STF deve julgar Jair Bolsonaro com firmeza para defender a democracia
Novo indiciamento expõe ataques da família contra o Judiciário, o Legislativo e à soberania nacional para salvar a pele do ex-presidente
Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
A Polícia Federal indiciou nesta quarta-feira (20) o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro, por obstrução de Justiça e tentativa de coação no curso de processo. A investigação foi aberta em maio, após Eduardo anunciar que ficaria nos Estados Unidos para articular sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
Através de mensagens de Whatsapp trocadas entre pai e filho, os investigadores identificaram um “modus operandi cínico”, que buscou envolver aliados internacionais na tentativa de salvar o ex-mandatário da responsabilização judicial. O caso amplia ainda mais o peso político do julgamento de Jair, marcado para 2 de setembro no STF.
De acordo com a investigação, Eduardo Bolsonaro, enquanto residia nos Estados Unidos, buscou apoio direto do ex-presidente Donald Trump para pressionar o Supremo. Em vídeos, chegou a exibir uma carta da Casa Branca elogiando Jair e criticando o andamento do processo. Graças a atuação de Eduardo, Donald Trump sobretaxou exportações brasileiras, revogou vistos de magistrados e integrantes do governo, além de restringir atividades financeiras internacionais de Alexandre de Moraes.
Para a Procuradoria-Geral da República (PGR), esse lobby não apenas constitui obstrução de Justiça, mas também atenta contra a soberania nacional, ao tentar submeter decisões brasileiras ao crivo de interesses estrangeiros.
As mensagens também mostram que discursos públicos e postagens em redes sociais foram frequentemente coordenados entre pai e filho, em sintonia com as articulações políticas de Eduardo nos Estados Unidos. Além do “03”, o ex-presidente contava com aliados como o pastor Silas Malafaia e o empresário Paulo Figueiredo no planejamento de postagens contra instituições brasileiras, numa estratégia de “milícia digital”, na intenção de intimidar “coagir membros do Poder Judiciário e, mais recentemente, do Poder Legislativo (Câmara e Senado), de modo a tentar subjugar os respectivos Chefes de Poderes aos anseios do grupo criminoso”, diz o relatório da PF.
O impacto no julgamento de setembro
Embora esse novo inquérito não faça parte formal da ação penal que terá início em setembro, seu peso simbólico é inegável. As revelações evidenciam que Bolsonaro não apenas planejou um golpe em 8 de janeiro, como segue operando nos bastidores para escapar da Justiça. Para setores democráticos, o STF tem agora a responsabilidade histórica de dar uma resposta firme: qualquer sinal de complacência abrirá espaço para novas ofensivas autoritárias contra a democracia brasileira.
O caso coloca o Brasil no centro de um embate que ultrapassa fronteiras: de um lado, a articulação de uma extrema direita global que despreza instituições; de outro, a luta de movimentos populares e da Justiça por democracia e soberania. O julgamento de Bolsonaro, em setembro, será mais do que a análise da conduta de um ex-presidente: será o termômetro da disposição do país em frear, de uma vez por todas, as tentativas de golpe e chantagem política que colocam em risco a República.