A indústria bélica, o imperialismo capitalista e a falácia pacificadora dos Estados Unidos: uma análise crítica dos conflitos na Palestina e no Irã
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A indústria bélica, o imperialismo capitalista e a falácia pacificadora dos Estados Unidos: uma análise crítica dos conflitos na Palestina e no Irã

Uma análise da atual situação do imperialismo estadounidense

Fernanda Moll Comotti 1 jul 2025, 10:38

Introdução

No contexto de uma ordem mundial hegemonizada por interesses imperialistas e corporativos, os conflitos no Oriente Médio, especialmente na Palestina e no Irã, evidenciam a articulação entre o capital militar, o colonialismo moderno e a hipocrisia diplomática das grandes potências ocidentais, em particular dos Estados Unidos. A retórica pacificadora do governo norte-americano esconde a manutenção da violência estrutural e do racismo geopolítico. Este texto propõe uma leitura crítica da indústria bélica e do imperialismo capitalista como motores dos conflitos contemporâneos, mobilizando autores e fontes alinhados a uma perspectiva emancipatória e anticolonial.

Imperialismo contemporâneo: dominação, racismo e militarização

O imperialismo do século XXI assume contornos cada vez mais sofisticados. Como aponta Achille Mbembe (2018), a necropolítica — o poder de ditar quem deve viver e quem deve morrer — é o cerne da governança colonial moderna. No contexto da Palestina e do Irã, essa necropolítica se manifesta por meio do controle militar, do cerco econômico e da aniquilação simbólica e física dos corpos racializados.

A dominação não se dá apenas pela força bruta, mas também pela imposição de uma ordem econômica neoliberal e belicista, na qual os organismos multilaterais, como o FMI e a OTAN, operam em sinergia com o capital armamentista para garantir a supremacia dos países centrais (FERNANDES, 2019). A guerra, portanto, não é exceção: ela é uma engrenagem do sistema.

A indústria bélica como pilar do capitalismo global

A economia global está profundamente estruturada pela produção e comercialização de armamentos. A cada conflito intensificado, as ações das empresas militares se valorizam, gerando lucros bilionários para um seleto grupo de corporações transnacionais. Segundo o SIPRI (2024), os EUA continuam liderando o ranking dos países que mais investem em defesa — com mais de US$ 877 bilhões gastos em 2023.

Essa realidade revela o quanto o complexo industrial-militar é intrínseco ao modo de produção capitalista. Como analisa Chomsky (2017), os EUA não buscam a paz, mas sim a perpetuação da guerra como mecanismo de dominação geopolítica e acumulação. Não por acaso, grande parte dos conflitos atuais se dá em regiões ricas em petróleo, gás e recursos naturais — como Palestina, Irã, Síria, Líbia e Iêmen —, onde interesses econômicos e estratégicos justificam a militarização permanente.

A Palestina e o colonialismo sionista

O caso palestino é expressão clara do colonialismo de ocupação legitimado pelo imperialismo ocidental. Desde a Nakba, em 1948, o povo palestino sofre com deslocamentos forçados, apartheid territorial e extermínio sistemático. Organizações como a Anistia Internacional (2022) e a Human Rights Watch (2021) já classificaram o regime israelense como um sistema de apartheid — com leis e práticas que discriminam sistematicamente os árabes palestinos.

Israel, financiado e protegido diplomaticamente pelos EUA, atua como potência colonial armada no Oriente Médio. A cada bombardeio em Gaza, a indústria bélica americana lucra; a cada criança morta sob escombros, os Estados Unidos reafirmam sua lógica necropolítica. Como destaca o PSOL em diversas moções e manifestações, o Brasil precisa romper com a cumplicidade e reconhecer o genocídio palestino como um crime contra a humanidade (PSOL, 2023).

O Irã como alvo da demonização imperialista

O Irã, por sua vez, ocupa o papel do inimigo necessário na narrativa estadunidense. Desde a Revolução Islâmica de 1979, os EUA impõem sanções severas ao país, apoiam sabotagens internas e ameaçam com intervenções militares. Essa construção do “inimigo islâmico”, associada ao discurso de “segurança nacional”, mascara os reais interesses econômicos por trás das tensões: controle do petróleo, contenção da influência russa e chinesa, e o fortalecimento da presença militar ocidental no Golfo Pérsico.

A demonização do Irã serve para alimentar o discurso de medo e justificar os gastos bilionários com defesa. Como analisa Sabrina Fernandes (2019), o imperialismo atual é sustentado por um ecossistema ideológico que mistura colonialismo, racismo, militarismo e fundamentalismo neoliberal.

A falsa sensação de paz promovida pelos EUA

A diplomacia estadunidense vende ao mundo a imagem de guardiã da liberdade, defensora dos direitos humanos e promotora da paz. No entanto, a história recente demonstra o contrário: Vietnã, Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria e Palestina são marcos do fracasso moral da geopolítica dos EUA. Em todos esses contextos, o país atuou de maneira direta ou indireta para fomentar conflitos, derrubar governos, financiar milícias e desestabilizar nações soberanas.

O discurso pacificador é, portanto, uma farsa funcional ao sistema. Como lembra Angela Davis (2021), “a paz sem justiça é apenas uma continuação da violência sob outra forma”. O papel dos EUA na manutenção da guerra e no abastecimento do terror, via indústria bélica, não pode mais ser romantizado sob a lógica do “intervencionismo humanitário”.

Considerações finais

A análise dos conflitos no Oriente Médio, à luz do imperialismo capitalista e da atuação da indústria bélica, nos obriga a repensar a política internacional sob uma ótica crítica e descolonial. A Palestina e o Irã não são ameaças à paz, mas alvos do capital. Os EUA não são mediadores, mas agentes da guerra. Superar esse cenário exige coragem política, solidariedade internacionalista e a defesa intransigente da autodeterminação dos povos.

Referências

ANISTIA INTERNACIONAL. Israel mantém regime de apartheid contra palestinos. 2022. Disponível em: https://anistia.org.br. Acesso em: 27 jun. 2025.
CHOMSKY, Noam. Quem manda no mundo? São Paulo: Planeta, 2017.
DAVIS, Angela. Liberdade é uma luta constante. São Paulo: Boitempo, 2021.
FERNANDES, Sabrina. Sintomas mórbidos: a encruzilhada da esquerda brasileira. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.
HUMAN RIGHTS WATCH. A Threshold Crossed: Israeli Authorities and the Crimes of Apartheid and Persecution. Nova York, 2021.
MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1 edições, 2018.
PARTIDO SOCIALISMO E LIBERDADE – PSOL. Resoluções sobre o genocídio do povo palestino. Rio de Janeiro: PSOL Nacional, 2023.
SIPRI – STOCKHOLM INTERNATIONAL PEACE RESEARCH INSTITUTE. Military Expenditure Database. 2024. Disponível em: https://www.sipri.org. Acesso em: 27 jun. 2025.


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Camila Souza