Sâmia aciona MP contra PMs que invadiram escola infantil após atividade sobre orixás
Deputada pede à Secretaria de Segurança Pública de SP que faça a identificação dos agentes e forneça às imagens das câmeras corporais
Foto: Reprodução/Web
A deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL) pediu ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) que investigue o caso dos policiais que entraram armados em uma escola da zona oeste de São Paulo após uma atividade sobre orixás. Os agentes foram acionados pelo pai de uma aluna de 4 anos após ele se incomodar com um desenho de Iansã feito pela filha. Ele também é da corporação.
O documento enviado ao MPSP cita trechos da reportagem do portal Metrópoles, que noticiou o fato em primeira mão, e argumenta que a conduta dos policiais e do pai da aluna configura racismo religioso e abuso de poder. A solicitação é assinada por Sâmia em colaboração com a deputada estadual Mônica Seixas e a vereadora Luana Alves, todas do PSOL.
Além da investigação, as parlamentares requerem que a Secretaria de Segurança Pública (SSP) faça a identificação dos agentes. Pedem, também, uma cópia da gravação das câmeras corporais dos policiais e do circuito interno da escola.
“A tentativa de deslegitimar a atividade, associada à intimidação de profissionais e da comunidade escolar, revela possível discriminação dirigida a manifestações culturais e religiosas de matriz africana. […] Trata-se, portanto, de episódio de extrema gravidade, que ultrapassa em muito o âmbito disciplinar da escola e revela possível violação de direitos fundamentais, interferência indevida na autonomia pedagógica e uso arbitrário da força pública”, diz trecho do documento.
Para a deputada, a conduta associada aos policiais e ao pai da aluna, se comprovada, configura crime de racismo religioso, constrangimento ilegal e abuso de autoridade.
Invasão à escola
Quatro policiais militares armados entraram na Escola Municipal de Ensino Infantil (Emei) Antônio Bento, no Caxingui, zona oeste de São Paulo, após o pai de uma aluna de 4 anos se incomodar com o conteúdo de uma atividade sobre orixás. Um dos agentes portava uma metralhadora.
O homem acionou a corporação depois de descobrir que a filha fez um desenho de Iansã, uma das principais entidades das tradições afro-brasileiras, associada à força feminina, à determinação e às transformações profundas na vida. No dia anterior ao ocorrido, ele já havia demonstrado insatisfação com o conteúdo escolar, baseado no currículo antirracista da rede municipal de ensino, e chegou a rasgar um mural com desenhos das crianças que estava exposto na escola.
Segundo uma mãe, que preferiu não ser identificada, os agentes que invadiram a escola demonstraram “abuso de poder, assustando crianças e funcionários”, chegando ao ponto de afetar a saúde da diretora, que teve um mal súbito.
“Foi preciso que um grupo de pais fosse conversar com eles para irem embora”, relatou a mulher.
Medo, repressão e trauma
O desenho fazia parte de uma atividade com o livro infantil “Ciranda em Aruanda”, da Liu Olivina, que está no acervo oficial da rede municipal de São Paulo. A publicação recebeu o selo de Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ) e de Acervo Informativo de Qualidade da Cátedra UNESCO de Leitura.Em entrevista ao Metrópoles, a autora lamentou a atitude do pai:
“Fiquei muito triste. Pensei nas artes que foram destruídas pelo pai e nos educadores da escola. Mas o que mais me pegou foi a criança que ele reprimiu, porque isso gera traumas. Ela fez uma arte e isso fez o pai dela chamar a polícia. É muito absurdo”.
“Vi o desenho da criança e gostaria de falar para ela que está muito lindo, ela usou cores muito bonitas e Iansã deve estar muito feliz pelo desenho. Também gostaria de dizer que ela não precisa ter medo dos orixás. Mesmo que ela não seja da religião, eles estão aí, é para se encantar com eles. Mas as pessoas, com preconceito e racismo religioso, fazem com que esse encanto seja apagado pelo medo”, declarou.
*Com informações do Metrópoles