Camarões: Uma verdadeira repressão por uma falsa eleição
Biya joga a única carta que lhe resta para prolongar seu poder decadente: a repressão feroz contra a população
Mais uma vez, uma farsa eleitoral acompanhada de uma repressão brutal ocorreu neste país, onde Biya se prepara para cumprir seu oitavo mandato.
Após a votação de 12 de outubro, foram necessárias duas semanas para que o Conselho Constitucional proclamasse, sem surpresa, a vitória eleitoral de Paul Biya, com 53,66% dos votos, contra 35,19% de seu adversário Issa Tchiroma Bakary.
Biya isolado
Um resultado pouco crível, já que as atas das seções eleitorais que vazaram nas redes sociais indicam que Bakary superou amplamente o presidente em exercício. Além disso, os resultados na região anglófona do país — marcada por confrontos recorrentes com separatistas — mostram um aumento de mais de 37% na participação, com uma votação de 80% para Biya, justamente em uma região notoriamente hostil a ele.
Por fim, a candidatura de dois de seus ministros, Bello Bouba Maïgari e Issa Tchiroma Bakary, ambos com forte base nas regiões do Norte, densamente povoadas, mostra que houve, de fato, uma inversão dos resultados.
Esse enfraquecimento no campo presidencial revela um presidente amplamente isolado. A ponto de a Igreja Católica camaronesa elevar o tom, criticando uma política de exclusão étnica e de desvio de recursos públicos.
Mesmo dentro de seu próprio clã, alguns demonstravam ceticismo quanto à capacidade de Biya, aos 92 anos, de conduzir uma campanha eleitoral. Aliás, ele realizou apenas um comício, no qual leu, por vinte minutos e com voz monótona, um discurso vazio.
O cansaço da população
O governo achava que estava livre de problemas ao eliminar, com base em artifícios jurídicos, Maurice Kamto — o principal opositor, que evidentemente havia vencido a eleição presidencial de 2018. Mas não contava com o sucesso inesperado de Issa Tchiroma Bakary, que havia deixado o governo quatro meses antes da eleição.
Pode-se legitimamente questionar como um político que antes reprimiu a oposição pôde, de repente, passar para o campo adversário. Embora, em seus primeiros comícios, Bakary tenha pedido perdão por suas ações passadas, a hipótese é que os camaroneses tenham se apropriado de sua candidatura — vista como a mais crível — para derrubar Biya. No poder há 43 anos, ele governa de forma absoluta, apoiando-se em um quadro político envelhecido, a ponto de as ruas camaronesas falarem em um “Estado asilo”.
Além da idade, o balanço social e econômico é desastroso. Enquanto Biya passa a maior parte do ano no hotel Mandarin, em Genebra — onde a menor suíte custa a bagatela de 3.500 euros por noite —, a pobreza em Camarões aumentou 66% desde o ano 2000, afetando cerca de 10 milhões de pessoas.
As autoridades tentam repetir o roteiro de 2018. Uma onda de coerção se abate sobre os contestadores: a residência de Bakary foi invadida, e alguns líderes políticos pertencentes à coalizão do opositor estão atrás das grades, acusados de planejar uma insurreição.
Biya joga a única carta que lhe resta para prolongar seu poder decadente: a repressão feroz contra a população.
Retirado de https://www.pressegauche.org/Cameroun-Une-vraie-repression-pour-une-fausse-election