O que queremos para o Congresso da UNE?
O CONUNE não pode ser só mais um “grande evento”, precisa organizar os estudantes para a luta
Foto: Debate em encontro da União Nacional dos Estudantes. (J!/Reprodução)
Via Juntos!
O Congresso da UNE irá ocorrer nos dias 16 a 20 de julho em Goiânia, onde se esperam ao menos 10 mil estudantes. O CONEG, Conselho de Entidades Gerais da entidade, deu o tom de algumas disputas que estarão no centro das eleições de delegados e na própria cena do Congresso.
A Oposição de Esquerda, que hoje vem tendo uma maior organicidade, travou uma batalha sobre o regimento eleitoral do CONUNE. Essa batalha teve início no CONEB em Recife, com a proposta da UJS de diminuir o tamanho e a proporção do Congresso, sob o argumento de que a entidade não consegue mais organizar um evento para “tanta gente”.
No CONEG, apresentamos propostas em um caminho contrário ao defendido pelo campo governista, buscando um aprofundamento da democracia da entidade, com a garantia do voto secreto e a possibilidade de inscrições de chapas sem critérios absurdos que hoje impedem a existência de uma oposição nas principais universidades privadas do país. Infelizmente, essas propostas foram rejeitadas, com o apoio da Juventude Sem Medo, que vem se aproximando do campo governista da entidade.
Essa disputa representa uma luta para aprofundar uma capacidade de disputa política sobre os rumos da entidade. A questão central, contudo, para além do funcionamento burocrático, é sobre o que os movimentos defendem para a UNE e o movimento estudantil. O debate sobre a forma, por parte de quem dirige a entidade, é justamente para impossibilitar uma política que tem um conteúdo que vai contra o que defende este setor. Este é o tema central para nós. E por isso, é fundamental debater porque queremos mais democracia na UNE. Qual é o nosso programa para o movimento estudantil e a educação?
O CONEG da UNE
O Conselho de Entidades Gerais foi encerrado sem convocar nenhuma luta e, mais uma vez, com muitos debates protocolares. A mesa de abertura foi o único momento do primeiro dia que expressou a polarização política sobre os rumos do movimento. Por um lado, Valério Arcary, dirigente do campo majoritário do PSOL, defendeu que não existem diferenças relevantes no movimento social: todos querem derrotar a extrema direita. Um discurso que busca colocar panos quentes nas diferenças que existem na base do movimento. Nós tratamos deste tema recentemente em um texto sobre as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, diante dos atos “Sem Anistia” que haviam sido convocados para o dia 01/04.
A nossa posição foi defendida por Luana Alves, vereadora do PSOL São Paulo e ex-militante do Juntos!, que expressou a necessidade de termos uma esquerda independente, com capacidade de questionar a retirada dos direitos do povo ao mesmo tempo que consiga construir as unidades necessárias nas ruas para derrotar o bolsonarismo e garantir que os golpistas sejam presos.
No ano passado, vimos nitidamente essa distinção, cujo campo governista atuou contra os trabalhadores e estudantes em greve nas federais e tentou silenciar o processo de luta pela UNE, que sequer se reuniu durante o principal processo de mobilização na educação desde a pandemia. Vemos também agora com a política da UJS/PCdoB de ser contra a proposta de lei do PSOL de impedir a exploração de petróleo na Amazônia, indo na defesa de um projeto de país desenvolvimentista que ignora a crise ambiental.
A única luta mencionada no CONEG foi o plebiscito popular sobre a taxação de grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho, mas como um processo de mobilização que só ocorrerá no segundo semestre. A iniciativa pode vir a ser importante, mas não existem motivos para construir lutas por agora?
É preciso lutar
As universidades seguem com orçamentos cada vez menores. Os índices de estudantes que não vêem o ensino superior, especialmente o público, como uma alternativa se torna cada vez menor. E a crise da educação ainda pode se aprofundar, com a possibilidade de acabarem com o piso constitucional que garante investimentos mínimos para a educação, para ajustar a Constituição ao novo arcabouço fiscal, implementado pelo governo Lula.
Além disso, temos um processo em curso de cassação de um parlamentar que é um dos mais combativos, inclusive na crítica ao arcabouço fiscal que corta direitos do povo. A extrema-direita agora dá as caras nas universidades para nos perseguir, sem medo de ostentar símbolos nazistas e sionistas.
As lutas tem acontecido, do lado de lá e de cá. Os povos indígenas mais uma vez foram exemplares na construção do Acampamento Terra Livre. Os entregadores organizam novos breques dos Apps para exigir direitos mínimos para trabalhar. A UNE não pode ficar fora dessas lutas, para além de construir as lutas que os estudantes necessitam.
Qual o papel da UNE e do CONUNE?
Nós acreditamos que a UNE pode ter um sentido para a maioria dos estudantes. Mas também somos aqueles que entendem que hoje a UNE sequer é conhecida pela base estudantil, porque não está nas lutas cotidianas com esses estudantes que sofrem com a crise. A luta pelo fim dos 40% EAD só é retomada às vésperas do Congresso, quando interessa ir às universidades privadas para eleger delegados.
Somos parte de uma oposição na entidade porque acreditamos que o movimento estudantil pode contribuir para a saída dessa crise global. Acreditamos que nossas universidades devem fortalecer a luta contra a crise climática. Por isso, lançamos neste ano a plataforma Universidades contra o fim do mundo para tocar iniciativas com essa finalidade. Assim como defendemos que a UNE deve convocar e mobilizar os estudantes para colocar o povo na COP 30 que acontecerá em novembro em Belém.
A COP (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) não é um espaço do povo, é um local onde líderes de diversos país se reúnem para debater as mudanças climáticas. Não temos expectativas com os resultados desse evento, porque é organizado por aqueles que seguem explorando o planeta de forma desenfreada. Mas achamos que precisamos aproveitar a oportunidade de estar acontecendo na capital da Amazônia brasileira como uma forma de denunciar a crise climática e seus principais responsáveis, através daqueles que mais sofrem – o 99% do povo que não é beneficiado pelos lucros exorbitantes das grandes empresas. O movimento estudantil, através da UNE, precisa se somar nessa trincheira.
Também vemos com entusiasmo uma possível proposta de ter uma marcha dos estudantes rumo a Brasília, no dia do estudante (11/08), em defesa de mais orçamento para as universidades, de forma que estas voltem a ser uma alternativa de transformação pessoal e coletiva para os filhos da classe trabalhadora. E por isso queremos que ela seja debatida e preparada antes mesmo do Congresso. As lutas não podem ficar para depois. E muito menos tratadas como algo protocolar, secundário ou mesmo performático, como vimos em muitos atos do dia 01/05, que apesar de trazerem o fim da escala 6×1 em seu chamado, mantiveram dinâmicas pouco combativos, trazendo um tom festivo numa data que deveria apontar para o enfrentamento contra os ricaços que rejeitam a redução da jornada.
O maior encontro estudantil da América Latina não pode ser só um “grande encontro” – temos que ir além das formalidades. Ele precisa organizar os estudantes para a luta. Para isso, temos que ter um calendário a partir de uma política que aponte para um movimento estudantil independente, democrático e combativo. É por isso que o Juntos! vai ao Congresso da UNE, para disputar os rumos do movimento para a mobilização, em que a batalha democrática é parte de uma disputa maior, que expressa as diferentes posições da esquerda. Assim, fazemos um chamado a conhecer e construir nossa tese para 60º CONUNE: O futuro se conquista!