Algumas avaliações preliminares sobre o governo Lula
Cerimônia de posse do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto

Algumas avaliações preliminares sobre o governo Lula

Nomes importantes foram indicados, mas não mudam o caráter geral do governo de conciliação de classes

Giulia Tadini 5 jan 2023, 11:21

Algumas avaliações preliminares. A composição dos ministérios reflete bem as características de um governo de conciliação. Além de figuras importantes do campo progressista que são referência, também tem espaço figuras representativas do Centrão e de setores da burguesia. 

Ao mesmo tempo em que temos Marina Silva e Sônia Guajajara (em um simbólico e histórico Ministério dos Povos Originários, mas com pouquíssimo orçamento), confirma-se um ruralista no Ministério da Agricultura que, por exemplo, entende que tem de se avançar em parte do PL do veneno. Temos Silvio Almeida e Anielle Franco, mas temos também MDB, PSD e União Brasil. Há Barbalhos em Cidades, Renan Filho em Transportes e o destaque de Waguinho (que possui vínculo com a milícia de Belford Roxo) no Turismo.

Além dos setores que se somaram no primeiro e segundos turnos, que já conformavam uma frente ampla (Alckmin, Tebet, Globo etc), o governo amplia ainda mais sua composição – inclusive com setores que estiveram com Bolsonaro até os 45 minutos do segundo tempo. Vide Múcio na Defesa, o apoio a Lira na Câmara e Juscelino Filho (UB) na Comunicação. São sinais que o governo Lula que se inicia deve conciliar com alguns setores do bolsonarismo, julgando não ser suficiente governar com a aliança da eleição, e buscando a pacificação. Uma estratégia que pode custar caro.

Dos discursos iniciais, destaca-se no Congresso a fala do Lula sobre responsabilização, de forma firme. Seguir na agitação contra a anistia e a favor da prisão de Bolsonaro e seu entorno é essencial. Múcio é sinal que as Forças Armadas já negociam a anistia, assim como Lira, que foi fundamental na sustentação do governo anterior e de sua agenda ultraliberal. 

Outro destaque foi a fala de Dino sobre ser questão de honra solucionar o crime político contra Marielle e Anderson. Algo que devemos seguir lutando por justiça. Na economia, foi fundamental a revogação do teto, que era a destruição das políticas públicas constitucionalizada e que sequer Bolsonaro cumpriu. 

Devemos ficar atentos sobre a nova âncora fiscal, que é sinônimo de uma forma de austeridade que o mercado chama de responsabilidade fiscal. Também não se sabe como será a nova política de preços da Petrobras, nem quando entra (e se entra) a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. 

Sobre reforma tributária, fiquemos atentos sobre negociações que envolvam desoneração de folha para compensar a taxação de lucros e dividendos. Seguiremos na luta contra o sistema da dívida que garante trilhões aos bancos, em defesa da taxação das grandes fortunas e pela revogação da reforma trabalhista. Sobre privatizações, foi muito importante a suspensão dos processos de Correios, Petrobras e EBC, mas devemos seguir na luta pela reversão da privatização da Eletrobras. 

Na Educação, houve a positiva revogação do decreto que incentivava “escolas especiais” para alunos com deficiência, resultado da luta das PCDs. Ainda precisamos seguir em luta pelo fim da militarização das escolas, do novo modelo do Ensino Médio, entre enormes outros desafios dessa área e demais.

A posse foi histórica e representou um grande triunfo popular e democrático. Uma vitória enorme! Os gritos da multidão de centenas de milhares pedindo “sem anistia” mostram o caminho. O desafio para a esquerda independente é não ser sectária e nem reforçar uma visão de que esse governo não tem grandes contradições desde agora. Evidentemente, hoje estamos numa situação muito melhor para lutar. 

Nomes importantes foram indicados, mas não mudam o caráter geral do governo de conciliação de classes. Os movimentos terão que seguir mobilizados pelo seu programa.

Agora podemos respirar, estaremos na linha de frente contra a extrema direita, como fizemos nos últimos quatro anos, mas temos que estar cada vez mais organizados e não aceitarmos mais o mínimo. Por isso, nosso papel é vocalizar as demandas populares, fortalecer os movimentos desde fora do governo para melhorar a correlação de forças e derrotar o bolsonarismo definitivamente. Apoiar o que for bom pro povo. Criticar o que for ruim pra classe.


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Pedro Micussi