ONU denuncia Petrobras por cumplicidade com genocídio na Palestina
Empresas lucram com crimes de guerra em Gaza enquanto o governo brasileiro adota postura tímida diante do massacre
A Petrobras foi apontada em um contundente relatório da ONU como parte de uma rede de corporações que financiam e sustentam a máquina de guerra israelense responsável pelo genocídio em curso contra o povo palestino. Assinado por Francesca Albanese, relatora especial da ONU para os direitos humanos nos territórios palestinos ocupados, o documento — divulgado em 30 de junho — denuncia o papel do capital internacional na manutenção do apartheid e na execução de crimes contra a humanidade.
Intitulado “Da economia de ocupação à economia de genocídio”, o relatório expõe como corporações — incluindo estatais como a Petrobras — não apenas legitimam, mas lucram com a destruição da Palestina. Segundo a ONU, a empresa brasileira possui participação expressiva em campos petrolíferos que abastecem refinarias israelenses e fornece combustível para aeronaves militares utilizadas nos ataques a Gaza.
“O genocídio, ao que parece, é lucrativo. Isso não pode continuar. A responsabilização deve ser o resultado”, alertou Francesca Albanese nas redes sociais.
A denúncia vem em meio a um aumento nas exportações brasileiras de petróleo para Israel: só em 2024, o combustível representou 30% do total comercializado com o regime sionista, movimentando US$ 725,1 milhões (cerca de R$ 4 bilhões). Enquanto isso, a balança comercial segue deficitária para o Brasil — ou seja, o país perde economicamente e se compromete moralmente.
O relatório responsabiliza diretamente empresas pelos lucros obtidos com a ocupação e o genocídio. Além da Petrobras, estão citadas gigantes como Chevron, Microsoft, Google, Amazon, Booking, Hyundai e Volvo. De acordo com Albanese, essas corporações contribuem ativamente para a destruição da Palestina: da vigilância e infraestrutura militar ao fornecimento de equipamentos para a demolição de lares palestinos e expansão dos assentamentos ilegais.
“Essas entidades permitem a negação da autodeterminação palestina e sustentam uma estrutura de apartheid, ocupação, anexação e limpeza étnica”, afirma o documento, que classifica a economia israelense como genocida.
A relatora desenvolveu um banco de dados com cerca de mil empresas envolvidas em crimes internacionais nos territórios ocupados. A lista apresentada no relatório, com 48 delas, é apenas “a ponta do iceberg”, diz Albanese, que pede o fim imediato de toda relação comercial e institucional com o regime israelense.
Brasil: entre a retórica e a omissão
Apesar das duras falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou a situação em Gaza como um “genocídio premeditado”, o governo brasileiro mantém relações diplomáticas e comerciais com Israel. Em maio, intelectuais, artistas e movimentos populares publicaram uma carta aberta exigindo o rompimento desses laços. No dia 18 de junho, atos em diversas cidades reforçaram esse apelo.
Ainda assim, o governo sinaliza recuos. Em reunião com parlamentares, o assessor especial Celso Amorim descartou o rompimento das relações, alegando tratar-se de um tema “complexo”. A hesitação do governo contrasta com o clamor popular e a clareza do relatório da ONU sobre a urgência de sanções e boicotes.
“Negócios como de costume não são neutros”, alerta Albanese, que exige não apenas o fim do apoio econômico ao regime israelense, mas também a responsabilização criminal de executivos e corporações que sustentam o genocídio.
Cúmplices do massacre
Além da Petrobras, o relatório menciona empresas como:
Chevron – coproprietária de gasoduto que atravessa águas palestinas.
Microsoft – maior centro de P&D fora dos EUA em território ocupado.
Amazon – operação direta em assentamentos ilegais.
Booking e Airbnb – listam propriedades em áreas ocupadas.
Volvo e Hyundai – fornecem maquinário para demolições e expansão de assentamentos.
As empresas citadas responderam de maneira protocolar ou evasiva. A Booking alegou que não define destinos de viagem. A Volvo, por sua vez, disse “não desejar que seus produtos sejam usados para violar direitos humanos”, mas se eximiu de qualquer responsabilidade concreta. A Petrobras e o Ministério das Relações Exteriores não responderam aos questionamentos da reportagem até o fechamento deste texto.
Boicote, sanções e responsabilização
O relatório da ONU recomenda que os Estados membros imponham um embargo total a Israel e que sociedades civis em todo o mundo boicotem empresas cúmplices do genocídio palestino. Além disso, pede que a Corte Penal Internacional e os tribunais nacionais investiguem e processem corporações e seus dirigentes por participação em crimes internacionais.
“O setor corporativo, incluindo seus executivos, deve ser responsabilizado como um passo necessário para acabar com o genocídio e desmantelar o sistema global de capitalismo racial que o sustenta”, conclui o relatório.
Diante da tragédia em Gaza, a neutralidade se tornou cumplicidade. O silêncio, o lucro e a inação — seja de governos ou de empresas — estão matando. Cabe agora à sociedade brasileira pressionar por justiça, por sanções e pelo fim do apoio ao apartheid israelense.