A falência da Nova República e os desafios do PSOL

Reproduzimos nota dos companheiros do Coletivo Primeiro de Maio sobre a conjuntura e a candidatura do PSOL para a presidência.

Coletivo Primeiro de Maio 6 fev 2018, 16:16

O povo brasileiro vive hoje um de seus momentos mais dramáticos, marcado pela falência da “Nova República”, nascida de um pacto político que se sintetizou na Constituição de 1988, construindo um regime formalmente democrático, mas que se provou impermeável às demandas dos “de baixo”. Este regime atualmente se encontra esgotado, ante a degeneração de suas instituições e a ampla cooptação das forças políticas, inclusive àquelas outrora à esquerda do espectro ideológico, componentes orgânicos hoje do grande partido da ordem, da desigualdade e do capital no Brasil.

No plano econômico, aprofunda-se a “reversão neocolonial”, intensificada durante o ciclo de governos lulopetistas que comandaram o Brasil por 13 anos. Neste período, a barbárie avançou. A atual crise, quando historicamente analisada, é o legado dos governos petistas, que para garantir a manutenção dos interesses burgueses, operaram para desarticular os movimentos sociais, estudantis, sindicais e outros setores. O bloco político comandado pelo PT fez intenso combate marcado pela cooptação e truculência, no sentido de tirar a classe trabalhadora da perspectiva da luta e para converter suas entidades e movimentos em departamentos burocráticos de defesa governista.

A política conduzida por Lula/PT, além de fortalecer os setores mais reacionários, antinacionais e antissociais que compuseram a governabilidade petista e hoje comandam o país após a queda de Dilma (derrubada por setores de seu próprio governo) levou ao ascenso de novas forças e figuras da velha nova direita, que se constroem, em grande medida, na frustração e revolta legítima, ante a corrupção e fracasso da experiência petista. O governo Temer e o fortalecimento de forças reacionárias são o legado objetivo deste ciclo de submissão à política da “ordem” conduzido pelo Lulopetismo.

Em momentos de grande gravidade, não cabe aos socialistas ter posições vacilantes ou dúbias. Nascemos das lutas contra a exploração e opressão, no combate à capitulação petista perante a ordem do capital, nas lutas contra a politicagem nacional e no enfrentamento e denúncia contundente da incorporação do PT à lógica de corrupção sistêmica. Ganhamos o respeito e a confiança do povo brasileiro lutando contra os ataques dos governos desde nossa origem. O PSOL sempre enfrentou uma verdadeira coalizão da ex-esquerda com a direita tradicional. Nossa história e coerência nunca podem ser esquecidas, nosso lado é o do povo

A recente condenação do ex presidente Lula pelo TF4 deve ser portanto, analisada politicamente. Cumpre destacar que o caráter punitivo, antidemocrático e policialesco do Estado brasileiro, ganhou amplo reforço sob o comando Lulopetista, que dentre muitos absurdos e constante criminalização dos que lutam, buscou com uso de violência polícial desmobilizar o levante popular de 2013, produzindo inclusive presos políticos, em sua maioria jovens. Além disso, operou para esmagar o movimento contra os gastos absurdos da Copa do Mundo de 2014, gastos envoltos na teia de corrupção de Odebrecht e OAS, além de outras empreiteiras. Temos muita responsabilidade perante o povo, assim não podemos apagar a responsabilidade dos agentes e forças políticas, pelas situações do presente.

Todos os envolvidos nos esquemas de corrupção devem ser investigados e, assim que condenados, punidos dentro de todas as garantias constitucionais, sem seletividades ou privilégios. É imprescindível também o confisco das empresas que notoriamente se enriqueceram através da corrupção. A luta democrática é elemento essencial para a construção da revolução Brasileira e não pode se confundir com a defesa da “Nova República”, suas instituições, lideranças e organizações em falência.

Diante do inexorável desmoronamento do atual regime, cabe às forças de esquerda se apresentarem como alternativa radical de superação da “Ordem”, ou assistir passivamente a ascensão de forças ainda mais reacionárias, que podem capturar a legítima indignação presente no povo. É preciso portanto, recolocar a luta contra Temer e suas “reformas” como centro da conjuntura, esta é nossa prioridade.

Diante do esforço reiterado da burguesia de requentar a falsa polarização entre o PT e a velha direita, é imperativo que o PSOL defina sua candidatura à presidência da República, calcada em um programa conectado com as demandas históricas da classe trabalhadora brasileira e que se seja a antítese das quase três décadas de neoliberalismo no Brasil, com a defesa da políticas de investimento maciço nas áreas sociais e desprivatização dos serviços públicos, do fim do latifúndio, da reforma urbana, taxação das grandes fortunas, da reversão das reformas contra o povo aprovadas sob o comando do Temer e do PT, da auditoria da dívida pública e desmonte do sistema da dívida. O PSOL deve se apresentar como alternativa de poder, um partido para construir a Revolução Brasileira, indo além dos marcos da Nova República e sendo o instrumento que organize a indignação e a luta do nosso povo.

A urgência de definir um programa e candidatura para disputar a presidência da República

No dia 10 de março, ocorrerá a Conferência Eleitoral do PSOL, onde definiremos dentre outras questões a escolha de nossa candidatura majoritária para as eleições de 2018. Uma decisão que já se encontra demasiadamente atrasada, pois os partidos e nomes da ordem estão em plena campanha, inclusive disputando nossa base social há muito tempo.

Neste sentido, o Coletivo Primeiro de Maio defendeu que a decisão sobre a candidatura presidencial se desse no congresso nacional do partido, ocorrido no final do ano passado. Inclusive nossa organização durante o congresso estadual de São Paulo, deliberou apoio e defendeu o nome de Luciana Genro, uma grande liderança do PSOL que já possui o acúmulo histórico de construção partidária e que teve bom desempenho político e eleitoral no pleito de 2014. Além das qualidades desta dirigente do PSOL, reconhecida nacionalmente, o partido não pode seguir sem projeto estratégico para as eleições presidenciais mudando de nome a cada eleição, enfraquecendo nossas condições de disputa e acúmulo, que poderiam ser aproveitadas caso Luciana Genro fosse o nome do PSOL .

O partido possui hoje na disputa pela candidatura: Plínio Arruda Sampaio Jr, Nildo Ouriques, Sonia Guajajara e Hamilton Assis, quatro militantes filiados ao PSOL que são pré candidatos à presidência e têm feito um belo trabalho debatendo, construindo o partido e a luta política por todo o Brasil, com campanhas militantes e organizadas. São portanto um exemplo de dedicação e compromisso de luta, estas quatro pré candidaturas merecem todo o respeito e reconhecimento do conjunto do PSOL pelo exemplo de construção partidária.

A deliberação do Congresso Nacional do PSOL, contra a qual votamos, optou por aguardar a decisão de Guilherme Boulos do MTST. Boulos é um grande militante de um movimento de luta por moradia com alto nível de organização e intervenção. Reiteramos nosso respeito por este dirigente e pelo conjunto de ativistas e militantes que defendem o projeto de sua candidatura, mas destacamos que a leitura equivocada que fazem da realidade neste momento os conduzem a serem forças de reoxigenação lulopetista, da ordem e do rebaixamento do horizonte de transformação social da esquerda brasileira.

A reorganização política em curso, fruto da pressão petista no campo da esquerda, muito forte no interior do PSOL, ocorrida sobretudo após o impeachment de Dilma Rousseff, busca impor uma releitura histórica para absolver a experiência petista que se provou serviçal da burguesia e algoz do povo, que passaria segundo esta “reavaliação”, a ser defendida como progressista uma “síntese da luta da senzala contra a casa grande”. É evidente tratar-se de uma absurda e arbitrária narrativa que tenta requalificar a fracassada e degenerada experiência petista como o teto da possibilidade de construção da esquerda. Esta é uma das mais graves consequências desta equivocada leitura histórica, incorporada por setores do PSOL.

Como tem até agora se apresentado, uma eventual candidatura Boulos, a despeito de suas qualidades como militante e liderança social, não expressa o acúmulo político e programático do PSOL. Nem mesmo o acúmulo político dos setores que hoje compõem a maioria da direção do partido.

Reivindicamos o acúmulo histórico do PSOL, que nasceu a partir da luta contra a Reforma da Previdência de Lula e da necessidade de superação do PT, com grande presença na luta pela condenação e prisão de todos os corruptos no escândalo do “mensalão em 2005”. Não podemos fortalecer os grupos que querem “mudar para deixar como esta”.

Apoio a pré candidatura de Plínio Arruda Sampaio Jr.

O PSOL possui ótimos quadros em sua fileiras para a tarefa de representar o partido na disputa eleitoral, como já citamos o exemplo de Luciana Genro e das pré candidaturas formalizadas no partido que seguem realizando um importante trabalho. Dentre estas pré candidaturas este coletivo declara seu apoio ao companheiro Plínio de Arruda Sampaio Jr, destacado crítico da experiência lulopetista, conhecido e respeitado nacionalmente pela militância da esquerda socialista, sempre presente junto à luta social.


Originalmente publicado em: https://www.facebook.com/ColetivoPrimeiroDeMaio/photos/a.906651579496785.1073741830.185821338246483/906653552829921/?type=3&theater


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Pedro Micussi