Open Trotsky Initiative: Arquivos WEB e a renovação da memória histórica trotskista
Uma imersão crítica dos materiais acessíveis na internet sobre a obra de Trotsky
Resumo
A revolução tecnológica protagonizada pela hegemonia da World Wide Web está causando uma permanente transformação na sociedade em âmbito global. Com inovações digitais que prometem alterar profundamente as formas de produção de conhecimento, o legado teórico do revolucionário bolchevique-leninista Leon Trótski pode vir a ter uma ressignificação singular, dada possibilidades inéditas para a análise de seu trabalho, abrigado em arquivos espalhados por bibliotecas e acervos de todo o mundo. Este artigo tem por objetivo realizar uma imersão crítica dos materiais acessíveis através de recursos da Web, a exemplo do Internet Archive (WayBackMachine – EUA), utilizando tecnologias providas pelas plataformas digitais para a pesquisa de documentos e fontes de informação. A pesquisa destaca dados para uma interpretação historiográfica da “fase mexicana” do periódico Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista) – a produção teórico-política mais madura do publicista revolucionário – com o objetivo de abrir espaço para redefinições conceituais sobre o legado de Trótski em aspectos como jornalismo e arte.
1. Introdução
O caráter internacional da vida de Leon Trótski, banido de seu país e condenado à migração forçada e ao exílio – mas principalmente por ser uma expressão concreta da defesa incondicional de estratégias políticas advindas do caráter mundial da classe operária – fizeram com que se transformasse em um pensador político de enorme influência.
Hoje visto como grande teórico e escritor, Trótski (nascido Lev Davidovich Bronstein em 1879 na região da Ucrânia) contribuiu para áreas do conhecimento como política, filosofia, economia, ciência militar, literatura, arte. Ao final da sua atividade política – interrompida por um bárbaro assassinato político em Agosto de 1940 –, dedicou todos os esforços para a construção da Quarta Internacional, o que impulsionou sua influência ao longo do último século a grupos de diversos países ao redor do mundo que ainda hoje mantêm importantes papéis políticos e sociais.
Em face a esse legado, a revolução tecnológica protagonizada pela primazia da Web[1] – estabelecida por um amplo espectro de mudanças infra-estruturais e sociais relacionadas à conexão ubíqua da internet e à evolução das plataformas digitais (Cf. OLIVEIRA, 2020) – pode ter uma reverberação singular na memória histórica de Leon Trótski. As novas possibilidades de análise de informações e trocas de dados colocam oportunidades inéditas para investigar arquivos espalhados por bibliotecas e acervos de todo o mundo, produzidos em diversas línguas e contextos históricos.
Antes um banco de informações a serem acessadas por usuários, hoje a internet é constituída como uma interface multifacetada de práticas sociais. Agora, o grande acúmulo de dados produzidos ao longo da história da humanidade não somente é inserido na internet: transformados em commodities, em mercadorias informacionais (DOORN, 2020), dados são compartilhados, organizados e reestruturados no constante processo de evolução tecnológica.
Este novo contexto traz a necessidade de revisão de conceitos estabelecidos pela pesquisa acadêmica, abrindo novos caminhos para investigações e propostas científicas. Como vêm notando pesquisadores do atual universo digital, “plataformas e aplicativos notoriamente resistem ao arquivamento devido à sua efemeridade e atualizações contínuas. Como consequência, seus históricos estão sendo substituídos a cada atualização, em vez de escritos e preservados” (HELMOND; VLIST, 2020, p. 1). No caso de Trótski, essa revolução tecnológica é uma oportunidade de reconstituir a importância deste grande teórico marxista, como aponta o cientista político Álvaro Bianchi (2007, p. 4):
Ao contrário de Marx, Engels e Lenin – e até mesmo de Josef Stalin e de Mao Zedong – não existem edições padrão das obras de Trotsky. Em português não há uma compilação das obras escolhidas e sequer uma coletânea abrangente dos textos mais importantes.
Apesar disso, a história do trotskismo no Brasil tem grande relevância. Um momento de destaque nas edições e traduções das obras de Trótski no Brasil ocorreu ainda na década de 1930 (Cf. BIANCHI, 2005a) com os esforços dos grandes intelectuais que constituíram o rompimento com o Partido Comunista Brasileiro para fundar o Grupo Comunista Lenin. Liderados por Trótski, o trabalho de pensadores como Mário Pedrosa, Aristides Lobo, Benjamin Péret e Lívio Xavier influenciou direta ou indiretamente a cultura brasileira e latino-americana, com análises e ações políticas na busca pela restauração do legado da Revolução Russa de 1917 – em vias de destruição pela pressão imperialista e nazi-fascista do exterior e pela contrarrevolução stalinista na própria União Soviética –, mas também expressando influência na arte e no pensamento filosófico, a exemplo do surrealismo e da defesa incondicional da liberdade artística, ou ainda por ideias relacionadas a teorias como as da revolução permanente e do desenvolvimento desigual e combinado.
Esses intelectuais que conformavam o primeiro grupo de orientação trotskista no país obtiveram importantes vitórias políticas – como na edificação de uma Frente Única Antifascista ainda nos anos de 1930 (Vf. CASTRO, 2015) e, posteriormente, tendo importância central na construção do Partido dos Trabalhadores (PT) junto aos processos das lutas operárias e democráticas em fins dos anos de 1970.
Foi um militante dessa tendência [Convergência Socialista], o metalúrgico José Maria de Almeida, o Zé Maria, quem apresentou uma tese no Congresso dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, realizado em janeiro de 1979 na cidade de Lins, propondo a criação de um ”partido de trabalhadores sem patrões”. A proposta era defendida, desde o final de 1978, pelo chamado Movimento Convergência Socialista. Lula, que até então havia se manifestado contrariamente à criação de um partido de trabalhadores, apoiou a proposta (BIANCHI, 2005b).
Hoje visto como grande teórico, Trótski na realidade teve sua principal atuação como jornalista e editor. Este foi o foco de suas atenções durante toda a sua militância, desde o início de suas atividades políticas – quando copiava à mão cada um dos textos que seriam distribuídos e discutidos, dando toda a atenção para que os trabalhadores pudessem ter acesso ao universo da escrita de maneira digna.
Nos encarregamos de criar uma literatura por nós mesmos. Foi, na verdade, o começo dos meus trabalhos de escritor e coincidiu quase com o início da minha atividade revolucionária. Escrevi proclamações, artigos; copiava-os em seguida em caracteres de imprensa para o mimeógrafo. É claro que então ninguém tinha ouvido falar de máquinas de escrever. Eu desenhava as letras com o maior cuidado e fazia questão de honra de conseguir que um operário quase analfabeto pudesse decifrar sem dificuldade a proclamação saída do nosso mimeógrafo. Cada página requeria pelo menos duas horas de trabalho (TROTSKY, 1978, p. 103).
Já a partir de 1903, quando Lênin havia tentado inseri-lo no comitê editorial do Iskra[2], Trótski trabalhou nos conselhos editoriais de jornais ao longo de uma conturbada época de revoluções, prisões e exílios, atuando sobre as distintas frações políticas dentro do Partido Social-Democrata Russo e da Europa. Neste período, em que Trótski ainda não esteva nas fileiras do partido bolchevique, o que só ocorreria tardiamente em meados de 1917, o profícuo agitador cobriu eventos como a guerra dos Bálcãs, entre outros intensos trabalhos jornalísticos como a edição do jornal Russian Gazette, chegando a uma circulação de 500 mil exemplares, além dos trabalhos no periódico de intersecção menchevique Nachalo (O início) na efervescência revolucionária da sublevação de 1905” (DEUTSCHER, 2006, p. 138–39).
A maioria de seus esforços foram gastos na reunião das diferentes facções mencheviques e bolcheviques no exílio. De 1908 a 1912, ele publicou no imensamente popular Pravda (que não deve ser confundido com o tardio Pravda leninista), que era ilegalmente enviado para a Rússia. Ele também contribuiu para jornais bolcheviques (Proletário) e mencheviques (Luch), bem como para periódicos socialistas alemães e belgas. No entanto, ele ganhou a vida, apoiando sua família e o Pravda (coeditado e cofinanciado por Adolph Joffe e Matvey Skobelev), quase exclusivamente com os artigos que ele contribuiu para Kievskaya Mysl. Na época, este era o jornal com maior circulação em Kiev e o jornal liberal e esquerdista mais popular no sul da Rússia. Trótski escreveu sobre diversos temas, desde Ibsen, Maupassant e Nietzsche até a situação do campesinato russo. Ele cunhou de brincadeira o pseudônimo Antid Oto ao se deparar com a palavra italiana “antídoto”, a fim de “injetar o antídoto marxista em jornais [sic] legítimos” (TODOROVA, 2013, p. 5).
2. A fase mexicana do Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista)
O que se conhece sobre Trótski hoje se deve muito à produção do próprio autor sobre a interpretação dos fatos históricos em que tomou parte. De acordo com o renomado biógrafo e historiador Isaac Deutscher, no capítulo “O Revolucionário como Historiador” do livro O Profeta Banido, foram nos anos de exílio que Trótski atingiu “eminência como escritor” e veio a ser reconhecido como historiador da Revolução de Outubro e seu principal líder. Segundo Deutscher, “havia nele um desdobramento vis historica: a ânsia revolucionária por fazer história e o impulso do escritor por descrevê-la e compreender o seu significado” (1970, p. 176).
A série de livros de Deutscher foi construída a partir do acesso inédito à seção fechada da Houghton Library, a biblioteca da Harvard University. O ingresso nos arquivos, em 1959, permitiu que o autor escrevesse os magníficos três volumes da biografia de Trótski: O Profeta Armado, O Profeta Desarmado e O Profeta Banido. Até então, os materiais ficariam inacessíveis até 1980 por conta da possibilidade de destruição dos documentos pelos regimes totalitaristas organizados por Hitler e Stálin.
Disponibilizados ao pesquisador polonês com a permissão de Natália Sedova, ativa revolucionária e companheira de Leon Trótski pela maior parte da vida, a seção fechada dos arquivos, segundo Deutscher, era composta à época por mais de 20 mil documentos, principalmente por correspondências políticas com amigos e partidários.
Tratava-se mais do que uma preocupação com a preservação dos materiais. No verão de 1940, quase toda a Europa estava sob ocupação nazi-fascista ou stalinista, e o futuro de muitos países fora da Europa parecia incerto; e então ele se sentiu obrigado a proteger seus correspondentes (Index to The Archives, s.d.).
Pela pesquisa nos dados da Web, foi possível identificar que existe um valioso material para a história do marxismo que segue parcialmente desconhecido para os leitores de língua portuguesa: o Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista)[3], editado por Trótski ao longo do seu exílio, que se iniciou com a reclusão em Alma-Ata, ainda em território soviético no final de 1928, sendo expulso em 1929 para a ilha de Prinkipo, Turquia. (DANIELS, s.d.).
Como vimos anteriormente, o estudo através de uma observação de Trótski como jornalista tem grande importância para as interpretações sobre os seus conceitos e teorias, fundamentalmente por ser o eixo de sua atividade política ao longo de toda a vida, até as últimas edições do Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista).
O material do Boletim, escrito em alfabeto Cirílico, acompanhou Trótski pelo exílio, circulando entre 1930 e 1941. Como forma de imersão crítica no material, este estudo propõe a adoção de uma “fase mexicana” do Boletim de Oposição, o período cronológico correspondente ao exílio de Trótski no México corresponde aos números 54-55 até o número 87, entre março de 1937 até agosto de 1941, quando a última edição é publicada.
Os escritos do Boletim só se tornaram acessíveis no ano de 1973, com uma edição Fac-Símile em russo editado pela da Pathfinder Press. Ainda assim, edições como os Writings – uma extensa publicação de vários volumes abrangendo grande parte das atividades de Trótski (que tem uma tradução para o espanhol, Escritos da Editorial Pluma, de 1977) não traz de fato todos os textos publicados no Boletim de Oposição. Por fim, não se pode deixar de citar as Oeuvres (Obras), editadas sob a responsabilidade do historiador Pierre Broué. Inicialmente publicada pela EDI e depois pelo Institut Léon Trotsky, os 27 volumes cobrem os períodos de 1928-1929 e 1930-1940. O material também teve como base para sua edição os arquivos de Leon Trótski da seção fechada da Houghton Library, acrescidos de informações da coleção Nicolaevsky da biblioteca da Stanford University, além do apoio de antigos secretários de Leon Trótski na identificação e autenticação dos documentos.
A análise da “fase mexicana” do Boletim é determinada não só pela localidade, mas porque a emigração de Trótski para o México proporciona uma liberdade relativa, uma vitória parcial devido à possibilidade de que poderia novamente voltar a falar e organizar a luta de classes contra o capitalismo e em oposição à degradação reacionária promovida por Stálin.
Minha emigração para o México mudou drasticamente a relação de forças em desvantagem do Kremlin. Eu obtive a possibilidade de apelar à opinião pública mundial (Mexico. January 9, 1937. In: Writings of Leon Trotsky – v.09 1936-37, p.79).
A chegada de Trótski ao México abria possibilidades há muito aguardadas pelo ativo revolucionário, cuja experiência de vida estava intrinsecamente conectada às lutas sociais e grandes eventos históricos. Ainda a bordo do barco petroleiro que saiu da Noruega em direção a Tampico, no México, Trótski voltara a trabalhar incessantemente, reunindo o material para refutar as acusações do julgamento de Moscou de agosto de 1936.
Durante a travessia no Atlântico, Trotsky trabalhou em um manuscrito onde analisou o primeiro processo de Moscou. Esse texto seria incluído em seu livro de 1937, The Crimes of Stalin, no qual ele expôs fraudes judiciais. Trotsky e Natalia chegaram ao porto de Tampico na manhã de 9 de janeiro de 1937. Dali, eles foram transportados no trem oficial Hidalgo – enviado pelo presidente Cárdenas – para a capital. O presidente Cárdenas não apenas concedeu asilo político a Trotsky no México, como o declarou convidado do seu governo. No entanto, desde sua entrada, houve protestos raivosos por sua admissão no país. Estes vieram da Confederação dos Trabalhadores do México, liderada pelo líder sindical Vicente Lombardo Toledano, e do Partido Comunista Mexicano, duas fortalezas do stalinismo no país asteca. O governo de Cárdenas – que havia promovido a Reforma Agrária e que nacionalizaria o petróleo – estabeleceu como condições que Trotsky não deveria intervir nos assuntos da política interna mexicana e que se absteve de ações que prejudicaram as relações do México com outros países. Ao mesmo tempo, ele endossou seu direito de se defender contra ataques da mídia stalinista. As constantes ameaças às quais ele foi submetido levaram as autoridades a ordenar a custódia policial de sua casa. Nesse trânsito, ele recebeu a generosa assistência de seus seguidores norte-americanos, que se mudaram para o México para servir como secretários e guarda-costas. (HIGUERAS, 2017, p. 168).
Como pode ser visto nas recordações do ano de 1935 de seu Diário do Exílio, Trótski demonstra a necessidade de poder voltar a se expressar livremente. É assim que Trótski inicia os seus diários, em 8 de fevereiro.
O diário íntimo não é um gênero literário de minha preferência. Eu preferiria neste momento escrever um jornal. Mas não posso… Cortado da vida política ativa, sou obrigado a recorrer a este sucedâneo do jornalismo que é o diário pessoal. No início da guerra, retido na Suíça, escrevi um diário durante algumas semanas. Depois, durante uma curta temporada na Espanha, em 1916, após a minha expulsão da França, escrevi outro. Creio que foi só. Eis-me obrigado a utilizar esse recurso novamente. Por quanto tempo? Pode ser por meses. Em todo caso não por anos. Os acontecimentos só podem se desenvolver num ou noutro sentido – e fechar o caderno. Pode ainda ser fechado mais cedo pelo tiro, vindo de qualquer canto, de um agente de … Stálin, de Hitler ou de seus amigos-inimigos franceses. […] Justamente porque tive a oportunidade de participar em grandes acontecimentos, meu passado me fecha agora a possibilidade da ação. Resta-me apenas a tentativa de interpretar os acontecimentos e saber como eles irão se desenvolver no futuro (TROTSKY, 1980, p. 27).
Este momento de Trótski no exílio expressa também os limites do ponto de vista deste personagem político que continha uma monumental potência de engajamento, o que leva à necessidade da elaboração de um contexto para a compreensão do legado de Leon Trótski, como observa um de seus mais importantes secretários, Jean van Heijenoort:
O Diário [do Exílio] descreve um panorama vivo dos interesses e das preocupações de Trotsky. Porém, aos olhos de quem estava com ele durante este período e também, o que permite a comparação, antes e depois, as proporções entre esses diversos interesses e preocupações não são sempre as mesmas no Diário e na realidade. Por exemplo, grande parte do tempo de Trotsky mesmo durante o período coberto pelo Diário, era tomada pelos problemas organizacionais dos grupos trotskistas em quase 30 países. Na grande maioria desses grupos existia uma luta entre duas ou três dissidências, por razões ideológicas ou pessoais. Trotsky consagrava sempre grande parte de seu tempo e de sua energia, a essas lutas entre facções, e isso pouco aparece, ou nem aparece, no Diário (HEIJENOORT, 1980, p. 15).
O Boletim passava a ser produzido entre Coyoacán e Paris, onde o filho de Lev Davidovich Bronstein e Natália Sedova, Lev Lvovich Sedov, organizava o trabalho político dos exilados russos. Lev Sedov havia acompanhado o exílio de Trótski para a Turquia, se estabelecendo em 1931 em Berlim e seguindo para Paris após a chegada de Adolph Hitler ao poder em 1933, onde manteve as atividades políticas até 1938. Sedov morreu em Paris, em circunstâncias que ainda hoje despertam dúvidas sombrias, mais um dos episódios dramáticos para serem considerados pela historiografia. Após uma crise de apendicite, Lev Sedov decidiu operar-se em uma clínica privada pela influência de Mark ‘Etienne’ Zborowski, um agente stalinista infiltrado nas fileiras dos partidários de Trótski na França. Lev Sedov morreria em decorrência de complicações da cirurgia. Etienne, como era conhecido,
semeou suspeitas e aprofundou divisões dentro da Oposição de Esquerda internacional, possibilitou assassinatos e teve um papel ativo na morte do filho de Trótski, Lev Sedov. Zborowski teve tanto sucesso em penetrar no círculo interno de Sedov que se tornou editor do Boletim de Oposição após a morte de Sedov, posicionando-se para alterar os artigos de Trótski de maneira sutil, indetectável, mas politicamente prejudicial (WEISSMANN, 2015).
A época do retorno ao trabalho no Boletim de Oposição seria de fato decisiva para a vitória de Trótski em garantir que não houvesse um apagamento histórico completo realizado pelo stalinismo. Trótski observava Stálin como o resultado de um processo social levado a cabo pelo surgimento, no campo interno da União Soviética, de um campesinato privilegiado na figura dos NEPman, o setor social aburguesado que emergiu com a política de incentivo capitalista agrário pós-revolução e desencadeou uma série de retrocessos que culminou na perseguição e no assassinato, senão da maior parte, dos mais importantes líderes do próprio partido bolchevique; e no campo internacional pelo fracasso da rebelião espartaquista na alemanha em 1919, pela derrota das greves italianas em 1921 e pelo massacre dos comunistas de Xangai em 1927.
A “fase mexicana” é conformado, assim, pelo momento crucial da produção mais madura de Trótski. Entre outros importantes acontecimentos, nas páginas do Boletim são realizadas as defesas bolcheviques que estavam diante dos tribunais stalinistas dos Processos de Moscou; a denúncia do extermínio dos familiares; e os debates para a fundação da IV Internacional.
Após a construção desse contexto histórico, realizamos uma imersão crítica nos materiais acessíveis do Boletim através de recursos da Web. Para tanto, a pesquisa descreve um trabalho de mapeamento e tradução das edições doperiódico, traçando como limite analítico a busca por temas relacionados à arte que permitem apresentar a interpretação de uma “fase mexicana”, já que em paralelo à dramática conjuntura da época, Trótski sempre manteve a publicação de materiais relacionados à cultura e à arte (em especial sobre literatura), como o Manifesto da FIARI entre outros textos, como veremos adiante.
3. Arte como expressão da evolução do pensamento de Trótski
Na tentativa de estabelecer uma sustentação para pesquisas sobre o Boletim, deve ser notado que há um movimento nas ideias de Trótski, uma contradição dentro dos textos em si: uma luta em/entre diferentes épocas históricas.
No campo da arte, o tema selecionado para este tipo de abordagem conceitual do periódico, a análise comparada é uma importante ferramenta. As interpretações do Manifesto da FIARI – Federação Internacional da Arte Revolucionária Independente – podem ser cotejadas com os documentos do Boletim, que tratavam das necessidades políticas mais importantes, segundo o próprio Trótski.
Assim, um exemplo de deslocamento no pensamento do autor soviético sobre a relação entre arte e política revolucionária pode ser observado a partir da formulação encontrada na obra Literatura e Revolução, de 1924.
O Partido, evidentemente, não pode entregar-se ao princípio liberal do laissez-faire, laissez-passer, mesmo na arte, mesmo por um só dia. A questão é saber quando deve intervir, em que medida e em que caso”. (TROTSKY, 1969, p. 9).
Já o Manifesto da FIARI, de 1938, escrito em parceria com o artista surrealistas francês André Breton, é enfatizada a necessidade absoluta de criatividade artística autônoma que faltava em seus escritos de catorze anos antes. Fica evidente a edição pelas mãos de Trótski, que suprimira parte da elaboração de Breton, dando ênfase à liberdade total à arte:
Àqueles que nos pressionarem, hoje ou amanhã, para que consintamos que a arte seja submetida a uma disciplina que consideramos radicalmente incompatível com seus meios, opomos uma recusa inapelável e nossa vontade deliberada de apegar-nos à fórmula: toda licença em arte, exceto contra a revolução proletária.(TROTSKY et. al., 1985, p. 42)
Quadro 1: Lista de referência de ARTE encontrados na “fase mexicana” do Bulletin de l’Opposition (Bolcheviks-Léninistes).
Número | Ano | Página | Referência | Palavras-chave |
Nº 34 | 1933 | Page 30 | The Strangled revolution – French novel about the chinese revolution | Crítica literária; André Malraux. |
Nº 35 | 1933 | Page 21 | Leon Trotsky: Party policy in the field of arts | Crítica de arte. |
Nº 46 | 1935 | Page 12 | Romman Rolland | Romman Rolland. |
Nº47 | 1936 | Page 12 | Reference to Dostoyevsky | Crítica literária. |
Nº 48 | 1936 | Page 4 | Socialist Culture? | Crítica cultural. |
Nº51 | 1936 | Page 8 | Maximo Gorky | Maximo Gorky. |
Nº51 | 1936 | Page 9 | A letter to Andre Gide | Andre Gide. |
Fase Mexicana do Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninistas) | ||||
Nº 60-61 | 1937 | Page 14 | Texto crítico ao escritor Lion Feuchtwanger | Lion Feuchtwanger; stalinismo. |
Page 24 | Texto crítico ao escritor Andrei Sedych | Andrei Sedych; stalinismo. | ||
N 68-69 | 1938 | Esta edição corresponde ao lançamento do Manifesto da FIARI, mas não há referência ao documento no Boletim. | FIARI; ausência. | |
Nº 77-78 | 1939 | Page 4 | Arte e Revolução: De uma carta aos editores da Partisan Review | Crítica cultural; crítica literária. |
Nº 86 | 1941 | Page 15 | Crisis of Soviet Literature | Crítica literária; I. Yakovlev. |
Da mesma forma que a análise comparada permite observar o movimento das ideias do revolucionário, com as lentes da nova cultura de pesquisas advindas da expressiva quantidade de arquivos na Web é possível construir interpretações inovadoras e derivar outros aspectos das leituras de Trótski a que temos acesso hoje. Esse é um passo à frente em relação, por exemplo, à excelente edição de BRETON-TROTSKY, Por uma Arte Revolucionária Independente (1985) – em que é possível observar a diferença entre os textos propostos por André Breton e Leon Trótski.
Apesar da pesquisa em um primeiro impulso ser direcionada a adotar as elaborações posteriores do autor como as mais avançadas, esta argumentação pode não abranger todos os aspectos do problema em questão, já que há ainda uma grande quantidade de documentos a serem traduzidos, analisados e debatidos. A análise do tema da arte demonstra que, se é verdade que o pensamento de Trótski no Manifesto da FIARI dá ênfase à liberdade total da arte, este documento não chegou a ser citado nas teses da Quarta Internacional, por exemplo, e também parece não constar como uma política clara nos materiais do Boletim, como pode ser observado no texto Arte e Revolução: De uma carta aos editores da Partisan Review, publicado no número 77-78 do Boletim (março-julho de 1939), em que é possível observar que não há posição determinada para a arte, mas que “a arte só pode se tornar uma grande aliada da revolução na medida em que se mantém fiel a si mesma”.
É impossível encontrar uma saída do impasse por meio da própria arte. É uma crise de toda a cultura, começando com o fundamento econômico e terminando com as mais altas esferas da ideologia. A arte não pode sair da crise nem se isolar dela. Não pode se salvar. Ela inevitavelmente perecerá, assim como a arte grega pereceu sob as ruínas de uma cultura de escravos se a sociedade moderna falhar em se reconstruir. Essa tarefa tem um caráter completamente revolucionário.
O artigo avança para observar que uma armadilha histórica se seguiria à revolução soviética com a contra-revolução do poder stalinista, nomeada por ele como termidor soviético – em alusão ao período histórico da revolução francesa caracterizada pelo fim da fase progressiva representada pelo poder jacobino na figura de Maximilien de Robespierre Trótski aproveita para rebater a desvirtuação histórica colocada em curso por Stálin, que se colocava como um grande líder da revolução de outubro.
Stalin nunca entrou no Comitê Revolucionário Militar, não apareceu no Smolny, ou seja, na sede da revolução, nada tinha a ver com a preparação prática do levante, mas sentou-se na redação do Pravda e escreveu artigos cinzentos que poucas pessoas liam (idem).
No texto, para além da polêmica com a degeneração artística representada pela política da burocracia stalinista da submissão da arte e da ciência, Trótski aproveita para discutir o papel do desenvolvimento da arte e da filosofia.
Nem uma única ideia progressista começou com uma “base de massa”, caso contrário não seria progressiva. Somente na análise final a ideia encontra suas massas, é claro, se ela própria atende às necessidades de desenvolvimento. Todos os grandes movimentos começaram como “fragmentos” de movimentos antigos. O cristianismo foi inicialmente um “fragmento” do judaísmo. O protestantismo é uma “lasca” do catolicismo, isto é, Cristianismo degenerado. O grupo Marx-Engels surgiu como um fragmento da esquerda hegeliana. A Internacional Comunista foi preparada durante a guerra pelos “fragmentos” da social-democracia internacional. Se esses iniciadores foram capazes de criar uma base de massa para si mesmos, foi apenas porque não tinham medo do isolamento. Eles sabiam de antemão que a qualidade de suas ideias se transformaria em quantidade. Esses “fragmentos” não sofriam de anemia, pelo contrário, continham a quintessência dos grandes movimentos históricos de amanhã (ibid.).
Além do levantamento temático como o estabelecido neste estudo pelas referências à arte no Boletim, outro destaque pode ser dado a uma obra que tem bastante importância nos debates políticos do legado de Trótski: Em Defesa do Marxismo, um documento contendo cartas sobre as polêmicas com o Socialist Workers Party (então, a seção estadunidense da IV Internacional). Já A Petty-Bourgeois Opposition in the Socialist Workers Party (Uma oposição pequeno-burguesa no SWP), escrito em dezembro de 1939, trata de polêmicas envolvendo o caráter da União Soviética, que levaria a uma fragmentação dos agrupamentos em atividade nos EUA. Ao olharmos a edição do Boletim correspondente à época do texto, que seria o número 81, de janeiro de 1940, na busca de referências pelo assunto, uma estarrecedora mensagem surge para deixar o pesquisador de sobreaviso acerca dos percalços da falsificação histórica e das pressões a que o movimento revolucionário estava submetido:
A “Nova Palavra Russa” intercepta os artigos de Leon Trótski da imprensa americana, os traduz para um idioma “desconhecido”, que os editores consideram, aparentemente, russo, e os submete a deturpações maliciosas para fins políticos. Advertimos os editores de que não toleraremos mais esses métodos de gangsterismo literário (Opposition Bulletin (Bolshevik-Leninists) N 81).
Trata-se mesmo de uma produção frenética. O material da polêmica com o Socialist Workers Party, foi elaborado apenas 9 dias depois de um importante artigo tal qual As estrelas gêmeas: Hitler-Stálin, de 4 de dezembro de 1939. São os textos disponibilizados em Writings, mas que podem não considerar passagens importantes relacionadas ao contexto em que se inseriam os textos do Boletim.
Essa produção incessante chega ao fim com a edição do número 84, em que temos a notícia do trágico assassinato de Leon Trótski através do texto Nós Acusamos Stálin!, sendo publicado somente mais três números do Boletim, até agosto de 1941 com a edição de número 87.
São questões fundamentais na discussão da teoria estética, principalmente se levarmos em conta o alcance das obras de arte na atualidade, que incorporam as comunicações, o jornalismo e até mesmo a política. Por um movimento inverso, poderíamos imaginar as concepções de Leon Trótski sobre a função da arte na fronteira com a política e seus desdobramentos filosóficos, inclusive para o legado do marxismo.
Retornando ao tema da arte, um último artigo redigido por Trótski, A great new writer, foi publicado postumamente no periódico Fourth International, New York City, Volume II No. 1, February 1941, pp. 56-58. O texto possui uma reedição no livro Art and Revolution, impresso em 1970 pela Pathfinder Press com o título “A masterly first novel: Jean Malaquais’s Les Javanais”. O material está disponível no Marxists Internet Archive, cuja seção sobre Leon Trótski é administrada pelo diretor da Holt Labor Library, David Walters[4].
A tentativa de demarcação de um período correspondente às atividades de Trótski no México através da interpretação das páginas do Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista) ainda pode ser incorporada por elementos como o debate direcionado à crítica literária (um já reconhecido campo de interesse de Trótski por vários momentos da vida); concepções mais gerais sobre o papel da política no campo da arte e da crítica cultural; referências a escritores dentro de textos sobre a cultura em geral; e até mesmo pelas ausências, como pode ser notado pela falta de referências ao manifesto da FIARI no Boletim.
4. Fontes para a pesquisa de Trótski na WEB
Os desafios que as/os pesquisadores se deparam nas análises da atualidade são imensos. Hoje, o cotidiano de estudos é composto pelo uso intensivo da internet, com várias abas abertas em janelas de navegadores, organizadores de PDFs, planilhas de excel, buscadores de livros digitais bem como plataformas com arquiteturas sofisticadas ou ultrapassadas, muitas vezes recheadas de botões de hyperlinks – uma grande diferença de um momento anterior, em que os arquivos físicos e as bibliotecas eram as principais ferramentas para produção de conhecimento.
Abrindo espaço para uma nota pessoal, em um dia de pesquisas, enquanto copio página a página as 31 seções com os resultados do tema Trótski da Open Library[5], a biblioteca disponibilizada pelo Internet Archive, me recordo das Sochinennia, as obras escolhidas, editadas na União Soviética antes da expulsão de Trótski. Mas as obras não estão disponíveis ali. Forço a memória e me recordo que já as vi, claro, dispostas no monumental site de Wolfgang e Petra Lubtiz, TrotskyanaNet, que nos leva por sua vez ao site Magister, que abriga a Library Trotsky.
A Library Trotsky nada mais é do que uma longa lista de hyperlinks, com uma seleção de cerca de 20 entradas e, depois, uma longa lista de artigos em ordem alfabética, tudo em russo. Agora sim, me dou conta que o site dos Lubtiz nos carrega para o conteúdo desta biblioteca digital. Uma imersão nos arquivos e a indicação fundamental de Sandor John – pesquisador da pesquisador da City University of New York, associado ao Internationalist Group, dos EUA, me carregam para o site Iskra Research onde os Boletim estão “mais completos”, mantido pela organização World Socialist Web Site (WSWS). É lá que encontro uma lista bibliográfica que contém o sumário das Sochiennia[6], no qual vejo que a última publicação, de 1927, chama-se Cultura de transição, mas cujo link nos leva de volta à biblioteca Magister, cujos htmls datam pelo menos desde 2001, como consigo identificar pelas ferramentas do Web Archive.
Figura1: A ferramenta WayBackMachine exibe recursos de comparação de páginas da web, permitindo uma imersão nos arquivos digitais. Nesta busca, foi possível ver a diferença do site entre os anos 2011 e 2020.
Fonte: Captura de tela de: <http://web.archive.org/web/diff/20110922023656/20200929145602/http://www.trotskyana.net/Leon_Trotsky/Biulleten__Oppozitsii/biulleten__oppozitsii.html>.
O emaranhado de dados da Web é apenas mais uma indicação da necessidade de pesquisas sistemáticas e um bom trabalho editorial, fundamentais para a manutenção dos ideais do revolucionário bolchevique e das possibilidades de reformulações teóricas acerca de suas teorias. Deste modo, são disponibilizadas aqui as indicações de algumas das principais fontes de pesquisa acessíveis na internet, de forma que outros pesquisadores possam dar continuidade à essa importante empreitada:
A. Trotskyana[7]
Sem dúvidas qualquer início de pesquisas relacionadas a Leon Trótski deve iniciar-se pelo extensivo empreendimento de Wolfgang e Petra Lubitz. Os pesquisadores transformaram um sólido trabalho bibliográfico das publicações do revolucionário bolchevique ou realizados pela perspectiva teórica de Trótski (periódicos, livros e outros materiais) em uma espécie de portal contendo não só um enorme levantamento catalográfico, mas também uma lista instituições de pesquisa, sumários de livros, como os Sochinennia (obras escolhidas) e os Boletim de Oposição.
Por ter sido iniciado em 2004, em um momento bastante diferente da internet e das tecnologias digitais, o TrotskyanaNet expressa muito bem os desafios advindos da constante reformulação da Web. O que antes parecia ser um trabalho definitivo, como o arquivamento de textos em um determinado formato que estivessem para sempre acessíveis ao público, hoje ganham novas dimensões – como a possibilidade de tradução automática e das plataformas que mantém dados de usuários através de ferramentas como o cadastro de usuários. Fica clara a necessidade de constante evolução dos arquivos, de maneira que os dados mantenham acessibilidade segundo as reestruturações pelas quais as sociedades passam.
B. WebArchives: Internet Archive/ WayBackMachine
A Internet Archive é uma instituição estadunidense sem fins lucrativos fundada em 1996 que tem o objetivo de construir uma biblioteca digital de sites da internet e de outros “artefatos culturais” em formato digital. A instituição promove esse objetivo através de uma ferramenta chamada WayBackMachine. Essa ferramenta permite, por exemplo, visualizar versões antigas de sites que já não estão mais disponíveis e comparar as mudanças de seus conteúdos ao longo do tempo – uma verdadeira preciosidade, se levarmos em conta que existem inúmeros grupos trotskistas que promoveram iniciativas digitais nas últimas décadas.
De acordo com a página da instituição, eles já armazenam 330 bilhões de sites, além de 20 milhões de livros, 4.5 milhões de gravações de áudio, 4 milhões de vídeos, 3 milhões de imagens e 2000 mil programas de software.
O site é um avançado dispositivo para pesquisas acadêmicas, já que permite não só o acesso às páginas, mas observar a sua arquitetura de informações e as mudanças que foram realizadas ao longo do tempo, bem como programar o levantamento de dados através do desenvolvimento de APIs[8]. Além disso, não é somente um repositório de dados que podem ser acessados de diferentes formas por um pesquisador (trazendo a preocupação com a metodologia a ser utilizada), mas um sistema que “gera” as informações no momento em que pesquisadores (ou qualquer pessoa interessada em resgatar memórias na internet) fazem a busca por um endereço da Web.
Além desta ferramenta, outros sites semelhantes, denominados WebArchives, oferecem o mesmo tipo de serviço e podem servir como importantes fontes e formas de pesquisa[9].
C. Hoover Institution Archives / Stanford University[10]
A coleção foi montada pelo Socialist Workers Party (Partido Socialista dos Trabalhadores-SWP) e sua afiliada, a Biblioteca de História Social. A coleção esteve alojada na cidade de Nova York até ser adquirida pelo Hoover Institution Archives em 1992. As principais fontes da coleção são os arquivos do SWP e documentos de líderes do partido, principalmente John G. Wright, mas também James P. Cannon, Farrell Dobbs, Albert Goldman, Joseph Hansen. Em alguns casos, existem fotocópias de documentos da Biblioteca da Universidade de Harvard, do Internationaal Instituut voor Sociale Geschiedenis e de outros repositórios de arquivos.
Na Hoover Institution também está depositada a Coleção de Boris I. Nicolaevsky, um político menchevique que foi diretor do Instituto Marx-Engels de Moscou até 1921, quando foi preso e exilado. A coleção inclui manuscritos originais de escritos de Trótski – trechos de Vie de Lenine: Jeunesse, Les Crimes de Staline e Stalin –, bem como cópias datilografadas e raras cópias impressas. Há ainda manuscritos originais e um grande conjunto de cópias datilografadas dos papéis de John G. Wright, o principal tradutor de edições em inglês dos trabalhos de Trótski.
A coleção também inclui muitas cartas originais dos líderes do SWP, além de carbonos de suas respostas, e originais, carbonos e cópias datilografadas. De nota particular na coleção é um dos três conjuntos existentes de cópias datilografadas de correspondência entre Trótski e Vladimir Ilyich Ulianov “Lenin”, preparado a partir de fontes de arquivos soviéticos.
A correspondência entre os líderes do Partido Socialista dos Trabalhadores em Nova York e os secretários e guardas no México (muitos deles membros do partido) formam uma parte significativa do arquivo, assim como os registros do SWP relacionados às audiências da Comissão Dewey de 1937 (comissão de inquérito sobre as acusações feitas contra Leon Trótski nos Processos de Moscou); a investigação do assassinato de Trótski; a disposição de seus arquivos; e publicação póstuma de sua biografia Stalin.
Há ainda materiais publicados e não publicados selecionados sobre o SWP e pela Biblioteca de História Social até 1980; e folhas de pesquisa preparadas pela equipe do Partido Socialista dos Trabalhadores / Biblioteca da História Social, inventariando a correspondência na seção Exile Papers na Biblioteca da Universidade de Harvard.
Materiais audiovisuais incluem fotografias da família em Coyoacan, documentos de Evelyn Reed e George Novack; e uma gravação sonora de um discurso de Trótski.
D. Houghton Library – Harvard University[11]
Os Leon Trotsky Soviet papers 1904-1959 formam uma grande coleção da biblioteca da prestigiosa universidade de Harvard (EUA), onde também existem muitos materiais digitalizados. O acervo está divido em diversas coleções, e cada uma delas possui guias para buscas (Online Finding Aids), que podem ser baixados pelo pesquisador dentro do interessante site da biblioteca. O acervo é conformado pelas seguintes seções:
– Correspondências da União Soviética (1917-1929): consiste em cartas originais e algumas cópias e transcrições escritas por Trótski e outras autoridades soviéticas, com cópias de telegramas trocados entre Trótski e Lenin de 1917 a 1921. Os escritos de Trótski do período soviético incluem manuscritos, trechos e recortes datilografados, pronunciamentos e declarações não publicadas, além de documentos escritos durante a luta da Oposição de Esquerda contra Joseph Stalin, de 1923 a 1927
– Materiais de Leon Trótski no Exílio (1929-1940): Os documentos de exílio, 1929-1940, contêm correspondência, composições, uma pequena quantidade de materiais da Comissão Dewey , além de documentos e coisas efêmeras relacionadas.
– Materiais adicionais (1930-1938 e sem data): Esses documentos foram isolados do corpo principal dos documentos de Trótski na Europa durante a guerra, salvos por seu secretário John Van Heijenoort e adicionados à coleção em 1958. Eles consistem principalmente em obras do período do exílio.
– Materiais do livro Stalin, de Leon Trótski, relativos à tradução em inglês (1940): Texto datilografado do primeiro rascunho e manuscrito final da edição em inglês de Charles Malamuth e tradução de Stalin incluindo notas e outro material não utilizado na edição final. Stalin, uma avaliação do homem e sua influência foi publicado pela Harper & Brothers (Londres) em 1941.
– Apresentações da Comissão Dewey (1904-1938 e sem data): Exibições não publicadas das audiências da Comissão de Inquérito John Dewey no México, Nova York e Paris sobre acusações feitas contra Leon Trótski nos julgamentos de Moscou, concluídas em Nova York em 21 de setembro de 1937.
– Documentos militares (1918-1924): Das sessões do Arquivo Militar Estatal da Rússia, Moscou, Federação Russa.
E. Instituto Internacional de História Social – IISG[12]
O IISG possui uma parte dos arquivos encontrados na Houghton Library – Harvard University, Cambridge, Massachusetts (EUA); e na Hoover Institution on War, Revolution and Peace – Stanford University, Palo Alto, Califórnia (EUA).
No entanto, possui a vantagem de disponibilizar uma grande parte de arquivos digitalizados e disponíveis para a consulta do pesquisador através de uma conta, onde também podem ser salvas as pesquisas para posterior consulta.
O acervo contém:
– correspondências de Leon Trótski com Natália Sedova e Lev Sedov, bem como com vários trotskistas na Europa, incluindo Eugen Bauer, Jeanne Martin, Raymond Molinier, Alexandra Pfemfert; cartas de vários correspondentes na União Soviética 1931-1935; correspondências relativas à estadia de Volkov na Áustria e Paris 1933-1936; manuscritos de livros e artigos de Leon Trótski, incluindo História da Revolução Russa e Minha Vida; correspondência relacionada com a publicação de livros de Trótski, 1929-1933; correspondência entre Lenin e Trótski publicada como The Trotsky Papers 1917-1922.
– documentos do Secretariado Internacional: documentos sobre a Préconferência Internacional de 1933; documentos sobre o plenum do SI 1933; atas das reuniões do SI 1931-1934; correspondência, circulares e outros documentos do SI 1930-1934 contendo arquivo sobre a discussão acerca de um novo partido na Alemanha; correspondência, principalmente com SI, cartas circulares, resoluções, relatórios, folhetos e outros documentos das seções nacionais e grupos aderentes na Áustria, Bélgica, Bulgária, Checoslováquia, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, Polônia, Romênia, Espanha, Suíça, Argentina, Brasil, Canadá, Chile, China, Colômbia, Cuba, Equador, Indochina, Japão, México, África do Sul e EUA; arquivos sobre o Congresso Antifascista Europeu de 1933, a Conferência Internacional das Organizações Socialistas e Comunistas de Esquerda de 1933, etc.
– documentos de Emmanuel Loubier, trotskista francês e Molinierista após Outubro de 1936, junta-se às Brigadas Internacionais na Revolução Espanhola e é morto no front entre abril e maio de 1937: documentos 1930-1935.
A instituição contém outros materiais de relevância histórica. Entre os arquivos, pode ser destacada a correspondência de Trótski com o socialista austríaco Hugo Sonnenschein (pseudônimo: Sonka) 1929-1939, cujos debates envolvendo arte podem ser um fértil campo de pesquisas, já que Sonka foi membro da agremiação antifascista Associação dos Escritores Socialistas. Infelizmente, a coleção ainda não está disponível digitalmente, mas certamente devem ser compostos por importantes materiais para pesquisas, já que contém documentação inédita e pode vir a agregar novas perspectivas e minúcias ao legado de Trótski.
F. Marxists Internet Archive / Encyclopedia of Trotskyism On-Line (ETOL)
O Arquivo Marxista na Internet é uma iniciativa colaborativa de enorme abrangência, com entrada para textos de diversos pensadores marxistas em diversas línguas. No entanto, o site inspira cuidado. Por ser um espaço que conta principalmente com a colaboração solidária, parece não existir uma metodologia definitiva, de forma que existem grandes discrepâncias entre os materiais em inglês e português por exemplo.
No caso das obras de Leon Trótski as inconsistências são bastante explícitas. Há apenas 125 entradas para textos em português – que não apresentam uma hierarquia das obras, colocando materiais como História da Revolução Russa no mesmo patamar de cartas e outros trabalhos menores. Já a seção em língua inglesa contém cerca de 800 entradas. No entanto esse problema não é tão fácil de ser identificado, já que o próprio site apresenta uma tabela de catalogação das obras em diversas línguas que não está atualizada. Além disso, o site apresenta os mesmos desafios a serem superados que o site TrotskyanaNet: com a evolução da internet, é preciso reestruturar os materiais de acordo com os atuais padrões tecnológicos que estão sendo estabelecidos. O esforço para tradução dos textos em formato HTML é um ótimo exemplo dos percalços que o mundo digital traz para a memória e arquivamento históricos, já que a divisão da obra em hyperlinks por capítulo – como é feito em diversos materiais – impede a apreciação completa das obras.
Indicamos, de qualquer modo, a navegação pelo imenso portal em numerosas línguas, utilizando-se de dispositivos como a tradução automática possibilitada por alguns navegadores de internet.
G. Iskra Research – Boletim de Oposição Bolchevique-Leninista (completo)
O Iskra Research faz parte dos materiais em língua russa dos grupos organizados em torno do portal do World Socialist Web Site. Entre outros vários arquivos, o site disponibiliza o acesso mais completo aos Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista)[13] – novamente, possíveis de serem acessados graças aos recursos de tradução dos navegadores de internet.
H. Library Trotsky – Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista) (incompleto)[14]
A página do Library Trotsky é a fonte pela qual o site TrotskyanaNet disponibiliza o Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista). O site se constitui por uma lista de hyperlinks com cerca de 1400 entradas para textos de Leon Trótski, todos em russo, já disponibilizados em HTML – um recurso que facilita a tradução automática, sem o qual seria impossível o acesso para pesquisadores que não dominam a língua russa. Há ainda seleções como Contra Stálin: 12 anos de Oposição, que reúne artigos, discursos e cartas. A pesquisa, no entanto, revelou que há lacunas na seção dos materiais do Boletim de Oposição (1929-1941), que são indicados como se estivessem completos. Pelo menos edição de número 86 não se encontra no site, mas foram detectadas outras lacunas nas edições.
I. Iniciativas no Brasil e demais indicações
O Brasil, apesar de ter importantes acervos documentais, tais como o CEMAP – Centro de Documentação do Movimento Operário Mário Pedrosa, ligado à Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), não possui projetos de envergadura como as apresentadas acima, localizadas essencialmente na Europa e EUA, apesar de contar com diversos grupos que reivindicam o legado do trotskysmo desde os anos de 1930. Mais recentemente, pode ser citado o Archivo Leon Trotsky[15], um projeto ainda inicial. Instituições governamentais como a Biblioteca Nacional ou o site Domínio Público tampouco possuem vasta documentação sobre Leon Trótski – apesar de conterem por vezes documentos interessantes. Da Argentina pode ser destacado o Centro de Estudos, Investigaciones y Publicaciones León Trotsky (CEIP)[16], que possui importantes edições e materiais de pesquisa.
Por fim, indicamos outros sites em que buscas podem fornecer caminhos de pesquisas digitais, tais como o Cahiers Leon Trotksy[17]; o Centre d’Etudes et de Recherches sur les Mouvements Trotskyste et Révolutionnaires Internationaux[18]; a associação Rassembler, diffuser les archives de révolutionnaires (RaDAR)[19]; o International Institute for Research and Education[20]; a Holt Labour Library[21].
5. Conclusão: um chamado pela liberdade dos dados sobre Trótski na World Wide Web.
A possibilidade de acesso e pesquisas e arquivos digitais demonstra que a internet não é um “lugar virtual” onde todo o conhecimento produzido pela humanidade pode ser livremente catalogado, unificado e acessado, mas um campo social de desenvolvimento econômico e tecnológico capitalista em permanente mutação, que implica uma complexa renovação da gestão de variadas atividades humanas, em especial relacionadas à pesquisa acadêmica e científica devido à possibilidade de análise de grande quantidade de informações.
Há pouco tempo seria impossível imaginar que canais como Netflix e Facebook, ou sites como YouTube se constituiriam em fontes essenciais de pesquisa, com a centralidade das atividades na internet agora potencializadas pela conjuntura da crise sanitária desencadeada pelo surto de COVID-19 ainda no início deste ano[22].
Por isso é importante que a luta pela manutenção do legado de Leon Trótski compreenda este momento digital e empreenda esforços no sentido de construir uma educação e forma de trabalho sobre esse novo patamar tecnológico.
O rico material organizado e produzido por um dos maiores literários-ideólogos do comunismo representa o esforço de comunicação e organização política, de forma que uma pesquisa mais sistemática desses materiais pode mudar o que é compreendido como o legado teórico e prático de Trótski. É importante ressaltar que, apesar do critério temporal-espacial de uma “fase mexicana” do Boletim de Oposição (Bolchevique-Leninista) ser uma proposta condizente com o conteúdo dos materiais, outras perspectivas poderiam resultar em diferentes resultados, como a catalogação das edições segundo a evolução do regime estalinista, por exemplo.
Felizmente, esta tarefa está ao alcance das atuais gerações de pesquisadores e ativistas, se for possível substituir a tecnofobia por uma ação abrangente de divulgação de dados e documentos. Trata-se de constituir um caminho de pesquisas e informações para as novas vanguardas e intelectuais que se interessem pelas experiências históricas levadas a cabo pela classe operária e seus aliados na luta pela emancipação social.
Ao longo das investigações, ficou evidente que existem campos de estudo em potencial a partir do universo da internet. No caso dos arquivos Web, como é o caso do WayBackMachine, os dados são gerados no momento da pesquisa: um passo além para o pesquisador que, além das incertezas de que a observação do próprio cientista modificam os dados científicos, os dados nem mesmo estavam disponíveis antes das buscas. Não se trata, assim, de acessar dados que já estavam disponíveis, mas uma inovação no sentido de que a própria busca produz os dados que sustentam as pesquisas.
Outro desdobramento das inovações tecnológicas é que, apesar de esforços para a criação de bibliotecas digitais definitivas, aspectos como “experiência do usuário” – o conjunto de elementos e fatores relativos à percepção ao se navegar pela Web – podem alterar sobremaneira o acesso às obras, pois sujeitas às mudanças da internet, estão a todo o momento rearticulando-se em torno de protocolos e hábitos de uso. Assim, pode haver uma defasagem cada vez maior no acesso das obras de Trótski caso esses arquivos não busquem acompanhar essas mudanças. Nesse sentido, o interessante trabalho do Instituto Internacional de História Social – IISH pode ser visto como um exemplo a ser seguido por instituições e arquivos.
Com o objetivo de lançar um marco inicial para uma futura campanha denominada Open Trotsky Initiative, elencamos três propostas para o engajamento digital das pesquisas sobre a história social em geral, em particular para o legado de Leon Trótski:
1. Não se pode deixar de levar em consideração a continuidade de práticas revisionistas ou mesmo do auto-boicote pelo hábito burocratizado da “militância”, a exemplo do Encyclopedia of Trotskyism On-Line (ETOL) em português, cujo acesso a uma quantidade minúscula de obras não chega nem mesmo a ser uma caricatura das ideias mantidas por Trótski.
2. Seria possível construir uma releitura das ideias e concepções de Leon Trótski sobre “toda a licença em arte” em seus desdobramentos políticos, filosóficos e inclusive para o legado do marxismo?
3. Estabelecer, nos 80 anos do assassinato de Leon Trótski, um chamado para organizações e ativistas ao redor do mundo unirem esforços para uma iniciativa de abertura de informações e dados históricos a partir da palavra-de-ordem: Open Trotsky Initiative!
*Agradeço o apoio para esta pesquisas feito pelo professor Sandor John, que cotejou indagações da pesquisa com a versão Fac-Símile dos Boletim, editados pela Pathfinder Press.
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Notas
[1] A World Wide Web surgiu em 1990 nos laboratórios do CERN, a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear. A ideia surgiu do mesmo criador do termo hyperlink, Tim Berners-Lee. As origens do CERN remontam à década de 1940, quando um grupo de cientistas visionários na Europa e na América do Norte identificou a necessidade da Europa ter um centro de pesquisa em física de classe mundial. Sua visão era impedir a fuga de cérebros para a América que havia começado durante a Segunda Guerra Mundial e fornecer uma força para a unidade na Europa do pós-guerra que não estivesse ligada a fins militares. Disponível em: <https://home.cern/about/who-we-are/our-history>.
[2] A descrição da tentativa de Lênin inserir Trótski no comitê editorial do Iskra são descritos detalhadamente no Capítulo 12 de Minha Vida: “All these disagreements took place before I arrived from Russia. I never suspected them. Nor did I know that the relations among the editors of the Iskra had been aggravated even more by my coming. Four months after my arrival, Lenin wrote to Plekhanov: “March 2, 1903. PARIS. // “I suggest to all the members of the editorial board that they co-optate ‘Pero’ as a member of the board on the same basis as other members. I believe co-optation demands not merely a majority of votes, but a unanimous decision. We very much need a seventh member, both as a convenience in voting (six being an even number), and as an addition to our forces. ‘Pero’ has been contributing to every issue for several months now; he works in general most energetically for the Iskra; he gives lectures (in which he has been very successful). In the section of articles and notes on the events of the day, he will not only be very useful, but absolutely necessary. Unquestionably a man of rare abilities, he has conviction and energy, and he will go much farther. Furthermore, in the field of translations and of popular literature, he will be able to do a great deal. Possible objections: (1) His youth; (2) his leaving for Russia, possibly in a short time; (3) his pen [pero], this time without the quotation, which shows traces of the feuilleton style, and is excessively florid, etc.”
[3] Os materiais foram publicados em russo pela Iskra Research a partir de 2011 e, por isso, podem ser facilmente manipulados com os novos tradutores online.
[4] Walters é filiado à seção norte-americana da IV Internacional “Socialist Organizer”, segundo a biografia disponível no próprio site. Disponível em: <https://web.archive.org/web/20191029024310/http://marxists.catbull.com/admin/volunteers/biographies/dwalters.htm>. Acesso em 22/08/2020.
[5] Disponível em: <https://openlibrary.org/>.
[6] De acordo com o site TrotskyanaNet, o trabalho da edição das Sochineniia começou em 1923 num total de12 volumes (não numerados em sequência e alguns compostos por 2 partes). Eles foram publicados em Moscou e / ou Leningrado pelo Gosizdat. Embora alguns dos volumes publicados contenham principalmente material amplamente conhecido, que também está disponível em formato de livro em outros lugares, outros contêm uma quantidade considerável de artigos, discursos, relatórios etc., muitas vezes difíceis de encontrar. Disponível em: <https://www.trotskyana.net/Leon_Trotsky/Sochineniia/sochineniia.html>.
[7] Disponível em: <https://www.trotskyana.net/>.
[8] A sigla API refere-se à “Application Programming Interface” (Interface de Programação de Aplicativos). API é um conjunto de rotinas e padrões de programação para acesso a um aplicativo de software ou plataforma baseado na Web. Outras iniciativas já promovem
[9] Disponível em: <http://timetravel.mementoweb.org/about/>.
[10] Disponível em: <http://oac.cdlib.org/findaid/ark:/13030/tf296n98nm>.
[11] O Leon Trotsky Soviet papers, 1904-1959 está disponível em: <https://guides.library.harvard.edu/soviethistoryarchives/trotsky>.
[12] O Lev Davidovič Trockij / International Left Opposition Archivesestá disponível em: <https://search.iisg.amsterdam/Record/ARCH01483#>.
[13] Os Boletim estão disponíveis na íntegra em: <http://iskra-research.org/FI/BO/index.shtml>.
[14] Disponível em:<http://www.magister.msk.ru/library/trotsky/>.
[15] Disponível em: <https://archivoleontrotsky.org/>.
[16] Disponível em: <http://www.ceipleontrotsky.org/>.
[17] Disponível em: <http://www.association-radar.org/>.
[18] Disponível em: <http://www.trotsky.com.fr/>.
[19] Disponível em: <http://www.association-radar.org/>.
[20] Disponível em : <http://www.iire.org/>.
[21] Disponível em: <https://hll.org/>.
[22] Diante da grave crise social do COVID-19, intensificada pela trágica resposta de políticos conservadores que atualmente governam a maior parte dos países, gostaríamos de celebrar o revolucionário bolchevique Yakov Sverdlov, que foi o mais jovem não-monarquista a ser chefe de estado da União Soviética – homenageado com a posição de presidente do Comitê Central Executivo de Todas as Rússias em 1922. Conhecido pela capacidade organizativa, Sverdlov foi a única pessoa a ter influência tão grande quanto a de Lênin, de acordo com o verbete wiki/Vladimir_Lenin do site Wikipedia, em sua versão inglesa, sendo considerado seu “braço direito”. Yakov Sverdlov morreu em março de 1919 possivelmente em decorrência da pandemia de gripe espanhola. Rigby 1979, pp. 168, 170; Service 2000, p. 388. (Conferir KOTKIN, Stephen (2014). Stalin: Volume I: Paradoxes of Power, 1878-1928. Penguin; KHRUSHCHEV, Nikita Sergeevich (2006). Memoirs of Nikita Khrushchev. Penn State Press).