Há exatos 12 anos, quadros históricos rompiam com o PT e rumavam para o PSOL

Em meio ao processo burocratizado de disputa interna no PT, um grupo de 400 militantes anunciava sua ruptura com o governo Lula.

Charles Rosa 26 set 2017, 19:43

Setembro de 2005. Já havia alguns meses que denúncias e mais denúncias de corrupção não paravam de surgir na imprensa contra membros do alto escalão do governo Lula. Dirceu, Palocci, Delúbio, Silvinho, entre outros, frequentavam os noticiários envolvidos em tramoias nada republicadas típicas dos governos de direita a que o PT fizera oposição nos anos 90. A deriva ética completava o transformismo do PT que ao chegar ao governo manteve intacta a essência da política econômica arquitetada pelos tucanos.

Em meio ao processo burocratizado de disputa interna no PT, um grupo de 400 militantes à esquerda, encabeçado por Ivan Valente, Plínio de Arruda Sampaio e Chico Alencar, anunciava sua ruptura com o governo Lula e sua migração para o recém-fundado PSOL, em coerência com suas trajetórias combativas. Como a nota assinada por Plínio de Arruda Sampaio e Ivan Valente constatava, o PT havia esgotado “seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira”. E uma nova alternativa socialista e radical fortalecia-se.

Abaixo, compartilhamos uma matéria da Folha de SP, que retrata bem como foram aqueles dias há 12 anos:

Petistas históricos anunciam saída do partido e filiação ao PSOL

da Folha Online – 26/09/2005

O deputado Ivan Valente (PT-SP) e Plínio de Arruda Sampaio anunciaram nesta segunda-feira que irão sair do PT para integrar o PSOL. Os deputados Orlando Fantazzini (PT-SP) e Chico Alencar (PT-RJ) também devem ingressar no PSOL.

Em nota à imprensa, Valente e Sampaio, disseram que o PT “esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira”. Na nota, eles criticam ainda a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

Sampaio concorre à presidência nacional do PT e, segundo os últimos números divulgados, era o quarto colocado na totalização dos votos.

O ex-vice-prefeito de São Paulo Helio Bicudo também deve se desfiliar do PT.

Debandada

A saída de militantes e parlamentares do PT é um processo que começou com o recrudescimento das denúncias contra o governo e a legenda, em meados de julho. Pouco antes das eleições internas do dia 18, vários petistas afirmaram que uma vitória do Campo Majoritário seria a senha para a migração dos petistas.

Ontem, em repúdio à crise, à política econômica e aos resultados da eleição interna do PT, um grupo de 400 petistas — representantes de movimentos sociais de todo o país, a maioria sindicalistas –, realizaram ato ontem em São Paulo para se desfiliar do partido e ingressar no PSOL.

O Campo Majoritário, vinculado ao deputado José Dirceu (PT-SP), é a corrente política responsabilizada pela maior crise sofrida pelo partido em seus 25 anos de história. Como demonstram os últimos números da apuração eleitoral, essa corrente ainda conta com muita força tanto em nível federal quanto estadual.

O PT, que elegeu 91 deputados nas eleições de 2002, maior bancada da história do partido, perdeu durante a crise o deputado André Costa (RJ), que saiu para se filiar ao PDT, que depois foi seguido por João Alfredo (CE), que declarou intenção de ir para o PSOL. Pouco antes do dia 18, a Folha de S.Paulo ouviu alguns deputados federais, como Maninha (DF) e Walter Pinheiro (BA), que reconheceram a dificuldade em permanecer no PT caso o Campo se mantenha no controle.

Íntegra da nota divulgada por Valente e Sampaio

1. Estamos nos desfiliando hoje do partido que ajudamos a fundar há 25 anos, o Partido dos Trabalhadores. Não é uma decisão tranqüila. Ao contrário. A história do PT confunde-se com a história das lutas democráticas do Brasil nesse período. Não se afasta de algo tão importante sem perdas. Mas o PT esgotou seu papel como instrumento de transformação da realidade brasileira. A manutenção da essência da política econômica do governo anterior frustrou boa parte dos militantes e apoiadores que esperavam mudanças.

2. Essa decisão de saída, logo após o Processo de Eleições Diretas, no qual votaram mais de 300 mil filiados, é feita em virtude de uma armadilha colocada diante de nós — mais uma! — pelo chamado Campo Majoritário petista. Essas eleições estavam marcadas originalmente para o primeiro semestre de 2004. O CM impôs seu adiamento para o início de 2005, sob a alegação de que as eleições municipais poderiam prejudicar a dinâmica do PED. E, há cerca de um ano, o Processo foi adiado novamente para as vésperas da data de desincompatibilização partidária definida pela Justiça Eleitoral.

3. Tivemos a felicidade de merecer o apoio de quase 40 mil militantes, nessas eleições internas do PT, aos quais agradecemos profundamente. Se optássemos por nele permanecer, nosso apoio inequívoco no 2º turno seria para o companheiro Raul Pont, que terá o apoio das correntes Brasil Socialista e Fórum Socialista, que permanecerão no PT.

4. Apesar da realização de um 2º turno no PED, a composição do Diretório Nacional segue com predominância do Campo Majoritário, de acordo com a votação interna.

5. Mas o tempo político não é o tempo institucional. Continuaremos unidos aos companheiros da esquerda do PT nos movimentos e nas lutas sociais e esperamos que todos nos unifiquemos num movimento pelo socialismo, bandeira inicial do PT.

6. Queremos, por fim, anunciar que a nossa opção partidária será o Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL).


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Pedro Micussi