Zohran venceu ao apostar no socialismo, sem menosprezá-lo
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Zohran venceu ao apostar no socialismo, sem menosprezá-lo

A vitória de Zohran significa que podemos ser mais ousados em nossas campanhas eleitorais. Não precisamos esconder nossa visão socialista debaixo do tapete. Podemos elevar ainda mais as aspirações dos nossos eleitores

Jane Slaughter 10 nov 2025, 14:09

Via The Call

Foto: Zohran Mamdani discursa em uma reunião de membros da NYC-DSA na Church of the Village, em Nova York (Creative Commons/Reprodução)

Uma opinião rápida sobre a vitória de Zohran Mamdani: Zohran venceu assumindo o socialismo, não tentando escondê-lo.

Em parte, isso nem foi uma escolha dele: a mídia destacou sua filiação à DSA (Democratic Socialists of America) e o atacou por isso. Mas, ao longo da campanha, Zohran acabou se tornando ainda mais explícito sobre ser um socialista democrático — muito além de simplesmente colocar o logo da DSA em seu material de campanha.

Isso significa que o milhão de nova-iorquinos que votaram em Zohran são todos pró-socialistas? Não, mas significa que eles não se assustaram com sua ligação ao socialismo — e que valorizaram sua honestidade e franqueza, sua recusa em recuar ou usar palavras vagas.

“Sou jovem. Sou muçulmano. Sou um socialista democrático. E, mais condenável de tudo, me recuso a pedir desculpas por qualquer uma dessas coisas”, disse ele em seu discurso de vitória.

Isso lembra Bernie Sanders em 2016 e 2020. A versão de socialismo de Bernie muitas vezes parecia sinônimo do New Deal (ou seja, não exatamente acabar com o capitalismo) — mas as pessoas valorizavam sua consistência ao longo dos anos e, novamente, sua recusa em deixar que os anticomunistas o intimidassem.

Pelo país, a DSA frequentemente apoia candidatos que são meio progressistas, mas não se identificam abertamente como socialistas. Chamamos suas campanhas de “socialistas” porque as apoiamos, mas suas plataformas não se distinguem de qualquer político “progressista de boas intenções” — certamente não chegam ao nível das propostas transformadoras da plataforma de Zohran. (Imagine o que significaria para uma família comum poder ter acesso gratuito a creche! Ter o aluguel congelado! Chegar ao trabalho no horário com transporte confiável! Ainda é capitalismo, mas inspira as pessoas comuns a sentirem que importam.)

Para mim, a vitória de Zohran significa que podemos ser mais ousados em nossas disputas eleitorais. Não precisamos esconder nossa chama socialista sob o alqueire. Podemos elevar as aspirações de nossos eleitores.

Zohran não falou sobre “classe média”. Ele falou à classe trabalhadora.


Construir para sempre

Outro ponto crucial da campanha (entre muitos) é que Zohran pediu explicitamente a seu exército de voluntários que não simplesmente voltassem para casa e descansassem após o Dia da Eleição. “Isto faz parte de uma luta pela vida toda”, disse ele aos voluntários. “Não é uma luta eleitoral. Vocês se juntaram a um movimento para o resto da vida. Agora, como vocês vão participar desse movimento é uma decisão de cada um — contanto que continuem fazendo parte dele.”

Essa será a parte difícil — convencer dezenas de milhares de pessoas de que elas têm um papel a desempenhar na conquista da agenda de Zohran, e encontrar maneiras significativas de todas essas pessoas participarem agora que o trabalho de campanha acabou. Não é ele, somos nós!

Vários militantes da DSA de Nova York sugeriram ideias sobre como isso pode acontecer:

“Em vez de dissolver sua enorme máquina de voluntários após 4 de novembro — como é o padrão nas campanhas eleitorais — a equipe de Zohran poderia transformá-la em um aparato de organização mais amplo para ajudar a conquistar sua agenda sob a bandeira de uma nova campanha ampla, algo como um Movimento por uma Nova York Acessível (Movement for an Affordable New York, MANY).”
— Eric Blanc, Wen Zhuang e Emily Lemmerman

“Propomos a formação de um proto-partido como o que o prefeito Bernie Sanders construiu em Burlington — um espaço onde dezenas de milhares de voluntários possam continuar organizando-se além da eleição de novembro.”
— Jeremy Gong e Oren Schweitzer

“Um grupo de sindicatos e organizações comunitárias se uniu para formar uma aliança de alcance municipal chamada People’s Majority Alliance — para estar pronta para ir às ruas, pressionar o conselho municipal e a assembleia estadual, e manter a organização necessária para colocar em prática uma agenda ousada.”
— Stephanie Luce

“Este é um ótimo momento para levar a sério a organização de milhares de trabalhadores que querem um sindicato e ainda não têm um.”
— Brandon Mancilla

Algumas dessas ideias são mais empolgantes do que outras. Certamente não queremos repetir a fórmula desgastada de uma “mesa” controlada por ONGs, onde líderes de organizações falam em nome de seus supostos (e desorganizados) representados. Espero — e presumo — que a DSA de Nova York esteja recrutando ativamente quem trabalhou na campanha e inventando formas criativas de engajamento, tanto para eles quanto para dezenas de milhares de outros nova-iorquinos. Fico admirado com a audácia que tiveram ao iniciar essa campanha e a habilidade de fazê-la crescer enormemente.

Por fim, uma citação de Zohran Mamdani, que mencionou Eugene Debs em seu discurso de vitória:

“A verdade é tão simples quanto inegociável: todos nós temos direito à liberdade. Cada um de nós, o povo trabalhador desta cidade — motoristas de táxi, cozinheiros, enfermeiras, todos aqueles que buscam vidas de graça, não de ganância — todos nós temos direito a ser livres.”


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