De um centenário a outro: Hobsbawm sobre a Revolução Francesa

No aniversário da Revolução Francesa publicamos capítulo de Ecos da Marselhesa sobre as interpretações do primeiro centenário da queda de Luis XVI.

Eric Hobsbawm 14 jul 2017, 11:57

No 228º aniversário da Tomada da Bastilha, reproduzimos em nosso site um dos quatro artigos do historiador marxista Eric Hobsbawm (1917-2012) publicados em Ecos da Marselhesa, livro lançado em 1990 e traduzido ao português por Maria Célia Paoli pela Companhia das Letras em 1996. Nesta obra, preparada durante o icônico ano de 1989 – o bicentenário da Revolução Francesa -, Hobsbawm busca se contrapor ao revisionismo reacionário em torno da data, o qual procura rebaixar a necessidade de uma crise revolucionária para a emergência de uma nova sociedade.

Em “De um centenário ao outro”, o capítulo 3 transcrito no movimentorevista.com.br, o intelectual comunista, cujo nascimento coincidentemente remonta cem anos atrás, estuda as interpretações do primeiro centenário da queda de Luís XVI no contexto político e social de 1889 em diferentes partes do Ocidente, além de demonstrar a apropriação histórica que os bolcheviques fizeram da Revolução Francesa em 1917, inserindo os revolucionários socialistas do século XX numa linha direta com os coveiros definitivos do feudalismo no final do século XVIII. O próprio texto é uma rebelião contra as perspectivas “descafeinizadoras” dos neoliberais anos 1980s.

Como pode ser observado abaixo, a tese sustentada é que a data do 14 de Julho adquiriu o significado predominante de alvorecer de uma nova era muito depois dos eventos que imediatamente a sucederam e não foi por acaso. O passado é uma permanente reelaboração no futuro. Deste modo, os sentidos de 1789 francês e o 1917 russo devem ser intermitentemente abordados pelas esquerdas de 2017 e do futuro para que possamos imaginar com capacidade transformadora novos caminhos para as esquinas cada vez mais complexas da História.

De um centenário a outro*

O primeiro capítulo deste livro analisou o que a burguesia liberal do século XIX fez da Revolução Francesa. O segundo seguiu aqueles que temeram ou fizeram, ou esperaram fazer uma revolução que os levou para além dos jacobinos e, portanto, assimilou a experiência de 1789 e dos anos seguintes. Pois — não se pode deixar de repetir sempre — tanto o liberalismo quanto a revolução social, tanto a burguesia quanto, potencialmente, o proletariado, tanto a democracia (em qualquer de suas versões) quanto a ditadura encontram seus ancestrais na extraordinária década que começou com a convocação dos Estados-Gerais, a Tomada da Bastilha e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Com exceção dos conservadores, todos podiam lembrar-se de algumas de suas partes ou interpretar sua história de uma maneira adequada a sua causa. A política francesa, sabemos, continuava a ser feita como um drama de costumes vestido de barretes frígios. Os liberais moderados podiam ser reconhecidos porque seu herói foi Mirabeau ou os girondinos, sobre quem um político e poeta romântico famoso, mas insípido, Alphonse Lamartine ( 1790-1869), publicou uma história em vários volumes nas vésperas da Revolução de 1848 para desencorajar os excessos do jacobinismo. Quando a Revolução estourou, Lamartine fez o melhor que pôde para evitar os radicais de esquerda e, depois, para anulá-los. Os republicanos do centro, seguindo Michelet e Auguste Comte, escolheram Danton como seu herói. Os republicanos de esquerda e insurrectos pinçaram Marat ou, progressivamente, Robespierre como seu tipo, exceto para os mais apaixonados ateístas, que não podiam engolir sua defesa do Ser Supremo. Foi sugerido que a identificação das grandes figuras da Revolução com as posições políticas posteriores, amargamente conflitivas, tornou impossível para a França desenvolver um culto aos pais fundadores, como foi o caso dos Estados Unidos. Até onde conheço, nenhum deles sequer apareceu em selos postais.1

Em contrapartida, essas diferenças não foram significativas para os bolcheviques russos, desde que as figuras fossem suficientemente revolucionárias. Eles nem teriam de ser antecessores do socialismo. Quando os bolcheviques tomaram o poder na Rússia, Lênin achou importante educar uma população amplamente analfabeta em política e portanto propôs, em 1918, que monumentos a várias pessoas dignas da Revolução deveriam ser erguidos em lugares visíveis das cidades, especialmente naqueles onde soldados pudessem vê-los, acompanhados de uma placa biográfica. Naturalmente, eles incluíram os socialistas e comunistas — Marx, Engels, Lassalle —, os radicais russos e os precursores — Radishtchev, Herzen, Perovskaya —, libertadores para todos os fins, como Garibaldi, e poetas progressistas. Entre as figuras da Revolução Francesa que eram extremamente proeminentes, encontramos Robespierre e Danton, ambos não socialistas, mas — até onde pude descobrir— Babeuf não figurava. Para os objetivos de Lenin, revolucionários vitoriosos, por mais efêmeros que tivessem sido, eram claramente mais importantes do que suas posições ideológicas. Parece que essa comemoração dos revolucionários franceses como ancestrais da Revolução de Outubro durou pouco. Muitos desses monumentos desapareceram desde então, pois, por causa do tempo curto, os artistas foram autorizados a produzir suas estátuas em terracota e gesso até que trabalhos mais permanentes, de bronze ou mármore, pudessem ser criados. No entanto, um relevo de Robespierre feito em 1920 ainda existe, sugerindo o que foi perdido, feito pelo criador dos monumentos de Robespierre, Danton e Herzen em Leningrado. 2 A propósito, a Revolução Francesa não parece ter uma presença importante na iconografia posterior ou na toponímia da Rússia soviética.

Em resumo, todos tiveram a sua Revolução Francesa, e o que foi nela celebrado, condenado ou rejeitado dependeu não da política ou da ideologia de 1789, mas do tempo e lugar dos próprios comentaristas. Essa refração da Revolução através de prismas políticos contemporâneos é o assunto deste capítulo. Isso é muito evidente, como veremos, nos debates e conflitos que aconteceram no bicentenário revolucionário de 1989, ou mesmo no primeiro centenário, celebrado em 1889.

Não há a menor dúvida de que o primeiro centenário foi uma ocasião política superior, nacional e internacionalmente. Os embaixadores da Rússia, Itália, Áustria-Hungria, Alemanha e Grã-Bretanha — ou seja, de todos as grandes potências além da França — recusaram-se incisivamente a comparecer às celebrações do aniversário do encontro dos Estados-Gerais (a data escolhida para marcar o começo da Revolução Francesa), embora, como mostrou acidamente Le Temps, seus predecessores houvessem comparecido ao primeiro aniversário da Tomada da Bastilha, em 1790. O Times, de Londres, não teve dúvidas de que eles estavam corretos. “Infelizmente”, pensava, “a Revolução que começou sob tão brilhantes auspícios, ao invés de fazer reformas, terminou no reino do terror, da confiscação e da proscrição e decapitou o rei e a rainha.” Portanto, embora outras nações “que, gradualmente, adotaram as reformas introduzidas pela Revolução” não estivessem realmente se recusando a celebrar o centenário, pois diplomatas menores não foram lembrados, dificilmente se poderia esperar que a presença dos embaixadores, na condição de representantes pessoais de seus monarcas, expressasse sua aprovação aos jacobinos 3. Além disso, a República Francesa pretendera celebrar o centenário de seu acontecimento fundador não apenas com uma ou duas cerimônias, mas também com a então habitual exposição internacional — mas uma exposição especial, pois seu monumento principal, a recém-construída torre Eiffel, é ainda a única construção da França mais conhecida internacionalmente. Mesmo assim houve pressões pesadas sobre os franceses e, como o Times mais uma vez noticiou, com aprovação, “sob a influência do bom senso público, nacional e estrangeiro [ou seja, a ameaça de boicote] gradualmente a Exposição abandonou sua conexão íntima com a Revolução Francesa”, de modo que sua inauguração deixou de ser parte oficial da celebração centenária 4.

Naturalmente houve países nos quais o centenário foi um acontecimento menos controverso, como por exemplo os Estados Unidos, que decoraram as estátuas de Nova York para a celebração centenária da Queda da Bastilha 5. Uma república nascida pela revolução, e ligada com a Revolução Francesa através de Lafayette e Tom Paine, não achava a simples ocorrência de uma revolução tão difícil de engolir. Não obstante, o jovem Woodrow Wilson, já com ares de homem de Estado — mais tarde, presidente —, então ensinando história em Bryn Mawr, via o jacobinismo como um dos piores exemplos para ser colocado aos olhos de qualquer um, especialmente latino-americano. Contudo, fora do hemisfério ocidental, as monarquias eram ainda a forma de governo quase universal e, ao menos por essa razão, aqueles que governavam Estados eram extremamente suscetíveis com relação a celebrar um regicídio.

Não obstante, o tema mais controvertido levantado pelo centenário não foi a monarquia, mas a democracia. A discussão era sobre isso, e não sobre terror, ou proscrição (ou seja, a perseguição de dissidentes), nem mesmo sobre o maior pesadelo da sociedade burguesa do século XIX: o confisco da propriedade privada. A França havia finalmente escolhido ser uma república e uma democracia na década de 1870. Seus governantes haviam escolhido deliberadamente autodefinir-se como herdeiros da Revolução, fazendo do 14 de julho o seu dia nacional e escolhendo a Marseillaise como o hino nacional; e, apesar de certa relutância em relembrar Robespierre, cujo nome, até hoje, é dado a poucas ruas do país, a República não excluiu a herança jacobina. Chegou até a eleger para a presidência, em 1887, um homem que levava um dos grandes nomes jacobinos — o neto de Lazare Carnot, que havia sido o Trotsky dos exércitos revolucionários — embora, é claro, o feito jacobino de ter ganhado supremacia militar para a França era o aspecto menos controverso daquele regime. Sobre isso, a esquerda e a direita podiam convergir, o que explica que entre as figuras proeminentes do ano colocadas formalmente no Pantheon em 1889, no aniversário da abolição do feudalismo, estivessem três homens da guerra, Carnot, Hoche e Marceau. 6 Ainda que o centenário oficial tenha evitado cuidadosamente relembrar as datas mais controversas depois da Proclamação da República em 21 de setembro de 1792, preferindo se concentrar nos três primeiros meses da Revolução de 1789 – como fez também o segundo centenário -, não negou nenhuma de suas datas. O único ato historiográfico da República em 1889 foi o de votar fundos para uma edição nacional da jacobina História da Revolução Francesa de Michelet. A municipalidade de Paris, então mais radical, foi além: uma estátua para Danton, que ainda fica perto da estação de metrô Odéon, no terreno da casa onde o próprio Danton foi preso em 1794.

O jacobinismo foi a parte mais tocante da Revolução Francesa e, em 1889, o jacobinismo significava democracia. Pois, embora os socialistas e outros revolucionários certamente lutassem pelo socialismo, e embora a Segunda Internacional tenha sido realmente fundada em Paris em 1889 — plenamente consciente do significado da data e do lugar — o socialismo não era ainda uma grande força política na primeira metade de 1889, exceto na Alemanha. Logo se tornaria essa força política, mas só depois do centenário. A democracia é que preocupava os analistas.

Pois há uma grande diferença entre o primeiro e o segundo centenários. Exceto pela democracia, ninguém, dos liberais até a esquerda, via a Revolução de outro modo a não ser como um notável acontecimento histórico, cujas maiores realizações eram julgadas positivamente, no todo. “Os princípios da Revolução Francesa”, escreveu um autor na Contemporarv Review, “tomaram-se uma propriedade comum no mundo civilizado.” Que ele tenha escrito, ao lembrar a Revolução Gloriosa de 1688, “envoltos em forma histórica, eles eram ingleses muito antes de se tornarem franceses”, prova simplesmente que ele os aprovava 7. A Revolução, pensava o historiador liberal católico Lord Acton, que a ensinava em Cambridge na década de 1890, tinha dado “um imenso passo adiante na marcha da humanidade, algo que lhe devemos até hoje por alguns dos benefícios políticos que gozamos” 8. Anatole Leroy-Beaulieu, um preocupado e inteligente liberal, inventou um banquete centenário no qual vários estrangeiros expressavam suas opiniões críticas gerais sobre a Revolução Francesa, mas o surpreendente a respeito deles foi o quanto da Revolução eles aceitavam 9. O convidado americano naturalmente argumentava que, se alguém havia inventado a liberdade, tinha sido seu povo e não a França. O convidado inglês, que era — supunha-se — um baronete real unionista de uma família whig, argumentava a mesma coisa. O alemão congratulava-se por seu país não ter tido uma revolução e ter vencido a guerra camponesa do século XVI que poderia ter-se tornado uma revolução, mas admitia que a Revolução Francesa havia acelerado o desenvolvimento nacional germânico. E se ela tinha sido tão universalmente saudada pelas grandes cabeças da Alemanha, era porque essas cabeças já estavam imbuídas dos princípios que, eles pensavam, viram a França por em ação. O italiano aclamava a Revolução Francesa por sua contribuição ao Risorgimento e à reconstituição das nacionalidades modernas, mas é claro que achava tanto seus bons quanto os maus elementos já presentes na tradição italiana. O grego obviamente referiu-se à tradição clássica passada, mas também rendeu tributo à Revolução por ter contribuído para a revivescência de seu país. E assim por diante. Em resumo, as críticas dos convidados de Leroy-Beaulieu — e elas naturalmente não são apenas portadoras da própria opinião do autor — revelam a aceitação e a aceitabilidade geral, pelo menos no Ocidente, dos princípios da Revolução Francesa.

Aqueles que achavam que a Revolução Francesa tinha sido um desastre – “a tremenda catástrofe de 1789 seguida por cem anos de revolução”, como a Edinburgh Review a chamou — assim pensavam por causa do elemento popular que nela foi identificado com o jacobinismo 10. Mas embora houvesse referências obrigatórias ao Terror, o inimigo real era “O princípio de que a vontade popular está sobre todas as pessoas e todas as instituições superiores”, como disse Henry Reeve, um velho amigo inglês de Guizot, de Thiers e de Tocqueville, quando comentou o livro apaixonadamente antirrevolucionário de Hippolyte Taine, Origins of contemporany France, que tinha aparecido havia pouco 11. Pois, pensava Henry Reeve, se tal princípio fosse aceito “haveria um fim não apenas daquilo que é chamado de limites constitucionais, mas também das próprias bases da sociedade civil e das leis fundamentais da moralidade” 12. De fato, como disse outro resenhista do livro de Taine, a sua lição política central era o descrédito nos princípios democráticos de governo 13. Embora às vezes se suponha que a palavra anarquia que aparece prontamente na boca dos escritores antijacobinos se refira a banhos de sangue e ausência de leis, de fato eles tinham em mente algo menos dramático. A Edinburgh Review falava de um descenso gradual, nos últimos cem anos, “para uma condição de anarquia que ameaça a própria existência da nação” na França 14. E claro que isso não queria dizer que Paris — sem mencionar a Borgonha — tivesse se aproximado, em 1889, da situação do South Bronx em 1989, mesmo se o autor pensava, sem dar evidências, que o anticlericalismo do governo significava “um grande relaxamento da moral e um aumento único do crime”15. O que ele quis dizer, como outros que simpatizavam com essas posições, era que um século de revolução havia dado à França “sufrágio universal sem inteligência”, para citar Goldwin Smith, que, portanto, via a Revolução como “a maior catástrofe que caiu sobre a raça humana”16. O sufrágio universal, para citar novamente a Edinburgh Review, “tinha gradualmente solapado a autoridade das classes esclarecidas”. De modo desnecessário, pois — como Smith escreveu — “o que a maioria de nós queremos não é votar mas sim um governo forte, estável, esclarecido e responsável”17. A Revolução Francesa — aqui a referência é Burke — havia rompido drasticamente com a tradição e, portanto, retirado todas as garantias contra a anarquia18.

A nota de histeria nesses ataques pode nos parecer exagerada, especialmente na medida em que até antijacobinos duros não negavam que a Revolução tinha feito algum bem para a França — e nisso eles se diferenciavam dos antijacobinos de 1989. Havia “aumentado tremendamente a riqueza material da França”19. Havia dado à França um corpo sólido de camponeses proprietários, sempre considerados, no século XIX, como um elemento de estabilidade política20. Quando analisamos com detalhe estes textos antirrevolucionários, descobrimos que o pior que podem dizer é que a França, desde a Revolução, tornou-se politicamente instável — nenhum regime havia durado mais do que vinte anos, treze constituições haviam se sucedido em um século, e assim por diante21. Para ser franco, no centenário a República estava no meio de uma crise séria: o movimento político do general Boulanger, que não podia deixar de evocar outros militares que puseram um fim a repúblicas instáveis. Contudo, seja lá o que se pensasse sobre a política francesa nas décadas de 1880 e 1890, seria um absurdo falar desse país em termos apocalípticos em 1889. Era, reconhecidamente, o mesmo país que, vinte anos depois — quando Boulanger, Panama e Dreyfus ainda estavam frescos na memória —, o Spectator, resenhando outro livro sobre a Revolução Francesa, podia descrever como “o mais saudável, estável e também mais civilizado dos países continentais”.22

O que fazia surgir tais terrores e paixões não era o estado no qual se achava a França depois de um século de revolução, mas saber que a política democrática e tudo o que implicava estava agora se espalhando em todos os países burgueses, e que “o voto universal sem inteligência”, cedo ou tarde, estaria chegando. Foi isso que Goldwin Smith quis dizer quando declarou: “O jacobinismo é agora uma doença tão estabelecida quanto a varíola. A infecção começa a atravessar o Canal”.23 Foi nesse período que a democracia eleitoral em bases amplas tornou-se, pela primeira vez, parte integral da política até mesmo daqueles países que costumamos considerar como os mais tradicionalmente democráticos; ou seja, quando a espécie de constitucionalismo liberal que os burgueses liberais, como Guizot, tinham instituído precisamente como uma barreira à democracia — excluindo do direito de voto, em princípio, os pobres e os ignorantes (sem falar das mulheres) — deixou de ser sustentável. O que não é tão amplamente conhecido é a enorme preocupação das classes dominantes com as implicações da democracia eleitoral. Elas olharam os Estados Unidos, como Tocqueville havia feito, mas, diferentemente de Tocqueville, viram antes de mais nada o melhor Congresso e as melhores prefeituras que o dinheiro podia comprar: fraudes, pilhagens, demagogia e máquinas políticas — e também, no período da perturbada década de 1880, descontentamento social e agitação. Elas olharam para a França e viram, sob a longa sombra de Robespierre, corrupção, instabilidade, demagogos, embora sem máquinas políticas. Em resumo, elas viram a crise dos Estados e das políticas até então conhecidas. Não admira que o centenário da Revolução Francesa as enchesse de mau agouro.

No entanto, se deixarmos de lado os reacionários genuínos, como a Igreja Católica do Sílabo de 1864 e do Primeiro Concílio do Vaticano, que rejeitou tudo do pobre século XIX, a Revolução Francesa, em geral, não gerou rejeições tão histéricas quanto as que mencionei. Pelo menos no mundo anglo-saxão, mesmo aqueles que simpatizavam com o antijacobinismo de Taine geralmente concordavam que seu livro Origins of contemporany France passara dos limites. Os resenhistas levantaram questões sensíveis. Por que Taine não viu que, em 1789, poderia não ter sido óbvio para os franceses, como agora, que uma mudança para instituições liberais seria possível sem uma revolução fundamental?24 Por que ele não viu que a chave para a situação era que nem mesmo os moderados podiam confiar no rei? Se todos eram tão devotados à monarquia, por que a França, que não era uma república em 1788, nunca se tornou monarquista novamente?25 Taine não reconheceu o dilema de cada partido na medida em que chegaram ao poder: “Confiança no apoio da multidão de Paris significava conivência com o ultraje e os crimes que tornavam impossível estabelecer as instituições livres na França. Repressão à multidão parisiense significava reação e, muito provavelmente, a restauração do despotismo.”26 De fato, com todo o respeito a Taine como intelectual de peso, seu trabalho foi considerado muito mais propagandístico do que científico. A amargura do conservador, pensava o Spectator, esparramava-se pelo livro. A ele, “falta desinteresse científico, largueza de visão e discernimento”, escreveu The Nation. Intelectuais franceses eminentes foram normalmente recebidos no estrangeiro com mais respeito do que Taine.27

Vamos agora do primeiro centenário para a experiência do segundo. A primeira coisa a notar sobre o intervalo entre os séculos é que sabemos incomparavelmente mais sobre a história da Revolução Francesa do que sabíamos em 1889. Uma das consequências principais, não do primeiro centenário, mas da adoção, pela Terceira República, da Revolução Francesa como seu acontecimento fundador foi que a historiografia foi em frente. Em 1880, a França ganhou não apenas um museu da Revolução – o Museu Carnavalet, de Paris – mas também, na Sorbonne, uma matéria dedicada a sua história, em 1885, e uma cátedra, em 1891. É possível atestar a grande novidade que isso representava pelo fato de que seu primeiro ocupante, que se tomou a primeira corporificação acadêmica da Revolução Francesa, não era nem mesmo um historiador por formação. Alphonse Aulard (1849-1928), um estudioso de literatura e um especialista no grande poeta romântico Leopardi, tornou-se um historiador da Revolução Francesa porque era um republicano convicto.

Assim, temos que lembrar que, em 1889, a historiografia acadêmica estava ainda em sua infância. Acton, que conhecia a literatura historiográfica internacional melhor que muitos, relacionou apenas três homens que descreveu como “historiadores modernos” em suas conferências de 1895: Sybel, Taine e Sorel; e dois destes escreviam sobretudo sobre os aspectos internacionais da Revolução Francesa28. Mas logo isso mudou. Por volta de 1914, os sucessores de Aulard na cátedra da Sorbonne já eram adultos e, de fato, até o fim da década de 1950 a história da Revolução Francesa permaneceu dominada pela longeva geração que chegou à maturidade por volta de 1900: Mathiez e Lefebvre nasceram em 1874, Sagnac, em 1868, e Caron, em 1875. (O próprio Aulard tinha nascido em 1849.) Com exceção de Georges Lefebvre, exilado em escolas provinciais de segundo grau, a nova geração já tinha publicado bastante e estava já estabelecida — e Lefebvre, que tinha apenas uma monografia local como crédito, já tinha virtualmente completado a pesquisa que gerou sua grande tese sobre os camponeses do departamento do Nord e a Revolução Francesa, que seria publicada em 1924.

Ao contrário do que agora frequentemente se diz, nenhum desses historiadores era um marxista. (De fato, nem mesmo os russos que iniciaram o estudo da questão agrária na França durante o período, estimulando Lefebvre, eram marxistas: I. V. Lutchitskii —1845-1918 —e N. I. Kareiev —1850-1931 — foram, ambos, liberais. Embora o último tenha tido, originalmente, ligações populistas.) Mathiez alegava ser um socialista, mas o consenso geral entre seus contemporâneos indicava que ele era basicamente um homem de 1793.29 Lefebvre, um socialista do Norte industrial, estava mais profundamente imbuído das ideias do movimento operário e certamente impressionado com a concepção materialista da história de Marx, mas seu mestre verdadeiro era Jaurès, que havia adotado algumas das ideias de Marx — muito poucas, e compreendidas de modo errôneo, poderiam dizer os marxistas de seu tempo — com uma grande parte de Michelet. Os historiadores da Revolução Francesa eram republicanos democráticos e apaixonados, na versão jacobina, e isso automaticamente os empurrou para uma posição à esquerda do espectro político. Pois não era o próprio Aulard, um homem longe do extremismo, que julgava que a Revolução Francesa conduzia logicamente ao socialismo, embora apenas uma minoria de franceses pudesse compreendê-la assim?30 Não é nada claro o que ele, ou a maioria dos que politicamente chamavam a si mesmos de socialistas na França, por volta de 1900, entendiam pela palavra, mas ela era inquestionavelmente uma insígnia que assinalava a posição de alguém do lado do progresso, do povo e da esquerda. E é difícil que tenha sido por acaso que tantos dos que filtram a historiografia clássica da Revolução Francesa tenham vindo daquele templo da República, sem inimigos na esquerda, fortaleza dos dreyfusards a École Normale Supérieure da rua d’Ulm: o próprio Aulard, Agnac, Mathiez e Jean Jaurès — embora também, deve-se dizer, Taine, de uma geração anterior.

Lancemos um breve olhar, e necessariamente impressionista, quantitativo, na historiografia da Revolução Francesa desde primeiro centenário.31 Em uma estimativa aproximada, o Museu Britânico (a Biblioteca Britânica) agregou mais de 50 títulos cada cinco anos entre 1881 e 1900, mais de 250 entre 1901 e 1905, mais de 330 entre 1906 e 1910 e um máximo de todos os tempos — até o presente — de aproximadamente 450 títulos entre 1911-1915.32 O primeiro pós-guerra manteve um nível fixo de 150 a 170 títulos a cada cinco anos, mas a segunda metade da década de 1930 — a época da Frente Popular — assistiu a um notável crescimento de 225 títulos, que não se refletiu nas resenhas do Times Literary Supplement, ao contrário do estouro pré-1914. Depois de um começo modesto na segunda era pós-guerra, as décadas de 1960 e 1970 registraram um agudo arranque: aproximadamente trezentos títulos na segunda metade da década de 1960. Isso refletiu-se claramente no Times Literary Supplement na década de 1970. Podemos ter certeza de que a década de 1980 registrará, provavelmente, um estouro maior do que aquele anterior a 1914 — algo que acompanha naturalmente o segundo centenário e os meios modernos de comunicação e de publicidade editorial.

Contudo, embora a quantidade possa indicar o nível geral de interesse na Revolução Francesa, em si mesma conta-nos pouco sobre sua natureza. Aqui pode ser útil um rápido olhar no lado biográfico dessa literatura. Antes da Primeira Guerra Mundial, ela é dominada pelos trabalhos sobre a família real francesa — Maria Antonieta e companhia — que enchiam colunas de bibliografia e, devemos supor, apelavam sobretudo aos leitores conservadores e contrarrevolucionários. Desde a Primeira Guerra Mundial, esse ramo da historiografia revolucionária murchou e hoje é insignificante. Por outro lado, os estudos sobre as personalidades revolucionárias individuais ou sobre os líderes e suas obras foram escritos por autores com diversas atitudes políticas e vários níveis de seriedade, e iam desde obras para entretenimento de salão até erudição pesada. Isso faz com que as variações no interesse em figuras específicas sejam instrutivas. Assim, a mais moderada das figuras principais, Mirabeau, teve seu ápice antes de 1914, caindo acentuadamente depois. Exceto por um rápido momento na década de 1960 e novamente na de 1980, ele não despertou interesse desde a Segunda Guerra Mundial — ainda que fosse de se esperar que um homem que era não apenas uma das figuras principais da Revolução Francesa, mas também um economista destacado, além de pornógrafo, atraísse autores.33 O centrista Danton, menos eminente, teve seu pico na década de 1920, com alguma ação nas décadas de 1900 e 1930 e — como já vimos — por volta do primeiro centenário. Robespierre não foi particularmente notório até 1900 — ele estava mais ou menos no mesmo nível de Marat, como representante do jacobinismo radical até o meio da década de 1900, mas, desde então, atraiu mais atenção do que qualquer outra figura — embora parte disso não fosse tanto biográfica, mas antes uma reflexão sobre seu papel na República Jacobina. Contudo, o período em que esteve mais em evidência foi, talvez sem surpresas, a segunda metade da década de 1930 — a época da Frente Popular — e as décadas de 1960 e 1970. Na extrema esquerda Marat tem sido cada vez mais substituído como porta-bandeira por Saint-Just, embora pareça que um certo interesse neste se tenha mantido desde os dias da Revolução de Outubro na União Soviética.34 Afora a edição de Vellay, de 1908, dos escritos de Saint-Just, a Biblioteca Britânica nada registra dele ou sobre ele antes da Primeira Guerra Mundial (contra onze títulos sobre Marat). O interesse se torna visível na década de 1930 — embora não mais refletido adequad ente na Biblioteca Britânica — mas alcançou apenas um modesto pico nas décadas de 1970 e 1980, como seria de esperar de uma figura que, ao contrário de Marat, atrai fundamentalmente intelectuais. Na extrema-esquerda, Babeuf, o primeiro comunista, inexiste antes da Primeira Guerra Mundial, aparecendo apenas na década de 1930. Seu período de projeção máxima é nas décadas de 1960 (que celebrou o bicentenário de seu nascimento) e de 1970. O que isso sugere é que o máximo do interesse específico da esquerda na historiografia da Revolução Francesa é encontrado na década de 1930 e novamente nas de 1960 e 1970. Em ambos os casos, temos a combinação de um forte partido comunista com uma radicalização mais geral. É contra isso que devemos situar a reação que, depois de 1940, era mais política do que historiográfica (o livro de Georges Lefebvre, Quatre-vingt-neuf, foi confiscado por Vichy como subversivo), mas que hoje é tão política quanto historiográfica.35

Examinemos rapidamente a produção historiográfica importante. Aqui podemos distinguir cinco períodos. Durante todos eles, com exceção do último e atual período, a historiografia de ponta sobre o assunto foi apaixonadamente republicana e jacobina. Os antirrevolucionários não possuíam reconhecimento acadêmico importante, embora tivessem um bom punhado de leitores. Apenas um desses autores tem possibilidade de ser candidato à reabilitação, Auguste Cochin (1876-1916), um defensor de Taine contra o ataque de Aulard, o qual tem sido assumido por François Furet (que não é um normalien). A versão clássica, política e institucional dos radicais da Terceira República e dos radicais socialistas coincide com a época de Aulard. Como já se sugeriu, as fundações da historiografia moderna erudita foram feitas no período entre a década de 1880 e a Primeira Guerra Mundial. Depois da Primeira Guerra Mundial, o campo historiográfico, na França, moveu-se para a esquerda e se tornou nitidamente socialista—Aulard entrou em declínio bem antes de sua morte, em 1928 — embora novamente os historiadores socialistas e comunistas franceses se mantivessem fiéis ao jacobinismo, especialmente a Robespierre, e não aos próprios ancestrais de seu movimento; nem mesmo foram fiéis ao Lenin de 1917, o qual, de todos os revolucionários, prezava sobretudo Danton como “o maior mestre das táticas revolucionárias que conhecemos”.36 A década de 1920 foi dominada por Mathiez, que, aliás, enfatizou suas convicções socialistas reeditando a Histoire socialiste de la Révolution Française, de Jaurès, que originalmente havia sido editada como uma obra política e não acadêmica. Embora Mathiez não tenha conseguido a cátedra, ele dominava a Société des Etudes Robespierristes e, através dela, o campo de estudos. A versão de Mathiez tornou-se uma das mais influentes. Foi rapidamente assumida nos Estados Unidos, onde o interesse pela história da Revolução Francesa, talvez por causa da tradição republicana, estava bem estabelecido universidades — Harvard chegou a comprar a biblioteca de Aulard — e sua síntese da história revolucionária logo foi traduzida e uma versão resumida dela foi incluída, no começo da década de 1930, na Enciclopédia de ciências sociais de Seligman, onde ainda pode ser proveitosamente consultada.

Não vou me deter na amarga hostilidade de Mathiez a Danton, que o distinguia de Aulard mesmo antes da Primeira Guerra Mundial, uma vez que é principalmente uma polêmica de interesse local francês; em todo caso, pode-se suspeitar que ela refletisse os sentimentos edípicos de Mathiez pelo fundador do campo, o qual ele não conseguiu suceder na cátedra da Sorbonne.

Aulard foi sucedido nessa cátedra por Philippe Sagnac, uma figura central na historiografia positivista francesa, mas que não imprimiu um perfil especial a sua posição. Contudo, Mathiez de fato sucedeu Aulard e foi sucedido por Georges Lefebvre (1874-1959) que, em 1932, tomou seu lugar como o catedrático da Societé des Études Robespierrisres e diretor dos Annales Historiques de la Révolution Française de Mathiez, que havia muito tinham substituído a enfraquecida revista de Aulard, La Révolution Française, como o órgão da historiografia revolucionária. Lefebvre, que dominava na década de 1930 — e, de fato, durante todo o período de sua vida —, tinha tido um começo muito lento, talvez porque lhe faltasse o suporte de uma instituição de origem. Exilado nas escolas secundárias do Norte — dizem que ele foi a única pessoa que apoiou Dreyfus em Boulogne-sur-mer —, Lefebvre não conseguiu sequer se concentrar na Revolução Francesa, pois seu superior na provinciana Lille induziu-o a traduzir um trabalho-padrão, o livro de Stubbs Constitutional history of EngIand, em três volumes, ao qual agregou um complemento na década de 1920. Essa excursão implausível na história da Inglaterra medieval, tornada mais implausível ainda pelo fato de que o autor original desse clássico vitoriano foi um bispo, teve o proveito menor de fazer os historiadores ingleses apreciá-lo mais rapidamente do que os americanos. A única vez em sua vida em que deixou a França foi para fazer uma visita acadêmica à Inglaterra, em 1934. É bem possível que Lefebvre tenha passado algumas noites na Grã-Bretanha antes de, aos 60 anos, passar uma noite em Paris. Depois da publicação do seu grande e seminal trabalho sobre o campesinato, ele foi habilitado para ocupar uma cátedra universitária: primeiro em Clermont-Ferrand — na época, a Sibéria acadêmica da França — depois em Estrasburgo, inusitadamente aberta ao talento após seu retorno à França depois da guerra e a base de onde Marc Bloch e Lucien Febvre desferiram seu ataque contra a ortodoxia histórica nos Annales e se prepararam para capturar Paris. Lefebvre também chegou a Paris em 1935, finalmente mudando-se para a canônica cátedra de história da Revolução Francesa depois da aposentadoria de Sagnac, em 1937.

Por mais lento que tenha sido, Lefebvre recuperou o tempo perdido. A década de 1930 foi dominada por um número de volumes clássicos feitos por ele: The great fear of 1789 é de 1932, que é um ponto de partida para a hoje chamada “história vinda de baixo” (um termo cunhado por Lefebvre); a magnífica história da Europa na era napoleônica (1935), superior a um volume precedente sobre a Revolução Francesa, na mesma série, escrito apenas parcialmente por ele (mas depois revisado); a continuação dos três volumes de Mathiez sobre a era Termidor — Lefebvre não publicou o volume final, sobre o Diretório, até 1946; e, acima de tudo, o mais marcante monumento que alguém jamais ergueu no centésimo quinquagésimo aniversário da Revolução Francesa, em 1939, um pequeno livro chamado Quatre-vingt-neuf [Oitenta e Nove], em francês, mas familiar a todos na tradução de R. R. Palmer de 1947, com o título de The coming of the French Revolution. Foi o tributo prestado pela Frente Popular Francesa, no momento do seu declínio, à Revolução Francesa, quando não mais poderia comemorá-la adequadamente. Esse livro é, essencialmente, aquilo que a historiografia revisionista moderna está atacando, mas sem respeitá-lo. Pois Lefebvre, concordemos ou não com ele, foi um grande historiador. Na minha opinião, e mesmo na de seus adversários, Lefebvre foi, de longe, o mais importante historiador moderno sobre a Revolução Francesa. Politicamente, era um socialista no tempo em que escreveu suas maiores obras; depois da guerra, foi um simpatizante dos comunistas.

Duas outras observações historiográficas podem ser feitas sobre a década de 1930. Primeiro, essa historiografia parece tão completamente dominada por Lefebvre sobretudo porque outro grande historiador da Revolução Francesa é, ou tornou-se, mais conhecido como historiador econômico ou social: Ernest Labrousse (1895-1988), que morreu nonagenário. Labrousse foi outro dos intelectuais comprometidos com a esquerda que se dedicaram à história, embora fosse mais ativista em política do que a maioria deles. Após um breve período no Partido Comunista no começo dos anos 20 seguindo o Congresso de Tours, quando a maioria dos socialistas se afastou, ele juntou-se novamente ao Partido Socialista e tornou-se por algum tempo chefe de gabinete de Leon Blum, recuperou o tempo perdido. A década de 1930 foi dominada por seu trabalho maior sobre a Revolução Francesa: um alentado estudo da crise econômica do Ancien Régime, na segunda metade da década de 1780. Explicou a origem da Revolução em termos de uma coincidência de duas crises, a econômica e a política, no velho sistema, e depois escreveu um trabalho (“Como nascem as Revoluções”)37, no qual tentava generalizar esse modelo um pouco mecânico para 1830 e 1848. Por sua biografia e mentalidade, Labrousse pertence à Terceira República e a sua tradição, mas, ao contrário de outros historiadores, considerava-se um marxista, embora o fosse de um modo antigo, determinista econômico ou kautskista. Braudel o considerava o único grande historiador francês além dele mesmo e lamentava – ou fingia lamentar – que a história francesa sofresse porque ele e Labrousse não se davam bem. A outra observação a fazer sobre a década de 1930 é que nela foi desencadeado o estudo moderno da história revolucionária nos Estados Unidos (onde o campo já estava estabelecido) e na Grã-Bretanha. Ambos são, ou tornaram-se, os principais centros não-franceses para essa pesquisa.

O período do pós-guerra, até a metade dos anos 1960, foi dominado por Lefebvre – que morreu em 1959 – e seus discípulos, que, a essa altura, estavam muito mais próximos do Partido Comunista, embora seu sucessor (após um intervalo preenchido por Marcel Reinhard, 1889-1973), Albert Soboul (1914-1982), fosse uma figura tão típica da tradição republicana quanto qualquer um de seus predecessores: há obituários maravilhosos tanto de Lefebvre quanto de Soboul feitos por Richard Cobb, aluno de um e amigo de outro, não obstante ser tão afastado do marxismo quanto possível; contudo, Cobb era um historiador fascinado pelas pessoas anônimas da base da história, e, portanto, aproximou-se dos únicos historiadores que fizeram a história do povo comum na Revolução, Lefebvre e seus seguidores comunistas. Deve-se notar, de passagem, que o brilhante grupo de jovens historiadores que abandonou o Partido Comunista na metade dos anos 50, depois de uma fase de rígido stalinismo – o mais eminente deles, Emmanuel le Roy Ladurie, já descreveu seu desenvolvimento político-educacional38 -, mostrou muito pouco interesse na Revolução Francesa, sendo mais atraído pela escola dos Annales; no entanto, dois ex-comunistas, François Furet e Denis Richet, inauguraram a onda revisionista na França. Desde a morte prematura de Albert Soboul, em 1982, a cátedra da Sorbonne vem sendo ocupada por Michel Vovelle (nascido em 1933), outro ex-comunista, cuja pesquisa original estava no campo da história cultural ou história das “mentalidades”, a qual exerceu uma atração forte e benéfica sobre muitos historiadores talentosos de esquerda nas décadas de 1960 e 1970.

Contudo, desde a guerra não foi mais possível pensar a historiografia da Revolução Francesa como fundamentalmente francesa. Os próprios discípulos de Lefebvre eram um grupo internacional, e o número de PhDs no assunto subiu verticalmente na Grã-Bretanha das décadas de 1950 e 1960. Não houve teses antes de 1910, e daí em diante houve seis por década até 1950 — de fato, nove na década de 1930 — mas, a partir de então, dezoito na década de 1950 e vinte na de 1960.39

Agora examinemos brevemente o significado dessas fases de interpretação da Revolução Francesa. Na França, elas refletiram a história da Terceira República enquanto o regime durou — ou seja, até 1940. Isso significa que a formação da principal escola de historiadores revolucionários franceses reflete a institucionalização da Terceira República como uma democracia que se referia à Revolução Francesa como sua experiência fundante. Sugiro que a grande explosão da historiografia revolucionária na década de 1900 reflita o triunfo das muitas crises de infância por que passou — que culminou com o Caso Dreyfus, um triunfo ratificado pela separação da Igreja do Estado e pela emergência dos socialistas radicais como partido central da República. Eles não eram, como todos sabemos, nem radicais nem socialistas, mas sim profundamente comprometidos com a República e portanto com a Revolução Francesa, e muitos dos seus políticos de destaque, no período entre guerras, eram sérios historiadores praticantes do período revolucionário, notadamente o intelectual gastrônomo, e redondo, Edouard Herriot (1872-1957) — também um normalien. Herriot publicou um volume de conferências chamado Homenagem à Revolução no ano de seu centésimo quinquagésimo aniversário, não obstante o fato de o Terror jacobino ter feito o melhor que pôde para arrasar sua cidade de origem e sua base política, a grande cidade de Lyon, por causa de sua atividade contrarrevolucionária. (Herriot escreveu também uma história do episódio)40 O triunfo da República sobre seus inimigos, como o Caso Dreyfus tinha demonstrado, foi baseado em uma aliança do centro com a esquerda — até mesmo com a extrema esquerda. O princípio político básico da Terceira República era, então: “Não há inimigos à esquerda” e, portanto, nenhuma rejeição ao legado da República Jacobina. Embora nem Robespierre nem Saint-Just, para não falar em Marat, despertassem entusiasmo fora da extrema esquerda, mesmo os moderados apreciavam Danton, que tinha sido tanto um jacobino como um oponente de Robespierre e dos excessos do Terror. Louis Barthou, um político moderado republicano que ficou mais conhecido por sua morte —foi assassinado junto com o rei Alexandre da Iugoslávia em 1934 por um terrorista iugoslavo — escreveu as biografias de Mirabeau e Danton e também um livro sobre o Nove Termidor, ou seja, sobre a queda de Robespierre. Essa é, eu sugiro, a chave para a idealização que Aulard faz de Danton.

Depois da década de 1900, tem-se a impressão de que, por um momento, a Revolução Francesa tornou-se, para os republicanos de centro, um assunto da oratória do 14 de julho mais do que um assunto de urgência ideológica importante. O centro de gravidade da historiografia revolucionária mudou-se para a esquerda: não tanto em termos políticos mas sim sociais. Não é insignificante, em meu ponto de vista, que o grande trabalho do sucessor de Aulard como principal representante da história revolucionária fosse sobre o preço dos alimentos e a revolta social na era do Terror, embora Mathiez tenha publicado primeiro sobre história religiosa; ou que o sucessor de Mathiez, Lefebvre, tenha escrito sua tese sobre o campesinato do Norte na Revolução: ou que a obra magna de seu sucessor Soboul lidasse com os sans-culottes de Paris — ou seja, com os ativistas de base popular. (Aliás, nenhum desses historiadores idealizou seus temas: Mathiez e Soboul ficaram firmes ao lado de Robespierre contra seus opositores da esquerda, e Lefebvre analisou seus camponeses sem ilusões, ou melhor. da perspectiva dos jacobinos urbanos.)41 Mais genericamente, a história da Revolução Francesa cada vez mais mudou-se para um registro social e econômico. Já mencionei Labrousse; mas, para citar outros exemplos da velha geração de especialistas no campo, Marcel Reinhard tinha sido um dos primeiros a ir à história demográfica do período revolucionário, embora também ele — um pouco mais tarde — tenha publicado uma biografia-padrão do organizador militar jacobino, Carnot.42 Jacques Godechot (nascido em 1907), presidente da Société des Érudes Robespierristes, embora interessado principalmente em história institucional em geral, também foi atraído pela demografia. No início, esse interesse certamente não refletia o marxismo — a tradição marxista na França era desprezível — mas a ascensão do movimento operário e socialista: se se quiser, a influência de Jaurès. Entretanto, ajudou a trazer a historiografia revolucionária para mais perto de um campo comum com os marxistas, que até então tinham sido a principal escola interessada nas dimensões econômicas e sociais da história. Na década de 1930, essa convergência foi reforçada por um acontecimento crucial: a ascensão do fascismo internacional, que levou a maioria das outras escolas políticas conservadoras, direitistas, tradicionalistas e reacionárias em seu rastro.

Tal acontecimento foi crucial, porque o fascismo era a expressão da quintessência daqueles que tinham rejeitado completamente, desde o começo, a Revolução Francesa. De fato, até meados do século XX, a extrema direita poderia praticamente ser definida por sua rejeição da Revolução, ou seja, não dos jacobinos e de sua descendência política, mas também do liberalismo, de toda a ideologia do Iluminismo do século XVIII e do progresso do século XIX, para não falar da emancipação dos judeus, que foi uma das maiores e mais notáveis façanhas da Revolução Francesa. Não havia dúvidas sobre a posição da direita francesa: queria reverter a Revolução Francesa, mesmo se sua maioria não acreditasse realmente na restauração da monarquia dos Bourbon, o que pediam os militantes mais ativos da Action Française. A única vez em que a direita francesa realmente derrubou a República, em 1940-1944, manteve a monarquia longe — embora sua influência ideológica nos homens de Vichy fosse muito visível — estabelecendo meramente um “Estado Francês” indefinido e autoritário. Não havia dúvidas sobre a posição da Igreja Católica no tempo do Vaticano I. Não esperava abolir 1789 por toda parte — embora o tenha feito na Espanha de Franco, dos franco-maçônicos e tudo o mais — mas bem que teria gostado. E, sobretudo, não havia dúvidas sobre a posição do fascismo. Mussolini o disse, pessoalmente, em seu artigo sobre o fascismo em sua Enciclopédia italiana. Ele lutava “contra o positivismo materialista e fraco do século XIX […] contra todas as abstrações individualistas do tipo das do século XVIII […] e contra todas as utopias e inovações jacobinas”.43 A mesma coisa era ainda mais obviamente verdadeira na Alemanha, onde a ideologia nacional havia muito tempo suspeitava não apenas do liberalismo ocidental mas dos franceses, vistos como imorais, nacionalistas e, por assim dizer, inimigos hereditários da Alemanha.

Assim, inevitavelmente todos os antifascistas, na década de 1930, tenderam a cerrar fileiras em torno da Revolução Francesa, o maior alvo dos inimigos. Deve-se dizer que essa campanha em torno da memória da Revolução Francesa foi ideologicamente o que a Frente Popular foi politicamente: a união de todos os antifascistas. Não foi por acaso que os sindicatos franceses, depois de 1936, financiaram Jean Renoir para fazer um filme sobre a Marseillaise, ou, como eu mesmo lembro, uma produção teatral elaborada da obra muito maçante de Romain Rolland, Quatorze Juillet, representada em Paris no verão de 1936. Mas havia ainda outra razão pela qual a Frente Popular desenvolvia um culto pela Marseillaise, pela bandeira tricolor e pelos jacobinos de 1793-1794. Eles haviam sido os franceses patriotas originais, os salvadores da França numa guerra de defesa nacional — e ideológica — contra os reacionários locais que foram ao estrangeiro aliar-se com os inimigos do país.

Por razões que não precisam nos ocupar aqui, nas últimas duas décadas no século XIX o vocabulário do nacionalismo e patriotismo francês passou da esquerda para a direita.44 A esquerda proletária e socialista — novamente por razões que não posso analisar aqui — reagiu, durante esse período, à cooptação da Marseillaise, da bandeira tricolor e do resto pela Terceira República oficial, abandonando o lado patriótico e guerreiro da tradição jacobina. Tornou-se associada a antimilitarismo e mesmo a pacifismo. Principalmente sob influência comunista, essa esquerda agora voltava-se novamente para os símbolos do patriotismo nacional, cônscia do fato de que a Marseillaise e as três cores jacobinas eram também símbolos da revolução social radical. O Partido Comunista parece que conseguiria assumir as tradições da República: era uma das coisas que preocupavam De Gaulle nos anos da Resistência.

Tal como aconteceu, a recuperação do patriotismo jacobino foi ideologicamente uma boa mudança, pois a fraqueza da historiografia francesa de direita sempre residiu no fato de que ela não podia rejeitar um episódio tão glorioso e triunfante da história da França como as conquistas e vitórias dos revolucionários e da era napoleônica. Os historiadores de direita que escreviam popularizações elegantes e inteligentes estavam unidos para exaltar o Antigo Regime e para denunciar Robespierre. Contudo, como poderiam rejeitar aqueles gloriosos feitos militares dos soldados franceses, especialmente quando conquistados contra prussianos e ingleses? Tudo isso significa que a historiografia da Revolução Francesa tornou-se tanto mais de esquerda quanto jacobina. Politicamente, a Frente Popular se desfez. Historiograficamente, produziu seu maior triunfo em 1939, na medida em que a guerra se aproximava: o livro de George Lefebvre, The coming of the French Revolution [1789 – O Surgimento da Revolução Francesa]. E, se para a geração seguinte esse livro dominou o campo, isso era em memória tanto da Resistência e da Libertação quanto da Terceira República.

A essa altura, a fusão das tradições republicanas, jacobinas, socialistas e comunistas estava bastante completa, pois a Frente Popular e a Resistência posterior haviam transformado o Partido Comunista no maior partido da esquerda; e na década de 1930 podemos realmente começar a traçar a influência do marxismo na esquerda francesa. Mas qual, exatamente, era essa influência em termos da Grande Revolução? O próprio Marx nunca analisou a Revolução Francesa como historiador, como fez com a Revolução de 1848 na França, com a Segunda República e com a Comuna de Paris. Nem mesmo Engels, mais inclinado para a escrita histórica, chegou a produzir uma versão coerente dela, nem sequer uma versão popular. Como vimos, a ideia da Revolução Francesa como uma vitória burguesa na luta de classes, que Marx assumiu, veio dos liberais burgueses da Restauração. O marxismo recebeu bem a ideia da Revolução Francesa como uma revolução do povo e tentou olhá-la a partir da perspectiva popular, mas isso foi menos especificamente marxista ainda: pertencia a Michelet. A idealização do Terror e de Robespierre deve-se aos babouvistas e, especialmente, a Buonarroti, que transpôs a fase radical de 1793-1794 para o registro do comunismo proletário do século XIX. Contudo, embora Babeuf fosse admirado como um comunista precoce, certamente ele tinha tantas chances de atrair Marx teoricamente quanto Weitling ou Thomas Spence, e o culto a Robespierre não era, em nenhum sentido, marxista. Na verdade, como vimos, o que se tornou a tradição marxista central foi a escolha de se alinhar com Robespierre contra os ultrarradicais da esquerda que a ele se opunham, uma escolha que é apenas compreensível na hipótese de que os marxistas se tenham apropriado da tradição jacobina, e não o contrário. Em si mesmo, parece tão surpreendente para comunistas modernos defender Robespierre contra Hébert e Jacques Roux como seria para os comunistas e socialistas britânicos — com toda a sua admiração pelos regicidas e pela república no século XVII — defender Cromwell contra os Levellers e os Diggers. Para falar a verdade, os historiadores marxistas comprometidos simultaneamente com os conceitos da Revolução Francesa como uma revolução burguesa e da República Jacobina como a corporificação das suas conquistas mais avançadas tiveram problemas consideráveis para decidir exatamente quem representava a burguesia na era da Comissão de Salvação Pública, a qual tinha tanto orgulho de comerciantes quanto William Jennings Bryan de banqueiros orientais. A propósito, nem Engels nem Marx aceitaram uma visão da República Jacobina tão ingênua como esta.

Certamente, a interpretação jacobina da Revolução Francesa foi, em certa medida, “marxinizada” por Jaurès e seus seguidores, principalmente no sentido de que eles prestaram mais a atenção do que seus predecessores aos fatores sociais e econômicos em sua origem e desenvolvimento e, particularmente, na mobilização do seu componente popular. No sentido mais amplo, a interpretação pós-Jaurès da Revolução Francesa como uma revolução burguesa não avançou significativamente para além da tese liberal de ter sido um levante que ratificou a longa ascensão da burguesia que, por volta de 1789, estaria pronta para substituir o feudalismo. Os marxistas permaneceram dentro dos limites da interpretação jacobina também a esse respeito. Os artigos bem conhecidos de George V. Taylor sobre a “riqueza não-capitalista” que, mais ainda do que Cobban, formam o ponto de partida real para o revisionismo, não eram tanto críticas aos pesquisadores marxistas ou jacobinos do assunto, que mal existiam, quanto demonstrações de que não bastava assumir que a burguesia tinha surgido, mas o termo deveria ser definido e o surgimento, demonstrado.45

Em resumo, os marxistas tiraram bem mais da historiografia republicana da Revolução Francesa, tal como ela se desenvolveu no século XX, do que contribuíram para ela. No entanto, não há dúvidas de que fizeram dessa historiografia a sua própria e, portanto, asseguraram que um ataque ao marxismo deveria ser também um ataque àquela historiografia.


* HOBSBAWM, E. “De um centenário a outro”. In: Ecos da Marselhesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1996

(Introdução de Charles Rosa, transcrição e revisão de Gustavo Rego)


Notas Bibliográficas

1 E. J. Hobsbawm & Terence Ranger, orgs. The invention of tradition. Cambridge, 1983, p. 272.

2 Veja-se M. L. Neiman “Leninskii plan ‘monumentalnoi propagandy’ i pervye skulpturnye parnyatniki” in Istoryia Russkogo Iisskusstva. Moscou, 1957, v. 6, pp. 23-53. Ela diz que Lenin chegou à ideia através da utopia de Tomasso Campanela, “A Cidade do sol”. Para um breve esboço do episódio em inglês, veja-se Christine Lodder, Russian construtivism, New Heaven, Conn. Yale University Press, 1983, pp. 53 e 88. A. Stiigalev, “S. Konenkov i monumentalnaya propaganda”, Sovietskaya Skulptura, 74, Moscou, 1976: 210-213, fornece detalhes de como a lista de 66 eminentes personalidades foi montada e mostra uma foto de Lenin descobrindo o monumento Stenka Razin de Konenkov na Praça Vermelha. Entre 1918 e 1920, 25 monumentos foram erguidos em Moscou e 15 em Leningrado. Sovietskoe Isskusstvo 20-30 Godakh. Leningrado, 1988, prancha 41, reproduz o relevo de Robespierre feito por Lebedeva. Para outras fotos de documentos feitas de 1918 veja-se Lodder, Constructivism, Istoriya Russkogo Iskutssva XI, Serdzom Slushaya Revolutsiya: Isskusstvo Pervikh Let Oktyabra. Leningrado, 1977; e Shagi Sovietov: Kinokamera pishet istoriyu 1917-1936. Moscou, 1979, que reproduz fotografias de noticiários filmados.

3 The Times, 4 de maio de 1889, p. 7

4 Ibid.

5 New York Times, 14 jul. 1889, p. 9

6 Pascal Ory, “Le centenaire de la Révolution Française” in Pierre Nora, org. Les lieux de mémoire, v. 1, La République. Paris, 1984. pp. 523-60 para tudo isso e mais sobre os aspectos franceses do centenário

7 Henry Dunckley, “Two political centenaries”, Contemporany Review, 55, 1988:52-72.

8 “Lord Action on the French Revolution”, The Nation, 92, 30 mar. 1911, p. 318-20, Lord Action, Lectures on the French Revolution. Londres, 1910, foi publicado postumamente.

9 “Le banquet du centenaire de 1789” in A. Leroy Beaulieu, La Révolution et le libéralisme, Paris, 1890, pp. 1-84.

10 “The centenary of 1789”, Edinburgh Review, v. 169, pp. 519-36

11 “Taine’s conquest of Jacobins”, Edinburgh Review, 155: 1-26

12 Ibid.

13 B. M. Gardiner, in The Academy, 27, 4 abr. 1885, pp. 233-4

14 Edinburgh Review, “The Centenary”, pp. 521-2.

15 Ibid., pp. 534-5

16 Goldwyn Smith, “The invitation to celebrate the French Revolution”, National Review, ago. De 1888, 729-47; “The Centenary of 1789”; 522

17 Ibid

18 Edinburgh Review, A. R. D. Eliot, “The French Revolution and Modern France”. Edinburgh Review. “The Centenary”, p. 524

19 Edinburgh Review. “The Centenary”

20 Smith, “Invitation”, p. 743

21 The Times, 27 ago. 1889, p. 3. “A revolução é até agora um fracasso. Treze constituições em um século (…) refletem abertamente as poucas luzes dos homens que conduziram a essa instabilidade crônica”.

22 Resenha de Alphonse Aulard, French Revolution, in The Spectator. 15 out. 1910, p. 608

23 Smith, “Invitation”, p. 745

24 Frank T. Marzials, “Taine’s revolution”, London Quarterly Review, 66, abr. 1886, pp. 24-48

25 A. V. Dicey, “Taine’s gouvernment révolutionnaire”. The Nation, 40, 26 fev. 1885, pp. 184-5

26 Dicey, “Taine’s origins”, pp. 274-6

27 “M. Taine and Jacobin Conquest”. The Spectator, 55, 18 fev. 1882, p. 232-34. The Nation, 40, 5 mar. 1885, pp. 206-7

28 Acton, Lectures on the French Revolution, p. 345-73

29 Hubert Bourguin, De Jaurès a Leon Blum: l’École Normale et la politique. Paris, 1938, p. 271

30 Alphonse Aulard, Histoire Politique de la Révolution Française, 3a ed. Paris, 1905.

31 Isso se baseia principalmente nos índices de livros resenhados pelo Times Literary Supplement desde 1902; nos índices por assunto do Museu Britânico (agora Biblioteca Britânica) desde 1881; e nos índices das bibliotecas de pesquisas na área de Los Angeles

32 Os índices por assunto são para os anos de 1881 a 1900 e, portanto, para períodos de cinco anos. Julguei que não valia a pena analisar além do primeiro volume. A estimativa está baseada numa contagem aproximada de uma coluna de títulos listados sob a rubrica geral França, História, Revolução, Consulado e Império, 1789-1815, sendo que se calculou que cada coluna tivesse 25 títulos antes de 1950, e vinte após 1950. Os títulos que se referem a Napoleão e à história militar – os quais normalmente formam a maior parte da lista – foram omitidos, já que se pode presumir que requerem uma leitura de interesse diverso.

33 No Museu Britânico, Mirabeau conseguiu onze títulos de 1891 a 1900 (em todas as línguas) ou um título a cada ano; catorze entre 1901 a 1910, ou 1,4 título por ano. Entre as guerras, conseguiu nove títulos, ou menos que um a cada dois anos.

34 Dois dos quatro títulos sobre ele, adicionados desde a guerra, são em russo. Seus escritos foram traduzidos para o russo em 1923 e em 1956, Great Soviet Encyclopedia, edição inglesa, artigo: Marat. O livro de I. Stepanov J. P. Marat and his struggle against counter-revolution chegou a ter seis edições por volta de 1924. Victor Daline, “Lénine et jacobinisme”, Annales Historiques de la Révolution Française, 43, 1971: 92.

35 Jacques Godechot. Un jury pour la Révolution. Paris, 1974, p. 319.

36 Collected works, v. 26, pp. 132-81. A admiração de Lenin por Danton é particularmente significativa, uma vez que ela usa Danton para persuadir seus camaradas da necessidade da Revolução de Outubro e do modo como dirigir tal insurreição.

37 Ernest Labrousse, La crise de l’economie française à la fin de l’Ancien Régime et au début de la Révolution. Paris, 1944. “Comment naissent les révolutions”, in Actes du Centenaire de 1848. Paris, 1948.

38 Emmanuel le Roy Ladurie. Paris-Montpellier: P.C. – P. S. U. 1945-1963. Paris, 1982.

39 P. M. Jacobs, History Thesis 1901-1970. Londres, 1976.

40 Hommages à la Révolution, Paris, 1939. Lyon n’est Plus, 4 v. Paris, 1937.

41 Albert Mathiez. La vie chére et le mouvement social sous la Terreur. Paris, 1927; Georges Lefebvre, Les paysans du Nord pendant la Révolution Française. Paris, 1924; Albert Soboul, Les sanscullotes parisiens em l’an II. Mouvement populaire et gouvernement révolutionnaire, Paris, 1958.

42 Para um guia conveniente aos historiadores da Revolução Francesa, veja-se Samuel F. Scott & Barry Rothaus, orgs. Historical Dictionary of the French Revolution, 1789-1799, 2 v. Westport, 1985; e, mais sucinto, o Blackwell dictionary of historians, 1987; mas não se consulte o artigo de François Furet, “Histoire universitaire de la Révolution”, in François Furet & Mona Ozouf, orgs. Dictionaire Critique de la Révolution Française. Paris, 1988 – o qual deve ser visto como uma polêmica pessoal que, em muitos casos, peca pela omissão

43 Enciclopedia Italiana, v. 14, verbete “Fascismo”, p. 847.

44 Veja-se Antoine Prost, Vocabulaire des proclamations electorales de 1881, 1885 e 1889. Paris, 1974, pp. 52-53, 65.

45 “Types of capitalism in eighteenth century France”, English Historical Review, 79, 1964: 479-497; “Non-capitalist wealth and origins of French Revolution”, American Historical Review, 79. 1967: 469-496. Artigo “Bourgeoise” em Scott & Rothaus, orgs. Historical Dictionary.


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Pedro Micussi