Balanço político do 6º Congresso Estadual do PSOL São Paulo
As tarefas do congresso foram intensificar a organização partidária, sobretudo no interior do estado onde o PSOL cresce com força, e afirmar o perfil independente e radical do PSOL.
Nosso congresso partidário se deu nos marcos de uma profunda crise de regime político no Brasil. Por um lado, o governo impopular e ilegítimo de Temer luta para se manter e aprovar as reformas exigidas pelo mercado mesmo diante de graves denúncias sobre seu núcleo político. Por outro, tenta rearticular a burguesia e sua partidocracia através de duros ataques contra os trabalhadores e do desmonte de investigações contra a corrupção, como a Lava Jato e seus desdobramentos. O projeto de Temer avança, como na absurda reforma trabalhista aprovada recentemente, mas sem conseguir construir uma nova estabilidade para completar seu plano geral, e sinal disso é a dificuldade do governo em aprovar a reforma da previdência.
O PSDB está saindo do governo e continua completamente dividido, o PT aposta todas as fichas na candidatura de Lula mesmo sob a sombra das denúncias de Palloci e o PMDB coleciona quadros dirigentes na cadeia enquanto articula tanto com o PT quanto com o PSDB para se manter ao máximo sugando os aparatos do Estado. Pela extrema direita, Bolsonaro representa os setores reacionários e também ocupa o espaço vazio da radicalidade no cenário político. Tudo isso marca um cenário de indefinições para os próximos meses e para as eleições presidenciais de 2018.
No estado de São Paulo a crise geral do país aparece na guerra interna do tucanato e na difícil situação na qual o PT está mergulhado. Doria, até então um dos nomes fortes do PSDB para a presidência em 2018, começa a sofrer os primeiros sinais de uma rejeição que promete se aprofundar. De forma exemplar, foi derrotado pelo PSOL na luta contra a ração humana para estudantes e para a população pobre, num conluio de interesses escusos denunciado pela companheira Samia Bomfim, vereadora na capital. Essa ação demonstra o potencial do PSOL, que também aparece no crescimento da expressão do Bloco de Esquerda, através das figuras dos nossos deputados estaduais, Giannazi e Raul Marcelo, das nossas vereadoras do interior, Mariana e Fernanda, além do mandato da Samia, que já mencionamos. O PSOL pode fazer a diferença se possuir uma direção à altura dessa tarefa.
Para nós do Movimento Esquerda Socialista as tarefas do congresso foram intensificar a organização partidária, sobretudo no interior do estado onde o PSOL cresce com força, e afirmar o perfil independente e radical do PSOL, armado para as lutas de forma permanente e não somente em épocas de congressos ou eleições.
Nesse sentido, estivemos na defesa de definições eleitorais que nos permitam intervir com mais força na conjuntura e fazer o PSOL aparecer de fato como alternativa para a população. O PSOL não ter candidatura definida atrapalha bastante nossa construção, e a intenção do bloco majoritário em adiar essa escolha para 2018 pioria ainda mais essa situação.
Nesse debate infelizmente o PSOL segue em compasso de espera, sem que a direção tenha uma política definida a esse respeito. Assim como nas últimas eleições, nossa companheira Luciana Genro está a disposição do partido para essa tarefa, e estaríamos dispostos a discutir uma eventual candidatura do companheiro Guilherme Boulos no caso de sua filiação ao PSOL. Existem também outros nomes em debate, mas a direção é contra a definição de uma candidatura nesse momento, indo a reboque do PT e fazendo o PSOL perder enorme espaço na disputa política que desde já está aberta no país.
O cenário de crise não é somente uma oportunidade para o PSOL afirmar o seu perfil. A situação difícil que vivemos em São Paulo e no país exige de nosso partido uma mudança radical, com uma atuação que não nos confunda com nenhum dos partidos envolvidos nos escândalos de corrupção os nos ataques à classe trabalhadora, sejam eles nos governos do PMDB, do PSDB ou do PT. Todos os partidos burgueses buscam de forma hipócrita aparecer como a renovação da política, e o PSOL tem essa vocação por natureza, que infelizmente é desperdiçada quando a direção do partido de abstém de propor o partido enquanto alternativa.
Outro debate duro ocorreu sobre a situação de Macapá, capital onde o PSOL participa da prefeitura em aliança com a REDE e o DEM. Governada por um prefeito que rompeu com o PSOL, a cidade é base eleitoral de Randolfe Rodrigues, senador da REDE que foi proposto como candidato a presidente pela direção majoritária nas últimas eleições e “desistiu”, abandonando o partido. Apesar disso, hoje Macapá representa quase um terço dos filiados reunidos nacionalmente pela chapa da direção majoritária, em plenárias congressuais marcadas por fraudes já registradas e divulgadas, além de inúmeras manobras com o apoio da prefeitura da REDE/DEM. Não podemos aceitar esse desvio no PSOL e continuaremos o combate contra esse tipo de prática que se alia à direita e frauda o partido.
O balanço organizativo também foi tema permanente do congresso. O PSOL hoje funciona basicamente em torno das disputas congressuais e das eleições, sem protagonismo nas lutas dos trabalhadores e acompanhando seus militantes e filiados bem menos que o necessário. É essencial uma revolução organizativa no PSOL, que abandone o comportamento protocolar da direção atual e arme seus núcleos e diretórios para a intervenção cotidiana, com fornecimento de materiais de agitação e propaganda e utilizando-se de novas formas comunicação, mais ágeis, que permitam a
informação e participação ampla de membros e simpatizantes.
No interior do estado, o PSOL avançou muito. O Bloco de Esquerda do partido já é maioria no interior, e o exemplo de Sorocaba, onde o companheiro Raul Marcelo chegou ao segundo turno nas últimas eleições (caso único fora das capitais no país) demonstra a possibilidade do PSOL enquanto alternativa. Nossas vereadoras e vereadores eleitos em Sorocaba, Campinas, Santo Anastácio, Tanabi e Pitangueiras também são exemplos dessa possibilidade. Avanço importante para o interior foi a aprovação da formação de macro regiões dentro da estrutura política organizativa do
PSOL, contando inclusive com recursos próprios, respondendo a força e o crescimento do interior dentro do partido.
Saudamos a indicação consensual da professora Lisete Arelaro à candidatura ao governo do estado. A companheira Lisete é militante histórica em defesa da educação pública e libertadora, e abre a possibilidade do PSOL aparecer com cara própria nos debates eleitorais que já se iniciaram. São Paulo pode ser o centro irradiador de uma nova política e estaremos na linha de frente dos próximos processos de luta, nas cidades e nos bairros apostando em uma nova política independente, que esteja próxima do povo e distante de corruptos e traidores que retiram seus direitos.