Uma reflexão sobre a via chilena ao socialismo

Contribuição individual recebida pela Revista Movimento sobre a via chilena ao socialismo a 47 anos da vitória da Unidade Popular no Chile.

Alonso Ignacio Salinas Garcia 11 set 2017, 13:10

Na segunda-feira passada, 4 de setembro, completou 47 anos a vitória de um longo processo de unificação da esquerda chilena, um longo processo político que começou com a Frente de Ação Popular (FRAP) e se consolidou no ano de 1971 com o ingresso da Esquerda Cristã (Izquierda Cristiana). Foi a primeira vez que um candidato socialista venceu eleições num Estado de Direito com um projeto que apontava diretamente à construção de uma sociedade socialista.

Como também hoje, 11 de setembro, completa 44 anos o fatídico golpe de estado que levou o Chile a viver uma das ditaduras mais cruéis e brutais do mundo.

É ante a essas recordações românticas e dolorosas que me ponho a escrever uma reflexão sobre o que nos ensinaram os êxitos, fracassos e dúvidas de um dos processos mais bonitos que já viveu nossa América Latina.

Necessidade das condições e formas para a unidade da esquerda

O primeiro ensinamento é a importância de uma esquerda unida, a importância de um entendimento político para o caminho para o socialismo. Mas aqui há uma armadilha, como aponta Vladimir Safatle em entrevista:

Fala-se em uma frente de esquerda, mas para quê? Não está claro. O que se quer? O objetivo é retomar o que foi feito antes, com um ajuste aqui e outro ali? Ou seria fazer diferente? Mas o quê? Seria bom discutir outros questões mais elementares. O que a esquerda tem hoje a oferecer ao Brasil, a não ser resistências pontuais: dizer não a esta ou àquela reforma? Sem respostas a estes pontos, sua força de mobilização diminui substancialmente. Ninguém vai às ruas apenas para dizer não. Você mobiliza quando é capaz de levar os cidadãos a pensar em uma possibilidade que ainda não se configurou, mas é viável.

Uma simples coalizão eleitoral sem conteúdo implica em não ser um projeto transformador. Uma proposta de unidade vazia equivale a:

  1. Ao não existir uma aliança mais programática e profundamente unida por um compromisso orgânico, os partidos com maior poder econômico, força social e de maior quantidade de votos ou capacidade de captar votos realizarão práticas “intimidatórias” de restringir projetos e governar mais para eles do que para a coalizão, buscarão dominar minando a igualdade de condições necessária para o debate.
  2. Pela mesma razão, a inexistência de compromissos orgânicos e uma coalizão com seu próprio organismo, não existirão mecanismos para impedir que não se cumpram os objetivos imediatos e, a longo prazo, como os membros dessa aliança podem esquecer o projeto e boicotá-lo por dentro sem dificuldade, a soma das forças e a maioria nacional são deixadas de lado.
  3. Ao ser unicamente eleitoralista, vai priorizar ganhar ou ser maioria antes da “não-contraprodução”, pois qualquer partido poderia integrar. Partidos sem práticas democráticas, partidos financiados de forma irregular, entre outros casos, que comprometem o projeto antes de entrar. Isso não significa que todos devem pensar igual, mas sim, uma aliança não eleitoral tem critérios que protegem sua organização e finalidade; não ser financiado por multinacionais ou pela classe governante, não ser um partido muito burocratizado, não permitir o desenvolvimento de violência de gênero etc.
  4. A aliança eleitoralista, além de carecer de critérios, compromissos sinceros e igualdade de condições (sem violência ou proselitismo que elimine o debate), possui um quarto problema: não aparece a longo prazo, não existe para transformar senão para governar ou não entende os processos sociais ou estruturais da sociedade a nível nacional e internacional.

A esquerda deve se recusar a seguir a lógica da terceira via, não devemos governar como faria o adversário para poder ganhar eleições, não podemos cair na lógica dos partidos cartéis de buscar postos e poder para enriquecer uma nova elite, devemos ter um projeto político e objetivos comuns.

As formas e fundos em que a esquerda deve se unir são chaves e é aí onde vemos uma das lições que devemos tirar da Unidade Popular; a existência de diálogos e instâncias formais em níveis distintos; sindical, estudantil, camponês etc. Entre os diversos organismos de esquerda para se poder se organizar e desenvolver um projeto. Como também um projeto comum, que apesar de seus diferentes nuances — pois não existe uma única receita nem uma única visão do que é o socialismo realmente — possui pontos transversais. É a partir do comum e do singular que podemos estabelecer uma aliança política que caminhe pela via ao socialismo.

A unidade da esquerda e a forma em que essa se deve dar são apenas a ponta do iceberg que vamos visualizar para construir essa reflexão da vitória e governo da Unidade Popular.

Expansão do sujeito revolucionário: a mulher e os indígenas

Mulheres e feminismo

Quando todo mundo era operário e às vezes camponês, se começou a falar de feminismo novamente no Chile, os escritos e discursos de Luis Emilio Recabarren — fundador do Partido Comunista do Chile — foram lidos novamente e se buscou abordar as temáticas que exigiam a dupla ou inclusive tripla exploração que sofria a mulher. Claramente ficou para trás a Unidade Popular, algo que não pode acontecer novamente para a esquerda, e agora que o feminismo toma força a nível global, a esquerda deve compreender que sem mulheres não há revolução e as feministas devem se dar conta que não existe um feminismo transformador do modelo capitalista e como Gladys ou Lemebel optar pelo anticapitalismo.

É certo que a esquerda até agora tem sido vítima da mesma sociedade em que se concebeu, o machismo existe até nas estruturas mais democráticas, não existem espaços totalmente livres do patriarcado, mas isso não é resultado da teoria marxista por si mesma, muito menos uma desculpa para se recusar a participar na edificação de uma sociedade distinta desde uma perspectiva científica. Mas nos partidos tradicionais marxistas, desde os próximos à figura de Stalin como os sociaisdemocratas, cometeram a aberração de reduzir o sujeito político ao ponto de reduzí-lo somente a uma classe: o proletário. Conceberam exclusivamente a contradição capital/trabalho, esquecendo a dicotomia de violência e dominação do homem heterossexual branco sobre a sociedade civil.

Rousseau no Contrato Social estabeleceu uma diferença entre “decreto” e “lei”: o decreto é uma declaração de interesses particulares na sociedade enquanto a lei é a declaração universal da vontade que é geral que passa a ser um direito natural — algo condicionado e perpetuado por sua própria natureza –, a igualdade como condição exclusiva de participação dos homens é condenar a irredutibilidade da vontade geral, por isso dizer “não há revolução sem mulheres” não é um slogan mas uma condição sociológica das transformações sociais.

Então quando falamos da relação entre feminismo e marxismo, do marxismo podemos dizer duas coisas:

  1. O patriarcado se perpetua nas mãos dos próprios socialistas que ironicamente nasceram da Revolução Francesa declarando três princípios: fraternidade, igualdade e liberdade. Que fraternidade pode existir se os militantes de um partido revolucionário não são iguais? Que sociedade pode ser fraternal se não existe igualdade em todos os espaços — vida familiar, direitos reprodutivos, mundo do trabalho, etc? Que liberdade existe se um gênero está acorrentando outro? E assim sucessivamente podemos nos perguntar continuamente que sociedade nova podemos criar como revolucionários se negamos a mulher como sujeito político e esquecemos que o feminismo é um instrumento revolucionário como o marxismo, e a resposta será sempre a mesma, nenhuma.
  2. A mesma luta de classes se transforma em derrota garantida ou vitória pírrica pela divisão de marxismo e feminismo. A redução do sujeito político impede a construção de uma sociedade nova. A vontade coletiva nacional sobre a qual nos fala Gramsci nasce da vontade geral de Rousseau, é a força social — não eleitoral — que perpetua as transformações políticas como reformas morais, as mudanças na cultura dentro da sociedade civil, e essa vontade é a condição das transformações. Se toda dominação é voluntária e o silêncio do povo o faz cúmplice da sua exploração, então toda mudança é voluntária da sociedade em seu conjunto e deve ser o próprio povo a romper suas correntes.

Quando historicamente se impossibilita a articulação da sociedade civil completa — ao negar por exemplo a mulher como sujeito político e sua luta — é quando historicamente a esquerda é em parte culpável de seus diversos fracassos. Que luta de classes existe quando mais da metade dos oprimidos não se sente completamente chamada a essa luta e seus supostos companheiros as deixam acorrentadas? Nenhuma, não haverá uma esquerda bem-sucedida se não for feminista. Se queremos abolir as classes sociais não podemos esquecer que a primeira opressão de classes foi a do sexo feminino pelo masculino.

Nas palavras de Leon Trotsky: “Uma revolução não é digna desse nome se com todo o poder e todos os meios de que dispõe não for capaz de ajudar a mulher – dupla ou triplamente escravizada, como foi no passado – a erguer-se e avançar pelo caminho do progresso social e individual.”

Ante a crise do marxismo e do sujeito político, muitas feministas que compreendem a teoria marxista se marginalizam de forma igual as que a desconhecem, pensando que sua luta é só para elas e não para a humanidade, acreditando que só conseguirão conseguir seus interesses sozinhas. Mas isso é mais do que um erro, é uma aberração. O materialismo histórico fundamenta cientificamente o projeto socialista, o qual é projeto de uma sociedade livre do patriarcado — como deixam bem claro os socialistas antes mencionados –, como também humaniza nossa compreensão da sociedade: seus conflitos se conhecem na medida de nossa própria ação e conhecimento, e não com princípios opacos e/ou divinos. O marxismo é a chave que pode ajudar a edificação de um feminismo de massas e não exclusivamente de escritório.

A luta feminista está tão ligada à superestrutura e à infraestrutura da sociedade que é inconcebível pensar num mundo onde não necessitemos marchar “Nem uma a menos” dentro da ideologia burguesa ou com um sistema produtivo baseado na apropriação das riquezas por parte minúscula da sociedade. A luta feminista é parte da luta de classes e o feminismo é parte da consciência de classe.

A todas aquelas que acreditam que sua luta é somente para elas e exclusivamente levada a cabo por elas, coloco respectivamente dois pontos para a reflexão:

  1. Por acaso o patriarcado só prejudica as mulheres? Não esqueçam que os papeis de gênero afetam toda a humanidade, a violência masculina não é produto do paradigma de Henrik Ibsen na sua obra Casa de Bonecas: a mulher como propriedade — boneca — do pai e logo do marido, mas que os complexos psicológicos e o desenvolvimento da personalidade de todos os homens é igualmente preparado pelo sistema patriarcal. Toda a violência que vive a humanidade; homicídios, guerras, genocídios, entre outros são produto do casamento ímpio entre os interesses das classes dominantes e a violência em que se criam os homens. Os homens sofrem a imposição de papeis de gênero e a humanidade sofre a violência com que nos cria o patriarcado: não pode haver paz num mundo onde o desenvolvimento da personalidade é ao redor de padrões ou fixações fálicas de poder. O feminismo não é a luta exclusiva das mulheres, é a luta pela humanidade.
  2. Karl Marx no Manifesto Comunista apontou: “A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes”. Desde as guerras civis romanas até a luta por direitos civis nos EUA tem sido o embate entre os despossuídos e os privilegiados: direitos e reconhecimento contra privilégios e benefícios particulares. Assim mesmo surgiu o feminismo do iluminismo e a Revolução Francesa — assim como o socialismo –, na busca de seus interesses de classe e inclusive da humanidade, sendo seu maior exemplo o texto Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã (escrito por Olympe de Gouges em 1791). Mas como a mulher foi excluída desse processo — que ela mesmo começou — não conseguiu cumprir seus interesses, como por sua vez os revolucionários girondinos e jacobinos não mudaram a sociedade nem instauraram uma nova ordem perene. A luta de classes exige do campo político antes mencionado, sem mulheres não há revolução. Como para que as mulheres derrubarem o patriarcado necessitam de toda a humanidade — como essa necessita o feminismo. É o socialismo, nas palavras de Rosa Luxemburgo, “o mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres”, onde a mulher se realizará completamente, onde o patriarcado será arrancado das camas, dos empregos, do lar, escolas e imprensa. A luta feminista, como não é apenas para as mulheres mas para a humanidade, é também a luta da humanidade, não só das mulheres.

As feministas devem se distanciar dos últimos anos marcados pelo marketing do falso empoderamento e a dominação do corporativismo feminista e abraçar um projeto socialista, porque é o único que pode oferecer uma verdadeira libertação.

Os povos originários e o indigenismo

Dentro da abertura do sujeito revolucionário, o caso da mulher não é o único onde a Unidade Popular buscou inovar e inovou, mas há também o caso dos indígenas, parte essencial dos nossos países latinoamericanos. Antes se considerava os mapuche outra parte do campesinato e foi só em 1971 com a intervenção de Bosco Parra — fundador e dirigente da Esquerda Cristã — que pela primeira vez o Chile pensou o indígena como um povo próprio e autônomo do chileno; que possui suas próprias contradições, visões de mundo, formas de opressão dentro de sua cultura e que sofreu uma forma de coerção própria do Estado Chileno e do sistema capitalista por mais de um século.

Os índios da nossa América possuem uma visão de mundo própria, apesar de muitos terem sido convertidos ao cristianismo católico ou terem passado pelos processos de urbanização ou proletarização, tem um conflito espiritual que se pode compreender na segunda contradição do capitalismo segundo Marx, o conflito capital/natureza. Como também relações de violência física e simbólica dentro de sua cultura que devem ser transformadas, como a violência doméstica e outros efeitos do patriarcado que muitas comunidades sofrem. Somado finalmente às formas exclusivas de dominação que sofrem os povos indígenas:

  • Alcoolismo e lumpen-proletarização promovidos pela segregação social e o pós-apartheid que sofrem os índios por parte do mercado e a falta de políticas do Estado que busquem seu cuidado e preservação.
  • Terrorismo de Estado com o qual se defendem os interesses econômicos das multinacionais e seus financiadores, que inclui repressão, torturas, desaparecimentos, assassinatos, deslocamentos forçados etc.
  • Violência simbólica efetuada através dos aparatos ideológicos do Estado pela classe burguesa. Que busca legitimar sua propriedade da terra e suas propriedades como a florestal, criando uma visão invertida da realidade, uma ideologia dentro da mesma sociedade civil, a ideia que os diversos povos indígenas são terroristas, alcoólatras e bárbaros.

É por isso que a Esquerda Cristã planejou e colocou em prática uma aliança estratégica que entendia que a libertação operária, camponesa e mapuche se daria na medida em que se trabalhasse de forma conjunta pelos objetivos de classe e culturais que cada um desejava conquistar. Daí porque o povo mapuche até hoje em dia se apresenta como uma força de extrema-esquerda que, ao contrário dos aldeões e camponeses, não sofreu uma despolitização.

Os índios com seu modo de vida e organização representam uma enorme massa transformadora se você os escuta e de forma humilde apresenta uma aliança estratégica, sem eles quase nenhum país na América Latina poderia avançar para o socialismo.

A esquerda deve tomar essa expansão do sujeito revolucionário e compreensão mais ampla da libertação do povo para poder ser realmente transformadora e bem-sucedida ao mesmo tempo. No Brasil faz falta uma aliança estratégica com os diversos povos e tribos indígenas, na Nicarágua falta que o sandinismo abandone seus laços conservadores para aprofundar sua revolução, se unindo com o feminismo. A esquerda deve voltar a ver o Chile e sua história e aprender.

Economia dentro do capitalismo e fora dele, a propridade e o socialismo

A esquerda de hoje — ao contrário da “centro esquerda” que muitas vezes promove os mesmos ideais que a direita –, dentro da fantasia do pós-keynesianoismo acredita que pelo bombeamento constante da economia, através do déficit fiscal e da emissão monitária, pode deixar todos felizes. Mas no sistema capitalista quando se tenta melhorar a vida de alguns não se pode evitar que outros estejam pior, especificamente na rentabilidade empresária. A pergunta que muitos têm feito, como aconteceu no Brasil do PT ou nos projetos das antigas guerrilhas como em Angola ou Moçambique, como se pode melhorar um lado sem cruzar o umbral onde o outro lado se dana de tal maneira que se obtém, por exemplo, fugas de capital. É um caminho delicado. Se se decide manter os salários altos, a produtividade deve subir mais rápido porque do contrário começam os problemas em torno da rentabilidade e da inflação.

Esse é o difícil caminho dos projetos de esquerda pós-Guerra Fria. Se se permanece dentro do capitalismo, que é geralmente uma pergunta que ninguém se faz, então estão os limites próprios desse sistema. Não existe essa ideia que a Concertação do Chile inventou de “crescimento com igualdade”. Simplesmente quando há muito capital fictício na economia — característica do sistema neoliberal que vivemos –, isso é, muitos ativos seguem tendo valor porque o Estado sempre está aí para mantê-los e salvar o sistema do colapso, é que existe um vazio de desenvolvimento que golpeia uma vez ou outra aos contribuintes que deverão pagar as dívidas do setor privado, gerando um colapso para o consumidor. Sendo ele apenas a borda de um sistema que é incapaz de resolver suas próprias contradições.

Não há uma solução para os problemas sociais dentro do sistema capitalista nos países desenvolvidos, muito menos no Terceiro Mundo, em particular na América Latina. Há que se deixar de buscar fórmulas e truques para que a economia capitalista funcione, há que se voltar a um projeto socialista. Por ele há que se tomar as medidas da Unidade Popular, tanto as bem-sucedidas como as que fracassaram, para dar uma perspectiva econômica ao projeto da esquerda dentro e fora do capitalismo, na sua etapa de transição e superação.

Dentro do livre mercado em uma economia com certo desenvolvimento industrial a nacionalização de pontos estratégicos significou o crescimento e a maior produtividade de vários setores que permitiram ao Chile em 1971 baixar seu desemprego e inflação aos níveis mais baixos até hoje. Para economias em condições similares parece uma boa opção, mas sempre compreendendo as consequências internacionais daquelas medidas, deve existir um plano econômico e político para resistir aos ataques econômicos e atos sufocantes que se pode sofrer e uma dessas medidas não pode ser as emissões de dinheiro.

Essas emissões tiveram um período de tempo durante o qual não produziram inflação, ao menos momentaneamente. E funcionou, ao menos o primeiro ano, em que se duplicou o dinheiro, a inflação foi baixa e o PIB cresceu em 8%. Mas ao finalizar o ano de 1971 apareceram os primeiros problemas econômicos. O déficit orçamentário cresceu num ritmo acelerado, passando de 3,5% do PIB em 1970 a 9,8% em 1971; a política monetária se descontrolou ao crédito do setor público crescer 124%; caiu o nível de reservas internacionais de 394 milhões de dólares (1970) a 163 (1971), motivo pelo qual o governo da Unidade Popular suspendeu o serviço da dívida externa; a balança comercial passou de um superávit de 95 milhões ao iniciar o governo a um déficit de 90 milhões, na sequência da queda abrupta do preço do cobre; por causa do incremento dos salários reais e dos controle de preço houve uma contração dos lucros das empresas; os primeiros sinais de desabastecimento aparecem no segundo trimestre de 1971, que terminou com o surgimento de um mercado negro em expansão.

Não é uma boa medida produzir dinheiro sem respaldo, não funcionou para a Alemanha de Weimar nem muito menos para um projeto socialista na América Latina.

Mas isso dentro do sistema capitalista, algo que toda a esquerda deveria voltar a questionar e começar a gestionar uma saída daquele sistema que não tem lugar. Pois algo bom dentro das medidas econômicas — que também foram políticas — da Unidade Popular foi o desenvolvimento de cordões industriais e intervenção do trabalhador em seu meio produtivo, tanto na direção de sua produção como na distribuição dos lucros, que é o início do desenvolvimento de novas noções de propriedade que geram uma nova economia, a economia socialista.

No caminho ao socialismo, devemos evitar a centralização e a planificação total da economia, por isso devemos considerar um fortalecimento de novas formas de propriedade, alternativas à propriedade privada dominante, que podem ajudar a melhorar esses vários aspectos problemáticos da economia. Nesse sentido, dentro das experiências da Unidade Popular e posteriores estudos, são três os modelos a considerar para o caminho para o socialismo de qualquer país:

  1. Empresas cooperativas e da economia social: Isso promoveria maior produtividade, crescimento do poder aquisitivo e inclusive algum entendimento com certo empresariado menos reacionário. É uma forma transitória para a socialização dos meios de produção, embora com um problema, a vulnerabilidade de se degenerar em formas de propriedade privada ou a serem adquiridas por capital privado. Isso se dá principalmente quando existem períodos de estresse financeiro, impulsionados pela dificuldade dessas empresas para acessar crédito diante das maiores percepções de risco por parte do setor financeiro privado. Por isso é que se deve: gerar instituições “guarda-chuvas” que ofereçam apoio financeiro e institucional; evitar através da influência dos sindicatos e, se necessário, do Estado a compra por parte do capital privado; promover esse tipo de propriedade em indústrias pesadas ou médias exclusivamente, segundo a capacidade do Estado e as condições econômicas prévias de cada país, impedindo o possível fracasso por incapacidade de manutenção ou subsídios das instituições guarda-chuvas. Deve ficar claro que esse modelo produtivo poderia funcionar com uma classe empresarial mais progressista e inclusive socialista como supunham os velhos socialistas utópicos e empresários de esquerda como Owen, mas isso é especialmente difícil na América Latina. Por isso é que, se tal processo é iniciado, exigirá um investimento de agentes externos como a Corporação Mondragón e/ou simplesmente estar preparados para brigar dentro desse modelo com a classe burguesa. Aqui a existência dos investimentos da China é agradável e muito importante para um desenvolvimento ideal desse modelo.
  2. Propriedade municipal e comunitária: Enquanto a propriedade municipal se refere a controle e operação municipal da propriedade — por exemplo, os serviços e sistemas como coleta de lixo, gerenciamento de parques, fornecimento de serviços de banda larga etc. — a propriedade dirigida localmente não necessariamente se refere à propriedade no sentido “físico” mas ao fato de que, mais que interesses corporativos, são os interesses da comunidade os que se “apropriam” de certa área econômica. Nesse sentido, tem mais a ver com o controle do que com a propriedade. O objetivo de ambos os tipos de propriedade é a promoção do envolvimento local no processo de tomada de decisão dos negócios que operam em cada localidade. Para isso, propõem desde o encadeamento produtivo local até bancos locais, orçamentos participativos, participação comunitária nos esquemas de energia ou deslocalização de instituições do governo central para os territórios. Esse tipo de propriedade é muito próximo das ideias mutualistas e descentralizadoras necessárias para o próprio socialismo, uma democracia no plano político e econômico que também garante o descondensamento e a descentralização, importante necessidade para os processos fracassados do socialismo real. O estabelecimento desse tipo de propriedade e administração seriam muito efetivos para contrariar os possíveis desabastecimentos, desempregos e todo tipo de precarizações que possam levar a ações asfixiantes diante das políticas de nacionalização e o desenvolvimento de cooperativas. Somado aos enormes retorno que dão ao desenvolvimento de uma vontade nacional coletiva e o desenvolvimento de um cidadão marshaliano (participativo e crítico) seria como um processo até educador, seria útil no desenvolvimento político e social para uma sociedade socialista.
  3. A propriedade nacional ou empresas do Estado: O desenvolvimento desse modelo deve ser cuidadoso e com corte de cirurgião, pois seu crescimento excessivo pode se degenerar em um capitalismo de Estado que continue a contradição capital/trabalho e a atitude globalizadora que destrói a natureza. Aqui o planejamento da Unidade Popular é maravilhosa e graças a essa podemos entender onde deve se desenvolver a propriedade estatal: os setores caracterizados por serem monopólios naturais onde na prática não é possível o desenvolvimento de uma livre concorrência entre cooperativas ou a administração local por parte de comunidades; os setores que exigem a realização de grandes investimentos que são necessários para desenvolver setores que são intensivos em capital; os serviços que exigem tratamento e execução iguais para todos os consumidores; e finalmente os setores da economia que exigem uma planificação a longo prazo, claramente os setores chave das economias extrativistas e indústrias menores — como a indústria da farinha ou do açúcar.

Esses três tipos de propriedade podem ser transitórios como também complementares e ir de mãos dadas na transição e desenvolvimento do socialismo, não são antagonistas entre si.

O socialismo e o meio ambiente: rumo a um ecossocialismo planetário

A ideia de crise ambiental global foi e é o paradoxo de que o crescimento econômico, junto ao elevado nível de desenvolvimento e padrão de vida alcançado pela “civilização industrial”, criou problemas de caráter ambiental e/ou ecológico de tão enorme magnitude que pela primeira vez na história a continuidade da vida humana no planeta, bem como o processo da vida do próprio planeta, foi posta em risco. Entre esses problemas se destacam a contaminação, a perda de biodiversidade, as mudanças climáticas, o esgotamento dos recursos naturais, a destruição da camada de ozônio, a chamada “explosão demográfica”, assim como o risco de uma hecatombe nuclear, por motivos bélicos ou por motivos acidentais decorrentes do uso de energia nuclear para gerar eletricidade.

Diante dessa crise, o governo da Unidade Popular foi o primeiro governo socialista, entre todas as experiências de África a Europa ou de América a Asia, a considerar o que o grande socialista Murray Bookchin e seus seguidores inventaram anos depois, a ideia da “planetarização”.

A ideia da importância de todos os aspectos possíveis, em especial a singularidade de todos os atores, a ideia de que o desenvolvimento não é mais importante que todas as coisas — do que os índios e suas comunidades, do que a vida animal, do que o equilíbrio da natureza etc. A ideia — embora próxima da pós-verdade — de um profundo amor pela natureza e a busca de uma vida em equilíbrio com essa, um verdadeiro resgate dos ideais de Karl Marx diante das poderosas ideias da industrialização e extrativismo imprudente expostas pelos socialismos reais. Exemplos dessas ações que a esquerda deve tomar são:

  1. A difusão de eventos científicos no Chile onde o tema ambiental é analisado: Nesse mesmo sentido os eventos de divulgação científica sobre questões ambientais devem ser permanentemente informados, como quando o Partido Comunista Chileno anunciou através do seu diário uma conferência do cientista Cinna Lommitz no salão de honra da Universidade Católica sobre a relação entre o “esgotamento dos recursos naturais e subdesenvolvimento” (El Siglo: 11/05/1970: 7). Da mesma forma devem ser feitos relatórios de institutos universitários e organismos do Estado dedicados a estudar e combater problemas ambientais, como fez o governo popular quando informava sobre o “Instituto de Higiene do Trabalho e Contaminação” pertencente ao Serviço Nacional de Saúde e que, entre outras medidas, “permitia proteger o trabalhador industrial” ao “estudar a névoa da atmosfera das cidades” e também trabalhava estreitamente com o “Departamento de Saúde Pública e Medicina Social da Universidade do Chile”, que era o único do seu tipo na América Latina e seus alunos eram tanto chilenos como estrangeiros.
  2. Luta contra a poluição atmosférica: Um dos temas amplamente tratados nessa época foi o da poluição atmosférica que, produto da atividade industrial e do transporte, havia se convertido em um problema sério para a saúde da população na capital densamente populosa do país. Algo que até hoje em dia afeta a capital do Chile, Santiago, e a muitas cidades do mundo. Um governo socialista tem a obrigação moral de buscar solucionar essa poluição, para o bem das trabalhadores e dos trabalhadores, como da natureza e de toda a vida na Terra.
  3. O combate a outros tipos de poluição: Não se trata unicamente de combater a poluição atmosférica, mas também se deve denunciar e enfrentar outros tipos de poluição como o produzido pelas águas residuais, situação muito comum em todos os países da América Latina.
  4. Reciclagem do lixo: Para o desenvolvimento do ideal da planetarização é necessário terminar em particular com esse tipo de poluição, que é produto da segunda contradição do capital (capital/natureza), que não é atenuada pelos discursos ecológicos azuis (discurso hegemônico de Gro Brundtland) nem a alternativa do socialismo real que representam os pólos da maquinaria industrial que destrói tudo pela produtividade e pelo desenvolvimento. A Unidade Popular instaurou projetos pioneiros como o de instalar uma planta de processamento e reciclagem de lixo que evitaria o contágio de doenças infecciosas, purificaria a atmosfera do setor e re-utilizaria recursos como papeis, vidros e metais. Projeto divulgado pelo então Ministro de Obras Públicas e Transportes, Pascual Barraza, do partido comunista.
  5. Proteção e uso racional dos recursos naturais..
  6. Injeção de recursos públicos em carreiras universitárias e técnicas relacionadas ao cuidado e preservação do meio ambiente.
  7. Reflorestamento: O início da campanha de “Consciência Florestal” da Corporação de Fomento e Reconstrução (CORFO), anunciada pelo ministro Jaime Toná, é uma experiência imperdível de estudo, pois as florestas são os pulmões do planeta e as florestas significam diversidade, não milhares de hectares de pinheiros. O governo socialista de Allende compreendeu, como todos devemos fazer, que o reflorestamento é primordial para o equilíbrio do planeta, mas apesar dos custos deve ser feito na diversidade, pois se você planta só um tipo de árvore termina matando a enorme variedade de vida nas regiões, inclusive prejudica o estilo de vida das comunidades indígenas. Outro exemplo da ideia planetarizante do governo da Unidade Popular que devemos por ética e moral, por sobrevivência, para a edificação do socialismo em nossos países. Cabe destacar também o significado desse projeto para a sociedade civil e para o desenvolvimento da luta de classes. Esse tipo de projeto se une às maiorias e constrói o tecido social necessário para a revolução. Ele dialoga com os índios e com os ecologistas e se integra no projeto político por uma sociedade diferente e melhor. Isso foi entendido pela Unidade Popular, por exemplo o dirigente universitário das juventudes comunistas, Alejandro Rojas, pontuava que entre as novas formas de trabalho voluntário que todos os verões os estudantes realizavam na comunidade civil iam a participar da “gigantesca tarefa de reflorestar o país” (Rojas, El Siglo, 18/11/1970: 2).
  8. Desenvolvimento de energias renováveis não-convencionais.

A esquerda, se quiser desejar maiorias ainda maiores, deve ouvir e integrar os verdes, como também se deseja criar uma sociedade melhor precisa salvar o planeta da crise ambiental. Ainda mais se quer um projeto socialista precisa levar a sério a ideia de planetarização e abandonar os ideais produtivistas da globalização do ecologismo conservador ou estalinista. Isso requer a aprendizagem que nos dão os curtos 3 anos da Unidade Popular no Chile.

A eliminação do personalismo e do caudilhismo: descondensamento e descentraliação

“Porque dessa vez não se trata de mudar um presidente, serão as pessoas que construirão um Chile bem diferente” (Joaquin Pavez, hino da Unidade Popular)

Já na expressão folclórica a esquerda chilena mostrava seu caráter anti-personalista, um caráter raro e difícil de encontrar, em especial quando vemos o exemplo dos companheiros da Venezuela — que hoje vivem um terrível turbilhão de violência com o caudilhismo, intencional ou não, de Hugo Chávez. E é que esse esforço, quase excessivo do governo do presidente Allende, é o caráter de toda verdadeira revolução que se queira apresentar como bem-sucedida. As revoluções pertencem, como a história, ao povo e só a esse — não a algum iluminado ou bem-aventurado, mas só ao povo.

O fracasso de diversos processos socialistas pode ser considerado dentro da ideia de que não se construiu um projeto político enraizado no mundo popular do mundo popular; a gerência do amor ao patrão, o enaltecimento dos valores nacionais que a longo prazo se tornam reacionários, as projeções individuais e coletivas do povo sobre um líder.

Criado do primeiro ponto de vista, um governo baseado num mecanismo de legitimação que usam os “bons” patrões de fundos é o que danifica de forma irreversível a criação de um novo homem, como diria Che. Por outro lado, a técnica que foi usada por muitos populistas — em especial a ultra-direita — também foi utilizada por certa esquerda, em especial em países da Europa Oriental como também em termos mais tribais por governos como o da Etiópia ou da Somália, países que colapsaram nas mãos dos seus próprios cidadãos e não necessariamente por seus vislumbres totalitários mas porque somente se modificou a infra-estrutura econômica sob a legitimidade de um governo de direita, provocando que a hegemonia cultural seja a mesma que antes; permitindo que o germe reacionário não só se desenvolva mas mantenha costumes anti-socialistas e mantendo uma alta centralização e hierarquização da sociedade, ao fim e ao cabo, não eram utopias na Terra. Finalmente no último caso vemos a explicação de Feuerbach sobre a suposta origem antropológica da religião, as proteções e desejos, mas aplicado em um sentido político-social, de um populismo de esquerda se conquista o poder para se perdê-lo, o povo segue um pastor e quando este morre o rebanho fica no caos, assim foi com a morte de Olof Palme, de Agostinho Neto, de Tito ou de Hugo Chávez.

É extremamente necessário remover o aspecto pessoal, inclusive nas repúblicas burguesas de ordem presidencialista, para poder desenvolver um projeto que seja descondensado em diversas figuras públicas com uma participação ativa do povo que descentralize o povo e efetue a transformação cultural em todos os aspectos para superar todos os tipos de opressão existentes na sociedade. É necessário para toda a esquerda imitar o modelo anti-caudilhista da Unidade Popular.

Para os cristãos de esquerda

Nosso papel dentro do governo da Unidade Popular foi imprescindível, tivemos o primeiro e único governador eleito por Poder Popular, o companheiro Arturo Rivero Blancos em Constitución, como também foi graças a nosso enorme esforço com o qual a base social do projeto socialista cresceu no Chile e o povo mapuche foi reconhecido como tal pela esquerda etc. Mas isso não é para lançar flores e nos magnificar quando não devemos. Pelo contrário, devemos ser os mais humildes dos mais humildes. Fizemos muito, mas também nos equivocamos e nos falta muito a realizar.

Não existe uma revolução cristã; existe uma revolução, a socialista e nada mais, e é aí onde devemos estar sempre, optando pela unidade da esquerda e colaborando em construí-la com cada decisão que tomamos. Nunca por caminho próprio e impedindo aqueles que se dizem cristãos de caírem na apolítica, porque nosso evangelho, a mensagem de Cristo — não a moral imposta sob o título de lei sagrada pelos judeus e pelo Vaticano — é completamente político; o cristianismo é a promessa de igualdade e justiça, o socialismo a oportunidade histórica de concretizar tais promessas.

E sabemos que o domicílio político é onde devemos seguir a Jesus Cristo operário e camponês, com nossa opção preferencial pelos oprimidos. Devemos nos jogar para construir essa vontade coletiva nacional com trabalho político e popular que dá as ferramentas ao conjunto do povo para que viva melhor o agora e se prepara para o porvir, arriscando educação popular e promoção popular.

Nós, no Chile, desde que começamos a existir nos declaramos um partido ajudante, que colabora com o povo e sua missão é lhe dar todas as ferramentas para sua emancipação. Depois de quase desaparecer como partido e ser esquecidos voltamos para seguir colaborando do povo e junto ao povo na construção de uma sociedade melhor. Adotamos uma reforma de princípios e com a opção preferencial pelos oprimidos optamos por criar um Manifesto Feminista com nosso papel na luta pela emancipação da mulher — contra opressões construídas também pela religião cristã –, estamos em processo de reconstruir a já mencionada Aliança Estratégica com o povo mapuche, adotamos o ecossocialismo e estamos por aprofundar nossos princípios com autores como Murray Bookchin e agora estamos trabalhando desde a Frente Ampla (Frente Amplio) pela unidade da esquerda.

Os cristãos devem se organizar como nós com os mesmos objetivos e princípios, e colaborar com a realização das diversas aprendizagens expostas aqui como os que a Teologia da Libertação exige.

Conclusão

O projeto político da Unidade Popular e a forma como ele se desenvolveu foi resultado de décadas de um processo democratizador dentro do Chile, que ampliou a participação política a setores marginalizados da sociedade. Hoje com condições democráticas muito maiores em nossos distintos países é que deveríamos retomar as aprendizagens e voltar a nos dirigir ao socialismo com o que aprendemos da Unidade Popular.

É necessário nos unirmos a nível nacional e global, com um organismo democrático e participativo que permita o diálogo e o debate, e impeça as maquinarias e atos mesquinhos de um partido sobre outro. É mais que uma obrigação teórica e social ampliar o clássico sujeito revolucionário e tomar o feminismo e o indigenismo para criar um novo mundo. É algo essencial evitar os erros econômicos do passado e pensar em novos modelos de propriedade para construir uma sociedade socialista, evitando a burocratização, centralização e condensação do Estado que podem resultar no colapso ou no desenvolvimento de um capitalismo de Estado que siga reproduzindo as contradições do capitalismo clássico. É necessário optar pelas ideias da planetarização sobre a globalização e construir um ecossocialismo que se preocupe com a singularidade e ame o meio ambiente para chamar os verdes à única revolução que existe, a socialista; salvar o planeta de sua destruição; viver em equilíbrio com toda vida e preservá-la; construir a utopia sonhada por Marx etc. Devemos superar o fenômeno do caudilhismo que sofre a esquerda, em especial na América Latina, devemos seguir o exemplo de Salvador Allende.

Agora simplesmente nos fica a imensa tarefa de mudar o mundo. O cenário é dantesco, mas como David subjugou Golias, o povo vencerá a opressão.

Viva o Chile! Viva a América Latina unida! Viva os trabalhadores!


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Pedro Micussi