Pesquisa expõe dificuldades das mães solo no mercado de trabalho
Elas têm renda 39% menor que a dos pais casados. Negras recebem 39,2% menos que os das autodeclaradas brancas
Foto: Elza Fiuza/Agência Brasil
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem mais de 11 milhões de mulheres que são as únicas responsáveis pelos cuidados com filhos e filhas. 63% das casas chefiadas por mulheres estão abaixo da linha da pobreza. E um estudo da economista Janaína Feijó, pesquisadora do FGV-Ibre analisa o tipo de dificuldade que mães solo e chefes de família enfrentam para sustentar seus lares.
O trabalho comparou as realidades de mães solo entre 15 a 60 anos consideradas pessoas de referência nas famílias com pais e mães casados da mesma faixa etária. Uma das descobertas é que as mães solo tiveram rendimento médio estimado em R$ 2.105 no último trimestre de 2022. É 39% menos do que ganham homens casados e com filhos (R$ 3.438). A pandemia agravou a discrepância. Até o fim de 2019, eram a diferença era de R$ 2.325 a R$ 3.493, respectivamente (34%).
Segundo a pesquisadora, isso comprova que a “trajetória dos homens no mercado de trabalho não é afetada após o nascimento dos filhos”. Mulheres casadas e com filhos ganham 20% mais que as mães solo (R$ 2.626), revela a pesquisa.
“As mulheres casadas também enfrentam dificuldades no mercado de trabalho. A diferença é que elas podem contar com uma pessoa a mais com renda”, afirmou Feijó à Folha de S.Paulo.
Raça, idade e escolaridade
Dentro do próprio grupo de mães solo há grandes discrepâncias. A renda média do trabalho das mães solo negras é 39,2% menor (R$ 1.685) que os das autodeclaradas brancas ou amarelas (R$ 2.772). Segundo o estudo isso pode estar relacionado ao nível de escolaridade. No quarto trimestre de 2022, em torno de 21% do total de mães solo brancas ou amarelas tinham ensino superior, número que caia a 9% entre as pretas ou pardas.
Essa situação pode ser atribuída especialmente a mulheres que foram mães na fase escolar (dos 14 aos 25 anos). Segundo o levantamento, entre as mães solo que tiveram o primeiro filho com 15 anos ou menos, apenas 3% contavam com ensino superior completo. Já entre as que tiveram o primeiro filho aos 30 anos, 22% apresentavam ensino superior completo.
“As mães negras tendem a ter filhos mais cedo, e isso retroalimenta a situação desfavorável no mercado de trabalho. Consequentemente, vai repercutir no nível salarial”, diz Feijó.
Informalidade
Ainda mais preocupante é a taxa de mães solo fora da força de trabalho no Brasil. No final de 2022, eram 29,4%. Entre as negras, o percentual era de 31% para aquelas com filhos de diferentes idades e de 34,6% para aquelas com filhos de até cinco anos. Entre as brancas e amarelas, a proporção estava em 26,6% e 27,5%, respectivamente.
Segundo Janaína Feijó, um dos reflexos das dificuldades de inserção no mercado de trabalho é a ida de mães solo para a informalidade – que oferece mais flexibilidade para que elas consigam conciliar trabalho e filhos, mas paga menos e oferece menor estabilidade.
“O que acontece é que a maternidade impõe um custo alto para a mãe. Para conciliar maternidade e trabalho, ela muitas vezes vai para uma ocupação informal”, analisa a pesquisadora.