O Primeiro de Maio

Neste 1º de maio, publicamos tradução inédita, por Fabiana Lontra, de panfleto de Vladimir Lênin publicado em 1904.

Vladimir Lenin 1 maio 2021, 13:26

Traduzido diretamente do russo[1] por Fabiana Lontra

Camaradas trabalhadores! Aproxima-se o Primeiro de Maio, dia em que os trabalhadores de todos os países celebram seu despertar para uma vida consciente, celebram sua união na luta contra toda a violência e toda a opressão do homem pelo homem, na luta pela libertação de milhões de trabalhadores da fome, da pobreza e da humilhação. Dois mundos se colocam um contra o outro nessa grande luta: o mundo do capital e o mundo do trabalho, o mundo da exploração e da escravidão e o mundo da fraternidade e da liberdade.

De um lado, um punhado de parasitas ricos. Eles se apoderaram de fábricas e usinas, instrumentos e máquinas. Transformaram em propriedade privada milhares de terras e montanhas de dinheiro. Forçaram o governo e o exército a serem seus lacaios, a serem os fiéis guardiões da riqueza que haviam acumulado.

De outro lado, milhões de despossuídos. Eles são obrigados a pedir permissão aos ricos para trabalhar para eles. Criam toda a riqueza com seu trabalho, mas eles mesmos lutam a vida inteira por um pedação de pão, imploram por trabalho como por caridade, esgotam suas forças e saúde em um labor opressivo, passam fome em cabanas nos campos, em porões e sótãos nas grandes cidades.

E eis que esses despossuídos, esses trabalhadores, declararam guerra aos ricos e exploradores. Trabalhadores de todos os países lutam pela libertação do trabalho da escravidão assalariada, da pobreza e da miséria. Eles lutam por uma estrutura de sociedade na qual a riqueza criada pelo trabalho coletivo possa beneficiar todos os trabalhadores, e não um punhado de ricos. Buscam transformar terras, fábricas, usinas e máquinas em propriedade comum a todos os trabalhadores. Desejam que não haja ricos nem pobres, que os frutos do trabalho cheguem às mãos daqueles que labutam, que todas as conquistas da mente humana, todas as melhorias no trabalho melhorem a vida de quem trabalha, e não sirvam de instrumento de opressão dos trabalhadores.

A grande luta do trabalho contra o capital custou muitas vítimas aos trabalhadores de todos os países. Muito sangue derramaram para defender seu direito a uma vida melhor e a uma verdadeira liberdade. São incontáveis as perseguições do governo aos que lutam pelas causas operárias. Mas a união dos trabalhadores do mundo inteiro está crescendo e se fortalecendo, apesar das perseguições. Os trabalhadores aderem cada vez mais aos partidos socialistas, o número de filiados aos partidos socialistas alcança milhões, e eles avançam firmemente, passo a passo, rumo à vitória completa sobre a classe dos capitalistas exploradores.

O proletariado russo também já despertou para uma vida nova. Ele também se juntou a esta grande luta. Foi-se o tempo em que nosso trabalhador curvava as costas resignadamente, sem enxergar a saída para sua vida de cativeiro, sem enxergar a luz e sua vida de trabalhos forçados. O socialismo mostrou essa saída e, em direção à bandeira vermelha, tal qual estrela-guia, milhares e milhares de lutadores seguiram.

As greves mostraram aos trabalhadores a força da união, ensinaram-nos a reagir, mostraram a tamanha ameaça que é o trabalhador organizado para o capital. Os trabalhadores viram com seus próprios olhos que é com o seu trabalho que os capitalistas e o governo vivem e enriquecem. Os trabalhadores ascenderam para a luta conjunta, para a liberdade e para o socialismo. Os trabalhadores perceberam quão maligna e sombria é a força da autocracia tsarista. Os trabalhadores precisam de liberdade para lutar, mas o governo tsarista amarra-os pelos pés e mãos. Os trabalhadores precisam de liberdade de reunião, liberdade de associação, liberdade de imprensa, mas o governo tsarista reprime com prisão, chicote e baioneta qualquer aspiração à liberdade. O brado: “Abaixo a autocracia!” ecoou por toda a Rússia. Este brado foi repetido muitas e muitas vezes nas ruas, nas reuniões de milhares de trabalhadores. No verão passado, milhares de trabalhadores levantaram-se em todo o sul da Rússia, levantaram-se para lutar por uma vida melhor, para se libertar da opressão policial. A burguesia e o governo estremeceram ao ver o ameaçador exército operário, que em um só golpe paralisou toda a indústria de cidades gigantes. Dezenas de lutadores da causa operária tombaram pelas balas do exército tsarista enviado contra o inimigo interno.

Mas esse inimigo interno não pode ser derrotado por nenhuma força, pois é apenas pelo seu trabalho que as classes dominantes e o governo se mantêm. Não há força na terra que possa destruir milhões de trabalhadores, que estão se tornando cada vez mais conscientes, cada vez mais unidos e organizados. Cada derrota dos trabalhadores ergue novas fileiras de lutadores, pressiona as massas cada vez mais amplas a despertar para uma nova vida e a preparar-se para uma nova luta.

E a Rússia passa agora por acontecimentos tais que farão com que esse despertar das massas trabalhadoras inevitavelmente ocorra de maneira ainda mais rápida e em proporções ainda maiores, momento em que será necessário reunir todas as nossas forças para unificar as fileiras do proletariado, para prepará-las para uma luta ainda mais decisiva. A guerra leva as camadas mais atrasadas a se interessarem por assuntos e questões políticas. A guerra revela ainda mais nitidamente, ainda mais claramente toda a podridão da ordem autocrática, toda a criminalidade da quadrilha de policiais e cortesãos que governam a Rússia. Nosso povo empobrece e morre de fome em casa – mas foi arrastado para uma guerra nefasta e sem sentido por novas terras estrangeiras, habitadas por gente estrangeira e localizadas a milhares de quilômetros. Nosso povo sofre com a escravidão política – mas foi arrastado para a guerra para escravizar novos povos. Nosso povo exige uma reformulação da ordem política interna – mas sua atenção é distraída pelo estrondo das armas do outro lado do mundo. Mas o governo tsarista foi longe demais em seu jogo de azar, em sua pilhagem criminosa do patrimônio nacional e das forças jovens que morrem na costa do Oceano Pacífico. Toda guerra exige o esforço das forças do povo, e a difícil guerra contra um Japão civilizado e livre exige um gigantesco esforço da Rússia. E esse esforço é necessário em um momento em que o alicerce da autocracia policial já começou a vacilar sob os golpes do proletariado que desperta. A guerra revela todas as fragilidades do governo, a guerra destrói os falsos sinais, a guerra expõe a podridão interna, a guerra mostra o absurdo da autocracia tsarista de tal forma que salta aos olhos de todos, a guerra evidencia a todos a agonia da velha Rússia, Rússia desprovida de direitos, sombria e oprimida, da Rússia que permanece serva de um governo policial.

A velha Rússia está morrendo. Em seu lugar surge uma Rússia livre. As forças obscuras que protegiam a autocracia tsarista se extinguem. Mas apenas o proletariado consciente, apenas o proletariado organizado está em posição de desferir o golpe mortal nessas forças obscuras. Apenas o proletariado consciente e organizado está em posição de reconquistar a liberdade verdadeira, e não falsa, para o povo. Apenas o proletariado consciente e organizado está em posição de contra-atacar qualquer tentativa de enganar o povo, de cortar seus direitos, de fazer dele um simples instrumento nas mãos da burguesia.

Camaradas trabalhadores! Preparemo-nos com dez vezes mais energia para a luta decisiva! Que se estreitem as fileiras dos proletários social-democratas! Que sua palavra se espalhe cada vez mais! Que cresça com ainda mais bravura a agitação pelas reivindicações dos trabalhadores! Que o feriado de Primeiro de Maio atraia para nós milhares de novos lutadores e dobre nossas forças para a grande luta pela liberdade de todo o povo, para a libertação de todos os trabalhadores da opressão do capital!

Viva a jornada de trabalho de oito horas!

Viva a social-democracia revolucionária internacional! Abaixo a criminosa e predatória autocracia tsarista!


[1] Escrito em 2 [15] de abril de 1904. Impresso em abril de 1904 como panfleto sob responsabilidade do Comitê Central e do Órgão Central do POSDR. Traduzido a partir das Obras Completas [Polnoie Sobranie Sotchinieniy – Полное собрание сочинений], tomo 8, 5ª edição. Moscou, 1967. p. 181-184. Disponível em: http://kvistrel.ucoz.ru/biblioteka/LeninSob/08.htm.


TV Movimento

Balanço e perspectivas da esquerda após as eleições de 2024

A Fundação Lauro Campos e Marielle Franco debate o balanço e as perspectivas da esquerda após as eleições municipais, com a presidente da FLCMF, Luciana Genro, o professor de Filosofia da USP, Vladimir Safatle, e o professor de Relações Internacionais da UFABC, Gilberto Maringoni

O Impasse Venezuelano

Debate realizado pela Revista Movimento sobre a situação política atual da Venezuela e os desafios enfrentados para a esquerda socialista, com o Luís Bonilla-Molina, militante da IV Internacional, e Pedro Eusse, dirigente do Partido Comunista da Venezuela

Emergência Climática e as lições do Rio Grande do Sul

Assista à nova aula do canal "Crítica Marxista", uma iniciativa de formação política da Fundação Lauro Campos e Marielle Franco, do PSOL, em parceria com a Revista Movimento, com Michael Löwy, sociólogo e um dos formuladores do conceito de "ecossocialismo", e Roberto Robaina, vereador de Porto Alegre e fundador do PSOL.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 19 nov 2024

Prisão para Braga Netto e Bolsonaro! É urgente responder às provocações golpistas

As recentes revelações e prisões de bolsonaristas exigem uma reação unificada imediata contra o golpismo
Prisão para Braga Netto e Bolsonaro! É urgente responder às provocações golpistas
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 54
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição da Revista Movimento debate as Vértices da Política Internacional

Autores

Pedro Micussi