Eleições SP: MPE e Justiça estão na cola de Marçal
Enquanto promotoria eleitoral sugere suspender candidatura por abuso de poder econômico, Judiciário dá 24h para exclusão de vídeos sobre Boulos
Foto: Antonio Milena/Fotos Públlicas
As críticas, ofensas e provocações promovidas pelo coach Pablo Marçal, candidato do PRTB à prefeitura de São Paulo, têm causado grande constrangimento e não só no público. Três dos principais candidatos ao pleito boicotaram o debate organizado pela da Revista Veja na segunda-feira (19).em protesto contra a presença do adversário, que faz ilações e conta mentiras com o objetivo de rechear suas redes sociais de “cortes” – trechos editados que favorecem o engajamento.
E são justamente esses materiais que têm provocado uma pendenga entre Marçal e órgãos eleitorais. No sábado (17), o Ministério Público Eleitoral se manifestou a favor de uma ação movida pelo PSB de Tabata Amaral pela suspensão de sua candidatura por suposto abuso de poder econômico. Há a suspeita de que o coach esteja pagando seguidores por compartilhamento de vídeos em redes sociais.
Os indícios dessa conduta – passível de condenação à inegibilidade – foram oferecidos pelo próprio Marçal. Em vídeos, o sempre falastrão instiga seguidores a se cadastrarem em aplicativos de corte de vídeos e promete pagamento aos que tiverem mais visualizações
“Deve ter aí no mínimo uns 300 alunos meus ficando ricos sem colocar a imagem deles, só pondo a minha. O que você faz? Você pega o corte de uma coisa muito forte que eu estou fazendo, lança esse corte, e se você for bem-sucedido, a minha equipe vai te chamar para uma parceria”, disse o candidato durante uma palestra, revelada por O Globo.
Em sua manifestação, o promotor eleitoral Fabiano Augusto Petean destacou que o estímulo à propagação de mensagens, sem transparência nas formas de pagamento e financiamento, levanta suspeitas de abuso econômico.
“Ao estimular o eleitorado a propagar as mensagens eleitorais pela internet, o candidato, sem declarar a forma de pagamento e computar os fatos financeiramente em prestação de contas ou documentações transparentes e hábeis à demonstração da lisura de contas, aponta para uma quantidade financeira não declarada, não documentada e sem condições de relacionamento dos limites econômicos utilizados para o ‘fomento eleitoral’ de tais comportamentos, desequilibrando o pleito eleitoral”, escreveu Petean.
Vídeos caluniosos
Porta arrombada, Marçal passou a negar o que disse. Em nota, atribuiu a situação a “uma tentativa desesperada do bloco da esquerda” para “frear quem realmente vai vencer as eleições”. Mas enquanto se justificava de um lado, caia em outro quiproquó. Desta vez, com a Justiça eleitoral de São Paulo. Na segunda-feira (19), o órgão deu 24h para que sua candidatura tirasse do ar novos vídeos que associam Guilherme Boulos a um suposto vício em drogas. Conforme a decisão judicial, os vídeos têm “conteúdo unicamente difamatório”.
Nos material disponibilizado nos perfis do coach no Tik Tok e no X, Marçal volta a se referir ao adversário como “aspirador de pó”, o que gerou uma ação da equipe do psolista por difamação. Segundo o time jurídico, os vídeos têm “o evidente objetivo de atacar a imagem do requerente, além de atrair curtidas e tumultuar de forma criminosa e abusiva a disputa eleitoral, em completo desprezo pela lei”. O juiz Murillo D’Avila Vianna Cotrim, da 2ª Zona Eleitoral, acatou e determinou que Marçal seja multado caso não tire os vídeos do ar.
Não é a primeira condenação dessa natureza. No sábado (17), a Justiça eleitoral determinou que Marçal publicasse direitos de resposta de Boulos, redes sociais e no YouTube, elas mesmas acusações sem provas. Também determinou a retirada da internet de trechos do debate da Band, do último dia 8, em que associa o adversário ao vício.
“As imputações extrapolam os limites da liberdade de expressão e do debate político e configuram unicamente ofensas à honra do candidato autor”, argumentou o juiz Rodrigo Marzola Colombini, também da 2ª zona eleitoral.
Os resultados da ‘guerrilha’
Os insultos em série proferidos por Marçal tem um resultado positivo garantido para o candidato. O marketing de guerrilha garantiu que ampliasse o número de seguidores e disparasse no engajamento de seu perfil no TikTok – ficando à frente de todos os seus adversários. De 8 e 14 deste mês, o candidato ganhou 200 mil seguidores na rede social e seus vídeos foram vistos por 10,8 milhões de pessoas, de acordo com levantamento do Observatório de Conflitos na Internet, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e Instituto Democracia em Xeque e Instituto Democracia em Xeque. Tabata Amaral (PSB) ficou na segunda posição no ranking de seguidores e visualizações e Boulos, em terceiro.
Porém, de acordo com Cláudio Penteado, pesquisador da UFABC responsável pelo trabalho, não é possível afirmar se “a rede está medindo os votos reais das pessoas”. Ou seja, não dá para saber se essa popularidade virtual se converterá em votos. Exemplo disso é que mesmo tendo 1 milhão a mais seguidores e engajamento extraordinário nas redes sociais (em parte, atribuído ao uso de robôs), Jair Bolsonaro (PL) perdeu as eleições de 2022 para Luiz Inácio Lula da Silva.
“A quantidade de seguidores nem sempre se converte em votos, até porque muitos deles estão em municípios e estados diferentes de onde ocorre o pleito. Há exemplos como (da ex-deputada federal) Joice Hasselmann e (do ex-deputado federal) Jean Wyllys que têm muitos seguidores, se candidataram em grandes centros urbanos e tiveram uma quantidade proporcionalmente pequena de votos”, afirmou ao Estadão o diretor de Tecnologia e Estudos Temáticos do Democracia em Xeque, João Guilherme Bastos dos Santos.