha.

Foi um primeiro passo. O governo nacionalista do coronel Torrijos conseguiu em 1977 — no contexto do ascenso centro-americana — o acordo com o governo Carter para iniciar um período que culminou com a entrega do canal ao governo panamenho em 1999. Com a diminuição da influência dos Estados Unidos, o neoimperialismo chinês começou a investir na construção de dois grandes portos e a incorporar o Panamá na rota da seda como parte de sua política para a América Latina. Mulino se retirou diante da pressão do governo Trump.

Em resposta à mobilização popular, o governo de Mulino tem reprimido e perseguido sistematicamente as manifestações violentamente com cargas policiais utilizando cassetetes, balas de borracha, gases e prendendo ativistas. Um dos principais líderes do SUNTRACS – o sindicato da construção civil – está preso e o secretário-geral encontra-se na embaixada boliviana à espera de uma resposta ao seu pedido de asilo político; a polícia invadiu duas sedes sindicais e congelou as contas bancárias do sindicato por ordem do governo, e a cooperativa ligada ao sindicato foi declarada ilegal. Por enquanto, isso não diminuiu a mobilização e enfraqueceu o governo, provocando descontentamento dos setores burgueses que se inclinam a levar adiante negociações que permitam uma saída.

Se a greve se estender a mais setores e a mobilização popular crescer, haverá uma vitória contundente que acabará com as medidas do governo. Se isso não acontecer, como em toda greve longa, surgirão elementos de desgaste e cansaço que podem levar a uma negociação com concessões parciais ou à derrota do movimento. É uma situação em aberto e, por isso mesmo, a solidariedade latino-americana e internacional se torna fundamental. As organizações sindicais, os partidos políticos, os movimentos populares e os membros da IV Internacional devem estar na primeira linha dessa solidariedade.


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Camila Souza