Gaza – no limite
O maior absurdo humanitário da atualidade avança sob os olhos coniventes do mundo, além de um plano genocida e abjeto e interesses econômicos inomináveis
Estados Unidos Hoje via Fundação Lauro Campos e Marielle Franco
O absurdo da situação na Faixa de Gaza atingiu um patamar inimaginável. O mundo testemunha, em choque, imagens de crianças famintas e famílias desesperadas. Mais da metade da população do enclave sofre de fome severa, que pode levar à morte. Muitos têm de fato morrido em decorrência da desnutrição. Outras centenas morrem sob tiros e bombas enquanto se dirigem para buscar alimentos, além dos milhares que tombam diante de bombardeios aéreos e terrestres, que não cessam.
O maior absurdo humanitário da atualidade avança sob os olhos coniventes do mundo, além de um plano genocida abjeto e interesses econômicos inomináveis.
Na última quinta (24), um ministro israelense teve o descaramento de dizer que “não há fome em Gaza”. Também ele afirmou que o governo trabalha para “destruir Gaza”. No mesmo dia, Israel e Estados Unidos retiraram suas equipes das negociações de cessar-fogo. Membros do governo israelense respondem com escárnio e desdém qualquer gesto internacional de contestação do genocídio. A chamada “solução final” — genocídio e limpeza étnica — está em plena marcha.
As reações mundiais são insuficientes, embora cresçam frente à escalada dos acontecimentos e a pressão dos movimentos de massa. Entre as nações que fazem pouco se inclui o Brasil, que segue sendo um dos principais exportadores de petróleo para Israel, além de importador de armamentos. As declarações de Lula e gestos como a retirada do Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto — organismo instrumentalizado por Israel — são importantes, mas insuficientes.
Conforme Thiago Amparo informou em coluna na Folha de S. Paulo¹, há enormes interesses econômicos por trás do genocídio. Empresas como Microsoft, Alphabet, Palantir, Amazon e IBM provêm as bases tecnológicas do regime de apartheid. Outras, como Lockheed Martin, Leonardo S.p.A e Fanuc, atuam na área da vigilância e robôs. Hyundai e Volvo fornecem máquinas de demolição, enquanto o setor de turismo sonha com a ideia distópica de uma futura “Riviera” em Gaza.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem as mãos sujas de sangue. Ele é o principal aliado de Netanyahu e entusiasta da máquina lucrativa do massacre humano. A situação, que já era terrível durante a presidência de Biden, piorou.
Só é possível encontrar esperança olhando para o movimento de massas mundial. No caso dos Estados Unidos, após as ocupações universitárias de 2024, a opinião pública mudou. Hoje, a ampla maioria do país solidariza-se com a Palestina, rechaça Israel e a colaboração ianque com o genocídio. Em que pese a repressão de Trump — que persegue manifestações de solidariedade à resistência palestina —, não é raro encontrar, pelas ruas do país, bandeiras palestinas hasteadas em janelas, jardins e estabelecimentos comerciais.
A Palestina é hoje a bandeira de todos os povos, inclusive dos trabalhadores e da juventude estadunidenses. A esperança está na possibilidade dos protestos ao redor do mundo se conectarem, para frear de vez a barbárie e a matança.
Não há tarefa histórica mais importante do que essa.