Estudantes e professores da UFRN querem diplomar aluno morto pela ditadura
Emmanuel Bezerra foi delatado e entregue e polícia pelo reitor da instituição, em 1968
Foto: Reprodução
No último dia 1º, estudantes e professores da Universidade Federal do Rio Grande (UFRN) protocolaram junto à Reitoria um pedido de diplomação post mortem para Emmanuel Bezerra, estudante morto pela ditadura em 1973, aos 26 anos. O potiguar era aluno do curso de Ciências Sociais e teve os estudos interrompidos em 1968, quando foi preso.
A homenagem é uma iniciativa do Centro Acadêmico de Ciências Sociais (CACS) e dos Departamentos de Antropologia e Ciências Sociais, que inclusive organizaram um abaixo-assinado para pressionar a universidade a conceder o diploma póstumo.
Emmanuel Bezerra nasceu em São Bento do Norte (RN), e mudou-se para Natal em 1961 para fazer o Ensino Médio. Em 1967, ingressou na Faculdade de Sociologia e Política da Fundação José Augusto, precursora do curso de Ciências Sociais da UFRN.
O jovem foi integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, depois, do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Em dezembro de 1968, com a edição do AI-5, foi denunciado e entregue à polícia pelo então reitor, Onofre Lopes. Por isso, Bezerra chegou a solicitar o trancamento formal da matrícula.
“Emanoel Bezerra dos Santos aluno desta Faculdade, através de requerimento de fl. 2, solicita trancamento de matrícula. O pedido, por motivo superior, deixou de ser apresentado para despacho dentro de menor espaço de tempo, todavia, evidenciou-se que o mesmo foi apresentado tempestivamente. Alega como fundamento do pedido, a impossibilidade de frequentar a Faculdade, por motivo de força maior. Com efeito, é público e notório que o suplicante, por motivo de prisão, não pode frequentar a faculdade. Pelas condições, atendendo que a pretensão do requerente encontra amparo legal, sou de parecer pelo deferimento do pedido, razão pelo que o defiro”, diz trecho do relatório da Comissão da Verdade da UFRN.
Morte e reparação
Após um ano na prisão, Bezerra foi libertado e partiu para a clandestinidade. Em 1973, foi enviado ao Chile pelo PCR, para fazer contato com revolucionários brasileiros e organizações de esquerda latino-americanas para iniciar um processo de unificação do movimento anti-imperialista no continente. Acabou preso na fronteira, em meados de agosto. Preso no DOI/Codi, órgãos da repressão política do Exército, foi violentamente torturado até ser morto, em setembro.
A versão oficial do governo, em nota publicada pela imprensa burguesa, dizia que ele morrera numa troca de tiros com a polícia, ao lado de seu colega de PCR Manoel Lisboa de Moura em São Paulo. Quando a notícia foi plantada, ambos já haviam sido epultados na “vala comum” do cemitério de Perus, em São Paulo, como concluiu a Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Em entrevista ao portal Saiba Mais, o professor do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, Cesar Sanson, destacou que o relatório da Comissão da Verdade da UFRN, elaborado há oito anos, reconhece que servidores, professores e estudantes foram perseguidos, porém, não houve nenhuma reparação. Por isso, vê com justiça a diplomação pós-mortem do estudante.
“Com essa reparação de reconhecimento de que Emmanuel Bezerra foi colocado para fora da universidade com o apoio inclusive da instituição, a gente quer reparar todos os outros casos de perseguição nessa instituição”, disse.
Outros nomes que o grupo gostaria de ver homenageados são Luiz Maranhão, advogado e professor da Faculdade de Filosofia, e José Silton Pinheiro, aluno da Faculdade de Educação, também assassinados pela ditadura.