Chantagem imperialista, ajuste neoliberal: a hora é de reagir
O MPL aponta o caminho: ocupar, resistir, radicalizar
O Movimento Popular de Luta (MPL) se solidariza com Gaza e com o povo palestino, que enfrenta um verdadeiro genocídio promovido por Israel. Exigimos que a ONU e demais organismos internacionais tomem medidas urgentes contra Israel e garantam a entrada imediata de ajuda humanitária. É inadmissível que crianças e adultos morram de fome ou sejam baleados tentando acessar as poucas ajudas que chegam à região. O mundo não pode normalizar esse horror.
Defendemos o rompimento imediato das relações diplomáticas do Brasil com Israel. Lula precisa tomar essa iniciativa agora. O dado do momento é cruel: quantos palestinos morreram de fome nas últimas 24 horas? Isso é um completo absurdo que precisa ser combatido com firmeza. A prioridade da ONU e das entidades internacionais deve ser assegurar o cessar-fogo, abrir corredores humanitários e garantir que alimentos e remédios cheguem à população palestina. Cada minuto de omissão é cumplicidade com um crime contra a humanidade.
O cenário político mundial sofreu mudanças significativas nos últimos meses com o impacto do “Tarifaço” de Donald Trump, medida que chantageia o mundo na tentativa desesperada de conter o declínio dos EUA no sistema de dominação global. Ao impor tarifas altíssimas sobre produtos estratégicos, Trump aprofundou a guerra comercial, atingindo cadeias produtivas e desestabilizando economias dependentes. Essa política evidencia a crise do imperialismo norte-americano e sua busca por reafirmar hegemonia por meios coercitivos.
No Brasil, o tarifaço produziu efeito análogo ao ocorrido no Canadá: reverteu a queda de popularidade de Lula, fortalecendo a possibilidade de reeleição, revertendo um cenário eleitoral incerto. Antes das medidas de Trump, Lula estava dentro da margem de erro contra Bolsonaro, Tarcísio e empatava com nomes como Eduardo Leite, Caiado e Michelle Bolsonaro. Após o tarifaço, as pesquisas indicam vitória de Lula em todos os cenários de segundo turno, praticamente sepultando a alternativa Tarcísio, fortemente defendida pela Faria Lima, Globo e setores da burguesia. Há ainda muito tempo até a eleição, e a conjuntura nos recomenda cautela a afirmar tendências, mas aqui, apontamos os efeitos imediatos, ainda que novos fatos possam alterar novamente as tendências.
O Escândalo Eduardo Bolsonaro: Crime de Lesa-Pátria e Interferência Estrangeira
É um absurdo o que vem fazendo o antipatriota Eduardo Bolsonaro. Mesmo recebendo salários e verbas de gabinete da Câmara dos Deputados, ele está há meses nos Estados Unidos operando um golpe via chantagem econômica, articulando com setores trumpistas e com a extrema-direita internacional para pressionar o Brasil.
O objetivo é claro: usar as tarifas impostas por Trump — de até 50% sobre produtos brasileiros — como moeda de troca para tentar paralisar os processos contra Jair Bolsonaro. O próprio governo dos EUA enviou uma carta oficial ao governo brasileiro afirmando que as tarifas são retaliação ao que consideram “perseguição” contra Bolsonaro. Para agravar, o guru da extrema-direita, Steve Bannon, deu entrevista ao portal UOL afirmando que:
“Parem os processos contra Bolsonaro e tiramos as tarifas”
Isso é um crime de lesa-pátria protagonizado pela família Bolsonaro, que se diz defensora do Brasil, mas está disposta a sacrificar a economia nacional e milhares de empregos para tentar livrar Bolsonaro da prisão. Até o momento, as ameaças e sanções têm se mostrado ineficazes, uma vez que a Suprema Corte brasileira não só não recuou, como ainda avançou em medidas cautelares contra Jair Bolsonaro, primeiro com a exigência da tornozeleira eletrônica e, após os atos do último final de semana, decretando a prisão domiciliar. Ademais, essa chantagem ameaça setores produtivos inteiros, aumenta o desemprego e agrava a crise social no país.
O Brasil é um país soberano, com justiça independente e separação entre os poderes. Não cabe aos EUA interferirem nos assuntos internos do nosso país, assim como não cabe ao Brasil determinar como funciona o Judiciário norte-americano ou de qualquer outra nação. A autodeterminação dos povos é um princípio elementar do direito internacional, e permitir ou aceitar essa pressão seria abrir mão da soberania nacional.
Essa tentativa de submeter a justiça brasileira a interesses externos é inaceitável. É dever de todo brasileiro denunciar essa ingerência imperialista e a traição de quem coloca interesses pessoais acima da pátria.
Conjuntura Nacional
As revelações sobre a tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro — incluindo planos de assassinatos e tomada de poder, conforme relatório da Polícia Federal — continuam a repercutir. A prisão de Bolsonaro sem concessões ou anistias permanece central para enfraquecer as forças antidemocráticas e proteger a democracia brasileira. Nesse sentido, é preciso manter e ampliar a pressão popular, articulando movimentos sociais, sindicatos e organizações populares para que a responsabilização avance até as últimas consequências.
Além disso, o MPL considera inadmissível a política fiscal implementada pelo governo Lula, que mantém a taxa de juros em absurdos 15%. Não é possível o país conviver com esse verdadeiro atentado contra a soberania econômica que sufoca a economia nacional, paralisa investimentos produtivos e empurra milhões de brasileiros para a miséria. Essa política serve aos interesses do sistema financeiro e das elites rentistas, e não da classe trabalhadora. Juros altos significam menos empregos, mais fome e mais concentração de renda. O Brasil precisa romper com essa lógica perversa, que perpetua a dependência e impede qualquer projeto de desenvolvimento soberano.
Paralelamente, a classe trabalhadora enfrenta as consequências da política econômica global e nacional. A ofensiva neoliberal não recuou: o arcabouço fiscal e os ajustes propostos pelo governo federal seguem ameaçando direitos sociais e impondo restrições aos investimentos em saúde, educação e moradia. Sob o pretexto de equilíbrio fiscal, a lógica da austeridade penaliza os mais pobres e mantém intactos os privilégios da elite econômica. Enquanto o tarifaço de Trump expõe a fragilidade do capitalismo global, no Brasil a política econômica insiste em transferir os custos da crise para a classe trabalhadora.
Por outro lado, os ataques de Trump à nossa soberania, impõe aos movimentos a necessidade da mais ampla unidade contra esse ataque do imperialismo. Da mesma maneira, a luta por medidas progressivas, como a isenção de Imposto de Renda e a redução da jornada de trabalho (fim da escala 6×1), coloca setores mais amplos da classe trabalhadora, sindicatos, partidos e movimentos sociais em unidade. O MPL apoia e estará presente em todas as ações em defesa da soberania e pelo avanço das pautas de interesse da classe trabalhadora. Apoiamos e faremos em nossas bases o plebiscito popular. Mas reafirmamos que a derrota da extrema direita só será possível pelo avanço da mobilização da classe trabalhadora e camponesa, de maneira independente e intransigente.
Dessa forma, o MPL se posiciona firmemente contra esse arcabouço fiscal e qualquer medida que retire direitos conquistados. A saída para a crise não é reduzir o Benefício de Prestação Continuada (BPC) nem alterar a valorização do salário mínimo, mas sim taxar as grandes fortunas, enfrentar a especulação imobiliária e redistribuir a riqueza concentrada nas mãos de poucos. É inaceitável que bancos e latifundiários sigam acumulando lucros bilionários enquanto milhões vivem na miséria.
A Luta e a Traição de Movimentos Cooptados
A urgência de uma reforma urbana popular permanece evidente diante do déficit habitacional superior a 6,2 milhões de domicílios. Entretanto, o avanço dessa pauta tem sido travado por movimentos que, ao invés de enfrentar as causas estruturais da exclusão, atuam como verdadeiras imobiliárias, disputando migalhas de verbas estatais para a construção de poucas casas. Ao se alinhar à lógica mercantil da habitação, legitimam um modelo que perpetua desigualdades.
O MPL reafirma que moradia não é mercadoria, é um direito humano fundamental. A luta deve ser conduzida por movimentos independentes e combativos, que coloquem as cidades a serviço da classe trabalhadora e não dos interesses das empreiteiras ou dos governos. Uma reforma urbana popular, que confronte a especulação imobiliária e democratize o acesso à terra urbana, é o único caminho para enfrentar essa crise estrutural.
Agenda Estratégica do MPL
O MPL segue presente em Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Alagoas e Bahia, organizando cerca de 10 mil famílias sem teto e sem terra. Nossa tarefa no próximo período é fortalecer a estrutura organizativa, com coordenações locais, estaduais e nacional atuantes, inspiradas na experiência de Lenin e na centralidade da ação direta.
Setembro será um mês estratégico para o MPL. Participaremos ativamente do Encontro Nacional do MES, espaço onde boa parte dos nossos quadros estará presente. Vamos aproveitar essa oportunidade para realizar uma reunião da nossa Coordenação Nacional, unificando diagnósticos e planejando o próximo período. Essa reunião será fundamental para preparar uma grande plenária nacional e um seminário de formação para o final do ano, com foco no fortalecimento orgânico, na formação de quadros e na articulação das lutas por moradia, terra e trabalho.
O IV Encontro Estadual do MPL, realizado em janeiro de 2025, já havia reafirmado a importância da independência frente a governos e partidos da ordem. Agora, o desafio é traduzir essa independência em maior capacidade de ação, consolidando uma rede nacional combativa, autônoma e articulada com outras organizações de luta.
Radicalizemos à Luta!
O capitalismo do século XXI insiste em aprofundar desigualdades, devastar o meio ambiente e concentrar poder e riqueza. O tarifaço de Trump e a submissão de governos nacionais aos interesses do mercado mostram que não há saída dentro das estruturas do sistema atual. É hora de intensificar a luta por teto, terra e trabalho, com uma organização sólida, independente e capaz de mobilizar massas.
O MPL é uma alternativa para todos aqueles e aquelas que entendem que um movimento precisa ser independente de partidos e governos de plantão. Estamos caminhando para o último ano do governo Lula e quase nada avançou no direito à moradia e na reforma agrária. Vimos movimentos optarem por disputar espaços dentro do governo, enchendo escalões de determinados ministérios com indicações — e no que isso resultou? Em nada. Apenas aprofundou a cooptação pela ordem de movimentos que, outrora, foram fundamentais à democracia e à luta por reformas no Brasil.
Não há saída fácil para os de baixo, como diria Florestan Fernandes. É com esse espírito que nos jogamos na construção do MPL: soldar um movimento com princípios, firmeza organizativa e consciência de que só haverá reforma agrária e urbana na marra — não será pelo beneplácito do governo da vez.
Convidamos todos e todas que não se vendem e não se rendem a construir essa alternativa conosco. O MPL nasceu para ocupar um espaço de luta autônoma, com clareza de que a mobilização das massas e a ação direta são o passaporte para as vitórias do povo.
A alternativa à barbárie capitalista é o socialismo. O MPL reafirma seu compromisso com a construção de uma sociedade justa, sustentável e solidária. O tempo de resistir e avançar é agora!
Conclusão
Precisamos preparar uma jornada de lutas para o primeiro trimestre de 2026, em que, onde o MPL está organizado, uma ação direta seja realizada, com ocupações, trancaços de rodovias e ocupações de prédios públicos, colocando na pauta a emergência climática, o enfrentamento ao ajuste fiscal e o avanço da reforma agrária e urbana popular.
04 de agosto de 2025
Campo Grande, Mato Grosso do Sul
Coordenação Nacional do MPL