Araraquara pede socorro! Entenda os riscos que correm as cidades do interior paulista!
Com o sistema de saúde em colapso, Araraquara pode repetir a tragédia de Manaus com 100% dos leitos ocupados há uma semana, média de 100 novos casos por dia e trabalhadores da saúde esgotados.
A cidade de Araraquara, interior do Estado de São Paulo, desde o fim do mês de Janeiro, vem apresentando uma piora alarmante da pandemia da Covid-19. Os casos de contaminação aumentaram muito nas últimas semanas. As autoridades públicas e os funcionários de saúde acreditam que esse aumento tem relação direta com a circulação entre a população da nova cepa brasileira de Manaus. Em mapeamento de exames de 12 pacientes apareceu a mutação do vírus. A resposta dada pelo prefeito Edinho Silva (PT), num primeiro momento, no dia 15/02, foi a de proibir, por meio de decreto, a circulação na cidade sem a devida justificativa – quem a descumprisse teria de pagar uma multa que variava entre R$ 60,00 à R$120,00. Atualmente na fase vermelha do plano São Paulo, e de acordo com os dados de hoje, 20/02¹, a cidade registra no total 13.237 casos, 170 mortes e 100% dos leitos de UTI e enfermaria ocupados.
A situação de Araraquara acende um alerta nacional. A tragédia de falta de oxigênio e leitos do início do ano em Manaus vitimou centenas de pessoas e pode vir a se repetir em outros lugares do país. A alta disseminação dessa nova variante – que apresenta índices de contágio e de resistência aos anticorpos superior – e a demora do poder público em agir sobre a situação que já dava indícios de colapso desde o fim do ano passado, somaram os principais fatores que levaram ao total colapso do sistema de saúde na capital do Amazonas. Em Araraquara, os dados do mês de fevereiro de contaminados pelo Novo Coronavírus são assustadores². Eles revelam o que pode acontecer em outras tantas cidades do interior do Estado senão houver uma ação decidida e combinada entre as prefeituras e o governador de São Paulo João Dória no sentido de contenção da propagação da Covid-19 e de suas variantes.
Uma outra novidade dessa nova cepa está relacionada a sua enorme capacidade de transmissão, que supera em muito a forma mais comum do vírus. Com ela, não apenas as pessoas do grupo de risco têm mais probabilidade de desenvolverem o grau mais grave da doença precisando de internação; mas os mais jovens também. Essa nova característica contribui para a superlotação dos hospitais na cidade e, consequentemente, para o esgotamento dos funcionários da saúde. Nesta sexta-feira (19), a prefeitura anunciou que pela incapacidade do sistema atual de atender a todes, há seis pacientes esperando internação na fila de espera³, além da transferência já realizada de outros para as cidades da região4.
Os funcionários de saúde não aguentam mais! Há diversos relatos de funcionários das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e UPAs de Araraquara nas redes sociais chamando a atenção da população para o risco iminente de que se repita a situação desoladora que vimos em Manaus: sem galões de oxigênio, sem leitos na rede pública e privada e com déficit de profissionais da saúde por conta da quantidade de funcionários que testam positivo para o novo Coronavirus todos os dias. Para o sistema público municipal ter a capacidade de atender a todes que necessitem de cuidado, é urgente a ampliação do hospital de campanha que já funciona na cidade, bem como a inauguração de novos leitos e a contratação emergencial de mais trabalhadores da saúde!
Além do cenário de caos sanitário, o necessário fechamento do comércio, dos setores da construção civil e da indústria como medida para a contenção da disseminação do vírus, recolocam em pauta a urgência da aprovação de um auxílio emergencial municipal que ajude financeiramente as famílias mais pobres do município. É importante também que a prefeitura viabilize uma parte do orçamento municipal aos pequenos e médios empresários da cidade para que os seus trabalhadores não corram o risco de perderem seus empregos num momento grave da pandemia em que o número de desempregados vem aumentando exponencialmente.
Como se toda a situação já não estivesse insustentável, a prefeitura também decidiu pela diminuição da frota de ônibus em circulação, causando lotação no terminal de integração. Os mercados também estavam funcionando com o horário normal, e a indústria não havia paralisado completamente suas atividades. Somado a isso, o comércio da cidade estava atendendo de acordo com a demanda de clientes via redes sociais. Ou seja, o decreto do dia 12/02 havia aumentado sim as restrições se comparado ao período anterior, mas não era possível chamar de Lockdown como estava sendo propagandeado pela mídia. Toda essa demora da prefeitura de Edinho Silva em agir com restrições mais sérias fez com que a situação de contágio piorasse.
No dia de ontem (19), depois de 5 dias consecutivos de ocupação de 100% dos leitos em Araraquara, a prefeitura emitiu novo decreto5 que endurece ainda mais as regras de distanciamento social. Nele, está previsto quarentena obrigatória de 60 horas. As novas medidas entram em vigor entre Domingo (21) e vão até Terça-Feira (23) e exigem a paralisação completa do atendimento ao público em mercados, postos de combustível, nas Indústrias e no Transporte Público. Os serviços de transporte por aplicativo podem rodar com o limite de um passageiro por viagem. As farmácias seguem abertas, assim como o Terminal Rodoviário da cidade.
Nesse período de lockdown, os munícipes que forem abordados por agentes de fiscalização deverão apresentar nota fiscal da compra ou receita médica para aquisição de remédio; atestado médico que comprove que estava em atendimento ou passagem de empresa de ônibus que justifique o deslocamento até a Rodoviária. Trabalhadores prestadores de serviços essenciais devem andar acompanhados da Carteira de Trabalho, Holerite ou Contrato de Trabalho. Essas medidas mais duras são essenciais e necessárias para conter a transmissão do Vírus, mas sozinhas não dão conta de reduzir a curva de transmissão ou de resolver os problemas de falta de leitos no município.
Enquanto João Doria senta em cima do segundo maior orçamento do Brasil, a população do Estado de São Paulo segue desamparada e os municípios em risco de colapso sanitário, sem qualquer previsão de um Auxílio Emergencial estadual ou amparo por parte do governo. Isso antes de mencionar o papel do governo federal de Bolsonaro, que cria todos os mecanismos possíveis para atrasar a vacinação em massa e gratuita para toda a população, além do mesmo seguir insistindo no discurso negacionista que acaba por se refletir no comportamento de milhares de brasileiros.
Nossa única maneira de salvar vidas é seguir apostando na continuidade do isolamento social enquanto um direito de todes. No entanto, para que a população tenha condições de permanecer em suas casas evitando maiores casos de contágio e o colapso do sistema de saúde, é preciso que a prefeitura assuma a sua responsabilidade para com os araraquarenses amparando-os com um auxílio emergencial. É dever do prefeito cobrar do governador apoio nesse sentido. A contratação imediata de mais funcionários da saúde e a ampliação de leitos de UTI e enfermaria, bem como a expansão das vagas do hospital campanha é também medida urgente para que as e os araraquarenses que precisam de cuidado tenham este direito assegurado pelo município.
Seguimos lutando pela vacina gratuita para toda a população e por um plano nacional de imunização. Enquanto não há, queremos ter o nosso direito garantido de realizar o isolamento social não colocando nossas vidas em risco e sem perder os nossos empregos!
2 https://public.flourish.studio/visualisation/3514668/
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5 http://www.araraquara.sp.gov.br/boletim/12490.19fev21DISPEMEDIDASCOMPLEMENTARESAODECRETO12485.pdf
Outras referências