Um revolucionário que lutou firmemente

Quinto artigo da série de obituários sobre o marxista francês.

GIlbert Achcar 23 jan 2019, 00:15

Uma das figuras chave da revolta estudantil francesa de 1968, Bensaïd foi um proeminente membro fundador da Liga Comunista Revolucionária (LCR), juntamente com Alain Krivine. Ele permaneceu na liderança desta organização, uma afiliada da Quarta Internacional trotskista, até que ele foi afetado pela doença.

Bensaïd continuou, no entanto, a desempenhar um papel central como um contribuinte para o pensamento político de seu movimento, acompanhando sua recente mutação no Novo Partido Anticapitalista (NPA), de 10.000 membros, representado por Olivier Besancenot, o conhecido jovem carteiro e eventual candidato presidencial.

Daniel Bensaïd era uma encarnação da tradição revolucionária francesa – um de seus livros publicados no bicentenário da revolução de 1789 trazia como títuloMoi la Révolution (I, the Revolution) [Eu, a Revolução]. Ele era um admirador do jacobinismo radicalizado – ou seja, do legado revolucionário representado por Babeuf e Blanqui – que ele combinava com as simpatias libertárias em referência à Comuna de Paris de 1871.

Ele ainda era profundamente internacionalista. Ele esteve especialmente envolvido em desenvolvimentos dentro da esquerda radical na América Latina através da Quarta Internacional, graças ao seu domínio de espanhol e português. Ele viu no bolchevismo russo o herdeiro do jacobinismo radical e defendeu o legado de Lênin contra as profundas revisões críticas que se seguiram ao colapso da União Soviética.

Ele também foi um forte representante deste traço muito específico do radicalismo francês: o secularismo completo. Dois de seus últimos livros traziam títulos referentes a esse aspecto de seu pensamento: Fragments mécréants (An Unbeliever’s Discourse) e Eloge de la politique profane (In Praise of Secular Politics).

Sua obra teórica mais importante, Marx, o intempestivo, foi publicada em 1995. O livro foi traduzido para o inglês e publicado em 2002 sob o título A Marx for our times: adventures and misadventures of a critique. Ele ofereceu uma leitura não convencional de Marx, limpando-o da acusação de determinismo. O livro assinalou o reconhecimento de Bensaïd como um intelectual público, um autor frequente de editoriais no LeMonde e Libération, e um convidado regular de programas intelectuais de rádio e TV.

O primeiro livro de Bensaïd foi publicado em 1968, em co-autoria com Henri Weber (este um futuro membro do Partido Socialista no Senado). Seu título, Mai 68, une répétition générale (May 68: A Dress Rehearsal) [Maio de 68: um ensaio geral], falou muito sobre o espírito da época. Depois de seu livro sobre o bicentenário da Revolução Francesa, publicou trabalhos sobre Walter Benjamin e sobre a figura de Joana d’Arc, este último trabalho influenciado pela interpretação de Charles Péguy. Essa gama de tópicos aparentemente ecléticos refletia a melancolia criada pela mudança política internacional pós-1989, com o ataque ideológico ao marxismo e o triunfalismo do impulso neoliberal global. Um dos últimos livros de Bensaïd, aliás, foi intitulado Le Pari mélancolique (The Melancholic Wager).

Desde que contraiu AIDS, acreditando que seus dias estavam contados, Bensaïd começou a escrever e publicar em uma velocidade impressionante: perto de 20 livros de vários tamanhos e sobre vários assuntos em 15 anos, desde seu livro sobre Marx, de 1995, até a sua morte. Ao mesmo tempo, ele enfrentou a morte muito bravamente: um revolucionário que lutou firmemente até o seu último suspiro.

Artigo originalmente publicado no International Viewpoint. Tradução de Pedro Barbosa a partir da versão disponível em marxists.org.


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