É tempo de unir forças!
O Barulho anuncia um processo de unificação com o Movimento Esquerda Socialista (MES).
Neste momento, em que a extrema direita ocupa o poder político central em diversos países, inclusive no Brasil, os socialistas acumulamos as tarefas de apontar saídas transformadoras para a crise política e econômica e de construir resistências às políticas de miséria e morte. Desafios enormes, que devem ser cumpridos coletivamente. O Movimento Esquerda Socialista (MES) e o Barulho, junto a outros agrupamentos do PSOL, estão se abrindo a um processo de unificação e construção de sínteses políticas. Uma decisão de multiplicar forças, que anunciamos com entusiasmo e esperança.
O Barulho surgiu em 2014, a partir da campanha eleitoral para deputado distrital de Fábio Felix, que tinha como mote “O barulho dessa cidade é a nossa voz”. A campanha conseguiu engajar militantes experientes de diversos agrupamentos do PSOL no DF e ativistas não filiados, além de encantar pessoas que se politizaram e entraram em contato com a luta social naquele momento. Tendo como bandeira a defesa dos direitos humanos e do direito à cidade, a campanha reuniu militantes e ativistas conectados com momentos importantes da história política da cidade, como a ocupação da Reitoria da UnB em 2008, as greves e protestos que culminaram com a ocupação da Câmara Legislativa do DF e com o Fora Arruda em 2009 e 2010, como aqueles que estavam nas ruas em junho de 2013 no Distrito Federal. Além disso, integrantes do movimento cultural, estudantil, LGBTIQ, pelos direitos das crianças e adolescentes, entre outros, fizeram do momento eleitoral em 2014 uma verdadeira campanha-movimento, e o grupo deu sequência às atividades após 2014. Foram pautados debates públicos na capital federal que se tornaram referência, e o grupo foi capaz de intervir em momentos difíceis e complexos na conjuntura nacional, como na luta contra a presidência de Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados, na denúncia e mobilização contra o golpe parlamentar de 2016, e, em âmbito local, na articulação em defesa dos direitos de crianças e adolescentes, por mudanças no sistema penal e socioeducativo.
Mesmo como organização local, sempre tivemos consciência de que nossa luta pelas transformações de que a sociedade necessita são globais, uma vez que o capitalismo, o racismo e o sexismo se estruturam globalmente, e que o avanço da luta por direitos na nossa cidade se articula nacionalmente. Nosso grupo também compreende, há muito, a necessidade de construir o PSOL como ferramenta política para a apresentação de um programa de mudanças profundas no nosso país e de reorganização do campo das esquerdas. A decisão de ingressarmos coletivamente junto ao MES nos entusiasma com a perspectiva de conexão mais orgânica com lutas pelo país e de aglutinação, por meio da IV Internacional, com lutas em ascenso pelo mundo, como o Black Lives Matter nos Estados Unidos, e como no Chile a luta liderada pelos estudantes por uma nova Constituinte. Também, essa decisão nos anima a afirmar a disputar um Partido com independência política, enraizamento social, alta densidade democrática e capacidade crítica de avaliação das outras experiências das esquerdas no poder.
A construção comum com o MES tem sido duradoura, e vai além da disputa partidária, para a construção junto à sociedade. Estivemos juntos na fundação do Emancipa no DF, que se revelou aposta acertada na potência das periferias e na construção política pela base. Internamente ao PSOL, assinamos nos últimos dois Congressos do Partido as mesmas teses, sinal de nossa compreensão e ação comuns, e, no âmbito do DF, desde 2017, construímos com outras forças um bloco que se provou capaz de aglutinar novos setores e figuras e de colocar em prática relações mais democráticas entre os grupos e entre as bases do partido e sua direção. Para o processo eleitoral de 2018, contamos com o partido mais fortalecido e pudemos apresentar uma chapa com vínculos orgânicos com as juventudes, o movimento estudantil, de mulheres, de negros e negras e LGBTI+. Resultado desse trabalho político foi a eleição do Fábio Felix como primeiro deputado distrital eleito pelo PSOL na história do Distrito Federal.
A decisão de iniciar um processo de unificação orgânica, decorre, assim, de uma relação de confiança política, de formulação e ação cotidianamente construídas em conjunto. Com este passo não pretendemos ignorar diferenças táticas, de trajetória ou de cultura política. O que nos anima nesta caminhada é a possibilidade de somar forças com transparência e franqueza. Isso significa que não abrimos mão, neste processo, de trazer nossas contribuições políticas, seja a respeito das caracterizações e apostas para conjuntura política, seja a respeito de métodos de discussão, tomada de decisão e funcionamento organizativo. Acreditamos que é assim que se amplificam vozes subalternas na construção coletiva.
A maneira como raça, gênero e sexualidade se interseccionam à classe como dispositivos de poder sobre as pessoas tem sido objeto de pesquisa e teorização política nas últimas décadas. Seja ao conformar as esferas pública e privada, e as fronteiras entre elas, seja ao viabilizar mecanismos violentos de desumanização e de gestão da pobreza, o certo é que esses dispositivos são mais que mero agenciamento de identidades individuais e se articulam estruturalmente com o capitalismo. O compromisso da organização com essas agendas e com os representantes desses movimentos são demonstrações de práticas políticas emancipatórias que nos afiançam nesse processo.
Racismo, sexismo e lgbtfobia estruturam o conjunto das nossas relações sociais e exigem das organizações marxistas constantes reformulações organizacionais e programáticas. Nesse diapasão, o oferecimento de respostas políticas que apontam para justiça criminal como solução para crises políticas merecem ser avaliadas, uma vez que não podem acumular para o conservadorismo em sua face punitivista. Os sistemas de segurança pública e penitenciário brasileiros contam com prática endêmica de tortura e violência estatal, e atuam de forma nitidamente seletiva e racista. É preciso construir saídas que não sinalizem apostas no fortalecimento dessas engrenagens no Brasil.
Representantes de movimentos negros, feministas e LGBTI+ tem alcançando espaço nas disputas institucionais por representação política pelo mundo, principalmente em partidos de esquerda e, no Brasil, especialmente no PSOL. A eleição de representantes dessas lutas é ainda uma novidade recente, história da qual temos orgulho de fazer parte, como Barulho, na eleição do Fábio Felix em 2018. Esse mérito também é do MES, pela eleição do Fábio no DF, e de diversos outros representantes desses grupos.
No cenário político de ascenso conservador, fragmentação e debilidade do campo das esquerdas, processos de fusões são animadores. Representam a soma de forças em torno de um objetivo comum – a construção de trincheiras de resistências para a afirmação de direitos e da democracia, além da afirmação do PSOL como alternativa política à esquerda. Representam ainda algo além: a disposição para construir coletivamente algo maior e diferente da simples soma das duas partes. É um gesto de esperança e confiança que o novo vai nascer.
O socialismo cresce!