Quatro comentários sobre o resultado das eleições de “Midterms” dos EUA
Israel Dutra reflete sobre as recentes eleições legislativas estadounidenses.
Primeiro: Ao contrário do que os prognósticos gerais apontavam, inclusive de analistas do campo dos Democratas, não houve a “maré republicana” tão temida. A chamada “onda vermelha” não ocorreu, ainda que a situação geral da economia seja delicada, com inflação crescente, constantes aumentos da taxa de juro, empobrecimento das camadas médias e populares. Com a movida reacionária do Supremo Tribunal na questão do aborto, parecia que os EEUU iriam girar rapidamente à direita, também no terreno eleitoral. Não foi o que aconteceu. Contando com a força do voto feminino e da negritude, o Partido Democrata reteve o Senado, ganhando locais estratégicos como Pensilvannia, Arizona e Nevada. Mesmo a distância na Câmara foi menor do que as projeções. As votações dos candidatos com agendas progressivas foi melhor do que esperado, com o grupo ligado à ala esquerda, que concorria pelo PD, apoiado pelo DSA, conhecido como “The Squad”(O “Esquadrão”) capitalizou o voto mais avançado. Foi uma derrota para Trump, que pela primeira vez, desde sua saída da Casa Branca, viu sua autoridade no seio Republicano questionada.
Segundo: O resultado teve muita importância para o Brasil e o mundo. Em meio à consolidação da vitória eleitoral contra Bolsonaro, em meio a COP 27 e a reunião do G-20, o efeito político de uma Maré a favor de Trump e dos Republicanos seria péssimo. No mês em que Elon Musk concluiu a aquisição do twitter, aparecendo como um dos cabos eleitorais do trumpismo, uma onda republicana geraria confiança nas hostes da extrema-direita e confusão no lado do “progressismo”. Um exemplo seria o impacto no Brasil, nos meios de comunicação e no debate sobre o novo governo Lula; ou no México, onde Eduardo Bolsonaro e Steve Bannon farão um encontro internacional em alguns dias. A agenda da extrema-direita sofre um pequeno revés, o que na batalha de longo prazo contra o neofascismo é um passo sempre bem-vindo.
Terceiro: Um fator a ser observado com rigor, que já tocamos acima, é o tamanho da derrota de Trump. Além da resiliência dos Democratas, a derrota de Trump teve um gosto amargo: desde os ataques de Capitólio, o recrudescimento da ala fanática(QUE-ANon), está se abrindo uma oportunidade de questionamento do controle trumpista do partido Republicano. A irrupção de seu principal rival, o jovem e ultraconservador Ron deSantis, que venceu na Florida com cerca de 60%. Trump correu para anunciar sua candidatura à presidência, justo pelo temor de questionamento, com a ascensão de DeSantis, que poderia ser uma alternativa mais “viável” aos olhos da sociedade, mas sobretudo dos financiadores das campanhas republicanas.
Quarto: o mal-estar republicano só reforça a necessidade de intensificar a agenda das lutas sociais e a necessidade das lutas democráticas- como as mulheres no caso do direito ao aborto. Isso se combina com um ativismo que está fazendo suas experiências na luta pela sindicalização em empresas como Amazon e Starbukcs, com as grandes greves de saúde e professores. O resultado eleitoral do “Squad” , que elegeu novos representantes, ainda tem aliados como Fetterman na Pensilvânia e Welch, em Vermont. Existe uma importante discussão no conjunto da esquerda dos EEUU, onde assistimos uma presença forte de ativistas do DSA e da Revista Tempest nos debates sobre a guerra da Ucrânia, bem como uma maior troca e interesse sobre o tema do Brasil e da extrema-direita. Um campo fértil para reconstruir a subjetividade e luta por uma direção para o movimento operário e para as lutas democráticas, do ponto de vista marxista, nessa “delicada” esquina da história.
Abaixo deixo o artigo de Dan La Botz, da IV e do DSA, antes do resultado final, e um artigo em inglês de Neil Meyer do grupo Pão e Rosas, sobre a organização em Nova York .
https://socialistcall.com/news/nyc-dsa-convention-1234-plan-socialist-party/