Serial killers do Rio de Janeiro

Esse estado com enorme potencial – no turismo, na cultura, nos serviços, no comércio, na indústria, na ciência e na tecnologia – tem sido, entretanto, vítima de seus governantes.

Chico Alencar 8 dez 2017, 08:00

O atual Rio de Janeiro é estado jovem, de 42 anos e oito meses. Nasceu a fórceps, por decreto do general Geisel, que determinou a fusão dos antigos Rio de Janeiro e Guanabara. Esta unidade da Federação só tem área maior que o Distrito Federal, Sergipe e Alagoas. Quanto à ocupação humana, no entanto, é a terceira do país, com seus 16.718.956 habitantes (dados do IBGE, de julho deste ano). Apenas em São Paulo e Minas Gerais habita mais gente.

Esse estado com enorme potencial – no turismo, na cultura, nos serviços, no comércio, na indústria, na ciência e na tecnologia – tem sido, entretanto, vítima de seus governantes. Eles são verdadeiros assassinos das possibilidades desse pedaço do Brasil, com seus 92 municípios em lindas regiões litorâneas, serranas e campestres.

O padrão político-administrativo cristalizado no Rio de Janeiro é rebaixado, e episódios como as escandalosas negociatas dos vereadores de Teresópolis, de recente divulgação, não são exceção. O povo fluminense é vítima de quem pretende governá-lo, com seu modus operandi de conluio com grandes empresas e milhões para campanhas eleitorais e patrimônio.

Após a gestão do interventor Faria Lima, autoritário e tecnocrático, nomeado pelo governo militar, veio um governador eleito indiretamente, Chagas Freitas. E com ele a política da bica d´água, do toma lá dá cá – que a ditadura sempre estimulou. Chagas era do MDB conivente com o regime repressivo, e por isso bem aceito.

Brizola chegou para “lavar com sabão e soda cáustica o chaguismo”. Trouxe esperança e marcou o início de políticas mais gerais para o estado, especialmente na educação. Com o tempo, acabou compondo com representantes do fisiologismo, como o todo-poderoso presidente da Assembleia Legislativa, José Nader (que foi recompensado com uma cadeira no Tribunal de Contas, outro órgão usado para barganhas politiqueiras). Já então a tal “governabilidade” era tida como inevitável…

Moreira Franco, homem-forte de Temer, investigado na Lava-Jato, e Marcelo Alencar, já falecido, fizeram governos medíocres, sem os nutrientes que um estado em formação necessitaria. Os demais governadores estão atrás das grades: Garotinho, Rosângela Matheus, Cabral. Não estão sozinhos: a cúpula da Alerj também está na cadeia. Nas redes virtuais, a sigla PMDB foi apelidada de “Partido dos Mafiosos Detidos em Benfica”. Sinal da extensão da degradação foi a prisão e destituição de nada menos que cinco dos seis conselheiros do Tribunal de Contas do Estado!

O historiador Milton Teixeira afirma que isso não é novidade: “governadores, desde a família Sá, sempre mandaram acima das leis (…) A impunidade dominou, nos tempos de Colônia, Império, República”. Pode-se dizer que esses procedimentos degenerados ocorrem por todo o Brasil e em quase todos os partidos. Mas o Rio, no ranking da decadência política nacional, ocupa lugar especial: lembremo-nos do poderosíssimo Cunha, já condenado, que controlava 90% da bancada federal fluminense. Na outra ponta, tragicômica, o Rio oferece Celso Jacó, o deputado-presidiário que tentou primariamente burlar as normas da Papuda, colocando de novo a cueca no anedotário nacional. Justiça e Ministério Público estaduais sofrem pressões da casta delinquente que hegemoniza a política regional, da qual Pezão é o desgastado herdeiro.

O começo da recuperação do Rio de Janeiro tem um protagonista fundamental: seu próprio povo, sofrido e criativo. Urge resgatar sua tradição contestadora, revelada em tantas revoltas (como as de quilombos, a do Vintém, a da Vacina, a da Chibata) e manifestações massivas (contra o nazifascismo, pela anistia, pela democracia). O desafio para 2018 é tirar da cena pública figurões e figurinhas das máquinas partidárias corruptas, negando o voto aos herdeiros dos criminosos que apostam na falta de memória coletiva.

Publicado originalmente em: http://bit.ly/serialkillersdorio 


TV Movimento

PL do UBER: regulamenta ou destrói os direitos trabalhistas?

DEBATE | O governo Lula apresentou uma proposta de regulamentação do trabalho de motorista de aplicativo que apresenta grandes retrocessos trabalhistas. Para aprofundar o debate, convidamos o Profº Ricardo Antunes, o Profº Souto Maior e as vereadoras do PSOL, Luana Alves e Mariana Conti

O PL da Uber é um ataque contra os trabalhadores!

O projeto de lei (PL) da Uber proposto pelo governo foi feito pelas empresas e não atende aos interesses dos trabalhadores de aplicativos. Contra os interesses das grandes plataformas, defendemos mais direitos e melhores salários!

Greve nas Universidades Federais

Confira o informe de Sandro Pimentel, coordenador nacional de educação da FASUBRA, sobre a deflagração da greve dos servidores das universidades e institutos federais.
Editorial
Israel Dutra e Roberto Robaina | 10 abr 2024

Musk é inimigo da liberdade

Os ataques do bilionário contra Alexandre de Moraes incentivam a extrema direita brasileira
Musk é inimigo da liberdade
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 48
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Edição de março traz conteúdo inédito para marcar a memória da luta contra a repressão