2017: o ano sem Greve dos Bancários, o ano de ofensiva dos banqueiros e do governo

Sobre os acordos de cúpula do sindicato dos bancários e as razões de não haver greve este ano.

Silvio Kanner 27 set 2017, 14:00

No ano passado, a CONTRAF/CUT e a CONTEC/UGT, depois de 30 dias de uma dura greve nacional concordaram nos seus comandos, na cúpula, em aceitar a proposta de acordo com os banqueiros e com o governo na mesa da FENABAN, mas a proposta continha uma inovação: pela primeira vez na história a Convenção Coletiva Nacional – CCT e os diversos Acordos Específicos teriam validade de dois anos. Todos os setores de oposição eram contrários ao acordo de dois anos e a categoria o via com desconfiança.
Tudo indica que os banqueiros sabiam exatamente o que estavam fazendo e que as direções nacionais dos bancários (CONTRAF/CUT e CONTEC/UGT) ou foram ingênuos ou coniventes, nos dois casos os resultado é o mesmo, os bancários e bancárias estão engessados no momento em que mais precisam lutar.

Os banqueiros aproveitaram 2017 para uma ofensiva contra os trabalhadores com reestruturações, fechamento de agências, corte de comissões, além de uma onda de programas de incentivo a aposentadoria e, como se não bastasse, as mudanças promovidas pelo governo na legislação do trabalho que afetam duramente os bancários. Uma vez que há um acordo assinado as possibilidades jurídicas para uma greve tornam-se muito reduzidas restringe-se apenas a uma revolta das bases que além de enfrentar os banqueiros e o governo teríamos que fazê-lo sem seu aparato sindical e sem o apoio de seus “lideres”. Neste caso especifico a posição das confederações inviabiliza qualquer resistência.

O resultado geral é o paradoxo de não haver greve no ano de 2017, o ano da reforma trabalhista e das reestruturações gigantescas dos bancos estatais e privados, o ano da ofensiva dos banqueiros contra os trabalhadores. Acrescente-se ainda que este também é o ano do menor reajuste em vários anos: 2,73%.

Não obstante, a CONTRAF/CUT sabe que não pode ficar sem fazer nada neste ano, então criou um simulacro de campanha salarial com o objetivo de fortalecer seus projetos politico partidários, por isso lançou neste mês o calendário de uma “campanha em defesa dos bancos públicos”. A causa é nobre, mas esconde uma estratégia suja que levará os bancários a mais uma derrota.

A campanha se baseia em algo real, existe sim um objetivo privatizante no governo atual e os bancos estatais estão no foco, precisamos defendê-los, mas não podemos fazer isso sem a crítica à própria relação entre os esses bancos e as gestões do PT. Durante o período do PT no comando do país os bancos funcionaram como estrutura fisiológica para fortalecer o projeto de poder do PT (não é demais lembrar que Geddel era vice-presidente de PJ na CAIXA nomeado por Dilma) e como imensas bombas de recursos direto para o caixa do partido e para o bolso dos aliados, basta ver o caso da FUNCEF onde o seu ex-presidente, nomeado pelo PT, está sendo processado criminalmente e o caso do ex-presidente do BB Ademir Bendine, sem falar de Pizzolato e outros. A gestão do PT nos bancos estatais foi marcada pela corrupção.

Mas não é apenas isso, durante esse tempo o arrocho salarial e o assédio aos bancários não acabou, a gestão do PT nos bancos estatais não foi um mar de rosas para os trabalhadores, enfrentamos reestruturações, campanhas salariais difíceis e tivermos que conviver com o arrocho salarial imposto por FHC e nunca solucionado.

Uma campanha em defesa dos bancos públicos dirigida pela CONTRAF/CUT, para não se hipócrita deveria começar por uma autocritica.

Há mais. Esta campanha também tem um forte componente de efeito cortina de fumaça. Por duas razões. Primeiramente por que deixa de lado as pautas centrais em mais importantes para a categoria, por que estão relacionadas à sua vida real e de agora, imediata. Enfrentar as reestruturações, enfrentar os efeitos da reforma trabalhista, enfrentar os problemas específicos de cada banco é que a base da categoria esperava das confederações. Mas a CONTRAF/CUT não quer se enfrentar com os banqueiros e com o governo agora, trabalha para ver o “circo pegar fogo” na expectativa de que isso fortalece o projeto do PT relativamente a eleição de 2018.

Ao mesmo tempo não quer a base na campanha em defesa dos bancos públicos. Isto fica claro quando se percebe que não há nenhuma convocação de assembleia geral, a campanha em defesa dos bancos públicos na verdade é apenas um palanque para os sindicalistas e políticos do PT tentarem aparece mais uma vez, desta feita uma copia piorada, como os salvadores do Brasil.

Entendemos que os bancários devem participar da campanha, defender os bancos estatais é importante, mas devem estar conscientes de que isso é apenas uma manobra e devem exigir a realização de assembleias para a discussão dos problemas concretos. As confederações deveriam estar fazendo uma campanha nacional contra a reforma trabalhista, contra as reestruturações e pedir diretamente a saída do governo – essas assembleias devem apontar para a convocação de uma Greve Nacional dos Bancários com uma pauta vinculada à reforma trabalhista e as reestruturações e que enfrente o governo diretamente.

Esperamos que 2018 não seja tarde demais!

– Pelo fim das reestruturações.
– Revogação imediata da reforma trabalhista.
– Não à reforma da Previdência.
– Contratação de mais trabalhadores em todos os bancos estatais.
– Campanha pelas pautas especificas nos bancos estatais.
– Estabilidade no emprego nos bancos privados.


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