O significado da vitória nas eleições do Sindicato dos Metroviários de SP
Sobre o resultado das últimas eleições sindicais e os desafios presentes para a categoria
Na madrugada do dia 20 de setembro foi confirmado o vitorioso resultado das eleições do Sindicato dos Metroviários de São Paulo: a Chapa 2 seguirá na gestão de um dos sindicatos mais relevantes do Brasil. A Chapa 1 (CTB/CUT) obteve 47,83% dos votos e a Chapa 2 (Resistência/MPR/MES/PSTU/VOS/LSR e independentes), 52,17% dos votos. Essa vitória tem importantes significados para a continuidade da luta política contra as privatizações e a consolidação de um sindicalismo combativo.
1 – A maioria dos metroviários apostam na mobilização unificada para a defesa do Metrô público e dos direitos conquistados.
Marcado por uma disputa acirrada, o 2o turno representou o confronto entre duas concepções distintas de luta sindical. E a vitória foi a daquela que entende que a capacidade de negociação deve se apoiar na mobilização da categoria, e não ser uma alternativa à ela. Não existe outra saída que não seja a organização da categoria para esse momento de intenso enfrentamento. Para isso, precisamos nos conectar melhor com a categoria e superar barreiras (objetivas e subjetivas) para termos condições de barrar toda essa ofensiva.
2 – Tarcísio não conseguiu cumprir sua promessa de entregar todas as linhas até o final do mandato. E o que impediu foi a força da categoria!
É inegável que uma qualidade da atual gestão foi a aposta na unificação das lutas entre as empresas públicas ameaçadas de privatização pelo governo Tarcísio. O papel do nosso sindicato foi definidor e garantiu as fortes greves de 2023. Infelizmente não foi possível barrar a privatização da SABESP nem o avanço privatista acelerado na CPTM. Mas no Metrô o governo não conseguiu impor essa derrota, e na nossa avaliação a categoria compreendeu o papel da direção do sindicato nessa resistência.
3 – A atual gestão também teve limites e problemas, a renovação deve refletir uma capacidade em absorver as críticas.
Um saldo geral positivo de resistência aos ataques mais sérios não podem vedar a atual gestão de críticas. Para nós, era possível fortalecer melhor a organização de base na categoria, aprofundar a relação com os funcionários de estação – que ficaram isolados e dispersos pela terceirização do atendimento somada a falta de funcionários – assim como ter se jogado mais em iniciativas de mobilização contra a retirada dos operadores de trem da Linha-15. Na campanha eleitoral foi importante ouvir essas críticas e incorporar pontos levantados pela base do ativismo e pelo conjunto da categoria.
4 – Manter a independência da gestão frente aos governos é uma necessidade. Pela nacionalização da luta contra a privatização do transporte público!
A incessante tentativa de privatizar o Metrô de SP não é um raio em céu azul. Existe uma pressão nacional pela concessão do transporte público sobre trilhos, assim como pelo esvaziamento e desmonte das empresas públicas que operam o sistema atualmente. É o que aconteceu com a concessão do Metrô de Belo Horizonte e a CBTU, e é o que está acontecendo com a Trensurb em Porto Alegre e com o Metrô de Recife (CBTU). Lamentavelmente, o governo Lula tem persistido nessas privatizações – cedendo às pressões desses grupos econômicos que querem abocanhar o transporte público. E como se não bastasse, tem mobilizado o BNDES para financiar e estruturar as parcerias privadas que vão operar futuras linhas de trens e Metrô em São Paulo – fortalecendo por exemplo o projeto inescrupuloso de Tarcísio de Freitas. Precisamos nos articular nacionalmente com os metroviários ameaçados e reafirmar nossa independência frente aos diversos governos, que ainda que não sejam iguais na sua natureza política, estão operando privatizações que prejudicam o povo. Nesse mesmo cenário nacional de ataques, avança também a chamada “Reforma Administrativa” em tramitação no Congresso Nacional. Sob o discurso de modernização e combate a privilégios, o projeto esconde um objetivo mais profundo: o enfraquecimento estrutural do serviço público e a ampliação do espaço para o setor privado. A proposta reduz direitos, alonga carreiras, rebaixa salários e impõe travas orçamentárias que inviabilizam concursos e reposição de quadros — tudo isso sob a fachada de eficiência. Trata-se, na verdade, de um modelo de austeridade permanente, que transforma o servidor em alvo e empurra a população a depender de serviços privatizados. Essa também será uma batalha que a nova gestão do Sindicato precisará travar, articulando-se com outras categorias do funcionalismo e com a sociedade para derrotar esse projeto de destruição do serviço público.
5 – Temos que aprofundar o trabalho realizado nas linhas privadas e estreitar laços com os terceirizados.
Pela primeira vez, as linhas privadas tiveram eleição e terão diretores sindicais. A futura gestão contará com 3 diretores das Linhas 4 e 5. E a perseguição sindical já começou – A ViaMobilidade demitiu 3 trabalhadores da manutenção do Pátio Guido Caloi, sendo 1 deles diretor eleito neste pleito. Termos representação sindical nas linhas privadas é um avanço importantíssimo, e ampliar a presença do Sindicato dos Metroviários nessas linhas fortalece a capacidade de articulação, as campanhas salariais e a defesa dos trabalhadores dessas empresas (que são muito mais vulneráveis à assédios e perseguições). Aliada a essa novidade, teremos o desafio de ampliar a relação com os trabalhadores terceirizados do Metrô, uma vez que esse contingente só aumenta na medida em que a terceirização avança.
SOBRE OS PRIMEIROS DESAFIOS DA GESTÃO ELEITA
O centro segue sendo a denúncia do desmonte e da falta de quadro. E o eixo é a exigência de concurso público. A falta de funcionários afeta diretamente o atendimento aos passageiros e amplia os riscos dentro do sistema – tanto os riscos operacionais da rotina metroviária quanto os riscos de segurança pública. Essa situação é insustentável. A direção da empresa se diz de mãos atadas pelos órgãos do Governo do Estado responsáveis por aprovar a execução de concursos públicos. Mas a direção da empresa também não apresenta nenhuma declaração pública ou diálogo aberto com a categoria sobre quais têm sido as formas de negociação para abertura de concurso público realizadas até agora. Se elas existem, a categoria metroviária desconhece. O que a categoria conhece é a saída que a direção da empresa apresenta: o fatiamento das áreas via terceirização. A cada semana que passa, uma nova área é terceirizada e uma nova atribuição que era de competência metroviária passa a ser realizada por funcionários terceirizados. Para organizar a luta, cada trincheira vai ser importante. Será necessário organizar as CIPAAs, o conselho deliberativo e as comissões de base. Empoderar a categoria para participar de cada etapa, de cada batalha. E nesse sentido: a nova sede é das metroviárias e metroviários! Temos que ocupar a sede com formação, debates, lazer e cultura. Convidar a categoria a se apropriar daquele espaço. Também defendemos um recadastramento dos filiados do sindicato e uma nova campanha de sindicalização.
A CONSTRUÇÃO DO ALTERNATIVA SINDICAL E O FORTALECIMENTO DO MES/TLS
Do ponto de vista da construção de um campo político de atuação, consideramos necessário reconstruir o Alternativa Sindical de Base e firmar um polo combativo, com enraizamento e cara nova. Com a saída de grupos que decidiram construir uma chapa de oposição e a reconfiguração do setor mais expoente do Alternativa, o PSTU, temos que atualizar e oxigenar nosso campo. Por fim, os metroviários do MES/TLS foram fundamentais nesse processo. Estivemos na coordenação da chapa, garantimos diversas tarefas na construção e na campanha eleitoral. Estaremos na executiva da gestão e retomamos um trabalho que foi pioneiro na construção do trabalho sindical da nossa corrente. Agora vamos ampliar nossa politica e fortalecer nossa coluna para seguirmos na defesa dos metroviários, do Metrô público e da população!