Acordo de coalizão abre a porta para a direita alemã

Com Angela Merkel e Martin Schulz sob pressão, o partido de extrema-direita AfD cresce na Alemanha. Alex Callinicos comenta os acontecimentos das últimas semanas no país.

Alex Callinicos 26 fev 2018, 18:04

A Alemanha sob a chanceler Angela Merkel deveria ser o bastião do centro neoliberal na Europa.

A Grã-Bretanha poderia votar para sair da União Europeia. A França poderia ver a nazista Frente Nacional ganhar o segundo lugar nas eleições presidenciais.

E o autoritarismo da direita poderia se espalhar na Europa central, mas a Alemanha seguraria firme.

Porém, as caretas sobre a formação de um novo governo alemão destruíram essa história. Nas eleições federais de setembro passado, a grande coalizão em curso foi humilhada. Ela consistia no bloco conservador CDU/CSU e no SPD de tipo trabalhista.

Eles têm dominado a República Federal Alemã desde que foi fundada, em 1949. Mas dessa vez fizeram 53,5% dos votos, depois de fazer mais de 67% em 2013.

O partido de extrema-direita Alternativa para Alemanha (AfD) invadiu o parlamento federal pela primeira vez, com 12,6%.

O líder do SPD, Martin Schulz, anunciou que iriam para a oposição, deixando Merkel se envolver em negociações tortuosas com partidos menores. Mas quando elas entraram em colapso, ela conseguiu atrair o SPD de volta às conversações.

Finalmente, no início de fevereiro um acordo foi alcançado. Parecia um bom negócio para o SPD, que recebeu seis ministérios incluindo finanças, assuntos estrangeiros e trabalho. O SPD também ganhou concessões sobre como gastar o gigantesco orçamento superavitário de 46 bilhões de euros que o governo alemão acumulou graças a quase uma década de austeridade e um boom nas exportações.

A nova grande coalizão aumentará os gastos com previdência, escolas, infraestrutura e banda larga de alta velocidade — todos objetivos do SPD.

Mas o acordo conseguiu enfurecer a todos. A ala direita conservadora — especialmente a CSU, da Baviera — está brava sobre as concessões ao SPD. Muitos deles já culpavam Merkel pelo resultado da eleição.

Eles argumentam que ela abriu um espaço à direita para a AfD preencher por governar pelo centro. O chefe da confederação da indústria alemã queixou-se que o acordo de coalizão estava “distorcido para a reditribuição da riqueza em vez de garantir o futuro da economia alemã”.

Mediocridade

Isso foi pouco comparado ao barulho no SPD. Schulz, uma mediocridade superestimada, já estava também sob fogo.

A juventude do partido, em particular, o atacou por voltar atrás na sua promessa de ficar na oposição e reconstruir a base do SPD.

Nas últimas semanas ele quebrou outra promessa, de não entrar no governo, anunciando que ele pegaria o Ministério de Relações Exteriores. Sigmar Gabriel, o ex-ministro de Relações Exteriores e ex-líder do SPD, reclamou publicamente que “a nova liderança do SPD claramente não se importava com a apreciação pública do meu trabalho”.

Tão grande foi a raiva sobre a promessa quebrada de Schulz que no dia 9 de fevereiro ele anunciou que não iria mais entrar no governo.

Ele já havia dito que não seria mais presidente do partido, então ele é história. Mas o SPD não está fora da floresta ainda.

O resultado de um referendo dos membros do partido sobre participar ou não da Grande Coalizão vai ser anunciado no 4 de março. Enquanto isso, o SPD continua a cair nas pesquisas. Uma, há duas semanas, o colocou com 17%, enquanto a AfD chegava a 15%.

Esta é uma figura aterrorizante — o bastião histórico da social-democracia europeia está apenas dois pontos percentuais acima de um partido de extrema-direita fundado por um grupo de racistas do tipo da Ukip. Também inclui nazistas.

E Merkel está sob pressão. O tabloide da direita Bild a acusou de se pendurar no governo “a qualquer preço”. E Kurt Kister, editor do Suddeutsche Zeitung, disse que “este governo pode ser legendado como ‘não durará muito’.”

Mas se a grande coalizão não aguentar muito, o que a seguirá? Será que a AfD vai puxar todo o espectro político alemão para a direita? O Die Linke pode oferecer um foco para a resistência pela esquerda?

Isso exigiria combinar oposição firme à austeridade com anti-racismo como princípio e solidariedade com imigrantes.

As manifestações anti-racistas em toda a Europa no 17 de março serão um importante teste para essa alternativa.

(Publicado originalmente em Socialist Worker e traduzido pela Revista Movimento)


TV Movimento

O PL da Uber é um ataque contra os trabalhadores!

O projeto de lei (PL) da Uber proposto pelo governo foi feito pelas empresas e não atende aos interesses dos trabalhadores de aplicativos. Contra os interesses das grandes plataformas, defendemos mais direitos e melhores salários!

Greve nas Universidades Federais

Confira o informe de Sandro Pimentel, coordenador nacional de educação da FASUBRA, sobre a deflagração da greve dos servidores das universidades e institutos federais.

Lançamento: “A Alemanha da Revolução ao Nazismo: Reflexões para a Atualidade”, de Luciana Genro

O lançamento ocorre na quarta-feira (31), a partir das 19h, com um debate com Luciana Genro e Roberto Robaina. Assista!
Editorial
Israel Dutra | 14 mar 2024

Seis anos sem Marielle, seis anos sem justiça!

Neste 14 de março, mais uma vez exigimos: nem esquecimento, nem perdão para Marielle e Anderson!
Seis anos sem Marielle, seis anos sem justiça!
Edição Mensal
Capa da última edição da Revista Movimento
Revista Movimento nº 47
Nova edição com o dossiê “Feminismo: convergências, divergências e lutas”. Assine!
Ler mais

Podcast Em Movimento

Colunistas

Ver todos

Parlamentares do Movimento Esquerda Socialista (PSOL)

Ver todos

Podcast Em Movimento

Capa da última edição da Revista Movimento
Nova edição com o dossiê “Feminismo: convergências, divergências e lutas”. Assine!