O regime oligárquico, a violência e a política dos coronéis: Jaçanã resiste!

Nos rincões mais pauperizados do país o encadeamento entre poder local e nacional garante a construção de hegemonias políticas regionais às famílias tradicionais.

Danillo Prisco 13 jul 2018, 16:20

O PSOL governa duas cidades no Brasil. Não é fácil para os revolucionários encararem o desafio de gestão. Ainda mais em um sistema político que retroalimenta a lógica do toma lá da cá. Cidades endividadas, FPM’s zerados e serviços públicos sucateados pela lógica da distribuição de cargos em torno de apoios políticos e favorecimentos pessoais.

A crise no regime político brasileiro aberta em junho de 2013 não se fechou, pelo contrário, se aprofundou e segue agudizando as contradições de uma democracia frágil, controlada por uma casta política subserviente a interesses econômicos de grandes grupos ligados centralmente a bancos, empreiteiras e ao agronegócio. O golpe parlamentar que ocorreu no Brasil é parte e expressão desse moribundo regime falido nos andares superiores.

Mas a crise do regime não se expressa somente nos palácios de Brasília. A casta oligárquica e patrimonialista que dirige o Brasil se sustenta por um sistema construído por eles para se manterem no poder e seguir gerindo seus negócios. Em todo o Brasil, e em especial em seus rincões mais distantes e pauperizados, o encadeamento entre poder local e nacional garante a construção de hegemonias políticas regionais ligadas às famílias tradicionais. A distribuição de emendas parlamentares, ambulâncias, viaturas e qualquer que sejam os recursos para maquiar a miséria secular da maior parte da população garantem apoios políticos, o loteamento de prefeituras e câmaras municipais para candidatos A, B ou C de famílias conhecidas e figuras carimbadas desse sistema político apodrecido.

Mas a instabilidade do regime acuou os poderosos e, como um Timbu que ao encurralado mostra seus dentes e seu cheiro podre, a casta política brasileira cada vez mais ignora as mediações frágeis de nossa democracia. Rasgam direitos sociais, congelam investimentos em saúde e educação, liberam agrotóxicos de forma indiscriminada e, desesperadamente, tentam aniquilar qualquer possibilidade de nascimento de algo novo através da intimidação, do isolamento e também da violência. A morte de Marielle Franco foi a expressão maior da capacidade de silenciamento desta casta política. Uma execução, no centro do RJ, ainda sem culpados.

A violência política sempre foi uma realidade no País. O norte e o nordeste convivem com assassinato e intimidação de ativistas. Infelizmente, o coronelismo dos livros de história, é real, violento, rouba as riquezas do povo e busca silenciar os que ousam contesta-lo.

Jaçana é uma cidade pequena no alto da serra que divide os interiores do Rio Grande do Norte e Paraíba. Como quase que a totalidade das cidades interioranas do nordeste tinha sua política dominada por grupos locais, ligados cada um a sua grande família estadual, inclusive fazendo “divisões” entre elas, algo bem comum no RN. Histórias de ex-prefeitos que assumiram o poder e saíram com grandes patrimônios privados são corriqueiras. Aparelha-se a prefeitura, garantem o “curral”, recebem emendas e enriquecem a si e aos seus. A população segue na miséria e o sistema só se atualiza quando a idade ou uma prisão/processo obriga o oligarca a substituir a si por um filho, sobrinho ou esposa.

Mas assim como em Drummond, em Jaçanã uma flor nasceu na rua. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. Essa flor foi o “Liso”. O povo quis o liso, disse não ao “Barãozinho e comprador” e elegeu Oton Mário, do PSOL, professor e LGBT para dirigir a prefeitura municipal em uma campanha emocionante, “lisa” e com um engajamento popular memorável.

Em menos de dois anos de gestão, contrariando as pesquisas de quase todo o Brasil, onde os políticos são rechaçados, Oton tem a aprovação de 77% da população jaçanaense. A reestruturação da prefeitura a partir dos interesses da população produziu resultados. A gestão pública e não as negociatas privadas deram resultado. Melhorou a saúde municipal, apoiou a educação e as mudanças são visíveis. A aprovação elevada é expressão desse modelo de fazer política no executivo. Oton orgulha o PSOL e a população de Jaçana, ao mesmo tempo incomoda os poderosos acostumados com o loteamento municipal do estado. A aproximação das eleições para as casas legislativas estaduais e federais e para o governo tornou esse incômodo ainda maior.

Oton sofre uma tentativa de golpe em sua cidade. Uma denúncia infundada, cheia de malabarismos retóricos, altamente desqualificados e assinada por um “laranja” tenta tirá-lo do poder, a partir de supostos erros administrativos. Oton é um político do tipo que os poderosos potiguares não toleram: honesto, popular e que leva o interesse da população até as últimas consequências. A denúncia, de tão capenga, não foi apresentada ao ministério público porque seriam desmoralizadas, no entanto, foi protocolada diretamente na câmara dos vereadores o que demonstra sua fragilidade jurídica e seu peso político. Oton não vendeu e não venderá a prefeitura aos oligarcas potiguares e seus lacaios regionais, ele a devolveu a população.

A mobilização em torno da defesa de Oton é muito forte. Em uma semana um abaixo assinado com cerca de 3.000 assinaturas de eleitores da cidade foi feito, isso numa cidade de aproximadamente 5.000 eleitores. Atos de rua estão ocorrendo e a mobilização vem crescendo para barrar esse absurdo político. Ao mesmo tempo, a pressão sobre os vereadores é grande para evitar que possam dar cabo de tirar da prefeitura o prefeito Oton e assim fazer o trabalho sujo que os oligarcas não fazem.

A escalada da perseguição ganhou um novo e triste capítulo. As ameaças de agressão de morte começaram a chegar aos ativistas e apoiadores do prefeito Oton. A batalha política segue em curso e dada à mobilização popular em torno da defesa de nosso prefeito, fizeram com que se desnudasse o desespero dos que tentam passar por cima da vontade popular. Voltamos aos métodos tradicionais de quem se acostumou as regalias do poder e dos poderosos. O jaguncismo coronelista mostra sua face mais presente e real. A violência política que marca nossa história tenta se impor em Jaçana.

O PSOL constantemente sofre ataques dessa natureza. Na última eleição Sandro Pimentel, vereador da capital, foi alvo dessa mesma covardia e nos obrigou a trocar carros e contar com o apoio operacional militante dos nossos guerreiros vigilantes privados e de carro forte.

Não podemos permitir que esse método se institua e derrote a democracia. A violência na política apesar de comum não pode ser naturalizada.

É preciso que todos os lutadores, que todos os que defendem e lutam por uma democracia real, ligada aos interesses do povo, se solidarizem ativamente ao companheiro Oton. A defesa democrática do seu mandato popular é também o rechaço aos métodos coronelistas que persistem no Brasil, acima de tudo, é a defesa da vida dos que ousaram desafiar os poderosos.

É necessário que os vereadores encerrem esse processo, voltem a construir Jaçanã para os Jaçanaenses com o prefeito Oton, que as ameaças sejam investigadas, e que a população seja respeitada em seu desejo:

“O POVO QUER O LISO!”


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Pedro Micussi