Roberto Robaina lança livro que faz raio-x da ascensão da extrema direita
“A Ascensão da Extrema Direita e o Freio de Emergência” teve lançamento sexta-feira, em Porto Alegre, com participação do filósofo Vladimir Safatle
Fotos: Bruna Porciúncula e Tatiana Py Dutra/Revista Movimento
“A extrema direita não caiu do céu. Ela é filha direta da crise do capitalismo”, afirma o vereador e militante socialista Roberto Robaina, autor do recém-lançado “A Ascensão da Extrema Direita e o Freio de Emergência ” (Editora Movimento). O livro, apresentado ao público na última sexta-feira (20), no Clube de Cultura, em Porto Alegre, reúne reflexões políticas e teóricas sobre o avanço autoritário em escala global, e propõe um ponto de virada: entender, nomear e combater o fascismo com organização e elaboração estratégica.
A atividade de lançamento contou com a participação do filósofo e professor da USP Vladimir Safatle, que destacou o caráter corajoso da obra.
“É um livro muito importante, porque é raro. Rara é a figura de alguém como o Roberto, que é um líder político vinculado à sua prática, mas também um pesquisador preciso e minucioso como ele demonstra neste livro”, afirmou Safatle, saudando a ousadia de Robaina em “dar nome ao problema”.
Segundo o professor, a recusa em nomear o fascismo como tal é uma operação constante, tanto na academia quanto na grande imprensa:
“Falam em ultradireita, em iliberalismo – o que é curioso, como se o padrão fosse o liberalismo – em populismo, conservadorismo… tudo para não dizer o que o povo grita nas ruas: é fascismo”.
Robaina endossa a crítica e aponta que o livro surgiu de uma necessidade concreta: fornecer instrumentos para enfrentar politicamente esse inimigo, não só nas urnas, mas no cotidiano das disputas sociais.
“Senti como uma obrigação contribuir para o debate sobre o momento em que vivemos. É um pequeno apanhado de ideias, de pensadores que considero fundamentais para entender a dinâmica dos movimentos autoritários no passado e no presente”, explicou.
A obra tem prefácio de Michael Löwy, intelectual marxista de referência internacional, e é atravessada por leituras de autores como Adorno, Freud, Reich, Trotsky e Enzo Traverso, além do próprio Safatle. Mas, longe de ser um exercício meramente acadêmico, Robaina estrutura o texto como um “mosaico político-pedagógico” que busca “resgatar elaborações anteriores, conectar com a realidade atual e oferecer uma bússola para as lutas que vêm”.
Safatle reforçou esse aspecto militante do livro:
“É uma obra que tem coragem de sair da retórica vaga e pensar a extrema direita como aquilo que ela é: uma força com projeto de massas, que se conecta com a subjetividade autoritária presente no senso comum”.




Ele relembrou a importância da pesquisa empírica da Escola de Frankfurt sobre a personalidade autoritária e alertou:
“A adesão ao fascismo não é apenas ideológica; ela está enraizada na formação afetiva e social das massas”.
Robaina foi ainda mais direto ao relacionar o crescimento da extrema direita às traições e retrocessos das experiências de esquerda após a crise de 2008. Citou as mobilizações do Syriza na Grécia, o Podemos na Espanha, a Primavera Árabe e as jornadas de Junho de 2013 no Brasil como momentos de resposta popular à crise do capitalismo, que foram reprimidos ou traídos pelos próprios governos.
“Não foi junho de 2013 que criou a extrema direita no Brasil. Foi a derrota de junho, a repressão que se seguiu, a desorientação que veio depois”, afirmou.
Para ele, não basta combater o neofascismo no plano moral. É preciso uma nova articulação da esquerda radical, com estratégia e unidade real.
“Hoje todos sabem que a extrema direita é forte. Mas poucos se perguntam: por que ela é forte? O que a alimenta? O que permitiu sua ascensão? Essa análise é chave para saber o que fazer”, declarou, mencionando também a importância de recuperar a tática da frente única como defendida por Trotsky e Ernest Mandel.
O lançamento reuniu figuras históricas da esquerda gaúcha e nacional, movimentos sociais, militantes do PSOL, lideranças do movimento sindical, educadores e ativistas da moradia. Em sua fala de encerramento, Robaina foi enfático:
“Temos que construir um polo político de esquerda que enfrente a extrema direita com radicalidade, mas também com projeto. Precisamos reagir à melancolia da derrota organizando a esperança – e isso só se faz com ideias, luta e unidade”.